Capítulo 117
1555palavras
2023-06-20 00:01
(Ponto de vista do autor)
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Em uma sala com apenas uma janelinha que permitia que a luz fraca da lua passasse por ela, podia-se ouvir duas crianças fungando enquanto choravam de medo e arrependimento. Suas mãozinhas estavam amarradas firmemente nas costas de cada uma com uma corda. Ambos estavam recostados em uma das paredes. Seus olhos estavam vendados... a boca tapada... aquilo era aterrorizante para as duas crianças.
"Teddy, cadê você?", a pequena Crystal sussurrou conforme ia conseguindo libertar as mãos da corda que a amarrava. Foram os irmãos dela que, certa vez, ensinaram-lhe essa habilidade. Ela fungou e derrubou uma lágrima quando viu o corte e o arranhão no seu punho. Se machucou um pouco demais.
Naquele momento de desespero, ela lembrou que seus irmãos mais velhos lhe disseram para ser forte. Sendo a única irmã mais nova entre seus três irmãos fortes, havia uma certa expectativa de que ela fosse forte como eles. Embora tivesse somente oito anos, Crystal era mais forte do que as outras crianças da mesma idade.
Ela também era mais inteligente do que as crianças comuns na escola. E era isso que atraía o pequeno Teddy: A inteligência dela. Crystal era diferente das outras meninas que ele conheceu na escola. Ela era aventureira e divertida.
"Não tenha medo, Teddy. Eu me libertei", depois que ela tirou totalmente a venda dos olhos, ela tremeu quando viu a escuridão do quarto. Aquilo não era do seu agrado, pois ela tinha medo do escuro. Além disso, também temia aranhas.
Ela engoliu a saliva e olhou a lua brilhando pela janela. Em seu coração, ela rezava para que a Deusa da Lua a ajudasse e a guiasse para sair daquele quarto escuro e assustador.
Quando ouviu o som da voz abafada do Teddy, Crystal olhou em volta, mas não viu nada. Ela então fechou os olhos e invocou sua loba, Koola, para ajudá-la a ver melhor.
"Teddy, faça barulho", ela sussurrou enquanto engatinhava pela sala, procurando por Teddy no espaço escuro. As mãozinhas frias dela estavam tocando o chão frio, fazendo com que ela tremesse um pouco, mas o frio não a incomodava. Era a escuridão que a fazia imaginar que aranhas gigantes apareceriam e a pegariam a qualquer instante, espreitando atrás dela, esperando para pular nela. "T-Teddy? Não consigo te ouvir", ela disse, por fim.
"Hmmm... Hmmm", finalmente ela ouviu a voz dele ficando mais alta, o que significava que ele estava perto. Movendo as mãos no ar ao seu redor, ela sentiu o cabelo dele e conseguiu reconhecer o cheiro dele. Era um cheiro do qual ela passou a gostar.
"Teddy, te achei", ela então removeu a venda e a fita em volta da boca dela, "Eu estava com tanto medo que eles poderiam te machucar."
"Ai, isso machuca. A propósito... Crystal, onde estamos?", Teddy sussurrou enquanto Crystal ajudava a libertar as mãos dele da corda. Ele fez beicinho, tentando não chorar, porque a corda estava muito apertada em seus punhos. Contudo, ele não queria mostrar a ela que estava com dor, ele fingiria que não havia doído nada. Dessa forma, a menina que gostava não pensaria que ele não era um menino forte.
Assim que ele ficou livre, Crystal o abraçou com força e disse: "Achei que nunca mais te veria, Teddy."
"Eu também", ele sorriu, mostrando suas covinhas, e virou a cabeça para o lado para olhar a janela, "quero ir pra casa."
Ela riu e balançou a cabeça, "Pedi pra você correr, seu bobo. Por que você tentou lutar contra aqueles homens maus? Você é só um garotinho."
"Eu nunca te deixaria. Eu sei lutar", as palavras dele fizeram com que ela risse de novo, pois ela o achou bobo por dizer tais coisas, "Não ria de mim. Minha mãe me treina pra eu lutar."
"Você é muito pequeno pra lutar, menino bobo", ela então deu um beijo rápido em suas bochechas gordinhas, o que o fez congelar como uma estátua, e continuou, "Vamos, Teddy. Precisamos fazer silêncio. Eles podem voltar e nos machucar."
Teddy ainda não conseguia parar de pensar no beijinho da Crystal, o que fez suas bochechas corar agora. Quando viu que ele não estava saindo do mesmo lugar, Crystal beliscou seu nariz, fazendo-o ofegar, "Você parece tão bobo, Teddy", ela disse.
Ela riu de novo e segurou as mãozinhas dele enquanto dizia: "Precisamos alcançar aquela janela pra sair."
"Mas tá muito longe. Não consigo alcançá-la", Teddy olhou para cima e viu que a altura da janela era o triplo de sua própria altura.
"Você tem magia. Você não tem nenhum truque? Os magos não conseguem voar?", Crystal então fechou a boca com as duas mãos quando ouviu o som de passos aproximando-se da porta.
