Capítulo 71
1436palavras
2023-05-10 10:22
(Ponto de vista de Nikolai)
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Eu dirigi meu carro com Ivan ao meu lado. Estávamos indo para um local onde, supostamente, nossos carregamentos seriam saqueados por um grupo de lobos ladinos. Felizmente, meu Beta, Ivan, treinou bem nossos guardas e conseguimos derrotar aquelas canalhas que estavam tentando roubar meus preciosos bens.
Falei com Ivan em nossa língua nativa de Xevia, pois era como ele preferia. Eu estava ficando cada vez mais enferrujado em falar esse idioma quanto mais tempo eu passava em Averna. "Conseguimos manter o objeto em segurança?", perguntei.
Ivan bufou e assentiu com a cabeça na hora de falar: "Claro, eles escolheram um péssimo dia pra tentar saquear um contêiner de navio. Espere, você ouviu isso?"
Eu balancei minha cabeça sem perceber o barulho que ele ouviu vindo do carro. "Quantos eram? Eu preciso de ser rápido. Preciso de buscar a Ashley de um possível perigo em que ela tenha se metido", falei.
"Perigo? Ela é uma bruxa. Tenho certeza de que ela consegue cuidar de si mesma. Ela é muito mais forte do que parece", Ivan riu e perguntou-me com seu rosto atrevido, "Vocês dois... fizeram amor... fizeram bebês? Você já a marcou? Melhor ser rápido, você tá ficando cada dia mais velho. Na sua idade, eu já tinha dois meninos."
Eu bufei e virei-me para a esquerda, onde ficavam as docas de embarque, e, por fim, falei: "Tô trabalhando nisso. O tempo não tá do meu lado, e eu já disse isso pra ela. Ela não resistiu, o que é um bom sinal. Ela tá pensando e não me afastando."
"Por que você simplesmente não a marca à força? Drogue-a... explique depois. Eu tenho algo que pode te ajudar com isso. Pelo menos, você vai ter seu lobo fique forte de novo", Ivan disse antes de verificar sua arma para recarregá-la.
"Não quero fazer isso com ela. Quero que ela me aceite de bom grado, sem que eu precise de recorrer à força bruta", minha mente estava decidida quanto a isso, e eu esperaria pela aceitação dela mesmo que isso significasse a minha morte.
'BANG! BANG!'
Ouvi tiros vindo em nossa direção. Estávamos protegidos pelo para-brisa à prova de balas do meu carro. Eu me conectei mentalmente com minha alcateia a fim de obter cobertura e ajustar a formação de defesa. Pelos tiros, imaginei que havia pelo menos três atiradores.
"Eu vou te dar cobertura. Vou pegar o do telhado", disse Ivan e saímos na contagem de três.
Balas foram ouvidas vindo de todos os lados, não apenas dos assassinos, mas também da minha alcateia. "Humanos. Eu consigo sentir o cheiro deles daqui. O que eles estão fazendo atirando em nós?", indaguei.
"Você irritou algum humano recentemente, Alfa? Parabéns, agora temos todas as espécies como inimigos", Ivan caçoou de mim, com os olhos focados em atirar nos humanos que vieram até aqui obviamente para me matar. As balas estavam voando na minha direção, só na minha.
'BANG! BANG!'
Eu atirei em dois mortos e só faltava um agora, então eu ordenei: "Apareça agora, eu sei onde você tá. Eu consigo sentir o cheiro do cigarro que você fumou há alguns minutos."
Avancei, com meus homens posicionados em cinco direções diferentes. O atirador não tinha para onde fugir, e eu tinha certeza que havia ouvido as batidas do coração de um homem assustado escondido atrás de uma parede.
Nessa hora, eu parei.
Ouvi outro batimento cardíaco, o qual estava mais rápido a cada segundo que se passava. Não era de um humano.
Era...
"Nikolai! Nikolai!"
Eu conhecia aquela voz. Eu me virei e senti meus olhos arregalarem-se como se meus globos oculares fossem cair da órbita. "Teddy! Fique parado!", gritei.
E, então, ouvi o tiro vindo de longe em minha direção e eu sabia que, se não me movesse, a bala atingiria o Teddy diretamente. Com toda a força que eu tinha, pulei no ar e empurrei o Teddy para o lado.
'BANG!'
"Nikolai!", eu podia ouvir o Ivan gritando meu nome várias vezes, seguido por vários tiros da minha alcateia destinados ao atirador. Eu ouvi mais dos meus homens vindo até mim.
