Capítulo 26
1526palavras
2023-06-20 08:31
— Você está bem senhorita? - Perguntou novamente a silhueta grande estendendo a mão para que eu a pegasse.
Eu olhei para a sua mão, pensando o que eu deveria fazer... Seria rude da minha parte se eu simplesmente não aceitasse e saisse correndo. Geralmente em uma comédia romântica estilo "anime" (animação), a protagonista faria isso, mas como estou no mundo real, deveria agir como tal.
— Quer que eu chame um médico para ver se está tudo bem? - Perguntou ele.

"Pense Kyra, pense". - Eu mentalmente me dizia.
"Ele ainda não percebeu quem sou porque estou com a cabeça baixa. Será que vai surtar ou simplesmente vai fingir que não me conhece? Bom vamos pagar para ver". - Eu pensei.
— Estou bem, muito obrigada. - Eu respondi olhando para ele e aceitando a sua mão para me levantar.
Ele me olhou e arregalou os olhos, ficou totalmente sem ação por mais de 30 segundos. Isso não era do feitio dele. Ele se recompôs, arrumou a gravata e disse:
— Que bom que está tudo bem. Você é parecida com uma conhecida minha. Desculpe a confusão, você está aqui procurando alguém ? - Perguntou ele com o cenho franzido, desconfiado.
— Estou aqui para a vaga de escritora. Você trabalha aqui? - Eu perguntei mordendo o lábio.

— Eu sou o dono, mais como um diretor geral.
— Ahhh, então eu passo. Prefiro não trabalhar com você. - Eu disse tentando passar por ele e ir ao banheiro, mas ele segurou meu braço.
— Eu sabia! Kyra, como você está linda! Quanto tempo, vamos tomar um café, eu tenho um tempo livre agora. - Ele continuava a segurar o meu braço.
— Dante, eu não quero saber de você e quem dirá tomar um café.

