Capítulo 116
1050palavras
2023-07-23 00:02
Ponto de vista de Inara:
Eu não consegui dizer muita coisa. Na verdade, eu mal conseguia articular uma frase inteira naquele instante e, mesmo que conseguisse, não contaria nada a ele. Minha intimidade e de Xavier era algo que gostaria de manter apenas entre nós dois. Além do mais, eu me perguntava de onde tinha vindo todo esse rubor e timidez repentina.
Magnus continuou disparando uma série de perguntas na minha direção enquanto eu simplesmente me esquivava até que cansei de tentar falar. Então, eu o encarei com um olhar divertido. Ele finalmente desistiu de me interrogar quando percebeu que eu era como um cofre, o qual ele adoraria descobrir o segredo algum dia. Palavras dele, não minhas.
Ponto de vista de Xavier:
Assim que minha companheira deixou o quarto, eu me joguei de volta na cama e desisti de lutar contra Santiago, permitindo que ele viesse à superfície. O cheiro da excitação de Inara fez meu irmão se manifestar depressa em uma tentativa de reivindicá-la, mas eu tinha que ser a voz da razão e segurá-lo até que ela estivesse fora do nosso alcance.
Independentemente do quanto ela parecesse responsiva ao nosso toque, ela ainda não estava pronta. Não depois de tudo o que passou. Um trauma dessa magnitude podia virar o mundo de uma pessoa de cabeça para baixo e acabar com sua sanidade se ela não tivesse tempo para entender e processar tudo.
"Por que você fez isso?" Santiago me perguntou com raiva.
"Você sabe muito bem o porquê", retruquei, exausto e frustrado.
"Eu odeio quando você é a voz da razão", ele reclamou.
"Bom, um de nós precisa ser", provoquei-o.
"Vá se ferrar", ele cuspiu antes de me devolver o controle e desaparecer para sabe-se lá onde.
Não pude deixar de rir, sabendo muito bem que ele estava tão frustrado quanto eu. Por mais atraído que eu estivesse pela minha companheira, nosso vínculo também fazia de tudo para nos forçar a acasalar o mais rápido possível. Embora eu fosse amar ceder, não podia. Enquanto isso, o vínculo só tornava as coisas mais difíceis para nós.
Ah! Parecia que teríamos dias divertidos pela frente.
Deitado em minha cama, tentei controlar meus hormônios inconstantes, mas minha mente não parecia acompanhar meu querer, pois eu continuava tendo "flashbacks" da minha companheira. Isso não ajudava em nada no meu objetivo de manter controle e lutar contra esse meu instinto nato de predador, que queria correr atrás de Inara e terminar o que começamos.
Ao me virar, enterrei meu rosto nos lençóis e me permiti processar o que havia acontecido no reino dos dragões. Algumas coisas tinham feito minha intuição apitar, portanto, optei por usar esse tempo para examinar cada sensação que tive.
Respirando fundo, fechei os olhos e voltei para a cena. Todo o confronto havia sido um pouco estranho. Nosso plano era pegar Armand e seu exército de magos de surpresa, mas eles estavam muito bem preparados e diria que até um passo à nossa frente.
Eles pareciam bem informados sobre o ataque, embora não soubessem quem estaria por trás dele. Isso só podia significar que alguém não conseguiu ficar de boca fechada, o que me levou a pensar na forma como o tio Luke se ofereceu para voltar ao Império Drakkon. Eu apostava que ele já sabia de tudo. Argh! Mais uma coisa para ele se gabar a respeito.
Em seguida, lembrei de como eu e minhas outras partes nos separamos, o que precisava admitir que tinha sido um feito e tanto. Nenhum deles jamais quis sair antes. Mesmo assim, quando foi necessários, eles estavam prontos. Pelo visto, meu treinamento não havia acabado como imaginei. Afinal, se eles saíram uma vez, certamente poderiam querer fazer isso de novo. Sendo assim, eu precisava praticar como canalizar e equilibrar nossas energias para que não se esgotassem tão facilmente da próxima vez. Eu podia sentir uma grande mudança pairando sobre mim, mas não sabia bem o que achar disso. A única coisa da qual tinha certeza era que enfrentaria isso de frente, como sempre fiz.
Perder o controle foi um acidente do qual não me arrependia. Isso não me incomodou tanto quanto o fato de Armand ter escapado com aquele mago de aparência esquisita. Algo sobre ele me era familiar e desconcertante. Não podia deixar de ficar apreensivo. Sentia que deveria estar me lembrando de algo, mas por mais que tentasse, nada me ocorria. Ainda assim, não conseguia esquecer o rosto daquele mago.
Eu tinha sensação de já tê-lo visto em algum lugar ou pelo menos alguém parecido com ele. Em horas como essa, minha habilidade onisciente não me servia de nada. Mas como ele estava com Armand, eu os encontraria mais cedo ou mais tarde e acabaria com isso. Outra coisa que ficou clara para mim durante a batalha foi que, enquanto Armand liderava seu circo, dando ordens, ele não parecia um planejador muito bom.
Ele não parecia ter a destreza e a frieza que as pessoas que costumavam fazer contramedidas e planos de contingência normalmente possuíam. Havia um certo descuido em suas ações que gritava fantoche, sem falar que seus objetivos eram superficiais e fugazes. Ele corria atrás de um suposto poder e um trono pelos quais morreria antes de deixar para trás, mas não estava focado o suficiente.
Em um momento ele estava sequestrando Inara e, no outro, cobiçando minha mãe. Não havia a menor dúvida de que ele era apenas um peão nesse tabuleiro e ele nem devia saber disso. Eu apostava pela fonte que existiam mais pessoas por trás de Armand. Como disse desde o início, havia mais nessa história do que parecia.
Ao terminar de relembrar a batalha, já havia me acalmado o suficiente para me levantar.
Retirando o cobertor de cima de mim, rolei para fora da cama e fui até o closet pegar uma calça de corrida e uma blusa de moletom. Argh, era estranho ter que usar roupas o tempo todo, mas eu precisava fazer isso pelo bem da minha companheira e o meu.
Afinal, nós éramos como dois fios desencapados prestes a entrar em curto-circuito caso se tocassem. Bastava uma faísca para a situação ficar perigosa demais. No entanto, precisávamos levar as coisas mais devagar e não criar faíscas entre nós.
Argh! Isso vai ser tão duro de aguentar. Sem trocadilhos.