Capítulo 83
970palavras
2023-06-20 00:01
Ponto de vista de Inara:
Algum tempo depois que ele foi embora, apenas me sentei lá enquanto piscava rapidamente para afastar as lágrimas que queriam cair e tentava alguns exercícios respiratórios. A desesperança que me assolava era assustadora.
Como vim parar nessa situação?
Quando minha vida ficou tão complicada?
Ninguém viria me resgatar mesmo?
Será que Armand estava certo sobre como Xavier reagiria ao descobrir o que aconteceu?
A verdade era que nosso encontro havia sido muito breve. Antes mesmo que pudéssemos nos conhecer adequadamente, um psicopata me engravidou contra a minha vontade. Será que ele acreditaria em mim?
As perguntas não paravam de surgir na minha mente e, pouco a pouco, elas estavam começando a me sufocar!
Embora me esforçasse ao máximo para não deixar Armand entrar na minha cabeça, sabia que este era o objetivo de cada uma de suas visitas matinais indesejadas. E verdade seja dita, a cada visita ele conseguia destruir um pouquinho mais da minha determinação, além de frequentemente me fazer terminar o dia com mais dúvidas do que quando o comecei.
Tentei inúmeras vezes entrar em contato com Zya ou Moira, mas tudo o que encontrei foi silêncio e, nos dias de sorte, estática.
Nos últimos dias, também senti algo, ou melhor, a presença de outra pessoa. Por um momento, pensei que podia ser uma das duas, mas havia algo de diferente que não consegui identificar o que era exatamente.
A fim de me distrair, olhei para a pequena protuberância que estava começando a apontar no meu ventre e, por mais que tentasse minimizar aquilo, senti um misto de animação e medo simultaneamente. Eu estava empolgada com o fato de ter uma vida crescendo dentro de mim. Independente do que acontecesse, sabia que iria amá-la e estimá-la.
Por outro lado, estava enlouquecendo por causa de todos os fatores desconhecidos. Eu não sabia quando ou como esse bebê viria ao mundo, mas tinha certeza que não queria criá-lo em cativeiro.
Eu não sabia nada sobre o parto ou como cuidar de um bebê. Para um dragão, eu ainda era uma criança e agora teria que criar uma sozinha.
Gostaria que minha mãe ainda estivesse viva porque talvez assim ela teria me ensinado tudo o que há para saber sobre essas coisas. No entanto, eu tive um bom professor também, meu pai.
Não importava o quão cabeça dura eu fosse, ele me criou da melhor forma que pôde. Talvez ele tivesse me mimado um pouco demais, mas isso era de se esperar, já que ele havia perdido minha mãe e eu era tudo o que lhe restava.
Sabia que eu era a causa de seu envelhecimento precoce também e de seus vários ataques cardíacos aleatórios, pois sempre fui muito determinada a ter as coisas do meu jeito. Ai, como eu queria que tudo voltasse a ser como antes.
Sentia falta do pai que me dizia que poderia ser qualquer coisa que eu desejasse. Entretanto, foi só eu crescer para perceber que isso era apenas uma história para criança dormir. A vida real era muito diferente do que ele havia me contado. O fato do meu pai ser responsável por me impor as antigas tradições e passar todos os dias da minha vida adulta tentando me arranjar um noivo foi o que nos afastou.
Eu ainda estava me lamentando quando ouvi as portas da minha cela se abrirem. Rapidamente, enxuguei as lágrimas que tinham conseguido escapar antes de levantar minha cabeça e ver quem havia entrado no meu pequeno paraíso — sim, estava sendo sarcástica.
"Você não precisa enxugar suas lágrimas, querida", o intruso brincou.
"Vá se ferrar, Meissner! Onde di*bos você esteve? Você simplesmente me abandonou aqui e nem se preocupou em vir me ver."
"Ah, sentiu minha falta? Sabia que você não conseguia ficar longe de mim, só era teimosa demais para admitir. E bom, eu não a abandonei. Estive ocupado em uma missão para sua alteza. Antes que pergunte, não posso lhe dizer do que se trata. É assunto de mago, mas trouxe algo para você do mundo humano."
"Você foi para o mundo humano? Eu sempre quis ir até lá. Como é o reino deles? Como são os humanos? O que você trouxe para mim?"
"Tá, relaxa... Lá não é tudo isso o que dizem. Os humanos são criaturas muito desconfiadas e estranhas de uma forma que eu não estava pronto para descobrir, mas devo admitir que suas invenções são de outro mundo. Trouxe o que chamam de celular e uma caixa de som Bluetooth.
"É claro que o serviço de celular não é tão bom nessas montanhas rochosas, então, tive que ajustá-lo com um pouco de magia. Vou tocar algumas músicas para você que escolhi", Meissner tagarelou com entusiasmo.
Não pude evitar o sorriso que surgiu no meu rosto enquanto o observava se atrapalhar com os dispositivos que tirou de uma bolsa, a qual nem percebi que carregava. Após configurar tudo, assisti ele pular na ponta dos pés quando uma música animada preencheu o quarto. Ao que parecia outra coisa havia roubado o seu coração no reino humano e era essa música.
Embora não conseguisse entender a letra, somente a batida da música me fez balançar em minha cama. Quando dei por mim, Meissner estava me arrastando para fora dela conforme nos divertíamos ao som daquela melodia encantadora.
"Qual é o nome dessa música?" Perguntei, curiosa.
"Sungba Remix de Asake com Burna Boy e, antes que me pergunte quem são, não faço a menor ideia! Acabei de descobrir a música deles!"
"Acho que sua ida ao reino humano não foi tão ruim assim", eu o provoquei.
"É... Talvez", ele brincou, revirando os olhos, o que me fez cair na gargalhada.
Mas eu deveria saber que meu amigo sorrateiro estava tramando algo. Ao me puxar para mais perto de seu peito, ele sussurrou...