Capítulo 10
2118palavras
2023-05-16 08:50
Entramos no elevador sem dizer uma única palavra. O clima estava pesado, parecia que éramos dois desconhecidos, a tenção estava mútua e ele resolvera me ignorar por completo mexendo no celular. “Isso é um bom sinal Kyra, assim você não se apega nele. Seria terrível se você se apaixonasse”. - Minha consciência jogava pesado, mas eu não descordava disso. O elevador parou na garagem, fomos em direção ao carro (eu seguindo o Dante porque não lembrava qual a numeração que ficara o carro), entramos e fomos em direção a casa do Reitor.
O trajeto demorara 40 minutos, ele só aceitava as chamadas pelo controle de volante do carro, pois colocara o fone sem fio para ser mais sigiloso. Bem, eu nem queria ouvir suas ligações, muito menos saber com quem se relacionava. Decidi olhar meu celular e percebi que havia recebido uma mensagem. Era Lucy, reclamou que eu não dei mais atenção para ela, que ela estava com saudade e que queria estudar comigo para a próxima prova que iria acontecer na próxima terça-feira. Eu fiquei tão feliz em receber a mensagem dela, de saber que não iria passar sozinha em casa no final de semana, que sorri quando comecei a responder, concordando com ela dizendo que estaria livre. Mal terminei de responder, ela já retornou com várias carinhas de felicidade, dizendo que iria comprar bolo de leite em pó, chocolate e pipoca.
— Lucy, você tem certeza de que vamos estudar? - Respondi com uma carinha rindo.
— Vamos estudar sim, mas depois é noite das meninas! Então trate de vir na sexta-feira porque eu quero passar o final de semana todo com você e só irei te devolver no domingo.
— Aí sim, melhor final de semana em tempos hehe. - Eu disse.
— Com toda certeza, já estou bem ansiosa para isso.
— Ah, mas nada de filme de terror… Não me dou bem com eles.
— Ahhh vaiii, só um…
— Não vou conseguir dormir depois e você terá de ficar a noite inteirinha acordada me fazendo companhia. - Eu disse com uma carinha de contente.
— É… Prefiro ficar tranquila, bora para comédias românticas!
— Super de acordo.
— Boa noite amiga, se divirta por aí! Ah depois vou querer saber todos os detalhes do seu namoro hehe.
— Boa noite enxerida. Obrigada, beijos.
Quando olhei na direção do Dante, ele estava me avaliando com uma expressão de desaprovação, parecia que estava desconfiado de algo.
— Com quem você estava conversando? - Ele perguntou curioso.
— Com alguém importante. - Respondi vagamente.
— Não vai me contar?
— E eu devia?
— Sim, preciso saber quem calsou o sorriso em você.
— Você não tem o direito de me cobrar isso, sabe bem. Até agora, respeitei o seu espaço, respeite o meu também.
— Como assim? - Dante perguntou confuso.
— Você atendeu ligações quase o trajeto todo e eu não perguntei, muito menos questionei com quem você estava conversando.
— Mas eram ligações referentes ao trabalho, não era relacionado a outras mulheres.
— Oi? Você não está conversando com nenhuma outra garota? - Falei incrédula.
— Eu deveria? - Falou ele um pouco irritado.
— Não sei dizer. - Mas achei estranho a irritação dele. - Por qual motivo você ficou irritado?
— Se vamos fingir que estamos namorando, não podemos dar chance ao azar e nos relacionarmos com outras pessoas. Mesmo que seja falso o nosso namoro, tenho minha reputação a zelar.
— Ah e neste exato momento você só está preocupado com a sua “reputação”?
— Com o quê mais eu deveria me preocupar? - Disse ele com o cenho franzido.
— Quem sabe, talvez em ser uma melhor companhia? - Eu disse sem olhar na cara dele.
Dante ficara em silêncio por longos minutos, parecia que estava pensando no que deveria fazer ou falar, passou as mãos nos cabelos e quebrou o gelo.
— Mesmo você não gostando de mim, tente parecer mais feliz estando ao meu lado hoje na festa.
— Pode deixar, cumprirei o meu papel de namorada feliz.
— E também espero que evite pretendentes indesejáveis durante o nosso “acordo”. - Sério, ele frisou mesmo a palavra ACORDO.
Senti a minha nuca se arrepiar, parecia um pouco o tom de ameaça, tentei me recompor e falei.
