Capítulo 8
2328palavras
2023-05-11 08:37
Acordei com uma dor de cabeça horrível na manhã de segunda. Levantei da cama e fui me arrumar para ir na faculdade, hoje teria a prova de AFO que havia estudado. Por um milagre, eu estava bem confiante de que tiraria uma boa nota. Lavei meu rosto e vi as olheiras profundas, fruto da noite mal dormida por causa do que acontecerá. - Quando que eu vou começar a ter paz interior? - Me perguntei.
Fiz um café, comi uma torrada, tomei um remédio para dor de cabeça e saí para pegar o ônibus (estava quase na hora). A manhã toda passou tranquilamente, terminei a prova e o professor nos liberou o restante da aula, como eu trabalhava meio período num café próximo a faculdade, decidi ir pegar mais cedo o meu turno.
— Kyra, o que você está fazendo aqui tão cedo? - Perguntou Anne, minha colega de trabalho.

— Anne, bom dia! - Falei piscando para ela.
— Ops, desculpa! Foi tão corrido a manhã que nem te cumprimentei direito. Deixa eu recomeçar, bom dia Kyra!
— Agora sim! - Eu disse sorrindo. - Como cheguei cedo, vou te ajudar a colocar tudo em ordem! Ah eu saí mais cedo porque tive prova hoje.
— Ah entendi, você é um anjo! - Ela disse aliviada.
Dei uma olhada no café antes de ir nos fundos me arrumar, realmente estava com bastante movimento. - Que maravilha Kyra! O dia vai passar voando. - Falei para eu mesma.
Terminei de me arrumar e fui ajudar a Anne com os clientes que estavam chegando. Haviam 15 pessoas que acabaram de chegar para entregar os pedidos.

Ah esqueci de te contar caro leitor como o café era. É um local que existe até hoje (nos dias atuais), com decoração vermelha e creme, tinha um toldo na frente, com a vitrine dos doces voltadas para rua, possuía cerca de 10 mesas com 4 lugares, 05 mesas de 02 e o balcão com 10 bancos para os clientes que vinham sozinhos ou que gostavam de interagir. É um dos locais que me sinto em casa, super confortável e convidativo, com quadros de cafés diferenciados e o meu preferido era o quadro que tinha acima do caixa, uma xícara e pires vermelha, com café preto, saindo fumacinha num plano de fundo azul. Ahhh como me confortava olhar aquele quadro! (Quando eu saí do trabalho após terminar a faculdade, eles me deram e hoje ele está no meu apartamento).
Voltando a segunda-feira tenebrosa do meu passado, já havíamos terminado de atender todos os clientes, a tarde havia voado e meu turno já estava acabando, eu estava louca para ir embora e do nada ouço meu nome.
— Kyra?! - Uma voz conhecida me chamou.
Eu olhei para trás e não vi ninguém, dei uma olhada nas mesas e não consegui discernir de onde vinha. - Devo estar maluca, tô até ouvindo vozes. - Eu falei rindo.

— Não! Você ouviu bem! Eu não sabia que você trabalhava aqui. Deveria ter me contato.
Olhei para o lado e vi a pessoa mais linda que já havia entrado na minha vida. Ele se aproximou e falou no meu ouvido:
— Sentiu saudade? - Disse Dante.
— O quê?! - Eu falei com expressão de susto.
— Já vi que sentiu! - Disse ele rindo.
— Como você é egocêntrico né? Até parece que eu vou sentir saudade de uma perturbação como você. Era só o que me faltava mesmo.
— Sei que você gosta de mim e só não admite. - Disse ele piscando para mim.
— É para eu continuar representando? - Falei no ouvido dele.
— Sim! - Muito tarde para você correr.
— Você pode dizer que terminamos e que você voltou com a Lola. - Falei com malícia e um sorriso de vitória nos lábios.
— Você é malvada. Prefiro passar os meus dias sendo maltratado por você do que ter que arranjar outro encosto.
— Mudando de assunto, o que eu faço? Ainda estou em horário de trabalho e não sei como agir com você (meu atual namorado).
— Bom, vou te dar um beijo no rosto e você sorri para mim. Isso já basta, não quero te atrapalhar também.
— Ok. - Eu disse com o rosto pegando fogo da vergonha.
Dante se aproximou, segurou na minha cintura e deu um beijo na minha testa. Na hora eu enrubesci. Representei bem o papel da namorada, porém, o que ninguém sabia, era que meu coração estava quase saindo pela boca de tanto que batia e que o toque na minha cintura foi o suficiente para me deixar com calor. Dante sorriu para mim e voltou a mesa que estava sentado, neste mesmo instante Anna se aproximou e perguntou:
— O que eu perdi? Você não me contou que estava namorando um belo homem! - Disse fazendo beicinho.
