Capítulo 105
981palavras
2023-07-12 00:02
Ponto de vista de Inara:
"Não, isso é amor de mãe, Meiss", Magnus o respondeu com convicção.
"Tá, mas como você pode ter tanta certeza?" O jovem mago indagou com o cenho franzido.
"Porque quando se ama alguém tanto assim, você iria até o fim do mundo se isso significasse que seu amado está seguro e protegido da dor. Agora multiplique esse desejo por um bilhão quando se trata de pais com seus filhos, então, você entenderá porque tenho tanta certeza", ele explicou com um sorriso pequeno nos lábios.
Virando-se para me encarar, ele perguntou baixinho: "Seu bebê... você já se sente assim sobre ele, não é?"
"Na verdade, sim... Passei dias pensando em como preferiria morrer a deixar Armand transformar meu filho ou filha em uma arma."
"Aí está…"
Depois de conseguir impedir o meu colapso nervoso, Magnus nos arranjou um quarto para descansarmos e relaxarmos um pouco enquanto ele providenciava algo para nós comermos.
Seres extraordinários como ele não precisavam de alimentos mundanos para sobreviver, portanto, não tinham que aprender a cozinhá-los, exceto se fosse um bife suculento e malpassado. Palavras dele, não minhas.
No entanto, ao longo de nossas interações, notei uma ligeira mudança no semblante de Meissner. Ele não só parecia mais contido, como seus sorrisos não brilhavam mais tanto como antes. Se tivesse que adivinhar o motivo, diria que tinha algo a ver com essa conversa toda sobre pais. Ele nunca falou muito sobre os seus, além de deixar claro de que estavam mortos.
Pensei que era importante ele saber que não era apenas o amor de uma mãe ou de um pai que era capaz de mover montanhas, mas de um amigo também. Afinal, uma família não era feita apenas de pessoas que dividiam o mesmo sangue.
Com isso em mente, deixei minha cama macia e fui até o final do corredor, onde ficava o seu quarto. Parada de frente a porta, estava prestes a bater nela quando ouvi sons de fungadas. Deixando a educação de lado, empurrei a porta e sorri ao vê-lo tentar se enterrar em seus lençóis enquanto tentava enxugar as lágrimas depressa.
"Você já me viu chorar de jeitos horríveis, mas quando é a minha vez de vê-lo se debulhar em lágrimas, você se esconde no quarto... Ai, ai, Meissner", provoquei-o.
A risadinha rouca que escapou dos seus lábios foi tudo o que eu precisava ouvir para saber que iríamos superar isso.
"Você é uma idiota", ele sussurrou, rouco.
"E eu pensando que esta era sua especialidade", brinquei.
"Argh!" Ele reclamou, arrancando-me uma risada.
"Vem cá..." Eu disse enquanto me ajeitava na cama com um travesseiro nas costas.
Ao se virar, ele beijou minha barriga crescente e deitou sua cabeça no meu colo. Então, eu permiti que um silêncio confortável se instalasse entre nós por um tempo antes de quebrá-lo.
"Quer me contar o que fez o seu bebê chorão interior vir à tona?" Perguntei de maneira descontraída conforme acariciava seu cabelo.
"Eu não sou um bebê chorão e não sei porque estou chorando por pessoas que já morreram", retrucou ele entre fungadas.
"Está falando dos seus pais?" Questionei suavemente.
"Sim, eu era... eu era bem novo quando eles faleceram, mas tinha idade o suficiente para me lembrar deles e meus pais não eram como Magnus descreveu. Eu sabia que era difícil sobreviver em um reino onde éramos proibidos de existir, que dirá criar um filho, mas não pedi para nascer. A verdade é que eles iriam preferir me dar como oferenda do que procurar outro lugar para morar ou caçar alguém por minha causa.
"Sim, eles me alimentaram e colocaram um teto sobre a minha cabeça, mas também me tratavam como uma obrigação indesejada acima de qualquer coisa. Minha mãe sempre gritava comigo e me chamava de ingrato quando eu pedia um abraço ou até mesmo implorava para passar um tempinho com ela.
"Já meu pai, ele apenas ignorava a minha existência, preferindo a companhia de seus amigos quando não saía para caçar recompensas. Um belo dia, foi sua própria cabeça que ficou a prêmio. Foi assim que fugimos e eles acabaram me abandonando com um grupo de magos deste reino.
"Eles prometeram voltar para me buscar quando fosse seguro, mas o alívio de não ter mais que lidar comigo depois que o mago-chefe me aceitou era nítido na voz e na linguagem corporal deles.
"Mais tarde, descobri que eles me venderam em troca de algumas joias e morreram enquanto tentavam deixar o reino pelas garras de um dragão que patrulhava as fronteiras. Pelo menos é assim que me lembro", ele contou sombriamente depois de limpar a garganta.
"Sinto muito, Meissner, e antes que você diga qualquer coisa, não falo isso por pena. Eu realmente sinto muito. Independentemente de como meu relacionamento com o meu pai ficou nos últimos tempos, no fundo, eu sabia que ele iria encontrar uma maneira de me resgatar daquela prisão e isso era reconfortante.
"Não sei como é ser vendido por um pai, mas sei como é perder um. Perdi minha mãe antes mesmo de conhecê-la e ter qualquer experiência com ela. Mas mesmo assim, eu podia sentir e ainda sinto o amor dela por mim até hoje. Posso me lembrar dos seus sorrisos gentis", eu o consolei seriamente.
"Eu também sinto muito por você", ele sussurrou.
"Não sinta. Ainda dói de vez em quando, mas sei que ela está em um lugar melhor agora, um lugar sem sofrimento. E sei que um dia irei conhecê-la na vida após a morte. Eu acredito que tudo acontece por uma razão.
"Tudo o que aconteceu a nós dois serviu para nos unir neste exato momento e estou feliz que isso tenha acontecido. Quero que você saiba que não precisa de uma família de sangue tradicional para saber o que é a alegria de se ter uma família e experienciar o amor como Magnus descreveu", eu afirmei.
………