— Caso eu não esteja de acordo, o que isso mudaria?
— Não jogue comigo Keyra, você vai perder.
— Sua mudança de humor é admirável. Você é bipolar? - Eu falei sarcásticamente.
— Você está sendo levada e sabe disso. Vai acabar se queimando e não vai poder reclamar depois.
— Óbvio que vou! Eu sou mulher, posso reclamar quando quiser. - Eu disse sorrindo.
— Você está tirando sarro de mim, que audácia! Paga para ver.
— É um desafio? Eu amo desafios.
Dante sorriu com ar triunfante, como se tivesse ganho uma corrida, cujo prêmio parecia ser eu Kyra. “O fato que ele não considerou é que eu sou uma adversária a altura, também sei jogar e com toda certeza de que irei jogar. Quem sairá perdendo, não será eu”. - Pensei.
Chegamos a mansão do Reitor Alexander. A propriedade era imensa, era uma fazenda com mais de 10 hectares, deveria ser linda de dia com o sol brilhando. Haviam holofotes com luzes brancas para indicar a entrada da propriedade e o caminho que os convidados deveriam seguir na estrada de chão. Não era qualquer estrada, estava nivelada, sem buracos ou pedras, era lizinho que de carro você nem conseguia sentir que estava realmente andando nela. Chegamos até o salão da festa, tinha um rapaz uniformizado (o uniforme era todo preto com gravata borboleta vermelha, composto por calça social, camisa preta e sapato preto) que estacionava os carros. Descemos do carro e Dante do meu lado colocou a mão na minha cintura sussurrando no meu ouvido:
— Está pronta?
— Si..Sim. - Eu respondi, sentindo o hálito quente no meu ouvido e arrepios pelo corpo.
— Gaguejou? - Ele sorriu sarcástico. - E se eu fizer isso? - Ele tirou a mão da minha cintura, subiu nas minhas costas na parte que estava nua (decote do vestido) e acariciou.
— Você está ficando louco? - Eu disse baixinho tirando a mão dele das minhas costas. - Pare de brincar comigo.
— Só vou parar quando você me contar com quem estava falando.
— Não devo satisfação da minha vida.
— Então me aguente a noite inteira, a festa só está apenas começando.
Ignorei seu comentário e continuamos o trajeto a pé até a entrada do salão. Vou contar a você, caro leitor, nunca vi nada tão lindo. A entrada foi toda decorada com orquídeas roxas e brancas, o piso era porcelanato cinza claro e a porta na qual estava a recepcionista, era enorme em carvalho. A recepcionista conhecia Dante porque acenou de longe e veio ao nosso encontro, jogando-se nos braços dele e dando-lhe um beijo no rosto. - “Que inveja”. - Eu pensei.
— Olá Dante! Há quanto tempo? Já se livrou daquela praga, digo Lola? - Disse ela.
Eu comecei a rir, por mais que eu não tinha a menor chance com ele (nessa altura do campeonato eu nem queria), não era somente eu que não tinha gostado da Lola, mais pessoas pensavam como eu.
— Vejo que você está melhorando nos seus gostos em relação a mulheres. - Disse ela olhando para mim que ainda estava rindo.
— Obrigada. - Eu disse sorrindo para ela.
— Querida, eu me chama Diana. Sou amiga de infância desse cabeça dura.
— Prazer Diana, me chamo Kyra.
— O que você é dele? - Perguntou Diana.
— Eu sou… - Demorei uns segundos para responder.
— Ela é minha namorada Di. - Disse Dante me interrompendo.
— Até que enfim! Já simpatizei com ela mesmo sem ter conversamo muito.
— Que bom Di, assim você não irá me perturbar por não pensar no meu futuro.
— Como assim? - Eu disse olhando para Diana.
— Ele só sabe namorar sanguessugas. - Disse ela piscando e sorrindo para mim.
— Já vi que vocês duas vão se dar bem. - Disse Dante passando as mãos pelos cabelos.
— Sim, aliviando aqui Kyra, te encontro no salão para papearmos.
— Vou te aguardar. - Eu disse sorrindo.
— Quero te contar uns podres do Dante.
— Ah que isso Di, isso é golpe baixo, vai destruir a minha imagem.
— Será um prazer! Agora entrem, a mesa de vocês é a 12. Divirtam-se.
