Capítulo 108
1077palavras
2023-07-15 00:02
Ponto de vista de Inara:
"E, Maggie, querido? Eu posso sentir seu cheiro a um quilômetro de distância. Não há como você se esconder de mim, meu bem. Venha dar um abraço na sua tia favorita."
"Ah, tô ferrado!" Magnus murmurou.
"Maggie, querido?" Meissner indagou antes de soltar uma gargalhada bem irritante.
A essa altura, eu estava fazendo de tudo para não cair na gargalhada, mas bastou ver o olhar de horror estampado no rosto de Magnus para que eu não conseguisse mais me segurar. Depois que comecei a rir, não consegui mais parar até que senti as lágrimas correndo pelas minhas bochechas.
"Quando vai parar de me chamar desse jeito, tia Kiara? É Magnus, caramba!" Ele cuspiu com o rosto levemente corado.
"Não irei parar até que meus ossos estejam apodrecendo no caixão e, sinceramente, mesmo assim, vou continuar a chamá-lo desse jeito na vida após a morte também... Agora, venha me dar um abraço", disse ela, tentando se levantar.
Em um piscar de olhos, Magnus estava do lado dela, estendendo a mão para ajudá-la a ficar de pé. Depois de se olharem por um instante, eles deram um abraço caloroso. Todo o horror que vi antes no rosto de Magnus desapareceu, dando lugar a um olhar de pura admiração. Estava claro que esses dois se importavam muito um com o outro, apesar do drama que fizeram mais cedo.
Os dois ainda estavam nos braços um do outro enquanto eu os observava quando a voz do companheiro de Kiara, Matthews, ecoou no ambiente.
"Ei, sanguessuga, mantenha uns cinco metros de distância dela. Será que tenho que me repetir toda vez? Tudo o que peço é um abraço breve e um pouco de distância. É pedir demais?
"Quer saber? Agora são mais três metros. Para trás, caramba!" Ele ordenou seguido de um grunhido chocante.
"Como ele é possessivo! Você sabe que isso é coisa da sua esposa, não é? Além do mais, não é minha culpa que ela não consiga resistir ao meu corpo jovem", Magnus retrucou, embora tivesse se afastado de Kiara, colocando distância o suficiente entre eles.
"Sim, ela é incapaz de resistir a uma pilha de poeira antiga... Até parece."
"Não acredita? Eu te mostro com prazer!"
"Parem com isso vocês dois. Querido, pare de provocá-lo ou vou fazê-lo dormir no sofá. Já você, Magnus, se continuar com isso, vou arrancar suas presas", Kiara falou em um tom bastante sério, fazendo ambos os homens estremecerem. Para mim, ficou bem claro quem realmente mandava aqui.
Ela se sentou novamente com a ajuda de seu companheiro, que colocou um prato de comida bem quente na frente dela. O sorriso alegre em seu rosto aqueceu meu coração, assim como o olhar cheio de emoção que ela deu a Matthews.
O vínculo entre eles era tão lindo. Não pude deixar de desejar ter algo semelhante algum dia. Então, antes que eu pudesse perceber, os olhos de Kiara estavam sobre mim outra vez.
Ficamos nos encarando por um tempo. Enquanto ela parecia me analisar em busca de algo, eu a olhei com curiosidade. De repente, ela pareceu ter encontrado o que procurava porque logo depois ela me deu um aceno de cabeça e atacou sua comida. Ao se virar para mim de novo e me encontrar encarando sua refeição, um olhar de compreensão surgiu em seu rosto conforme notava a minha barriga de grávida e o prato vazio à minha frente.
"Traga mais comida para ela, Maggie. Sempre que servir uma mulher grávida, mantenha um prato extra de prontidão até que ela diga que está satisfeita. Afinal, ela está comendo por dois", ela pediu entre uma mastigação ou outra antes de se voltar para a sua comida.
Não demorou muito para que outra refeição fosse colocada na minha frente, a qual devorei com gosto. Comemos em silêncio até não restar mais um pingo de comida em nossos pratos. Em seguida, eles foram retirados e substituídos pelo suco que Magnus preparou mais cedo, mas dessa vez com cubos de gelo. Tomei um gole e tudo ficou bem de novo. A bebida era tão refrescante que conseguiu acalmar todos os meus nervos.
O silêncio durou mais um minuto ou dois, então, eu me vi presa sob o olhar penetrante de Kiara novamente.
"Seja bem-vinda, Inara, mas estou curiosa para saber porque está na casa do meu sobrinho ao invés de em uma das várias choupanas que reservamos aos hóspedes. Afinal, sei o quão reservado Xavier é", ela perguntou sem fazer rodeios, não que eu esperasse algo diferente dela.
"Kiara!" Seu companheiro a repreendeu.
"Ah, você está tão curioso quanto eu. A diferença é que eu odeio ficar de frescura sobre algo que posso simplesmente perguntar", ela retrucou, revirando os olhos.
"Bom... Na verdade... Xavier é meu companheiro", respondi baixinho, mas, ainda assim, minha voz ecoou pela sala.
"O quê? Deus me perdoe! Quero dizer, que ótima notícia! Bem-vinda à família, Inara", ela disse com tanta ternura, que pude sentir sua aceitação.
"Mas o bebê que está carregando não é dele. Não parece um dos nossos", ela afirmou ao invés de perguntar. Em seguida, a sala ficou tão silenciosa que alguém poderia facilmente pensar que estávamos sob a mira de uma arma. A afirmação dela não foi o que me surpreendeu, mas sim as palavras "não parece um dos nossos" ou seja lá o que isso queria dizer. Após se passarem alguns instantes, como ninguém falou nada, abri minha boca para explicar. No entanto, Kiara se adiantou.
"Não digo isso querendo te julgar ou nada assim. É só que consigo reconhecer minha espécie e o bebê parece mais com a sua do que com a nossa, o que não seria o caso se fosse filho do meu sobrinho. Não foi minha intenção ser rude ou insensível. Em breve, você verá que sou bastante franca e não tenho nenhum filho, mas não quero fazer mal a você."
"Franca até demais se me perguntar", Meissner murmurou, o que arrancou uma risada de Magnus.
"É por isso que ninguém te perguntou nada, pirralho", Kiara retrucou com um olhar afiado em sua direção.
"Ei!! Não venha me xingar. Já estou farto disso", ele protestou.
"É uma pena que só estou começando", ela respondeu presunçosamente.
"Está tudo bem", eu os interrompi antes que a discussão escalasse.
"Como?" Ela perguntou.
"Eu disse que está tudo bem. Tanto eu quanto Xavier sabemos que esse bebê não é dele. É complicado..."
"Quão complicado?" Ela insistiu, inclinando a cabeça, curiosa.
….