Capítulo 30
1269palavras
2023-05-31 12:55
Destiny POV
Parei perto da árvore, sem entender o que eu deveria fazer, já que não consigo sentir mais as energias ao redor e esta árvore é o que destaca em meio a essa vastidão solitária. Toquei em seu tronco, tentando, forçando, alguma conexão, mas não havia nada, era como tocar uma coisa morta.
Mesmo que eu saiba que esta árvore não está morta, eu não sinto nada dela, seu toque é gelado e as folhas são levemente avermelhadas, indicando que ela se alimenta deste rio de sangue.
Afastei-me para poder olhar melhor o que estava a minha frente, Nosferatus me trouxe até aqui, o que significa que eu tenho que fazer alguma coisa para sair daqui… Duvido que eu vá ficar presa aqui para sempre, mas eu sei que o tempo no SubMundo é diferente do mundo real… Às vezes uma eternidade aqui, é apenas um piscar de olhos para quem está no outro plano.
Respirei fundo e comecei a circular esta árvore, eu não tenho muito para onde ir, a ilha é muito pequena e duvido muito que eu consiga entrar no rio novamente. Só para testar a teoria me aproximei da borda e me abaixei para tocar o rio.
Antes mesmo de meus dedos chegarem muito perto posso sentir meu sangue ser atraído por estas águas… Olhei para minhas roupas, eu estou seca, nenhuma gota do rio tinha ficado em meu corpo ou em minhas roupas.
Passei a mão pelos cabelos e me sentei, encostada no tronco da árvore. Nem todos os mitos sobre os Deuses são reais, eu sei disso por experiência própria… Fechei os olhos e comecei a me lembrar sobre o que sei.
“Perséfone é filha de Deméter, ela foi raptada por Hades para ser sua esposa… Hades fez isso porque foi atingido por uma flecha do Cupido… Alguns dizem que Hades enganou Perséfone para que ela comece as sementes de romã, enquanto outros falam que ela o fez por vontade própria.”
Pensei e abri os olhos, respirando fundo e olhei para cima, para os galhos e flores…
“De qualquer forma, ela comeu apenas 6 dessas sementes, então se o que Nosferatus falou for verdade, está realmente pode ser a árvore que nasceu das outras sementes…”
Levantei e comecei a olhar mais atentamente para a árvore, não tem vento, mesmo com a cachoeira bem perto, ainda assim não tem sequer uma brisa.
Não é como se o SubMundo fosse um lugar cheio de trevas e dor… Ele é composto por várias áreas… Claro que a maioria das almas acabam indo para alguma das áreas punitivas… Mas ainda assim existe o Paraíso e o Purgatório… Bom, na verdade quase o SubMundo inteiro pode ser considerado um Purgatório, já que as almas ficam aqui por um tempo e depois reencarnam.
O Paraíso tem várias flores, árvores frutíferas, um céu brilhante e as almas que vão para lá podem simplesmente ficar lá, sem nunca precisar reencarnar…
Tirei a luva que cobre minhas mãos e toquei o tronco da árvore e pela primeira vez consigo sentir uma leve pulsação, esta árvore está viva…
“Um Milagre para aqueles que chegam até aqui… Mesmo que sejam devorados e apenas seus ossos sobrevivam a esse rio.. Ainda assim, se alguém chegar até aqui, sabe que ainda existe Esperança.”
Afasto minha mão e tiro então uma das minhas adagas e é a primeira vez que sinto uma brisa, várias gotas daquele rio de sangue começam a cair sobre a árvore e sobre mim, mas ignoro essa sensação ruim.
Faço um corte profundo na palma de minha mão esquerda e depois faço a mesma coisa na mão direita, meu sangue começa a fluir, estendo elas para que o sangue toque bem onde o chão encontra com o tronco e vejo aquela areia começar a ficar vermelha ao redor do tronco.
“Metade é para a Vida e metade para a Morte.”
Porque no final é isso que minha Mãe significa… Perséfone quando sobre para ficar ao lado de sua mãe leva a Vida junto com Ela e os campos florescem… Quando Ela volta ao SubMundo trás a Vida para aqueles que já morreram e ainda desejam um novo começo.
O vento se torna cada vez mais forte, quanto mais meu sangue escorre, mais posso sentir a atração do rio contra meu sangue e até mesmo que ele começa a querer ir em direção aquelas aguas rubras. Então dei mais dois passos em direção a arvore e coloquei as mãos sobre o tronco, tato até encontrar aquelas pequenas frestas e faço mais força, a ponta de usar a casca para cortar ainda mais minhas mãos.
Agora eu consigo ver e sentir meu sangue fluindo para dentro da árvore… Fazer o que estou fazendo pode ser considerado loucura para muitos, porque um ser humano normal pode morrer se perder mais de 40% de seu sangue…
Nesse momento eu não sou nada além de um ser humano, é a única coisa que sobreviveu… Eu posso sim ser filha de Hades, mas no final das contas, sou apenas uma humana que carrega o peso da fagulha divina… Mas eu não deixo de ser humana.
Isso não significa que vou desistir do que precisa ser feito, às vezes eu posso ter duvidado, mas nunca desisti.
Quanto mais sangue é puxado, mais fraca posso sentir meu corpo ficando e aquela atração pelas água rubras aumenta, meus pés se movem para trás, mas antes que pudesse me desconectar do tronco, forço meus pés para frente.
Demorou um certo tempo até conseguir deixar meu corpo encostado contra o tronco, minhas mãos estão entre meu peito e o tronco, mas encosto minha cabeça, sentindo agora aquela árvore mais quente, mais aconchegante.
O cheiro de flores de romã começa a tomar o lugar, enquanto aquele vento aumenta e pelo canto dos olhos percebo algumas pétalas ao redor…
“Estou no caminho certo.”
Penso comigo e fecho os olhos, pois apesar das raízes desta árvore estarem se alimentando do sangue deste rio, é um sangue já sem vida que aqui chega… Quanto tempo demora até que um fruto seja criado?
“Eras…”
Sorri de canto, respirando fundo, começando a sentir minha cabeça girar, mas isso não é nada se comparado a dor que senti, ou ao desconforto que já passei… Agora eu só estou cansada…
Fisicamente cansada, mas minha mente não está abalada…
“As coisas acontecem por um motivo… Eu sei que não aguentaria ficar de pé se não tivesse passado por aquelas dores excruciantes…”
Pensei comigo mesma e posso sentir algumas pétalas caírem sobre meus cabelos e abro os olhos e consigo com esforço olhar para cima e ver que pequenos frutos começam a aparecer, enquanto as flores terminam seu caminho.
Não tem como eu acelerar o processo, porque ele precisa acontecer de forma natural, o sangue que flui de mim precisa ser contínuo e razoável, para que os frutos se formassem por completo e de forma perfeita.
Volto a fechar os olhos, para poupar minhas forças, eu sei que esse fluxo vai parar quando os frutos estiverem perfeitos… Agora eu sei que não serão apenas 50% de meu sangue… Será maior, porque afinal de contas eu sou responsavel por ter renegado minha Mãe.
Eu não quis procurar mais, eu não perguntei sobre isso, mesmo sentindo que havia alguma coisa de diferente em várias das minhas habilidades e achei apenas que Perséfone estava comigo, porque Hades era meu Pai.
“Desculpe, Mãe.”
Pensei antes de perder a consciência.
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