Entramos no salão e eu fiquei de boca-aberta. Era imenso, tinha capacidade para 1.200 pessoas, porém hoje seriam apenas 400 convidados (pelo que eu fiquei sabendo, Alexander só chamara os amigos mais próximos), possuía 50 mesas e cada mesa era reservado para 8 pessoas. Toda a decoração foi feita em branco com detalhes em dourado, desde as paredes, até as cadeiras, mesas e toalhas. Possuía um lustre enorme ordenado com caules de rosas em dourado e as pétalas eram cristais no estilo diamante. Chegamos na mesa 12, estava toda decorada e arrumada para comportar 8 pessoas, cada lugar possuía uma plaquinha com o nome, prato, talheres e taças decorados de acordo com a etiqueta. Sentamos nos respectivos lugares, na minha plaquinha estava escrito “acompanhante do Dante”. “Pelo jeito eles não sabiam que eu viria”. - Pensei.
— Sim, eles não sabiam que você viria porque aqui ninguém sabe ainda que estou namorando. Só ouviram falar do meu término com a Lola. - Disse Dante percebendo que eu estava lendo a plaquinha.
— Tudo bem. - Eu disse.
A introdução do evento começava, todos os convidados já haviam chegado e ficaram de pé para ver o orador falar sobre o aniversariante. Fizeram uma apresentação com vídeo sobre a vida (desde o nacimento) de Alexander, até os dias de hoje. Todos bateram palmas para o orador após o fim do vídeo e Alexander assumiu o microfone. Me surpreendeu a elegancia que ele possuíam, estava vestindo um terno todo preto (inclusive a camisa) com uma gravata preta com listras brancas. Ele não parecia ser tão velho, o que era uma surpresa porque nos documentos da faculdade, ele parecia mais velho. Dante percebera a minha confusão e me explicou o que de fato aconteceu.
— Kyra, ele é o filho do antigo reitor que estava nos documentos do contrato da faculdade quando entrou para o curso. Ele assumiu o cargo tem uma semana.
— Ahhhh, agora tudo faz sentido. Ele é parecido com o antigo reitor, mas parece ser bem mais novo.
— Sim, ele tem 35 anos, é meu amigo de faculdade.
— Entendo.
Alexander não era feio, tinha cabelo jogadinho para o lado direito preto, olhos bem azuis, traços marcantes no rosto, um sorriso bonito e 1 metro e 80 de altura. “Ok, o destino me trollando novamente, oh local de homens bonitos” - Pensei. Alexander finalizou o seu discurso, todos bateram palmas e ele foi comprimentar os convidados, mesa por mesa. Até que chegou na nossa.
— Ahhh você veio! Finalmente não perdeu meu aniversário. - Disse Alexander a Dante abraçando-o.
— Não poderia perder né? Inclusive estou aqui a seu dispor até quando você enjoar. - Disse Dante. - Fiquei honrado pelo seu convite, muito obrigada amigo.
— De nada. Vejo que trouxe uma elegante dama. - Disse Alexander pegando a minha mão e beijando.
— Sim e essa tem dono! Não se empolgue. - Disse Dante.
— Ah vejo que firmou compromisso então. Esperto você, fez isso rápido para não perdê-la. Estou orgulhoso amigo. - Disse Alexander com os olhos brilhando de alegria.
Eu fiquei bem envergonhada com o elogio, mas logo me recompus. “Acorda Kyra, ele só está sendo elegante e cortez com você. Tudo não passa de educação e bons modos”. Sim, eu mesmo me sabotava e isso não era legal.
— Me chamo Alexander, muito prazer. - Disse ele se apresentando.
— Eu me chamo Kyra, o prazer é meu. - Eu disse sendo educada.
— Ale, você não tem outros convidados para comprimentar? - Disse Dante meio irritado.
— Fica tranquilo amigo, como ela está com você, não vou roubá-la. Apesar de que Kyra, você está irresistível neste vestido preto. Então Dante, não largue-a, pois se eu souber, vou investir sem precisar pensar. - Disse ele sorrindo e indo em direção as outras mesas.
— Que desaforado. - Disse Dante com o cotovelo escorado na mesa e a mão na testa.
— Por que isso incomoda você? Ele só estava sendo educado comigo.
— Kyra, não percebe que ele te achou incrível e que você está deslumbrante essa noite?
"Ele realmente disse isso? Ouvi corretamente? O que está acontecendo?". - Pensei.