Capítulo 101
1009palavras
2023-07-08 00:02
Ponto de vista de Xavier:
Todavia, eu deveria saber que o que lhe faltava em força, ele tinha de sobra em golpes sujos e sorrateiros. No segundo que me distraí um pouco, o covarde já havia começado a mudar de forma. A força da sua mudança completa me jogou para o outro lado da sala.
Enfim, a luta havia começado de verdade!
Levantando-me dos escombros do que antes era uma parede, sacudi meu corpo para tirar a poeira de cima de mim. Então, levantei minha cabeça apenas para encontrar Armand parcialmente transformado com um olhar presunçoso no rosto.
O ar dentro da mina ficou mais denso devido a luta que se aproximava. O menino dragão parecia enlouquecido pela sua sede de poder enquanto mantinha aquele sorriso presunçoso no rosto. O palco estava finalmente montado para uma batalha épica.
"Acho que você não considerou o fato de que eu era um dragão quando planejou esse pequeno resgate", ele se gabou.
"Acho que você logo vai entender que alguns mitos são mais reais do que imaginou", retorqui.
Pelo suspiro que escapou dos seus lábios, ele notou o redemoinho em meus olhos e a forma como minha pele começou a ser engolida por uma sombra escura. Conforme ele dava um passo para trás, eu dava outro para frente. Em instantes, eu era um emaranhado de sombras com Santiago e nossa terça parte, tomando suas próprias formas. Deixei a parte dramática para os dois, visto que nosso terço assumiu a forma de um lobo, embora não passasse de uma sombra com dentes muito afiados. Não vou nem falar da saliva pingando de sua boca.
Santiago, bom, esta foi a primeira vez que ele se permitiu se manifestar dessa forma. Mesmo que ele fosse muito parecido comigo, o cretino parecia algo saído direto de um pesadelo infernal. O sorriso que ele me deu me causou um arrepio na espinha. Este é meu irmão gêmeo de que estamos falando.
Ao me virar para encarar o menino dragão, pude ver o horror em seu rosto e fiquei muito satisfeito com isso.
"O que... o que... o que... di*bos é você?" Ele gaguejou.
"Seu pior pesadelo", Santiago sussurrou em um tom frio e assustador.
"Vamos começar o show, tá?" Eu acrescentei enquanto quicava em meus pés com uma excitação inebriante correndo em minhas veias. Tinha que admitir que senti falta dessa sensação.
Para não passar batido, nossa terça parte soltou um rosnado que literalmente sacudiu as paredes da mina e os ossos do menino dragão.
Percebendo que sua única chance de sair vivo daqui era lutando ao invés de se acovardar, ele completou sua transformação e partiu para cima de mim antes que pudesse provocá-lo mais.
Como não gostávamos de ficar parados, eu e Santiago o encontramos no meio do caminho. Nossas garras se chocaram em uma enxurrada de movimentos. De repente, percebi que éramos os únicos a lutar. Nossa terça parte estava a um passo atrás de nós, apenas observando a tudo sem se juntar a diversão por ora.
Esse pequeno momento de distração deu ao menino dragão uma oportunidade para me jogar contra a parede mais próxima de novo. Essa foi a gota d'água para mim. Acabaram-se os jogos.
Ao me livrar de uma infinidade de destroços outra vez, dei um aceno de cabeça para Santiago, então, estávamos em cima dele novamente, cortando e dilacerando seu peito como se fosse feito de manteiga ao invés das escamas encouraçadas que devia protegê-lo. O rosnado de dor que ele soltou foi música para os nossos ouvidos. Pelo que pude averiguar, havíamos tirado uma quantidade substancial de sangue dele. Ótimo.
Mas tive que reconhecer a resiliência do menino dragão, pois apesar da lesão, ele ainda conseguiu me golpear de igual para igual. Com o passar do tempo, a tensão só aumentava conforme nenhum de nós desistia. A fim de fazê-lo provar do seu próprio remédio, eu rapidamente o joguei contra a parede e fiquei satisfeito em vê-lo tentar se levantar cambaleante.
Ao mesmo tempo, podia ouvir os gritos e grunhidos do lado de fora e ao redor das minas enquanto continuávamos a lutar.
A luta prosseguiu até que o menino dragão ficou tão machucado que ele voltou à sua forma humana. Sua bunda nua não era uma visão nada atraente, mas achei graça ao vê-lo puxar uma espada do nada. Pelo visto ele iria lançar mão de mais um de seus truques.
Que momento perfeito para isso! Dois terços de mim estavam do lado de fora, o que acabava drenando minhas reservas de energia com muita rapidez. Como não era comum estarmos separados por tanto tempo, eu não sabia muito bem como regular o quanto de energia saía e entrava em mim. Sendo assim, eles sugavam e sugavam sem parar, mas eu precisava estar na minha melhor versão para ver essa situação chegar ao fim.
Eu já tinha visto Santiago entrar e sair mesmo que não fosse tão óbvio para o nosso adversário. Ao trocar um olhar rápido com ele, meu irmão disparou para o meu lado e, sem hesitar, tornamo-nos um só outra vez. Entretanto, nossa terça parte se recusou a se fundir a nós. Por alguma razão, ele ainda andava de um lado para o outro, observando Armand atentamente. Eu sabia que ele estava tramando algo, só não fazia ideia do quê.
Assim que puxei uma espada da bainha nas minhas costas, um choque de metal misturado a grunhidos chegou aos meus ouvidos. Para a minha surpresa, Armand conseguiu me fazer alguns cortes aqui e ali, mas ele ainda levou a pior e estava sangrando mais rápido do que conseguia se curar.
Sacudindo minha espada amplamente, quase atingi sua orelha esquerda e ombro, mas o canalha foi mais rápido e se esquivou no último segundo. Apesar de tudo, seu sorriso asqueroso e presunçoso nunca diminuiu.
Quando estava para sacudir minha espada outra vez, senti mais do que ouvi outra presença na sala. Eu sabia que o canalha astuto iria aprontar alguma coisa, só não esperava que fosse demorar tanto, especialmente depois de ter sido tão espancado.