Capítulo 107
1084palavras
2023-07-14 00:02
Ponto de vista de Inara:
"Não seja tão dura com ele. Se eu não estivesse tentando ser civilizado e causar uma boa primeira impressão, eu mesmo teria atacado essa comida antes de chegar à sala de jantar", ele acrescentou, dando uma piscadela para Meissner.
"Viu só?" Meissner falou de boca cheia.
"Tenha modos, Meiss! Não seja nojento!" Eu o repreendi.
"Claro, sua alteza", ele sussurrou sarcasticamente, mastigando da forma mais barulhenta que conseguia.
Com um revirar de olhos e uma bufada, ataquei o meu próprio prato. A maneira como a comida derreteu na minha língua e o jeito que aquela mistura única de sabores explodiu na minha boca fez com que eu gemesse até terminar minha refeição em tempo recorde. Então, peguei-me encarando o prato vazio com um desejo insaciável que fez meus olhos se encherem de lágrimas.
Ouvindo umas risadinhas, levantei a cabeça para encontrar Meissner e Magnus lutando contra uma gargalhada apenas para perderem a batalha. Incapaz de me segurar, comecei a chorar. Os dois rapazes imediatamente foram engolidos pelo desconforto. Eu sabia que podia conseguir mais comida se pedisse, mas meus hormônios já estavam muito aflorados e vê-los rindo da minha situação foi a gota d'água.
"Ei... ei... ei... Por favor, não chore. Vamos, não foi nossa intenção rir de você, não é Meiss?" Magnus disse baixinho, ajoelhando-se ao lado da minha cadeira.
"Sim... sim... Nós não queríamos. Sentimos muito", Meissner concordou, visivelmente arrependido.
"Realmente, não foi nossa intenção. O que podemos fazer para que se sinta melhor?" Ele acrescentou enquanto Magnus acenou com a cabeça repetidas vezes.
Naquele momento, eu queria dizê-los que estava tudo bem e não era culpa deles, mas, sim, dos meus hormônios fora de controle. No entanto, por mais que tentasse, não conseguia parar de chorar.
"Está... está... está tudo bem", consegui responder entre soluços, mas pela expressão de horror em seus rostos, parecia que eu só tinha piorado a situação.
Magnus estava prestes a dizer mais alguma coisa quando o som da porta da frente se abrindo chegou aos nossos ouvidos, seguido das vozes alteradas de duas pessoas discutindo.
"Você não pode sair invadindo a casa das pessoas assim, Kiara! Já falamos sobre isso inúmeras vezes! É muito grosseiro!" Um homem reclamou com uma voz grave.
"Você está me chamando de grosseira agora, Matt?" Uma voz feminina e aveludada acusou em resposta.
"Você sabe muito bem que não estou te chamando grosseira. Estou apenas dizendo a verdade", ele retrucou presunçosamente. A essa altura, minhas lágrimas já tinham parado de cair. Minha atenção estava toda nos novos convidados.
"Mas esta é a casa do meu sobrinho!" Ela afirmou de forma petulante.
"Ainda assim, isso não te dá o direito de entrar sem bater, muito menos de arrombar a porta da frente", o homem argumentou exasperado.
"Mesmo que estejamos em um reino governado pela minha família?" Ela questionou baixinho, o que colocou um sorriso no meu rosto.
"Mesmo assim, Kiara. É extramamente grosseiro." Ele riu e, pelos sons de beijos que se seguiram, era possível saber o que estava acontecendo...
Então, ouvimos um grunhido seguido de um gemido antes do homem dizer em um tom rouco de desejo: "Não... não... não... Nós viemos aqui fazer uma visita, lembra? Foi você quem deu a ideia primeiro."
"Mas... mas..."
"Mas nada! Venha, vamos fazer logo essa visita. Depois, faço qualquer coisa que me pedir", ele prometeu.
"Qualquer coisa?"
"Sim, qualquer coisa. Agora, vamos..." Ele garantiu com uma risada. Em seguida, ouvimos seus passos vindo em nossa direção.
Neste momento, virei-me para perguntar a Magnus quem seriam os novos convidados, mas o olhar horrorizado que encontrei em seu rosto pálido me fez cair na gargalhada.
Eu me virei outra vez quando senti nossos convidados entrarem na sala de jantar e fiquei estupefata com a beleza daquele casal. O que havia com as pessoas desse lugar que pareciam todas o verdadeiro retrato da perfeição? Esses dois eram como os modelos das revistas que Meissner havia trazido do reino humano. Uau! Simplesmente, uau!
E como sempre, foi a mulher quem mais me chamou a atenção. Algo nela me lembrava a mãe de Xavier. Elas se pareciam um pouco, no entanto, a moça à minha frente usava um vestido florido de alças finas, cuja saia esvoaçante terminava no meio das coxas. Ainda assim, bastava olhar para ela para ver sua barriguinha de grávida apontando.
Não vou nem comentar sobre as tatuagens espalhadas pelos seus braços e pernas. Elas me pareceram particularmente intrigantes por se assemelharem um pouco às minhas. Algumas eram como cicatrizes sobre a pele, outras pareciam queimaduras e também havia aquelas que eram meros desenhos.
Voltando seu olhar penetrante para mim, ela disse: "Com excessão das lágrimas escorrendo pelo seu rosto, diria que você é o tipo de v*dia que ninguém se atreve a provocar. Meu tipo de v*dia. A propósito, belas tatuagens."
Pisquei várias vezes, impressionada com a forma como ela falou tudo aquilo sem rodeios enquanto analisava as tatuagens que fiz após minha transição. Na maior parte do tempo, eu até me esquecia que elas estavam lá. Ai, que saudades de Moira e Zya!
"Argh, de novo não..." O homem ao lado dela murmurou. Ao ver que seus anéis e colares combinavam, presumi que eles eram companheiros. Que fofo!
"Cale a boca, Matthews", ela ordenou por cima do ombro antes de ocupar o assento vazio ao meu lado.
"Eu sou Kiara, tia do Xavier, e este é meu companheiro, Matt", ela os apresentou com um sorriso que, embora radiante, parecia muito mais ameaçador do que simpático.
"Pare de sorrir, querida. Você está a assustando", seu companheiro sussurrou, mas todos o ouvimos de qualquer maneira. Em seguida, ele meneou a cabeça em minha direção e se dirigiu até a cozinha.
Secando minhas lágrimas rapidamente, respondi: "Ah, oi, eu sou a Inara e este é meu irmãozinho, Meissner..."
"Argh! Podem me matar! Eu definitivamente não sou o seu irmãozinho!" Com sua língua afiada, Meissner se intrometeu conforme se levantava de onde estava ajoelhado do lado da minha cadeira. Só então percebi que Magnus havia se agachado ainda mais e estava começando a transpirar. Que esquisito.
"Ah, um novo pirralho... Que fofo!" Kiara comentou, olhando Meissner de cima a baixo a ponto de deixá-lo desconfortável.
"E, Maggie, querido? Eu posso sentir seu cheiro a um quilômetro de distância. Não há como você se esconder de mim, meu bem. Venha dar um abraço na sua tia favorita."
"Ah, tô ferrado!" Magnus murmurou.
"Maggie, querido?" Meissner indagou antes de soltar uma gargalhada bem irritante.