Ponto de vista de Xavier — fazendo as pazes II:
"Todas as negociações de paz que estive à frente foi com o objetivo de tornar o mundo um lugar mais seguro para você, mas acho que estava tão imersa na minha própria dor que não percebi que estávamos nos afastando. Quando dei por mim, mal trocávamos uma palavra um com outro e não sabia mais como consertar as coisas.
"De repente, eu me vi fazendo parte da sua vida pelos bastidores e encontrei conforto nisso. Eu o assistia treinar durante o dia e à noite entrava nos seus sonhos para ajudá-lo a dormir confortavelmente", ela acrescentou.
"Mãe..." Eu murmurei, deixando uma lágrima rolar pelo meu rosto.
"Eu não o abandonei como você e todos pensam. Você significa tudo para mim e, por mais difícil que seja, eu iria até os confins do mundo, até a própria fonte em si, para fazê-lo feliz. Eu fico contente por Luke tê-lo colocado sob suas asas e ter cuidado de você quando não pude. Jamais poderei recompensá-lo por isso."
"Eu... eu... não sabia" gaguejei.
"Claro que não. Tentei ser o mais discreta possível. Não vou nem comentar sobre quando você entrou naquela fase de dormir nu da qual nunca mais saiu. Quase tive um ataque cardíaco", brincou ela.
"Mãe!" Não pude evitar o rubor que subiu pelas minhas bochechas. Embora a nudez não fosse algo tão estranho para a minha espécie, saber que sua mãe o flagrou neste estado tantas vezes era embaraçoso, independente da sua idade.
"O que foi? Não é como se eu tivesse ficado encarando ou algo assim. Você alguma vez já se perguntou porque sempre acordava coberto por um edredom?"
"Eu sempre achei que acordava para me cobrir em algum ponto durante a noite. Jamais poderia desconfiar que era porque..."
"Ah, pare com isso, eu já vi tantos outros iguais..."
"Mãe! Eu realmente não precisava saber disso! Mas sempre pensei que você não me queria ou não se importava o suficiente comigo."
"Eu sei. E sinto muito por ter lhe dado essa impressão, mas saiba que eu te amo com todo o meu coração. Jamais poderei me desculpar o suficiente por fazê-lo duvidar desse fato. E não importa o que aconteça, meu amor por você nunca vai mudar", ela me garantiu, pegando na minha mão antes de prosseguir.
"Demorou um pouco, mas aprendi a me curar. Sabia que era tarde demais e temi ter te perdido quando partiu sem deixar rastros. Eu achei que meu mundo inteiro fosse desabar, embora eu entendesse porque você foi embora.
"Agora, eu olho para você e tenho orgulho do homem que se tornou. Sei que seu avô e eu fomos um pouco duros e exageramos enquanto pensávamos no que era melhor para você, mas saiba que não fizemos nada por mal. Nossas intenções sempre foram boas. Tenho certeza de que temos um longo caminho pela frente, mas estou disposta a trilhá-lo se você quiser. Só preciso que me dê mais uma chance."
Vê-la me encarar com seus olhos cheios de esperança me deixou esperançoso também. Ao que parecia, nossa situação não estava assim tão perdida quanto eu havia imaginado. O que nos separava eram nossas próprias suposições dentro de uma relação bastante frágil, e algo me dizia que ela estava para ficar ainda mais fragilizada depois que eu lhe contasse o meu segredinho.
"Há algo que eu preciso te contar também. Primeiro, quero que saiba que eu não estava escondendo isso de você por vingança. Eu só estava tentando descobrir por mim mesmo mais sobre a minha condição e posso dizer que fiz algum progresso", murmurei enquanto lançava alguns olhares furtivos na direção dela.
"O que é? Pode me dizer."
"Por onde devo começar?"
"Que tal pelo início, querido?"
"Então, eu meio que descobri porque meus olhos tem uma cor mais estranha do que o resto da nossa família."
"É algum defeito? Vamos precisar da ajuda do meu pai?"
"Não... não é nada disso. É por causa do meu irmão, Santiago", admiti rapidamente, então, parei para avaliar sua reação.
"O quê? Por favor, explique isso melhor..."
"Eu tenho duas cores de olhos diferentes porque ele está no meu subconsciente. De alguma forma, consegui absorver uma grande parte do meu irmão e agora compartilhamos um corpo. Ele é outra entidade que habita em mim junto da minha parte lobo e minha parte fonte."
"O quê? Como? Desde quando?"
"Desde que meus olhos mudaram de cor para nunca mais mudarem."
"Mas isso foi anos atrás... Então... como essa coisa toda funciona? Como isso é possível?"
"Você tornou isso possível quando escolheu um nome para ele. Isto lhe deu um lugar neste mundo. Seu nome serviu como uma corda para ele se segurar, portanto, você salvou o que restava dele, mãe. Ele esteve adormecido ao longo dos anos e não costumávamos nos comunicar tanto quanto agora. Ele me deixou no controle enquanto assistia tudo o que eu fazia como se fosse meu fã número um. Eu surtei no começo, mas depois me apeguei a ele."
"Ah, meus bebês... Eu não posso acreditar nisso! Todos esses anos, ele conseguiu sobreviver!" Minha mãe soluçou. Seus ombros tremiam conforme suas lágrimas corriam pelo seu rosto.
"Você disse que ele estava adormecido, mas o que mudou?"
"Nós conhecemos nossa companheira, então, ele quis sair. Ele está mais assertivo agora e não vou nem comentar sobre suas birras. Eu costumava controlá-lo melhor antigamente, mas ele está bem mais forte agora."
"Acho que ele deve estar se desenvolvendo e ganhando sua própria personalidade também. Será que eu poderia falar com ele? Ele é capaz de se comunicar com os outros?"
Levei um momento para perguntá-lo se ele estava realmente pronto para dar esse passo. Afinal, sabia muito bem como ele se sentia sobre essa questão com nossa mãe.
"Tem certeza disso, irmão?"
"Tenho..."
Pelo suspiro que escapou dos lábios de minha mãe, soube que ela podia ver meus olhos mudarem para aquele tom dourado brilhante que pertencia apenas a Santiago enquanto eu ficava em segundo plano, observando a interação entre eles.
"Olá, mãe", disse ele com sua voz grave e rouca. Imediatamente, minha mãe o puxou para um de seus abraços apertados.