Capítulo 112
972palavras
2023-07-19 00:02
Ponto de vista de Xavier:
"Zya..." Moira sussurrou.
O silêncio que ela recebeu foi retumbante. Suas palavras pareciam ter entrado por um ouvido de Zya e saído pelo outro. Aproveitei o momento para analisá-la e senti uma aura estranha emanando dela em ondas.
"Acho que ela não pode nos ouvir, nem nos ver... quero dizer, nos ver de verdade", expliquei ao reconhecer algumas características bem familiares que ela apresentava. Já tinha visto isso acontecer com lobos depois de ficarem isolados por muito tempo, mas nunca com um dragão. Afinal, eles eram criaturas bastante territoriais, que gostavam de se isolar com frequência junto dos seus.
Minha Zya tinha um olhar perdido e vazio quando olhou para nós. Não pude deixar de sentir falta do seu jeito tímido e cauteloso, sem falar na curiosidade por trás de seus olhos roxos sempre que me via. A Zya à nossa frente agora possuía uma selvageria que não existia antes.
Não havia amor, nem reconhecimento em seu olhar. Ela parecia uma predadora de olho em sua presa, esperando o momento certo para atacar.
Eu estava prestes a dizer algo quando senti meu irmão se manifestar sob minha pele, forçando sua passagem para a superfície. Pela curiosidade que vi brilhar com mais intensidade nos olhos de Zya, tive certeza de que os meus haviam ficado completamente dourados enquanto giravam e capturavam a atenção dela.
Prendi a respiração conforme a via inclinar a cabeça de um lado para o outro, observando-nos atentamente com suas garras afiadas fincadas na grama sobre a rochedo debaixo dela. Por alguma razão, decidi entregar o controle para Santiago e assisti com curiosidade ele se aproximar de Zya após mandar Moira ficar onde estava.
Se a bufada mal-humorada que ouvi fosse qualquer indício do quanto a ordem dele a enfureceu, meu irmão sofreria terríveis consequências mais tarde.
Zya, por algum motivo, não emitiu nenhum outro aviso e apenas aguardou. No entanto, antes que pudéssemos chegar até onde ela estava, ela estendeu as asas e voou até o pé da montanha. Precisava admitir que Zya era mesmo uma criatura esplêndida. Com asas que mediam muitos metros e escamas sempre brilhantes, fazendo-a cintilar sob a luz, ela parecia absolutamente magnífica.
Então, ela e Santiago pararam um diante do outro enquanto se observavam criticamente. Não pude deixar de ficar um pouco impaciente. Eu não queria que nada desse errado. Estava prestes a estabelecer um diálogo com ela quando senti Santiago deixar nossa aura emanar em ondas largas. Talvez esse fosse mesmo o melhor curso de ação.
Zya sacudiu suas asas como se aquilo não lhe afetasse, mas ela teria que fazer melhor do que isso. Afinal, se eu era um macho alfa completo, Santiago era outro bastante dominador e não toleraria o menor sinal de petulância.
O rosnado que Zya soltou foi recebido por outro nosso que sacudiu aquela montanha inteira. Algumas pedras soltas rolaram por ela até pousar ao lado de nossos pés. Um misto de perplexidade e raiva brilhou nos olhos do dragão fêmea à nossa frente, deixando claro que ela não recuaria tão facilmente.
Que dr*ga!
Eu assisti com um leve divertimento conforme os músculos de Zya ficavam mais tensos e sua postura mais agressiva. Com o olhar fixo em nós, uma tempestade parecia se formar neles. Embora os rosnados e grunhidos que se seguiram tivessem sido impressionantes, eu não vacilei nem um pouco. Na verdade, até os achei fofos.
Santiago, por sua vez, soltou uma risada que pareceu enfurecê-la ainda mais se levarmos em conta a série de grunhidos e rosnados que deixaram sua boca em seguida. Entretanto, meu querido irmão simplesmente os ignorou com um sorriso no rosto. Então, respirando fundo, ele soltou outra rajada da nossa aura sobre ela.
Esta foi ainda mais potente do que a anterior, cortando o ar de maneira vingativa e cheia de poder.
Nossa companheira cambaleou, atordoada pelo impacto. A cautela que surgiu em seu olhar foi nosso fim.
Aproximando-se dela, Santiago sussurrou, rouco: "Min Zya!" (Minha Zya)
Sem obter uma resposta ou qualquer mudança de postura por parte dela, ele prosseguiu:
"Min kompis, Kom tillbaka till oss. Det ӓr sӓkert nu. Jag lovar. Du ӓr fri" (Minha companheira, volte para nós. É seguro agora. Eu prometo. Você está livre)
As palavras dele fizeram com que Zya baixasse um pouco a guarda. Então, seus olhos oscilaram. Não pude evitar o suspiro de alívio que escapou dos meus lábios quando a vi dar um passo em nossa direção. Foi um progresso e tanto.
Tomando à frente para fazer minha presença clara também, demos um passo em direção a ela antes de acrescentarmos: "Jag lovade dig att jag skulle hitta dig, alltid. Jag ӓr hӓr nu kompis." (Eu prometi que te encontraria sempre. Estou aqui agora, minha companheira.)
Foi nítido o momento em que nossas palavras finalmente desfizeram a confusão mental na qual Zya se encontrava. Um misto de entusiasmo e timidez voltaram a colorir seus olhos, que brilhavam cheios de alegria e alívio. Imediatamente, ela se aproximou e nos envolveu em suas asas, apoiando sua cabeça gigante em nosso peito.
"Dӓr ӓr hon. Det ӓr en duktig flicka. Jag har saknat dig sa mycket." (Aí está ela. Boa menina. Senti tanto a sua falta.)
Sua resposta foi um ronronar que nos deu um arrepio delicioso na espinha. Antes que pudéssemos dizer qualquer outra coisa, Moira se juntou a nós, a quem também puxamos para um abraço. Estava quase me sentindo em casa. Só faltava encontrar Inara para nosso mundo parecer minimamente normal.
Permanecemos abraçados por mais algum tempo, usufruindo da presença um do outro antes de nos separarmos. Por algum motivo, não senti que deveria pedi-las para seguir a última corda conosco.
Deixando um beijo na cabeça de cada uma delas, pedimos: "Por favor, fiquem aqui. A gente vai buscar Inara e voltar antes que sintam nossa falta."