— Desculpa Anna, nem eu tive tempo de raciocinar sobre isso.
— Parece um sonho né? - Disse ela nas nuvens.
— Realmente parece. - Homem assim não me levaria a sério nem que eu nascesse de novo. - Eu pensei.
— Kyra, finaliza o seu turno por hoje e vai aproveitar o seu belo príncipe. - Disse Anna sorrindo, toda empolgada.
— Tem certeza? Ainda parece meio cheio. - Eu disse olhando em volta.
— Pode ir, eu cuido do resto. - Ela piscou para mim e foi para o caixa atender um cliente.
Fui para os fundos novamente me trocar envolta em pensamentos. Todo mundo parecia feliz pelo fato de eu estar namorando um homem lindo e que é galanteador, mas por qual motivo eu não estava? Não me sentia a altura dele, pois não era tão bonita, não estava trabalhando na área que eu queria, não havia me formado e o principal, haviam mulheres muito mais atraentes que eu no pé dele. Isso era frustrante porque eu não tenho uma autoestima alta.
Terminei de me trocar, peguei as minhas coisas, voltei a frente da lanchonete e fui em direção a mesa de Dante. Ele estava lindo, com sua camisa polo branca, calça jeans preta e blazer preto. Parecia absorto em pensamentos olhando pela janela da cafeteria.
— Parece preocupado. - Disse sentando a mesa.
— Estou. - Ele disse olhando para mim.
— Foi algo que eu fiz?
— Não, capaz, você se saiu bem ali. Até parecia que realmente estava ruborizada por eu ter beijado você. Fez um belo papel.
— Obrigada! - Eu disse piscando para ele.
— O que está me incomodando não é isso, mas parece que não está sendo suficiente para convencer a mídia e as mulheres que me rodeiam de que estou num relacionamento sério.
— E o que você sugere? - Perguntei na maior inocencia já me arrependendo no mesmo instante de ter perguntado.
— Ir na festa do reitor da faculdade hoje.
— O quê?! - Falei assustada. - O reitor da festa na segunda-feira? Como assim?
— Vida de empresário rico é movimentada.
— Percebi. Uma pergunta: Com que roupa se deve ir a festa?
— Vestido, não precisa ser chamativo, mas que realce a sua beleza.
— Realçar a minha beleza? - Comecei a rir. - Tem que ser um vestido milagroso, será que eu consigo um? - Falei em tom sarcástico.
— Como você é engraçada.
— Eu faço o que posso.
— Eu vou te levar numa loja aqui perto para escolher, vamos nos arrumar no apartamento que estou ficando porque não vai dar tempo de te levar no seu ap e buscar, tudo bem para você?
— Fazer o que né? Tenho escolha?
— Não. - Disse ele sorrindo. - Antes, toma um café e come algo comigo.
— Tudo bem, vou escolher uma fatia da torta de leite em pó e um leite com café, o que você vai querer? - Perguntei.
— Fatia de torta de leite em pó? Nunca comi, acho que vou querer o mesmo que você. Pede um leite com café também, por favor.
— Ok.
Levantei, fui até o balcão passar os nossos pedidos a Anne que me atendeu na hora e disse que levaria na mesa. Retornei a mesa e me sentei.
— O pedido já está vindo. - Eu falei.
— Tudo bem. Ah, esqueci de perguntar, como foi na prova hoje? Se saiu bem? Caiu o que havíamos estudado?.
— Sim, pela primeira vez sinto que fui bem na prova. Todas as questões não pareciam um bixo de sete cabeças e estavam fáceis de responder. Calculei tudo como você me ensinou e os resultados batiam com as alternativas de assinalar na resposta. - Eu falei empolgada.
— E caiu alguma de DRE?
— Caiu, tive que calcular todas as entradas e saídas de uma empresa fictícia e fazer o DRE dela.
— Que bom que você se saiu bem! - Disse ele piscando para mim.
— Sim, só tenho a te agradecer por isso.
— Imagina, só estou retribuindo o favor que está me fazendo. Quando sair a nota, me avisa que quero avaliar o seu desempenho.
— O meu desempenho? - Franzi a testa.
— Sim, quero ver se você é uma boa aluna. - Disse sorrindo.
— Eu realmente nunca sei quando você está falando sério ou brincando comigo.
— As duas coisas. Adoro te ver brava ou confusa. - Disse rindo.