"Arrghhh...", foi definitivamente uma bala de prata que raspou meu ombro. Isso precisaria de alguns pontos ou algum medicamento. Minhas habilidades de cura não seriam capazes de regenerar esse tipo de ferida. O atirador, com certeza, queria me matar.
"Nikolai, você tá ferido", Teddy fez beicinho para mim e fiquei surpreso ao ver que o menino não estava chorando, nem com medo do que havia acabado de acontecer. Ele não estava com medo? Essa não era a primeira vez em que ele havia se envolvido em um tiroteio?
"Você tá bem? Você tá machucado?", eu verifiquei seu corpinho e o girei enquanto me agachava no chão, "O que você tá fazendo aqui, Teddy? Você não sabe que o que fez foi perigoso!?"
Eu levantei minha voz, e isso fez com que ele tremesse e desse alguns passos para trás. "Eu pensei que você fosse ver a mamãe", ele sussurrou, com lágrimas escorrendo pelo rosto.
Suspirei e tirei minha jaqueta para cobrir seu corpo que estava apenas com um pijama de desenho animado que combinava com suas meias sempre muito coloridas. Eu gemi de dor conforme a ferida no meu ombro parecia piorar.
"Não chore. Meninos grandinhos não choram. Entre no carro. Você vai pra casa", eu disse ao Teddy, mas seus olhos estavam em meus ombros. Depois de piscar seus olhos redondos várias vezes, ele ficou na ponta dos pés e colocou sua mãozinha fria no meu ombro ferido.
"Medeor", ouvi-o sussurrar e senti um calor no meu ombro.
Estranhamente, a dor havia desaparecido. Olhando de volta para ele, eu o vi sorrindo, mostrando aquelas covinhas fofas as quais o Drake disse que eram iguais às minhas.
Esse poder dele era algo que eu não esperava de um menino de quatro anos. Ele era mesmo especial.
Deveria ficar preocupado ou alegre? O menino cresceria e se tornaria um híbrido bem forte.
Era por essa a razão que a Ashley achava que ele não estava pronto para conhecer seu lado lobo?
"Teddy, que outras habilidades especiais você tem?", minhas palavras fizeram com que ele sorrisse ainda mais, em seguida, ele sussurrou para mim suas habilidades, o que fez com que meu coração disparasse de medo.
*****
(Ponto de vista de Ashley)
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Onde eu estava parecia diferente do lugar onde me encontrei com meu avô Erique alguns dias atrás. Eu tinha certeza de que isso era obra dele, pois não havia mais ninguém que desejasse torturar meu pai dessa maneira.
Eles tinham um relacionamento tão estranho que eu achava exaustivo.
Se, ao menos, eles pudessem conversar um com o outro, as coisas seriam muito mais fáceis de resolver. Tudo o que eles faziam era lutar. Os dois eram teimosos e arrogantes. E eu sabia que herdei essas características desse lado dos meus genes.
"Pai, eu vou te tirar daqui, mas você precisa de confiar em mim. Não tenho muito tempo", alcancei as mãos estranhamente frias do meu pai, que estava tentando evitar as minhas, "Pai, sou eu, Ashley, sua filha."
"Não, você é só mais um truque sujo. Não vou me submeter às exigências dele", ele disse enquanto tentava evitar aproximar-se de mim. Eu me perguntei o que Erique havia feito com meu pai, pois ele se transformou em uma versão diferente que eu não reconhecia.
Erique não era tão ruim quanto meus pais disseram-me que ele era. Era possível lidar com ele e controlá-lo. Loraine ensinou-me como fazer isso, e foram necessárias coragem e confiança para afastá-lo dos meus pensamentos. Um truque que ainda não consegui fazer com que meu filho Teddy dominasse.
Eu me perguntei como meu filho estava nesse instante. Provavelmente, bem acomodado em sua cama, com Nikolai ao seu lado.
"Pai, por favor. Isso é o que ele quer: te quebrar, quebrar sua mente. Isso não é real. Você precisa de acordar", eu me movi e segurei a mão dele. Em seguida, coloquei a mão dele no meu rosto e falei: "Você não sente saudade de mim, pai? Lembra de quando você disse, uma vez, que eu era sua anjinha preciosa enviada pelos céus pra te salvar da escuridão? É o que tô fazendo agora. Te salvando. Por favor, acorde."
Ele então olhou para mim com seus olhos profundos, a partir dos quais podia-se notar que ele não dormia há dias. Com uma voz fraca, ele sussurrou meu nome: "Ashley? Querida... é você mesmo?"
Eu assenti com a cabeça e senti uma pequena fagulha de esperança surgindo para nós.
Verdade seja dita, pois uma porta surgiu.