— Ainda guarda rancor do passado... Você realmente não lembrava da conversa que tivemos e que eu disse que havia comprado uma editora? - Ele sorriu.
— Realmente como faz algum tempo, não lembrei desse detalhe. - Eu revirei meus olhos e só então vi que ele ainda estava segurando meu braço. Me desvencilhiei. - Obrigada pela ajuda, mas realmente necessito ir ao toalete e já estou atrasada para a entrevista. Passar bem. - Eu disse indo em direção ao banheiro.
— Espera, você realmente vai desistir da vaga por minha causa? - Disse ele me seguindo.
— Sim, por quem mais seria? -Eu disse irônica.
— Não estou mais com a Lola.
— Como se eu quisesse saber. - Eu disse furiosa.
— Sabe que aqui na empresa o ambiente de trabalho é bem flexível, os funcionários trabalham com bonificações, a equipe é totalmente unida, se quiser, pode trabalhar de casa como home office e vir alguns dias para reunião com a Trish. Trabalhei esses anos todos para reerguer a empresa e a auto-estima dos funcionários.
— Que bom, fico feliz por você, mas ainda a resposta é não. - Eu disse entrando no banheiro.
Até que enfim, aqui eu posso respirar porque meu coração estava a mil por hora. Quem diria que eu daria de cara com ele... Deve ser castigo, não é possível.
"Hey, quem cuida aí do meu destino, me da uma ajuda... Eu não pedi ele no meu caminho de volta, só queria ser feliz e realizada!" - Falei olhando para um céu fictício que eu só via na minha cabeça.
Fiz tudo o que precisava fazer no banheiro, lavei meu rosto, respirei novamente e saí.
Quando voltei ao corredor, vi o Dante parado, escorado na parede me esperando. Suspirei, sabia que não me livraria dele tão fácil, até porque ele era super persistente no que queria.
Ele me viu e sorriu. Come;ou a me acompanhar novamente.
— Pensa bem, você pode trabalhar de casa, não vai precisar ficar olhando para o meu rostinho lindo todos os dias. Claro, só quado precisar, nas reuniões mensais ou se quiser almoçar comigo. - Ele sorriu para mim.
— Por qual motivo você está sendo tão persistente? -Eu parei de caminhar e o olhei nos olhos.
— Porque eu não quero te perder de vista novamente. -Falou ele bem sério.
— Me perder de vista? Qual é! A quem você está tentando enganar? Eu não vou cair nesse seu joguinho novamente.
— Sei que tens todo o direito de me rejeitar. Fui um cafajeste com você, porém você não vai conseguir se livrar de mim tão fácil, não agora que eu te reencontrei.
— Como se quisesse me encontrar... Me poupe! - Eu falei zangada e continuei caminhando.
— Eu tentei... Você não morava mais lá naquele prédio.
Eu parei abruptamente... O que eu acabei de ouvir, será que era verdade?
— O que foi que disse? - Eu perguntei incrédula.
— Foi 6 meses depois daquele dia em que você não deixou eu explicar e me expulsou.
— Se isso for mesmo verdade, faz sentido porque a senhora que me alugou acabou falecendo e sua filha me pediu o apartamento. Fui obrigada a me mudar de forma rápida.
— Ahh... Eu pensei que você havia se mudado para me evitar.
— Nunca faria isso... Era mais fácil te bloquear e não falar mais com você. Nunca me mudaria por causa de homem!
— Eu tentei te ligar várias vezes e não consegui.
— Sim, eu te bloqueei. - Eu sorri satisfeita.
— Justo. Tentei também pegar o seu número e endereço com a Lucy, mas todo esse tempo, ela se negou a dar. Não gosta muito de mim, mesmo eu a vendo pelo menos uma vez por semana por causa de Nick.
— Como a minha amiga é minha guardiã. - Eu disse emocionada.
— Você ficou feliz com a ação dela? - Disse ele horrorizado.
— Óbvio que sim, ela só estava tentando me proteger.
— Não foi fácil para mim esses anos todos. Nós combinavámos muito e eu joguei tudo para o alto.
— Dante, deixe tudo no passado, até porquê , eu nao tenho tempo para isso, preciso ir para a entrevista. - Eu disse parando em frente a porta que seria a entrevista.
— Tudo bem, voltaremos a conversar. Ainda não terminei de me explicar. - Ele me puxou pela cintura e beijou a minha testa. Meu coração me traiu e se lembrou de todos os sentimentos que me assombraram no passado. Fiquei sem reação, não sei o porquê de prender a respiração, mas prendi. Afinal, o que estava havendo comigo? Que droga!
Ele se afastou sem esperar pela minha reação e se foi pelo corredor. O que eu faria para me livrar dele, se nem eu queria? Eu respirei 3 vezes e comecei a voltar para a terra, do transe que entrei sem ao menos querer. Após colocar a minha cabeça no lugar novamente, entrei na sala.
— Olá Kyra, tudo bem? - Falou uma Loira, com os cabelos encaracolados, olhos verdes e com óculos redondos prateados.
— Olá, tudo certo e com você? - Eu falei deduzindo ser Trish. Era linda.
— Sou a Trish e estou super ansiosa para conversar com você.
— Sério? - Eu falei surpresa.
— Sim, acompanho as suas histórias há algum tempo. Sua escrita é impecável, você vivência o que escreve e eu consigo sentir isso lendo.
— Ownnn, que bom! Fico bem feliz que tenho leitores que entendem o que quero passar. Eu amo escrever. - Eu disse emocionada.
— E é isso que estou a procura. Eu verifiquei o seu portifólio e digo com sinceridade que fiquei surpresa por ver que você é formada em Administração. Por qual motivo, você quis migrar para a escrita?
— Eu sempre gostei muito de comédias românticas, desde filmes a livros e um dia parei, pensei: por que eu não começava a escrever, tirar as histórias da minha cabeça que eu já criava, mas que não vivia? Aí eu fiz alguns testes, verifiquei que as pessoas gostavam da forma que eu proprunha a ideia e decidi cair de cabeça em algo que eu gostava mais do que administrar.
— Isso aí, temos de correr atrás de nossos sonhos. Me diz, isso tem haver com coração partido ?
— Sim, sempre né. Quem nunca se apaixonou e tomou um banho de água fria, ao invés de amor?
— Super entendo você, demorei bastante para encontrar o meu marido. Parece que os homens hoje só querem beleza né?
— Então, faz um tempo que eu não me relaciono, cancei de ir a encontros fracassados com caras que só queriam beleza ao invés de inteligência.
— A inteligência parece que incomoda. Você acredita que teve um que me pediu para eu ser mais fútil?
— O que não faz sentido nenhum, já que você é muito bonita. A inteligência só agrega valor.
— Muito obrigada pelo seu elogio. Agradeço de coração. - Ela sorriu. - Mas, concordo com você e sempre preferi não me envolver com pessoas assim.
— Eu também.
— Gostei de você e acho que vamos nos dar bem. Pode começar amanhã?
— Então Trish, fico bem lisonjeada, mas vou recusar o emprego.
— Posso saber o motivo?
— Vou ter que trabalhar com o Dante.