Capítulo 104
1062palavras
2023-07-11 00:02
Ponto de vista de Inara:
A última coisa que vi foi a parte de trás dos ombros bem largos do meu companheiro ao se virar para voltar por onde viemos. Independente do quanto eu desejasse que ele tivesse nos seguido para seja lá onde estivéssemos indo, eu sabia que ele não podia fazer isso. No entanto, ele me assegurou de que me encontraria quando tudo isso acabasse e eu acreditei em suas palavras, pois ele já havia cumprido uma promessa semelhante. Ele voltou por mim e isso era toda garantia que precisava ter.
Ao me virar, vi Meissner entrar em um grande salão decorado em tons claros de cinza, branco e preto. Magnus foi o próximo a segui-lo antes de oferecer sua mão para me ajudar a sair do portal.
"Onde estamos?" Perguntei, dando uma boa olhada na sala à minha volta. Tinha que admitir que fiquei impressionada com o que vi. A estética era simples e acolhedora, exatamente o que eu precisava agora.
"Na casa do seu companheiro, se as fotos espalhadas por aqui forem algum indício disso", Meissner gritou de fora da sala. Claro que o mago intrometido iria começar a explorar o lugar sem permissão.
Rapidamente, segui sua voz até onde ele estava porque, embora me sentisse um pouco culpada por explorar a casa de Xavier sem sua permissão, também estava curiosa para saber que tipo de pessoa ele era, mesmo que fosse apenas através de suas fotos.
Quando cheguei lá, encontrei uma parede inteira de fotos dele junto do que supus serem seus entes queridos. Havia fotografias de sua mãe, seu tio e outro homem idêntico a ele. Imaginei que devia ser seu irmão gêmeo. Além deles, vi fotos das mulheres que conheci por acaso no campo de batalha, Magnus e outras pessoas que não conhecia.
Havia uma característica em comum em todas as fotos, que era o amor que eles compartilhavam entre si. Era como se o fotógrafo de alguma forma tivesse conseguido capturar esse sentimento a cada clique de sua câmera.
Embora várias fotos tivessem chamado a minha atenção, a que me deteve por mais tempo foi uma com Xavier vestido no que parecia ser um traje completo de batalha com uma fênix flamejante estampada no meio do peito.
Seu cabelo estava preso em um coque bem apertado com tranças nas laterais, segurando o que parecia ser uma coroa no topo da sua cabeça. No entanto, não foi isso o que mais me cativou na foto, foram os seus olhos.
Enquanto um cintilava em um vermelho ardente, o outro reluzia em um belo tom de dourado. Junto da expressão feroz e autoritária em seu rosto, a aparência dele era bastante intimidadora. Se pudesse opinar, diria que ele parecia uma fera perigosa no corpo de um guerreiro. O conjunto da obra o fez parecer um rei, o que, para mim, combinava perfeitamente com ele.
'Quem exatamente é meu companheiro?' Eu me perguntei em silêncio.
A foto seguinte mostrava Xavier em outro cenário, mas desta vez junto com um homem que, apesar de sua aparência intimidadora, tinha um sorriso largo estampado no rosto.
Seu sorriso era tão contagiante que era impossível não sorrir com ele. E foi isso o que aconteceu na ocasião desta fotografia, pois, mesmo que Xavier tivesse um pequeno vinco entre suas sobrancelhas, era possível ver o sorriso querendo escapar pelos cantos dos seus lábios enquanto ele olhava para o homem.
Os dois compartilhavam uma semelhança enervante. Podia apostar que aquele homem era seu pai. Pelo menos um de nós tinha um bom relacionamento com nosso progenitor.
Esse pensamento repentino me deixou um pouco triste, pois me levou a pensar em meu pai. Não pude deixar de imaginar como ele devia estar lidando com tudo isso. Apesar das nossas diferenças, ele ainda era o homem que me criou e eu daria qualquer coisa para estar em seus braços agora e ouvi-lo me dizer que ficaria tudo bem.
Tentei piscar algumas vezes para impedir as lágrimas traidoras de rolarem pelo meu rosto, mas de nada adiantou.
"Se eu perguntasse, você me diria o porquê está chorando?" Meissner indagou baixinho.
"É... é só o meu pai. Eu sinto falta dele",  admiti enquanto mais lágrimas caíam. Traidoras.
"Ele também sente sua falta. O homem era o perfeito retrato da angústia enquanto planejávamos sua fuga. Ele não parava de se culpar pelo que lhe aconteceu", Magnus revelou.
"Ah... é... é mesmo? Tem certeza? Tem certeza de que estamos falando do meu pai? Nossa última conversa não foi nada agradável. Ele provavelmente deve estar espumando de raiva agora e me culpando por tudo o que aconteceu..." Eu tagarelei.
"Relaxe, Inara. Eu estive com o homem e posso te garantir que isso é coisa da sua cabeça. Ele estava completamente perturbado, culpando a si mesmo e rezando para que você estivesse bem... Ele é seu pai e, pela minha experiência com a minha própria mãe, posso dizer que, independente das nossas falhas e tropeços, eles nos amam acima de tudo neste mundo."
"Tem certeza?" Perguntei mais uma vez, deixando as lágrimas, agora de alívio, rolarem pelo meu rosto. Meu coração estava cheio de esperança.
"Absoluta. Embora esta não seja minha história para contar, vamos pegar Xavier e sua mãe como exemplo. Eles tinham suas diferenças, mas ela preferiria morrer a deixar algo acontecer com o seu filho, mesmo ele sendo poderoso para caramba. É assim que os pais fazem. Chaos destruiria cidades, queimaria reinos e até mesmo extinguiria uma raça inteira se removessem um fio de cabelo da cabeça de seu filho. Acredito que seu pai faria o mesmo..."
"Uau, isso é bem extremo", Meissner comentou.
"Não, isso é amor de mãe, Meiss", Magnus o respondeu com convicção.
"Tá, mas como você pode ter tanta certeza?" O jovem mago indagou com o cenho franzido.
"Porque quando se ama alguém tanto assim, você iria até o fim do mundo se isso significasse que seu amado está seguro e protegido da dor. Agora multiplique esse desejo por um bilhão quando se trata de pais com seus filhos, então, você entenderá porque tenho tanta certeza", ele explicou com um sorriso pequeno nos lábios.
Virando-se para me encarar, ele perguntou baixinho: "Seu bebê... você já se sente assim sobre ele, não é?"
"Na verdade, sim... Passei dias pensando em como preferiria morrer a deixar Armand transformar meu filho ou filha em uma arma."
"Aí está..."