— Isso é tortura sabia? - Eu fuzilei ele com o olhar.
— Tortura por que? Sei que gosta dessa tortura.
— Você está perfeitamente enganado.
— Você nunca vai admitir.
Anne chegou com os nossos pedidos. A torta estava linda, tinha duas camadas em tonalidade amarela com recheio também de leite em pó no meio e cobertura tbm amarelada. Comi o primeiro pedaço com um garfo e fui para as nuvens… Sério, eu viajo comendo e sentido os sabores dos alimentos, é maravilhoso. Eu estava tão longe que Dante me chamou umas três vezes até eu escutar a sua voz e descer do céu de sabores no qual eu estava.
— Kyra? - Disse ele rindo.
— Oii! - Eu disse olhando para ele.
— Você viaja quando come algo de que gosta né?
— É tão visível assim?
— Sim, mas vou te contar, realmente essa torta está maravilhosa. Não me arrependi de ter pego o mesmo pedido que o seu, obrigada pela sugestão.
— Fico bem feliz de compartilhar isso com você. Sabe, quase ninguém prova os doces que eu gosto.
— Nem seus amigos? - Disse ele franzindo a testa.
— Não, o João não gosta muito de doces e a Lucy não come porque diz que vai engordar. - Eu disse fazendo careta.
— Eu gostei disso. - Vi um brilho no olhar do Dante que eu nunca havia visto antes.
— Disso? - Perguntei.
— Sim, parece algo tão puro compartilhar esses momentos com você. Sei que são simples, mas para te agradar não precisa muito. Isso que me surpreende.
— As coisas simples, são as melhores! - Eu falei surpresa.
Terminamos de comer, Dante não deixou eu ajudar a pagar a conta, se levantou e foi no caixa conversar com a Anne.
— Você está feliz? - Perguntou Anne.
— Oi? - Disse Dante meio confuso. - Desculpa, não entendi a sua pergunta.
— Em relação a Kyra. Espero que você cuide bem dela, é uma menina de ouro sabe. Já sofreu muito na vida e merece ser cuidada.
— Ahh, sim, posso te dizer que realmente estou feliz. - Disse Dante pensando nas palavras que havia soltado.
— Espero que vocês dois sejam felizes e vê se não machuca ela viu! - Disse Anne sorrindo, mas em tom de ameaça. - Ou vai se ver comigo.
— Pode deixar! Não pretendo magoá-la, mas vejo que você realmente se importa com ela e fiquei feliz em saber.
Dante terminou de pagar Anne que sorriu para ele e agradeceu pela preferência. Voltou para a mesa em que Kyra estava refletindo sobre a pergunta que Anne o fizera: você está feliz? - Essa pergunta o pegara de surpresa, pois em relacionamento nenhum se questionara sobre felicidade e também não lembrava em ter sido feliz ou que fora divertido namorar as garotas que passaram em sua vida. Uma coisa era certa: o namoro fajuto que tinha com Kyra estava superando todos os reais que havia tido em sua vida, não tinha como negar. Nunca se divertira tanto com alguém antes. Bom, isso era assunto para outra hora. - Pensou.
— Vamos Kyra? - Perguntou Dante.
— Sim. - Levantei da mesa e caminhei com ele para fora do café em direção ao carro.
— Agora é só escolhermos o vestido certo. - Disse ele entrando no carro.
— Escolhermos? Ué, não é eu quem devo gostar?
— Tem que ter a minha aprovação. Então se prepare para provar vários vestidos hoje. - Disse sorrindo.
— Vou ser torturada.
Chegamos a loja que ele havia falado. Dante estacionou o carro e descemos.
Fiquei de boca aberta com a vitrine, fachada e entrada que mais parecia um shopping center do que uma loja normal de roupas. Sério, eu nunca havia passado por uma loja daquelas e nem sabia que existia. Dante parou do meu lado e literalmente fechou a minha boca delicadamente subindo meu queixo.
— Calma, é só uma loja normal de roupas. - Disse ele rindo.
— Não, loja normal de roupas é bem diferente. Você já foi naqueles pontões de fábrica? É um auto-service prático e eficiente, mas não se parece em nada com isso.
— Eu nunca estive em um.
— Imaginei. Meu mundo é bem diferente do seu.
— Isso é ruim?
— Não sei te dizer, mas que tudo é novo, com toda certeza que é.
— O seu mundo também é novo para mim e estou adorando conhecê-lo. - Eu fiquei vermelha e tentei não deixar ele perceber. - Vamos entrar? - Disse ele.
— Vamos.