Capítulo 9
2344palavras
2023-05-12 09:56
Estudava há algum tempo na faculdade, porém nunca conheci o reitor de perto. Tudo era novo para mim e não sabia o que poderia esperar de uma festa neste porte. Sempre quem ia em sala de aula ou no auditório era a nossa regente de turma Liliana que falava em nome do reitor. Sei quem é e qual o seu nome por causa das matérias que saíam sobre a faculdade e o manual do estudante que davam no início do curso, seu nome era Alexander. Enquanto eu estava escolhendo um vestido, ficava em devaneios sobre isso. A loja era magnífica por dentro e confesso que nunca havia entrado em um ambiente assim, parecia que eu estava em um filme, onde conhecia meu par perfeito, rico, que gostou de mim e que começamos a namorar, mesmo eu sendo pobre. É, tive que me beliscar para voltar a realidade.
— Au! Doeu. - Falei, depois de ter me beliscado.
Olhei para os lados e percebi que não havia ninguém me observando porque Dante estava conversando com as vendedoras sobre o estilo de vestido que queria que eu provasse. Parei um pouco para admirar a loja por dentro e sua decoração. A loja possuía dois andares, no primeiro piso ficavam os ternos, calças de grife, camisetes, cintos e saias. No segundo andar ficavam os vestidos, sapatos, bolsas e casacos. A decoração toda da loja era em preto e branco, com quadros em preto e branco no primeiro andar e branco e preto no segundo. Sem contar as araras modernas que destavam as roupas sem amassar ou ter mais de uma peça por vão, todas as peças eram separadas por tamanho e etiquetadas. As vendedoras possuíam uniformes iguais (preto com faixas brancas na gola, mangas e nos bolsos das calças), eram lindos, sério até eu queria um daqueles para apresentar o meu TCC. O ambiente era bem iluminado com luzes brancas no drywall, lustres que lembravam cristais e nos fundos de cada andar estavam os provadores.
— Kyra? - Ouvi alguém me chamando e saí dos meus devaneios.
— Oi? - Respondi me virando para quem estava me chamando.
— Kyra planeta terra chamando Kyra, cambio e desligo! - Disse Dante.
— Entendido capitão! - Eu disse fazendo reverência e rindo. - Já escolheu o modelo que mais lhe agrada?
— Sim, escolhi 3 modelos e quero que você experimente para verificar qual fica melhor.
— E se eu não gostar?
— Dúvido, eu tenho bom gosto! Pode ficar tranquila.
— Agora me sinto muito mais aliviada. - Disse sarcástica.
— Falando sério, você vai gostar. Essa é a Leila. - Disse Dante apresentando a vendedora.
— Olá Leila! - Eu disse sorrindo para ela.
— Olá Kyra, espero te ajudar a encontrar o vestido perfeito! Dante já me passou o que ele acha que vai combinar com você, já separei os modelos, vamos experimentá-los?
— Eu topo.
A vendedora se aproximou com três modelos de vestidos longos na cor preta. Fui ao provador e a mesma me acompanhou para auxiliar. Vesti o primeiro vestido e não me senti confortável, pois o mesmo era bem decotado, com alças finas, cavado nas costas e o tecido era bem fino. Nem saí do provador para que Dante o visse, apenas tirei e o entreguei a Leila.
— O que foi? - Perguntou Dante a Leila.
— Ela não gostou deste. - Disse Leila. - Mas, tem um deles, o que possui renda que vai ficar tão lindo nela que eu tenho certeza de que ela vai gostar.
“Tomara”. - Eu pensei. Comecei a provar o segundo, mas já sabia que não iria gostar, pois possuía muitos babados e tinha um decote enorme, sério, Dante deve estar brincando comigo, só pode, nada contra quem gosta destes estilos, mas eu não me sentia confortável porque o vestido era transparente na parte inferior, parecia um body com a saia toda rendada por cima. Só tirei e o entreguei a Leila.
— Kyra, isso não é justo! - Disse Dante.
— Não é justo? Você deve estar brincando comigo, só pode.
— Mas eu queria ver como os vestidos ficavam em você.
— Seu pervertido.
— Como perder uma oportunidade dessas?
Eu ignorei os comentários pervertidos de Dante e peguei o terceiro vestido. Esse me chamou a atencão por ser longo, com renda fina passando por todo o vestido, com alças grossas que pegavam boa parte dos ombros, decote em “v” que marcavam as minhas curvas. Me olhei no espelho não acreditando no que via, sério, pela primeira vez eu me achei linda. É esse! - Eu pensei. Saí do provador e quando me viram, Leila e Dante ficaram de boca aberta.
— Eu te disse! O vestido que eu escolhi ficou lindo nela. - Disse Leila sorridente e orgulhosa de sua escolha.
