Capítulo 20
1128palavras
2023-06-01 12:57
Dante verificou o celular e fez uma careta. Tinha inumeras oportunidade, tempos livres e justo agora em que estava desfrutando um belo momento com a Kyra, teria que atendê-la? Não tinha um pingo de vontade. Era sua mãe… Geralmente ela não ligava e quando ligava, só pedia favores ou fazia críticas sobre a gestão que fazia nas empresas que adquirira ao decorrer dos anos. Dante olhara novamente para o celular na dúvida se iria ou não aceitá-la com um ponto de interrogação estampado em sua testa.
— Vai em frente, pode atender. - Disse Kyra.
— Não sei se vou atender. Não estou com um pingo de vontade em conversar com ela.

— Não é urgente?
— Não, no mínimo uma crítica ou descaso.
— Nossa, entendo o motivo de não querer atender então. Eu pensei que não queria atender por minha causa.
— Não, é só que a minha mãe é terrível e não é nenhum pouco carinhosa ou amável. Então, normalmente eu evito contato com ela.
— Você não vai atender mesmo? É sua mãe.
— Sabe Kyra, normalmente você teria ligação, amor e contato com a família, mas expressamente meus pais, nunca foram presentes. Como te falei antes, vivi com Liza, nossa governanta. Passo mais tempo conversando com ela, do que com meus pais verdadeiros. No máximo, passo um natal ou dia das mães com a minha verdadeira mãe, mas é algo insuportável. Vejo dona Julia uma vez por ano e nada mais.

— Realmente é algo triste, até porque toda criança precisa de carinho e amor, ainda mais vindo dos pais.
—Sim, mas esse não foi o meu caso. Acredito que meus pais se casaram por conveniência e não porque se amavam. Quase não paravam em casa, cada um ia para um lado e quando estavam em casa, mal me notavam. Só sabiam ir em festas justos para manter as aparências, porém ambos tinham amantes. Não os julgo por não terem se amado, mas sinto por não terem sido presentes. Hoje eles são separados e cada um assumiu a pessoa na qual mantinha relação, só que agora, eles tiram um tempo para suas famílias.
— Você fica de fora?
— Sim, a frustração do casamento, sou eu. Então não ligo muito para as ligações que recebo deles, em especial a minha mãe porque ela só irá reclamar da minha gestão, da minha fisionomia ou da pessoa que estou me relacionando.

— Você acha que ela ligou para falar sobre o nosso namoro?
— Não tenho dúvidas. Porém fique tranquila, eu não os deixo meterem o bedelho onde não foram chamados. Minha vida pessoal é um tanto complicada, mas me sinto mais leve quando estou com você. Obrigada por estar cuidando de mim.
— Sem problemas, realmente não queria deixá-lo sozinho com febre. Isso seria horrível.
— Já fiquei algumas vezes assim, porém a única que cuidou de mim e da minha irmã foi a Liza.Até que enfim a minha mãe desistiu após 3 tentativas.
— Não sei nem o que te dizer neste momento. Como você sabe, não sei onde minha mãe está e meu pai casou novamente… Vivo sozinha já tem alguns anos.
— Sinto muito, eu não sabia que você não mantinha contato com seus pais.
— Eu até tenho de vez em quando com meu pai, mas minha mãe foi embora quando eu ainda era criança e não tenho muitas lembranças dela.
— Você não tem mais nenhum parente com quem mantém contato?
— Não muito, apenas a senhora dona do apartamento que sempre me ajuda quando pode e que me trás bolinhos. É um carinho de vó, que confesso, do qual nunca tive. Tive sorte em encontrá-la, ela mora no andar inferior e sempre que dá, vou tomar um chá de camomila com ela. - Eu disse com um sorriso meio triste.
Dante percebera a minha tristeza, se aproximou e me abraçou. Eu fiquei surpresa e sem reação, não esperava que ele iria notar meus sentimentos.
— Eu te entendo. - Disse Dante. - É solitário né? Não sabemos para onde correr quando ocorrem os deslizes da vida. Você é uma pessoa maravilhosa e não merecia estar sozinha na vida. Eu realmente não imaginava que você vivia a mesma realidade que eu, só que por ângulos diferentes. No meu caso, eu ainda tinha dinheiro para contornar um pouco a falta dos meus pais.
— Nestes casos, eu tenho amigos que me ajudam um pouco sabe, mas não gosto de ser dependente sempre, então eu tenho o meu cantinho, os meus livros, meu notebook para a faculdade e estou indo atrás dos meus sonhos.
— Deve ter recebido vários “nãos” até agora né?
— Sim, isso se chama vida, se fosse fácil, não teria graça né? - Eu sorri e me afastei.
— A com toda certeza de que quanto mais difícil, maior será o crédito e a experiência.
— Bem assim. - Eu disse recolhendo as louças da mesa e preparando a pia para lavá-las.
— Você quer ajuda? Eu posso secá-las.
— Tem certeza? Eu acho que você deveria descansar.
— Me sinto um pouco melhor por conta dos remédios que me trouxe, então acho que uma loucinha eu dou conta, até porque não são muitas. Onde fica a toalha de louça?
— Deixa eu pegar um para você.
Fui até no armário, na segunda gaveta e alcancei uma toalha limpa para que ele pudesse secar a louça. Tirei todas as louças da mesa, passei um pano e comecei a lavar. Após terminarmos a louça, me joguei no sofá cansada. Verifiquei no relógio e faltavam umas três horas para dar os remédios a Dante.
— O que vamos fazer agora? - Disse Dante.
— Podemos ver um filme até das o horário dos seus remédios, o que achas? - Eu disse encostando a cabeça no encosto do sofá.
— Concordo. Qual filme quer ver?
— Qual gênero você gosta? - Eu queria avaliar um pouquinho o gosto dele.
— No momento, sou terrível em opinar sobre qualquer gênero porque estou bem desatualizado.
— Quer dizer que você não pára para ver filmes e séries? Como assim? - Eu falei horrorizada.
— Não é tão ruim assim, é?
— É terrível porque você nunca se diverte! Como sobrevive, ou digo quando você vive?
— Eu me divirto sim ok?
— Então o que você costuma fazer quando se diverte?
— Eu bebo conhaque com um amigo em um pub ou leio artigos, teses, mestrados sobre administração.
— Nossa, como você é uma pessoa divertida… - Eu disse fazendo careta.
— Ok Kyra Knightley, o que você me indicaria para eu me divertir? Uma comédia romântica?
— Exatamente!
— Então escolhe o filme e me surpreenda.
— Já sei! Bora assistir.