Capítulo 91
1035palavras
2023-06-28 00:01
Ponto de vista de Xavier — fazendo as pazes III:
Pelo suspiro que escapou dos lábios de minha mãe, soube que ela podia ver meus olhos mudarem para aquele tom dourado brilhante que pertencia apenas a Santiago enquanto eu ficava em segundo plano, observando a interação entre eles.
"Olá, mãe", disse ele com sua voz grave e rouca. Imediatamente, minha mãe o puxou para um de seus abraços apertados.
"San... Santiago... Pela fonte! É realmente você... Eu sinto muito. Sinto muito mesmo pelo que aconteceu. É tudo culpa minha. Eu sinto muito", nossa mãe tagarelou e vê-la desmoronar desse jeito partiu nosso coração.
Nossa mãe sempre foi a imagem perfeita de força e compostura, especialmente após o incidente com nosso pai. Já fazia um bom tempo desde que a vi demonstrar qualquer outra emoção além de raiva ou desdém. Ela costumava andar com um olhar vazio no rosto e sua tela mental normalmente continha uma imagem bastante clara de mim nu quando era criança a fim de forçar pessoas sorrateiras e invasivas como meu tio Luke a ficarem longe de seus pensamentos. O motivo de ela ter escolhido usar essa imagem entre tantas outras eu já não sabia dizer.
Também podia sentir a inquietação de Santiago diante o colapso de nossa mãe. Ele ficou tenso no momento em que ela nos abraçou, mas pouco a pouco ele relaxou em seus braços do jeito que toda criança fazia com seus pais.
Ao notar que Santiago continuou em silêncio, ela desfez o abraço e o analisou seriamente.
Então, ela voltou a dizer: "Eu realmente sinto muito. Sei que não importa o quanto eu peça desculpas, nada desfará o que fiz ou o que aconteceu, mas espero que um dia você seja capaz de me perdoar, filho", ela disse suavemente, embora houvesse uma certa angústia em seu tom.
"Por muitos anos, eu só senti raiva. No começo, eu estava muito curioso e animado, procurando uma oportunidade para lhe contar sobre mim até que começamos a nos afastar. Acho que foi a partir daí que comecei a sentir raiva e quando Sebastian passou a ressenti-la também, acabei me alimentando disso sem saber onde a minha raiva começava e a dele terminava. Tudo o que eu sempre quis foi você, mãe", Santiago respondeu com a mesma suavidade.
"Lamento muito não ter estado ao seu lado antes, mas não podemos mudar o passado. Só é possível olhar para frente e melhorar o futuro. Isso eu prometo fazer por vocês dois", nossa mãe prometeu e eu sabia que ela iria cumprir. Essa era toda a confirmação de que eu precisava.
"Nós iremos cobrá-la", Santiago retrucou com um pequeno aceno de aprovação. Após depositar um beijo rápido na testa dela, ele acrescentou: "Iremos conversar mais em breve, mãe..." No momento seguinte, ele voltou para o fundo da minha mente, deixando-me reassumir o controle.
"Meu irmão ainda está aprendendo a se comunicar verbalmente com outras pessoas. Ele não é um homem de muitas palavras e precisa de tempo para processar as coisas", expliquei ao me deparar com a expressão confusa no rosto da minha mãe após a saída abrupta de Santiago.
"Bom, era de se esperar, mas ainda me pergunto como vocês dois conseguiram lidar com essa situação? Você contou a alguém?" Ela indagou com uma ruga de preocupação deformando seu lindo rosto.
"O tio Luke descobriu, invadindo minha privacidade como sempre faz. Então, ele nos apoiou à sua maneira, mas nunca discutimos esse assunto abertamente, pois eu e meu irmão ainda estávamos tentando entender nossa situação. Além do mais, não sabíamos como contar a ninguém e acho que o tio Luke sabia disso."
"Ah, Luke... Que bom que ele estava ao seu lado. Mas por que você nunca contou ao seu avô?"
"Honestamente, nunca me passou pela cabeça fazer isso. Eu sabia que teria que contar a ele ou para alguém em algum momento, mas quando ele começou a tomar decisões a respeito da minha coroação depois da última guerra, eu entendi que não importava o quanto meu avô me amasse, ele era um rei em primeiro lugar e iria querer alguém poderoso em seu trono. Ele já estava obcecado em levar adiante essa história de coroação sem que eu dissesse nada, então, achei que contar a ele só lhe daria mais um motivo para antecipar as coisas."
"Faz sentido. Meu pai realmente pode ser muito intenso e não o culpo por se colocar em primeiro lugar. Eu só queria poder ter apoiado vocês dois."
"Agora que sei a verdade, acho que você nos apoiou do seu próprio jeito e eu tinha o tio Luke também."
"Isso me deixa feliz. Realmente, nem sei como agradecê-lo por tudo o que fez por vocês dois. Posso jurar pela minha vida que ele os vê como seus próprios filhos. Ele seria um ótimo pai se aceitasse a ideia de ter uma companheira."
Suas palavras me fizeram cair na gargalhada. "Não deixe que ele te ouça dizendo uma coisa dessas. Ele se convenceu de que seria mais feliz se ficasse solteiro e aproveitasse a vida ao máximo."
"Bom, alguém precisa fazê-lo enxergar que não dá para viver só de festa. Sempre que uma acaba, fica mais solitário depois e, como dizem por aí, a sensação não vai embora. Só vai deixá-lo amargo e com raiva até ele começar a se esquecer de como é ser desejado por alguém de verdade. Isso não é jeito de se viver. Eu falo por experiência própria", ela comentou suavemente, mas era possível perceber a tristeza em cada uma de suas palavras.
"Mãe..."
"Não, está tudo bem. Não se atreva a sentir pena de mim. Eu não seria capaz de lidar com isso. Tudo o que eu queria era acertar as coisas com você e demos um passo nessa direção, então, acho que isso é mais do que o suficiente para mim por enquanto... Ah, eu quis dizer vocês dois. Acho que nunca vou me acostumar a falar desse jeito. Só espero não acordar amanhã e descobrir que tudo isso não passou de um sonho."
"Posso garantir que não é."
"Assim espero. Agora, conte-me sobre essa sua companheira que te deixou todo agitado. Acho que devo agradecer a ela por tudo isso."