Capítulo 3
1342palavras
2023-05-23 11:46
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POV DE YUNIFER
Eu peguei o meu celular, quer dizer o antigo celular do meu pai, o qual eu roubei do quarto da minha mãe. Este celular era o que meu pai havia me dado de presente, no entanto minha mãe o confiscara.
No aparelho já estava instalado um aplicativo de banco online, meu pai tinha aberto uma conta em meu nome.
Depois de entrar na conta e verificar o saldo, suspirei aliviada. Eu tinha dinheiro o suficiente para alugar um apartamento para mim e meu irmão. Contudo, não o seria o bastante para cobrir nossas despesas do dia a dia.
Portanto, eu precisava começar a procurar um emprego de meio período e arranjar uma escolar para o meu irmão. Além disso, eu também tinha planos para frequentar a universidade.
Assim que consegui alugar um apartamento, eu fui limpar nossa nova casa. Apesar de ser pequeno e bastante empoeirado, era muito melhor do que ficar naquela casa como prisioneira.
De tempos em tempos, eu verificava como meu irmão estava, até aquele momento ele não acordara. Não pude deixar de temer pelo pior, imaginando que ele pudesse estar em coma por causa do trauma.
Então, coloquei os materiais de limpeza de lado e fui ver como ele estava ainda dormindo tranquilamente na nossa nova cama.
Como o esperado, ele permanecia inconsciente.
Eu estava bastante preocupada, então resolvi ir à farmácia comprar um kit de primeiros socorros e alguns medicamentos. Se Asher não acordasse até a noite, eu o levaria para o hospital.
Depois de ter comprado os medicamentos e algumas coisas para comermos, caminhei de volta para o apartamento.
Porém, no meio do caminho eu fui parada por dois homens musculosos, que me encaravam com olhares maliciosos.
Ao notar o jeito como eles olhavam para mim, percebi que estava com problemas...
Eles me encaravam como se aqueles olhos sedentos pudessem ver através das minhas roupas. A maneira como eles me olhavam era tão nojenta que me dava arrepios.
Então, eu desviei o olhar deles e tentei andar mais rápido afim de despistá-los, mas ao invés disso, eles conseguiram me alcançar e interromper o meu caminho.
“O que vocês querem?” Eu endureci minha voz e os encarei com firmeza.
Um dos homens, que tinha uma falha na sobrancelha, assobiou.
“Você está perdida, querida? Você quer que nós mostremos qual é o caminho para o nosso coração?” O homem sorriu ao dizer isso.
Eu franzi as sobrancelhas, encarando-o com desprezo.
Então, eu apenas revirei os olhos e os ignorei. Contudo, quando eu me afastei para evitá-los, os dois aparecerem na minha frente de repente e agarraram meu pulso.
“AHH! ME SOLTE!” Eu gritei enquanto tentava me libertar de suas garras.
Então, meus olhos ficaram vermelhos de raiva ao ver que minha eco-bag cheia de comida e remédios estava jogada no chão.
Com os dentes cerrados por causa da fúria, fechei o punho e forcei para que soltassem minha mão.
“Saiam do meu caminho.” Eu esbravejei furiosa, eles me olhavam como uma fera que estava faminta há meses.
Quando os dois homens musculosos viram o meu olhar furioso, eles se encolheram um pouco. Agora, pouco me importava em como eles me olhavam, estava focada em recolher as coisas espalhadas pelo chão.
Depois de recolher tudo, bati os pés com raiva e voltei a carregar a sacola, não voltei a olhar para aqueles dois, que agora pareciam estar colados na calçada.
Mas, algo estranho aconteceu, vi pelos prateados nas costas da minha mãe e até minhas unhas estavam mais afiadas.
Contudo, quando olhei de novo para minha mão, não havia mais nada.
Será que eu estava alucinando?
Não pensei mais nisso e me concentrei no caminho de volta para casa, afinal, Asher era a pessoa mais importante na minha vida.
Porém, quando cheguei ao apartamento, fiquei aterrorizada ao me deparar com as luzes acesas e a porta aberta.
ASHER!
Por um instante, foi como se meu corpo recebesse uma injeção de adrenalina, até me esqueci das compras que carregava. Então, em meio ao pânico eu corri para dentro, me preparando para ter que lutar com algum invasor, quando de repente escutei um barulho. Na verdade, era o som de um choro.
