Capítulo 89
1023palavras
2023-06-26 00:01
Ponto de vista de Xavier — fazendo as pazes:
Todos assistimos por trás de um véu ilusório a interação entre meu tio Luke e Armand. Tive que me impedir de cair na gargalhada ao perceber que o canalha estava mesmo de olho na minha mãe.
Virando-me para ela, ergui minhas sobrancelhas, sem conseguir evitar a risada que escapou dos meus lábios quando ela revirou os olhos para mim, algo que ela aprendeu comigo e não parou de fazer desde então.
Assistimos àquela breve, porém, hilária cena até as portas se fecharem atrás de Armand quando ele saiu. Então, deixamos o véu ilusório enquanto tínhamos um ataque de risos.
A ousadia daquele idiota não conhecia limites!
"Parece que você tem um novo pretendente, irmãzinha", tio Luke brincou.
"Por favor, poupe-me desse absurdo. Além de não querê-lo, ele não é digno de ser meu pretendente", ela retrucou, o que não nos surpreendeu. Afinal, era assim que ela reagia sempre que algum homem demonstrava o menor interesse por ela. Minha mãe precisava viver um pouco mais.
Pela primeira vez desde que nossa mãe chegou aqui, senti Santiago me cutucar sob minha pele. A sensação era tão estranha e perturbadora que deixei escapar um leve gemido. Aquilo parecia diferente de suas reações habituais. Tentei acalmá-lo, mas, para a minha surpresa, não senti sua raiva de sempre.
"Está na hora." Foi tudo o que ele me disse. Então, pelos suspiros que ouvi à minha volta, sabia que meus olhos deviam estar brilhando em uma miríade dourada, vermelha e preta.
Fiquei emocionado ao perceber que minha mãe foi a primeira a se aproximar de mim e com a forma suave como ela pegou meu rosto em suas mãos, tentando descobrir o que havia de errado comigo para poder me ajudar.
Senti um pedaço do muro que construí ao redor do meu coração para afastá-la desmoronar um pouco.
"Xavier? Xavier? O que está acontecendo? Você está bem?" Ela perguntou sem parar para recuperar o fôlego.
"Nós... Eu estou bem. Apenas me dê um segundo para me recuperar", pedi com um leve sorriso no rosto. Em seguida, tive um vislumbre do tio Luke e não pude deixar de rir diante ao olhar de surpresa que encontrei em seu rosto.
'Acho que você não sabe de tudo como pensava, tio Luke', pensei presunçosamente, sabendo que ele já estava revirando a minha cabeça.
"Vá se ferrar, Xavier", ele disparou em voz alta com um sorriso. Pude sentir o seu alívio depois de vasculhar minha mente do jeito barulhento e irritante que sempre fazia para me avisar que estava por lá.
'Vai dar tudo certo. Vocês dois estão finalmente prontos e vão conseguir consertar as coisas antes de irmos resgatar sua companheira, que estou louco para conhecer', ele comentou na minha cabeça.
'Claro, tio Luke', respondi telepaticamente antes de me virar para olhar para minha mãe, que ainda parecia preocupada comigo.
"Podemos conversar em particular, mãe?" Questionei com um sorriso suave após dar um suspiro cansado.
"Claro. Por que não?" Ela respondeu, nervosa.
"Há um jardim secreto no final do corredor. Você encontrará um beco sem saída, mas basta dar uma batidinha suave nos três tijolos que não têm cores de pedras preciosas e um caminho se abrirá até lá. Ninguém irá perturbá-los ou espioná-los", o rei ofereceu com um olhar compreensivo.
Com um aceno de cabeça sutil para meu tio e Magnus, deixei a sala do trono com minha mãe ao meu lado. Então, caminhamos em silêncio até chegarmos ao tal beco sem saída e, depois de dar as batidinhas nos tijolos mencionados pelo rei, fomos parar em um jardim exótico e muito bem cuidado, que nos deixou sem fôlego.
No meio do lindo jardim havia uma lápide. Ninguém precisava nos dizer que este era o local de descanso da companheira do rei. Não era de se admirar que o jardim fosse secreto e bem protegido. Eu também não iria gostar que mexessem com minha companheira, viva ou morta.
Em seguida, caminhamos até o único sofá de dois lugares no jardim e nos sentamos nele. Depois de deixar o silêncio nos envolver por alguns minutos insuportáveis, respirei fundo antes de começar a falar.
"Então..."
"Então?" Minha mãe ergueu a sobrancelha esquerda.
"Por quê? Por que tudo mudou depois que chegamos em casa?" Eu fui direto ao ponto.
"Sei que não é desculpa por causa dos anos que já se passaram, mas foi principalmente por conta da culpa que me devorava de dentro para fora. Ficar tentando prever o que poderia ter sido me matou dia após dia. Se eu tivesse parado por um momento para me acalmar e reavaliar a situação, seu irmão ainda estaria vivo", ela começou a dizer com a voz embargada e as lágrimas escorrendo pelo rosto.
"Toda a vingança que eu busquei não valeu a vida do seu irmão ou roubar a chance de você conviver com ele, mas percebi isso tarde demais. Perder um filho te leva a se fechar num lugar escuro, é uma dor difícil de superar, mas acima disso, a culpa torna tudo ainda mais sombrio e confuso. Você não tem ideia do quanto esse sentimento é capaz de te consumir. Tentei me recuperar, mas vê-lo todos os dias me lembrava do meu egoísmo e sei que não facilitei as coisas quando fiz questão de passar o menor tempo possível ao seu lado.
"Então, de algum jeito, eu me convenci de que treiná-lo seria a melhor saída para nós porque, apesar de não ter conseguido salvar o seu irmão, sabia que você cresceria e passaria a fazer suas próprias escolhas. Saber que não poderia estar lá para protegê-lo a todo momento, levou-me a tomar essa decisão.
"Eu vivenciei o pior desse mundo e fiquei com medo, portanto, coloquei você em um campo de treinamento ao invés de abraçá-lo durante as noites e enchê-lo com todo o amor que sinto por você. Sinto muito por isso.
"Todas as negociações de paz que estive à frente foi com o objetivo de tornar o mundo um lugar mais seguro para você, mas acho que estava tão imersa na minha própria dor que não percebi que estávamos nos afastando."