— Não se gabe, as minhas escolhas também não eram ruins.
— Sei… - Disse Leila vindo em minha direção. - Já sei o sapato e bolsa que combinarão com o seu vestido. Vou separá-los enquanto você se troca.
— Muito obrigada Leila, você me salvou! - Eu disse voltando ao provador para me trocar.
Só quando a Leila me deixou que eu percebi que não conseguiria sozinha tirar o vestido. “Que droga! Vou ter que pedir ajuda para o Dante”. - Eu pensei. Envermelhei da vergonha, mas não tinha o que fazer porque se fosse esperar a Leila voltar, iria demorar um bocado de tempo. “Kyra, seja corajosa, é só abrir o ziper do vestido, você não irá fazer nada de errado”. Eu tentava me incentivar, mas fiquei um tanto nervosa.
— Dante? - Chamei.
— Chamou Kyra, precisa de algo?
— Sim, poderia me ajudar com o vestido?
— Sim. - Disse ele se aproximando do provador. - Estou aqui.
— Você poderia abrir o ziper do vestido? Eu esqueci de pedir para a Leila antes de ela sair.
— Sim, não precisa ficar envergonhada Kyra, é só um ziper. - Disse Dante percebendo o meu embaraço.
Tentei ficar mais tranquila, totalmente em vão, mas eu decidi ser corajosa, abri o provador e virei de costas para ele para que pudesse abrir. Ele retirou meu cabelo de cima do ziper, segurou na parte de cima do vestido (eu me arrepiei só com o toque) e puxou o ziper bem devagar para não estragar a renda. A hora em que ele finalizou, eu agradeci e fechei novamente o provador tentando me recompor. Sentei no provador e respirei, pois estava com muito calor.
Dante ficou sem entender aquele comportamento de Kyra, sabia que a situação era embaraçosa, que ela estava mexendo com ele e no momento em que tocou seus cabelos, sua pele, seu sangue ferveu. Kyra era linda! Nunca pensara que acharia outra mulher bonita além de Lola, mas estava redondamente enganado. Era somente atração ou estava correndo risco de se apaixonar?
“Com certeza é atração”. - Pensou. Mas, se deixaria levar pela atração e iria se envolver com ela? - “Bom ponto de vista, mas não sei o que fazer”. Era melhor não se deixar levar por essa atração até porque atração é passageira.
Dante estava tão absorto em pensamentos que nem viu Kyra sair do provador e acompanhar Leila para provar o sapato e ver as opções de bolsas. Kyra escolheu tudo em 10 minutos.
— Dante? - Eu disse.
— Diga. - Disse ele meio distante.
— Você vai escolher algo ainda ou já podemos ir?
— Eu já comprei o meu terno. Podemos ir, vou acertar os detalhes com a Leila, fique a vontade olhando as coisas, ok?
— Tudo bem.
Dante acompanhou a Leila, eu continuei olhando os vestidos e um flashback passou na minha cabeça: “Acertar os detalhes”... Espera! Será que ele estava falando apenas em pagar o que escolhi e irmos embora? “Kyra, isso é coisa só da sua cabeça, com toda certeza de que é só pagar a conta” - Eu disse a mim mesma.
Esperei uns 20 minutos até que Dante viesse até mim com as sacolas e sairmos da loja. Eu estranhei a quantidade de sacolas, mas não ousei questionar.
Entramos no carro e o restante do trajeto até o apartamento dele, fomos em silêncio. Chegamos ao apartamento em que ele estava ficando, era enorme, com vidraças brilhantes e para a minha surpresa, ele estava ficando na cobertura. A essa altura, eu já não duvidava de mais nada. Ele entrou na garagem, estacionou o carro e saiu para pegar as coisas que estavam no porta-malas. Eu fiz o mesmo, saí e fui ajudar, mas por algum motivo, ele não me deixou levar as sacolas.
— Pode deixar que eu levo.
— Deixa pelo menos eu te ajudar. - Eu disse.
— De maneira nenhuma! Só me acompanhe para não chegarmos atrasados.
Concordei com a cabeça, olhei no relógio e já passavam das 18hs. Subimos de elevador até chegar na cobertura, tudo era tão moderno e sofisticado, elevador espelhado com ar-condicionado, música e câmera, os corredores eram largos e tinham poltronas. Todo o ambiente era em tom madeira com paredes brancas, havian quadros com pinturas de paisagens lindas e até a moldura combinava com a tonalidade madeira. Finalmente chegamos ao partamento, nele tinha fechadura eletrônica que só podia ser aberta por senha e cartão. Dante colocou a senha, abriu a porta, acendeu as luzes e já foi retirando a gravata. De repente parou no corredor, se virou e olhou para mim com as sobrancelhas franzidas.