Eles se entreolharam e tremeram de medo. Quando ouviram o som da maçaneta movendo-se, eles se abraçaram, esperando que alguém lá fora os ajudasse. "Teddy, faça alguma coisa", Crystal pediu.
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(Ponto de vista de Nikolai)
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Depois de uma hora assistindo as gravações de todas as câmeras de vigilância ao redor da casa de Ivan, sentei-me na cadeira e exalei alto: "Qual é a situação dos nossos homens que estão procurando pelo meu filho? Mande mais pra lá! Não sabia que você era tão incompetente, Ivan!?"
Ivan olhou para mim e franziu a testa enquanto dizia: "Minha filha também tá desaparecida. Você não acha que eu não enviaria mais homens pra lá se eu pudesse?! Eu deveria estar procurando por eles também, não aqui com você!"
Levantei-me e bati na mesa: "Como você ousa levantar a voz pra mim!? Saiba seu lugar!"
"Ela é minha única filha, Niko. Ela tá lá fora com medo!", olhei para Ivan e percebi que talvez eu tivesse passado dos limites quando fiquei com raiva dele. Ele havia arriscado sua vida muitas vezes para me proteger. Ele era meu leal e fiel Beta da alcateia.
Eu assenti para ele e dei um tapinha em seus ombros enquanto dizia: "Você tá certo. Desculpe por debater. Vejamos o que temos aqui. Talvez as crianças tenham deixado alguma pista pra nós. Crystal é uma garota inteligente. Eu sinto que ela tá querendo nos falar alguma coisa aqui."
Suspirei enquanto eu olhava para as evidências que reunimos em cima da mesa. A mochila rosa de Crystal foi jogada na beira da estrada e a quilômetros de distância de onde a mochila do Teddy foi encontrada. Havia também um pedaço de um mapa dobrado de forma a cobrir o Bosque de Xevia. Eu me perguntei por que eles estavam andando com aquele mapa.
"Eles estavam procurando por nós? Por quê?", Ivan perguntou enquanto esvaziava a mochila da filha que continha apenas dois livros, uma garrafa de água e muitos doces. Enquanto a mochila de Teddy continha seu cobertor favorito, um ursinho de pelúcia, que ele chamava de Kiko, um livro que li uma vez para ele e um envelope lacrado com o que parecia ser uma carta.
"Quer abrir?", Ivan pediu minha permissão para abri-la para mim. Eu balancei minha cabeça e rasguei o envelope eu mesmo.
Vendo o que estava escrito na carta feita à mão, com uma foto minha junto ao Teddy na capa, sorri com lágrimas se formando em meus olhos: "Ele sabia."
"Sabia do quê?", Ivan perguntou e deu uma olhada no bilhete manuscrito da criança. Ivan suspirou e me mostrou um sorriso fraco. "Acho que minha filha estava ajudando-o a procurar por você. Ela conhece muito bem a floresta e seus caminhos", ele analisou.
Li o conteúdo da carta várias vezes. Teddy escreveu que seu desejo de aniversário, de que eu fosse o pai dele, havia se tornado realidade. Ashley deve ter contado a verdade para ele quando chegaram aqui em Xevia.
"Nós os encontraremos, Niko. Seja confiante", Ivan suspirou e olhou para mim, "Ela sabe que o filho dela desapareceu?"
Balancei a cabeça e vasculhei minuciosamente a bolsa do meu filho: "Ashley tá se recuperando da guerra que travamos. Ela tá dormindo no meu quarto agora. Ela tá vulnerável e fraca depois do que passou, tendo lutado contra seu poder da escuridão interior. Eu não quero ela aqui se preocupando demais com a possibilidade de perder nosso filho. Ela precisa descansar. Ouvi dizer que a gravidez dela com o Teddy foi difícil. Espero que, dessa vez, não seja tão ruim."
Então, olhei para o mapa e percebi que algo estava piscando. Um pontinho vermelho estava piscando na casa de Ivan. "Um feitiço localizador. Teddy colocou um feitiço nesse mapa pra me encontrar", Nikolai exclamou.
"Então, poderíamos usar os poderes da senhorita Winters pra encontrar o Teddy", Ivan suspirou de alívio e não podia acreditar que não havíamos pensado nessa opção até agora.
"Não, não a minha Ashley. Encontre outra bruxa pra nos ajudar a encontrar as crianças", falei e, depois, tirei meu celular do bolso para fazer uma ligação. Havia uma bruxa que poderia nos ajudar, e eu esperava que ela concordasse com os meus pedidos.
Entretanto, nessa hora, Frankie fez uma chamada de emergência para todos nós com a conexão mental. Disse que Ashley saiu do nosso quarto e que um bilhete dela foi trazido por um pássaro que entrou pela janela.
Como?
Eu saí correndo da casa do Ivan, transformando-me na minha forma de lobo.
Eu não poderia viver tendo perdido a Ashley e o meu filho de novo, não.