No mesmo segundo meu corpo se enrijeceu, mas quando comecei a reconhecer o choro, fiquei mais tranquila.
Era Asher quem estava chorando.
“Asher, já estou em casa!” Eu falei para que ele soubesse que eu já tinha voltado.
Quando ele escutou a minha voz, o choro cessou, o que me deixou mais tranquila, então coloquei a sacola de compras sobre a mesa.
Eu o vi se levantar da cama e olhar para mim com uma expressão confusa. Então, ele caminhou em minha direção enquanto enxugava as lágrimas com suas pequenas mãozinhas.
“Onde você estava?” Ele perguntou me farejando.
Agachei-me e o ajudei a limpar o rosto.
“Desculpe por deixar você sozinho. Você deve ter se assustado.” Eu disse suavemente, envolvendo-o em meus braços.
Embora ele tivesse sete anos, sua estatura era de uma criança de cinco, por causa de seu corpo esguio. Então, observei que alguns hematomas ainda não tinham desaparecido, o que me deixou angustiada.
Peguei o kit de primeiros socorros e desinfetei as feridas cuidadosamente, em seguia as cobri com um curativo.
“Isso dói?” Eu perguntei, ao me referi aos ferimentos.
Asher balançou a cabeça negativamente e respondeu: “Não, não dói. Não estou sentindo nenhuma dor.”
À medida que meus olhos ficavam vermelhos, eu apertei os olhos. Então, olhei para ele com ternura e lhe dei um beijo na testa.
“A partir de hoje, eu te prometo que ninguém mais vai te machucar. Não vou permitir que essas pessoas más te machuquem de novo, confie em mim.”
Ao ouvir minhas palavras solenes e reconfortantes, os olhos avermelhados de Asher brilharam e ele me abraçou com força.
“Ei!”
Enquanto acariciava seu cabelo, deixei uma risada descontraída escapar. “A propósito, a partir de amanhã, você vai para a escola. Tudo bem?”
Logo percebi como ele mudou, seus olhos voltaram a ficar avermelhados e ele me encarou tristonho. “Você vai me deixar?”
“Não!” Eu exclamei. Ao notar o tom exasperado da minha voz, me acalmei e o fitei com sinceridade no olhar. “Eu não vou te deixar. Eu nunca faria isso, você é a única família que tenho.”
“Mas, por que você quer me mandar para a escola?” Ele perguntou, ainda com a voz embargada.
Então, eu dei um suspiro, me sentindo impotente e respondi: “Conhecimento é poder e pode ser muito útil. Eu quero que você possa ter uma vida normal como as outras crianças.”
Asher franziu as sobrancelhas e ele inclinou a cabeça, encarando-me confuso. “Mas, eu já sou inteligente. Já sei ler, escrever e até já sei matemática. Eu sei todas essas coisas, então por que eu preciso ir para a escola? Não posso ficar aqui com você?”
Com isso, eu soltei uma risada suave e belisquei a ponta de seu nariz. “Não é assim que as coisas funcionam, Asher. Eu quero que você frequente a escola e aproveite sua juventude.”
“Mas e você? Você não aproveitou a sua infância. Você também ficou presa naquela casa a vida toda, não podendo fazer um monte de coisa!” As sobrancelhas de Asher se contraíram e seu tom era de desagrado.
“Porque eu quero que você faça isso por mim. Não só por mim, mas por você também. Eu quero que você viva a infância que perdi.” Eu falei calmamente, tentando fazê-lo entender a minha intenção.
“Mas e o dinheiro?”
“Você ainda e uma criança. Não se preocupe com isso, já que a sua irmã mais velha pode conseguir um emprego.” Eu disse confiante, mas Asher ainda não parecia satisfeito e ele relutante acenou com a cabeça em acordo.
“Tudo bem, eu vou para a escola. Mas, você também vai para a escola, não é o que você queria?” Asher afirmou encarando-me com um olhar sério.
Ele ficava ainda mais fofo com esse olhar de gente grande.
Eu ri e belisquei suas bochechas. “Ah, eu vou. A partir de amanhã, nós dois iremos para a escola.”