Capítulo 80
1476palavras
2023-05-27 00:02
(Ponto de vista de Nikolai)
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Ela olhou para mim e suspirou. Eu gostaria de poder ler seus pensamentos ou, pelo menos, sentir suas emoções. Mulheres... elas nunca foram fáceis de entender, e a Ashley não era uma exceção.
"Você tá com fome?", coloquei o cabelo dela atrás das orelhas delicadamente. Ela mexeu a cabeça afirmativamente, com os olhos fixos na escada. Percebi que ela fazia muito isso. Parecia que estava no mundo da lua. Acariciei suas bochechas e suspirei: "Vai ficar tudo bem. Confie em mim. Tenho tudo sob controle."
Ela fez beicinho, olhou para mim com os olhos marejados e perguntou: "Eu machuquei o Ivan?"
Ela machucou muitos dos meus homens naquela noite. Alguns ainda estavam no hospital recebendo tratamento adequado. Alguns quebraram os dentes, outros as pernas, torceram os braços, e ela até tacou fogo em alguns.
Eu não queria contar tudo para ela, pois isso não iria ajudá-la. Eu precisava de acalmá-la primeiro.
"Vamos comer. Depois conversamos", segurei a mão dela e a guiei até a minha cozinha. Eu esperava ter ingredientes suficientes para preparar um prato simples para ela. Algo que poderia fazer com que ela se apaixonasse por mim. Era o que eu esperava.
"Você sabe cozinhar?", ela perguntou enquanto eu a colocava para sentar na cadeira ao lado da ilha da cozinha.
"Coisas simples. Você sabe cozinhar, querida?", eu perguntei enquanto pegava alguns vegetais e temperos da geladeira, "Você é vegetariana, não é? Teddy me contou."
Ela assentiu com a cabeça e disse: "Teddy tentou ser também, mas claramente ele ama carne". Ela balançou a cabeça com um sorriso no rosto e olhou para mim preparando os ingredientes para fazer um prato vegetariano simples para o amor da minha vida. Eu esperava não desapontá-la.
"Eu sei virar hambúrgueres", ela riu e olhou para um espaço vazio, como se estivesse relembrando uma memória, "Depois de dar à luz o Teddy, gastei todo o dinheiro que eu tinha. Vendi minhas joias e usei todo o dinheiro que tinha pra criá-lo. Em seguida, me inscrevi pra trabalhar em um restaurante em Mystic Town no tempo livre entre as minhas aulas na escola de design. De garçonete fui promovida a cozinheira. Ou seja, aprendi a virar hambúrgueres e batatas fritas."
"Você, uma princesa, trabalhou em uma lanchonete? Difícil de acreditar que a neta da Rainha acabou tendo que fazer isso", aqueci a frigideira e dei uma olhada nela, quem finalmente estava sorrindo para mim.
"Eles me conheceram como Tiana Winters, uma mãe solteira que perdeu o marido, o qual morreu em uma guerra entre feiticeiros e bruxas. Loraine Winters me ajudou com essa identidade. Mesmo depois de quase matar ela e a irmã por um motivo que eu não conseguia me lembrar na época. Eu desmaiei. Assim como o que aconteceu há dois dias atrás. Eu perdi o controle", eu a ouvi fungar enquanto chorava.
"Querida, vai ficar bem. Você não tá mais sozinha. Você tem a mim. Vamos comer", coloquei um prato na bancada da cozinha e servi a comida de legumes que fiz no prato dela.
Seus olhos estavam olhando para o prato que eu havia feito quando ela sorriu e disse: "Parece estar uma delícia, Nikolai."
"Claro, era uma receita do meu pai, legumes refogados. Ele cozinhava pra minha mãe", eu disse e servi o conteúdo restante em outro prato para mim. Em seguida, servi-nos uma taça de vinho para complementar o prato.
"Qual é o veredito, princesa?", após pedir uma opinião, sentei-me ao lado dela enquanto a observava provar uma colher da minha comida.
"Ah, meu Deus. Sério isso? Tá delicioso, Nikolai", disse ela com uma mancha de molho na lateral dos lábios.
"Tem uma coisa nos seus lábios, querida", eu me aproximei dela e lambi o molho que estava em seus lábios, o que a fez rir, "Tem um gosto muito melhor nos seus lábios."
"Nikolai, você tá sendo bobo", ela riu e continuou comendo enquanto eu a observava ao lado. Suspirei de alívio por saber que cheguei em casa a tempo de impedi-la de me deixar de novo.
Eu definitivamente ia aumentar a segurança da minha cobertura para que ela não conseguisse me deixar. Eu não suportaria perdê-la mais uma vez. Ela era tão boa em se esconder.
Acariciando as costas dela e indo beijar sua testa, sussurrei: "Nunca me deixe, Ashley. Tô aqui por você. Você precisa de aprender a confiar em mim."
