Capítulo 2
1133palavras
2023-05-23 11:45
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PONTO DE VISTA DA YUNIFER
Eu corri sem parar, carregando meu irmão que dormia pacificamente. As lágrimas escorriam pelo meu rosto lentamente, continuei a correr, sem saber para onde meus pés nos levariam.
No entanto, isso não importava, pois nós conseguimos sair daquela casa.
A sensação de ter saído de casa era boa, especialmente porque o Sr. Lacker parecia ser um homem forte. Além disso, foi um alívio ver que a Mãe Kilda estava inconsciente, senão teria sido bem mais difícil escaparmos daquela casa infernal.
Então, eu senti meus pés ficarem dormentes e a perder o fôlego de tanto correr, parecia que meu pulmões iam estourar por causa da falta de ar.
Quando olhei para trás, vi que ninguém nos seguira, isso me trouxe uma sensação de alívio. Então, parei um pouco e descansei junto ao meu irmão, que ainda estava inconsciente.
Apertei os lábios enquanto pegava um lenço do bolso, usando-o para enxugar o suor da testa de Asher.
Eu nunca quis que ele tivesse presenciado uma cena tão horrível, porém só de pensar no que acontecera antes me deu vontade de vomitar. Adoraria que ele pudesse simplesmente esquecer o que vira naquele quarto.
Por nossa mãe ser uma lobisomem, ela tinha total autoridade em nossa casa, já que nosso pai era humano. Ainda não sabia o motivo pelo qual ela se tornou tão abusiva, desde que nosso pai morreu. Além disso, apesar de ela ter me dado à luz, não herdei os genes de lobisomem, diferentemente do meu irmão.
Eu era apenas uma humana, já meu irmão era um lobisomem. Assim, não podia fazer nada contra nossa mãe, enquanto meu irmão tinha poder para isso.
Talvez esse fosse o motivo para que ela me odiasse tanto ou talvez seja por causa da morte do meu pai humano. Afinal, ele morrera logo depois que eu nasci.
De fato, depois que meu pai morreu ela começou a se tornar abusiva e eu era o seu alvo. Porém, isso se amplificou ainda mais quando ela engravidou de Asher.
Asher e eu tínhamos a mesma mãe, mas pais diferentes e apesar disso, eu sempre tratei meu irmão com amor e carinho. Portanto, queria protegê-lo e evitar que ele visse as crueldades de nossa mãe.
Então, eu jurei que protegeria o meu irmão contra minha mãe ou de qualquer tipo de ameaça.
No entanto, no final quem me protegeu foi ele, quando eu que deveria tê-lo protegido.
Então, abracei meu irmão com força em meus braços e murmurei baixinho.
“Sinto muito... Me desculpe... Sua irmã não foi forte o bastante para protegê-lo...”
Senti meus olhos ficarem embaçados por causa das lágrimas e minha voz embargar com a emoção.
Por minha causa, ele estava daquela maneira.
Eu me senti impotente e sem esperanças.
A sensação que eu estava sentindo era como se milhares de mãos me segurassem, ou me mantivessem acorrentada, me impedindo de ficar mais forte.
Achei que isso era apenas uma desculpa qualquer. Eu era fraca, uma covarde. E minha covardia fez meu irmão ficar neste estado.
Então, o observei dormir um sono tranquilo e lhe dei um beijo na testa.
“Eu vou ficar mais forte e te proteger.” Murmurei baixinho, fazendo uma promessa a mim mesma.
Após alguns minutos de descanso, levantei-me e continuei a correr pela floresta sem fim. Eu não conseguiria ficar tranquila até que encontrasse uma casa para nos escondermos, principalmente porque meu irmão parecia estar em chamas.
Foi quando eu avistei uma cidade para além da floresta e suspirei aliviada.
Agora, esse seria um recomeço para nossas vidas, só eu e meu irmão.
No momento em que vi a cidade, decidi que era melhor ficarmos ali por um tempo e nos escondermos, até meu irmão melhorar.
Ao me aproximar do portão da cidade, fui parada por dois guardas. Instintivamente assumi uma posição defensiva, observando-os com atenção.
Eu estava prestes a começar a conversar com eles, mas senti um cheiro tão único e ao mesmo tempo familiar.
Era o cheiro de lobisomem.
Até aquele momento, não tinha percebido como meu corpo tremia e por causa do estado de vigilância em relação aos guardas, o instinto me fez acreditar que todos os lobisomens eram inimigos.
Embora eu estivesse assustada e começando a odiar lobisomens, por causa de minha mãe, eu tive que me contentar com a situação. Eu cerrei os dentes, mas precisava ficar ali e buscar abrigo, pois meu irmão parecia queimar ainda mais em febre.
Asher era um lobisomem, de maneira que dificilmente um médico humano conseguiria ajudá-lo.
Os dois lobisomens que estavam de guarda no portão, nos examinaram de cima a baixo, sem esconder o desprezo no olhar, o qual notei de imediato.
“P-podemos ficar aqui?” Eu perguntei baixinho, mas ainda me mantendo em estado de alerta.
Um dos guardas zombou e não disse nada, mas eu percebi que ele me examinava com atenção, como se tentasse ver se eu merecia ou não entrar no paraíso deles.
Quando pensei que não teríamos permissão para entrar no refúgio, de repente, uma garota lobisomem caminhou em nossa direção e lançou um olhar frio e penetrante para os dois guardas.
“Deixem-na entrar. Ela não parece ser nenhum tipo de ameaça. Além disso, o irmão dela parece estar doente.” Apesar da garota ter um semblante doce, sua voz era fria. O modo como ela falou com os guardas deu a impressão que ela os comandava.
Então, os lobisomens que guardavam o portão, olharam para mim enquanto abriam passagem para nos deixar entrar.
Observei a garota lobisomem que encarava os dois guardas, ela parecia ter um status superior ao deles, pois eles demonstraram bastante respeito.
Em seguida, eu olhei para a garota e fiz um ligeiro aceno em agradecimento. “O-obrigada...”
Sem responder, a garota apenas me deu um sorriso cordial e fez um gesto com a mão, como se quisesse me dizer que aquilo não era mais do que seu dever e então ela foi embora.
Então, eu avancei para dentro da cidade. O lugar se chamava Wolven Village e era bem movimentado, eu podia ver os jovens e os mais velhos ocupados em seus negócios.
No entanto, as pessoa ali eram iguais à minha mãe, todos eram lobisomens.
Mãe Kilda sempre teve um cheiro único, o qual se destacava bastante em relação aos humanos. Por isso, sempre que a mamãe voltava para casa, eu sempre me escondia junto com o meu irmão em um lugar seguro, pois sabia que se ela nos encontrasse, descontaria toda sua raiva violentamente.
Suspirei aliviada quando entrei na cidade, graças a ajuda da garota que me estendeu a mão, do contrário eu teria sérias dificuldades para encontrar outro lugar para ficar. Principalmente, depois de perceber como meu irmão ardia em febre.
Assim, por enquanto, eu tinha um lugar para ficar e comprar os remédios para meu irmão.