Capítulo 81
1040palavras
2023-06-18 00:01
Ponto de vista de Xavier:
Era verdade o que diziam sobre a dor e a raiva transformarem as pessoas, mas com minha mãe, eu diria que elas a arruinaram completamente. Além disso, ainda havia a culpa que a consumia por dentro por ter se atrevido a jogar com sua vida e perder meu irmão como consequência. Se ao menos ela soubesse a verdade... Mas por algum motivo, eu não conseguia lhe dizer nada.
O que ela precisava agora era se permitir se curar e seguir em frente. Ao que tudo indicava, ela havia percebido isso, pois estava aqui comigo ao invés de ter somente enviado suas garotas para representá-la. Sabia que não ajudava muito o fato de eu ser tão parecido com o meu pai. Se não fosse meus olhos, cabelo e altura, seríamos idênticos.
Portanto, olhar para mim todos os dias devia ser bastante doloroso, pois eu sempre a lembraria dele. Entretanto, acreditava que podíamos superar isso.
Afinal, já se passaram muitos anos e era seguro dizer que estava na hora de a ajudarmos a se curar em vez de deixá-la fazer isso por conta própria. Por décadas, esperamos uma mudança sem nenhum resultado. Finalmente, entendi que tudo o que estávamos fazendo era pisar em ovos ao seu redor, mas agora isso acabou.
De repente, senti um olhar aguçado sobre mim. Ao me virar, encontrei meu tio Luke sorrindo.
'Saia da minha cabeça, tio', pensei.
"Não!" Ele respondeu em voz alta antes de encarar o rei, que parecia um tanto confuso diante o sorriso presunçoso no rosto do meu tio.
Magnus deu um tapinha nas costas do rei e sussurrou, embora soubesse que podíamos todos ouvi-lo de qualquer maneira: "Eles são estranhos assim mesmo. Demora um pouco, mas você se acostuma. Prometo."
Neste momento, acabei com qualquer conversa paralela que nos impedia de chegar ao cerne da questão. Afinal, já era de manhã e minha companheira ainda estava presa em algum lugar.
"Então, para atualizar vocês, minha companheira foi sequestrada por seu noivo, que está a mantendo em alguma mina que reformou em seu reino. Aqui neste palácio, ele plantou uma maga para se passar por ela.
"Eles vão se casar em um mês. Agora, porque ele colocou uma impostora em seu lugar para o casamento, eu não ligo. O mais importante neste momento é tirar minha companheira da prisão em que ele a trancou e trazê-la para casa em segurança", expliquei.
"Você disse 'maga'?" O rei rugiu, furioso, fazendo com que minha mãe e meu tio o olhassem com o cenho franzido.
"É uma longa história. Vamos apenas dizer que os magos não são bem-vindos nesta região e devem ser mortos assim que são vistos", resumi para eles.
"Ele pode ser louco, mas não é o cara mais lunático com quem já lidamos, então, por que ele ainda está vivo e é uma ameaça?" Minha mãe indagou, inclinando a cabeça para o lado, curiosa. Seus olhos estavam repletos de perguntas.
"Porque algo não bate nessa história. Não pode ser só isso. Tenho a sensação de que há mais coisa envolvida do que sabemos e não quero fazer nada que coloque em risco a vida de Inara."
"Inara é um nome lindo... Mas você conseguiu estabelecer algum tipo de contato com esse homem? Sei que isso é tudo o que precisa para descobrir as peças que faltam."
"Eu tentei, mas por algum motivo ele está sempre fugindo das convocações do rei e também parou de visitar a impostora com a desculpa de que anda ocupado com os preparativos do casamento."
"E quanto a essa impostora? Onde ela está? Adoraria ter uma palavrinha com ela", Tio Luke perguntou com um sorriso malicioso.
"Bem aqui..." Uma voz veio da porta.
Ao me virar, prendi minha respiração. A mulher sorrindo nervosamente para nós parecia muito com a minha companheira, mas não era ela.
"E não é que ela é bonita mesmo..." Magnus brincou ao se virar para mim, mexendo as sobrancelhas daquele jeito estranho que só ele conseguia fazer.
"Você ainda não tinha a conhecido?" Tio Luke perguntou.
"Não! Nunca tive a chance de encontrá-la. Quando chegamos aqui, ela já tinha sido sequestrada", ele respondeu com um beicinho antes de se virar para encarar a impostora.
Mostrando suas presas, ele continuou: "O que veio fazer aqui, querida? Espionar para o seu mestre?"
"Em primeiro lugar, ele não é meu mestre e, em segundo, eu não estava espionando. Vim falar com o rei sobre Armand e, por acaso, acabei escutando sua conversa."
"Conveniente, não é mesmo?"
"Eu sei o que parece, mas não estou aqui para espioná-los. Pelo contrário, vim ajudar. Eu não conhecia Armand até minha avó nos apresentar, o que aconteceu pouco antes de ela me forçar a assumir esta forma e a vir para cá com ele. Pensei que meu trabalho era apenas me passar por essa mulher e depois seguir meu caminho livremente. Isso foi antes dos efeitos colaterais do feitiço começarem a se manifestar, antes de eu começar a ver o passado dela e ter sonhos compartilhados com ela. Sinto muito! Eu não sabia que ele tinha feito coisas tão abomináveis com ela. Ninguém merece ser tratado dessa forma!" Ela disse com a voz embargada.
"Sobre o que ela está falando?" Minha mãe indagou apenas para se virar e encontrar todos nós olhando para qualquer lugar, menos para ela.
"O que di*bos está acontecendo? Do que ela está falando?" Ela exigiu.
"Armand... ele... ele..." A impostora tentou dizer.
"Ele nada!" Eu a cortei. "Não vamos lavar a roupa suja da minha companheira aqui! Basta dizer que Armand a machucou muito e pagará pelo que fez. Isso é tudo que todos precisam saber."
"Sinto muito", a impostora murmurou.
Argh! Como não podia continuar a chamando de impostora ou Inara impostora, perguntei a ela:
"Qual é o seu nome, maga?"
"Não posso lhe dizer, apenas me chame de maga."
"Por que não pode dizer a ele seu nome?" O rei perguntou, impaciente.
"Porque sou uma maga que muda de forma. Dar meu nome a vocês não é seguro para mim ou minhas habilidades."
"É justo. Afinal, por que veio me ver?" O rei quis saber.
"Eu sei onde Inara está, onde Armand a mantém presa e o motivo", ela sussurrou.