Depois de beber seu vinho, ela olhou para mim com um olhar de quem tinha muitas perguntas: "Às vezes, não consigo controlar, Nikolai. Às vezes, eu consigo. Mas sinto que esse mal dentro de mim quer sair e assumir o controle do meu corpo, o que me faz fazer coisas. Coisas ruins. Eu sou um monstro, Nikolai. Você... você merece... alguém melhor."
Ela mordeu os lábios e desviou o olhar. Levantei seu queixo para que me encarasse e sorri ao falar: "Então, nós dois somos monstros. Não se esqueça de que sou a p*rra de um híbrido."
Eu sorri e beijei seus lábios para, em seguida, continuar falando: "Eu não vou te deixar. Você pode tentar ir embora, mas eu vou te encontrar sempre. Precisamos de um do outro, Ashley. Se você me permitir te ajudar, posso te ensinar a controlar esse poder que existe dentro de você."
"Nikolai, não é tão simples assim. Você não entende", ela tentou levantar-se para se afastar, mas eu bloqueei seu caminho, não a deixando sair.
"Me ajude a entender. Me diga o que tá te incomodando. Tô aqui por você, Ashley. Você poderia, pelo menos, tentar?", minhas palavras prenderam sua atenção. Eu segurei a mão dela e a beijei gentilmente antes de perguntar: "Me diga, o que desencadeia esse desmaio?"
Ela encolheu os ombros e suspirou: "Há cinco anos, aconteceu meu pior desmaio, depois que flagrei o Philip dormindo com a Helen na manhã do dia em que eu deveria me casar, um casamento que levei meses pra preparar, o casamento dos meus sonhos com quem eu achava que era meu príncipe encantado."
Ah, essas palavras meio que me deixaram um pouco incomodado. Príncipe encantado? Aquele homem m*ldito não a merecia!
"Eu estava com tanta raiva e tristeza ao mesmo tempo. Meu coração estava batendo muito rápido, e eu podia sentir a onda de energia subindo de minhas mãos, indo para o meu coração e controlando minha mente. E, então, meus pais entraram... eles estavam tranquilos com o que tinha acontecido, como se soubessem o Philip me trair fosse previsível. Foi horrível, Nikolai. Eu me senti traída, sozinha e confusa. Eu perdi a cabeça. E, assim, queimei o palácio naquela manhã e fui embora. Aí, aconteceu o desmaio", ela estava em prantos e fechou o rosto com as duas mãos quando terminou de falar.
"Ei, querida. São águas passadas. Você precisa de deixar pra trás tudo isso e seguir em frente com sua vida. Eu não sou o Philip. Por favor, olhe pra mim", eu puxei o corpo trêmulo dela e a abracei pressionando-a perto do meu peito. Eu a deixei chorar e fiz carinho nas suas costas enquanto beijava sua cabeça.
"Acordei presa dentro uma jaula na casa de Loretta Winters em Amberose. Eu tinha desmaiado por dois dias. Loraine Winters também estava lá. Ambas usaram todos os poderes que tinham pra me conter na jaula invisível das bruxas. Acordei sem me lembrar de nada. Levou meses para que minha memória fosse voltando aos poucos. Quando voltou, eu não consegui me perdoar. Eu tinha machucado tantas pessoas. Foi horrível, Nikolai. Eu não posso passar por isso de novo. Por favor, me diga, eu matei alguém?", ela abraçou meu peito e chorou em meus ombros.
Suspirei, porque eu não sabia como dizer a ela que, sozinha, ela havia derrotado dezenas dos meus homens. Alguns ainda estavam no hospital gravemente feridos e inconscientes. E isso incluía meu motorista, o Frankie. "Ninguém morreu, querida. Você machucou bastante os meus homens. Eles estão sendo tratados. Não se preocupe. Nós vamos passar por isso juntos", respondi sucintamente.
Ela levantou a cabeça para olhar nos meus olhos, como se quisesse checar se eu estava mentindo. Eu ri e descansei minha testa na dela para falar: "Tô falando a verdade. Juramento de mindinho."
Isso fez com que ela sorrisse. "Juramento de mindinho? Foi o Teddy quem te ensinou isso, não foi?", ela perguntou.
"Aquele garoto me faz ficar de joelhos com aqueles olhinhos dele. Será que essa é uma das habilidades dele? Espero que não", nós dois rimos disso e balançamos nossas cabeças, esperando que não fosse verdade.
Em seguida, ela fez carinho nas minhas bochechas, com um sorriso no rosto, e disse: "Obrigada, Nikolai. Obrigada por me ajudar. Eu te devo muito. Não sei como retribuir sua bondade."
Aproximei-me para plantar um beijo suave nos lábios dela e sussurrei: "Que tal continuarmos o que começamos no meu carro há dois dias?"