— Você está esperando um convite para entrar? - Ele me perguntou.
— Ok, ok já estou entrando. - Eu disse entrando e fechando a porta.
— Tem três banheiros aqui então você pode utilizar com tranquilidade o do quarto de hóspedes, lá tem tudo o que precisa como toalhas, secador de cabelo e roupão. Ah, sobre lingerie, percebi que você não pegou nenhuma então escolhi para você.
— Você o que? - Eu perguntei não acreditando no que havia escutado.
— Só vai se arrumar ok? - Dito isso, Dante foi em direção ao seu quarto que era a suíte principal.
“Nem quero ver o que ele escolheu, mas o que posso fazer? Realmente esqueci de pegar. Vou ter que utilizar o que ele comprou mesmo”. - Eu pensei.
O apartamento possuía 3 quartos, todos suítes, 1 banheiro social, sala e cozinha conjugada e 1 escritório. Toda a decoração era em cinza e branco, quase não haviam quadros nas paredes, passei em frente ao escritório para ir em direção do quarto de hóspedes e vi que havia apenas 1 quadro no apartamento todo e por incrível que pareça, era de uma xícara de café branca com detalhes dourados, num fundo todo azul céu. Passava a sensação de paz interior, não sei o porquê, mas eu gosto muito de quadros de café.
Cheguei ao quarto de hóspedes que possuía as mesmas tonalidades do restante do apartamento, com uma cama king size coberta por uma colcha cinza e travesseiros fofinhos da mesma cor, com mesinhas em ambas as laterais da cama, com abajures delicados nas cores creme e dourado. Possuía também uma Tv smart 72 polegadas na parede, tapete felpudo cinza complementava o quarto juntamente com um sofá divã no canto direito do quarto próximo a enorme janela. Não posso dizer que o quarto não me agradara, era confortável, mas por algum motivo, sentia falta do meu apartamento, sei que é bem simples, só que é bem acolhedor.
Coloquei as sacolas em cima da cama, fechei a porta do quarto e fui vasculhar as coisas que Dante havia me comprado. Separei o vestido, a bolsa e o sapato na cama e fui verificar o restante das sacolas.
—Ahhhhh! - Soltei um gritinho.
— Kyra, está tudo bem, se machucou? - Dante entrou no quarto correndo. Olhou bem sério para mim, sem entender absolutamente nada.
— Dante, eu vou te matar! - Eu disse com raiva.
— O que eu fiz? - Perguntou ele na maior inocência.
— A lingerie que você comprou é tem renda toda transparente, fio dental, você nunca ouviu falar em calcinha de algodão?
Dante começou a rir e eu não entendi mais nada. Fechei a mão e tentei me acalmar, não tinha mais escolha, até porque nesta altura do campeonato, teria que usar as táticas ao meu favor, ou seja, usar aquilo ali que também era na cor preta.
— Vou terminar de me arrumar. - Disse Dante saindo do quarto ainda rindo da minha cara.
— Te odeio. - Falei, mas não sei bem se ele escutara.
Fui ao banheiro, tomei meu banho, sequei meu cabelo e voltei ao quarto de roupão. Coloquei a lingerie e percebi que empinava ainda mais os peitos, me olhei no espelho sem acreditar. Decidi não perder muito tempo e colocar o vestido, sapatos e a maquiagem. “Espera Kyra, você não trouxe maquiagem! O que eu vou fazer?”. Só então percebi quando terminei de olhar as sacolas que Dante realmente era precavido e que comprara maquiagem (base, corretivo, pó, delineador, máscara de cílios, batom, pincéis de aplicação, esponja e sombra). Abracei as maquiagens e fui finalizar o look com algo mais simples, só que sofisticado. Decidi fazer um delíneado sutíl em cima de uma sombra marrom claro para realçar meus olhos juntamente com a máscara de cílios e para completar um batom marrom nude.
Finalmente pronta, saí do quarto e Dante já estava pronto me esperando na sala. Quando o vi fiquei de queixo caído, ele estava extremamente lindo num terno azul turquesa, camisa branca, gravata rosê e os cabelos estavam soltos até nos ombros. “Recomponha-se Kyra!” - Eu pensei. Fechei a minha boca e caminhei até o seu encontro, pois o mesmo estava sentado no sofá com o celular na mão.
Dante percebeu que eu estava indo em sua direção que parou de digital e olhou em minha direção. Arregalou os olhos, me olhou de cima a baixo, parecia que eu o tinha afetado de alguma forma. Por um momento baixara a guarda, mas respirou fundo e se recompôs.
— Vamos? - Disse ele.
— Vamos.