Capítulo 72
1037palavras
2023-06-09 00:02
Ponto de vista de Inara:
Acordei ao som da porta da minha prisão sendo destrancada. Espreguiçando-me, distensionei meus músculos, o que foi bastante satisfatório. Por mais que quisesse voltar àquela floresta no sonho em que vi Moira e Zya, não consegui. Mas tudo bem, eu já meio que esperava por isso. Estava feliz por pelo menos ter conseguido dormir um pouco.
Ao me virar em direção ao som, encontrei o mago de antes, deixando um novo banquete para mim. Não pude deixar de fixar meus olhos no bife suculento no prato. Devia estar salivando porque o espertinho não hesitou em chamar minha atenção.
"É melhor fechar a boca antes que entre mosca, princesa", ele brincou enquanto empurrava o carrinho com a comida em direção à cama.
"Cale-se, mago! A boca é minha e faço com ela o que quiser", retruquei, sem hesitar em começar a comer.
"A boca é minha também, você não pode me fazer calá-la."
"Uau! Isso aqui é divino! Tem um gosto tão bom", gemi após dar minha primeira mordida.
Depois de terminar de mastigar, virei-me para ele e o respondi: "Argh... Quantos anos você tem? Cinco? Parece que tem uma resposta para tudo."
"Bom, se quer mesmo saber, eu tenho dezesseis anos, portanto, já sou quase um adulto e, sim, eu tenho uma resposta para tudo. Agora termine de comer."
"Você não vai embora?"
"Não! Vou me sentar aqui e ver você comer como um esquisitão. Afinal, assistir gente malcriada comendo é meu passatempo favorito."
"Ei! Você é muito mais malcriado do que eu. E vá embora!"
"Não, princesa. Agora você tem um novo colega de quarto."
"Ah, Armand só pode estar brincando comigo! Primeiro, ele me sequestra, me deixa sem o meu dragão e agora arruma um pirralho malcriado para tomar conta de mim. Que maravilha! Isso é realmente ótimo!"
"Diz a prisioneira que recebe cinco pratos de comida, sem contar as sobremesas, três vezes ao dia... Coitadinha, posso sentir sua dor, princesa."
"Meu Deus, como você é desrespeitoso. Onde foram parar suas maneiras?"
"Elas morreram junto com os meus pais e, não, não preciso da porcaria dos seus sentimentos ou das suas condolências!"
"Você é insuportável. Sente-se aí e cale a boca. Deixe-me desfrutar da minha refeição em paz."
"Isso eu posso fazer."
"Onde está Armand? Ele disse que tinha algo para conversar comigo. A propósito, qual é o seu nome?"
"Aww, já está com saudades dele? Bom, ele partiu para o seu reino hoje bem cedo. E eu me chamo Meissner."
"Nós dois sabemos que não sinto a menor saudade daquele cretino. Agora, por que um pirralho como você teria um nome tão maneiro? Você leu minha mente ou algo assim? Esse nome sempre esteve na minha lista de possíveis nomes para bebês!"
"Por que eu iria querer me torturar lendo sua mente confusa? Mas já que você admitiu que acha meu nome maneiro e ele está na sua lista, eu permito que você o dê ao seu filho. Ter um Meissner Jr. será seu sonho se tornando realidade..."
"Você me permite? Senhor, dai-me paciência! O que eles têm te dado para comer aqui, garoto? Você não é apenas malcriado, mas arrogante também... Argh! Então, diga-me, por que está aqui me vigiando em vez de fazer o quer que os magos fazem em seu tempo livre?"
"Porque o chefe mandou. Tem algo a ver com o bebê começar a afetar o seu corpo. Ele não quer que você fique sozinha."
"Ah, não. Isso de novo? Quanta obsessão com esse bebê imaginário!"
"Bebê imaginário? Já parou um instante para checar consigo mesma? Talvez ele esteja certo. Pelo menos, eu nunca o vi ter tanta certeza sobre algo como o fato de você estar carregando um filho dele."
"O quê? Não... Não pode ser! Eu não posso estar grávida! Não de um filho dele! Não, não e não! Isso não pode estar acontecendo!"
"Ei, ei, ei... Acalme-se, por favor. Podemos resolver isso e confirmar se está realmente grávida ou não."
"Como?"
"Dã, eu sou um mago. Apenas me dê algumas horas. Vou dar uma olhada nos livros da minha mãe. Deve haver um feitiço em algum lugar que eu possa preparar para confirmarmos isso. Não precisa se preocupar."
"Mas eu não quero um filho dele. Armand quer esse bebê pelos motivos errados. Ele quer me engravidar até formar um exército e não posso permitir uma coisa dessas. Nenhuma criança merece ser usada como arma, não importa com que tipo de poder ela nasceu."
"Essa é a coisa mais sábia que você disse desde que a conheci, mas não entendo. De que poder você está falando? Não é do trono, não é? Eu sempre soube que havia mais nesta história do que fomos levados a acreditar. Quer dizer, dragões são bem normais. O que há de tão especial em se transformar em um bicho voador gigante que pode cuspir fogo?"
Inara não pôde evitar o riso que escapou de seus lábios. "Ah, Meissner! Essa foi a descrição mais engraçada e desrespeitosa que já ouvi sobre a minha espécie. Somos mais do que isso, posso garantir."
"Duvido. Basta pegá-la como exemplo, um simples dragão da realeza, enjaulada no momento. Não há nada especial. Bem, exceto pelas cicatrizes e tatuagens maneiras espalhadas pelo seu corpo, realmente não há nada de mais."
"Ah, Meissner, se você soubesse. Bem que eu queria que Armand me visse como você me vê e me deixasse ir, mas conhecendo ele, isso não vai acontecer..."
Antes que Meissner pudesse responder, a voz de Armand interrompeu nossa conversa, fazendo com que o mago desse um salto de seu lugar perto das barras da cela. "Seja lá o que queira, Inara, não irá acontecer, principalmente se isso envolve deixá-la sair daqui com meu filho no seu ventre."
"Príncipe Armand..." Meissner começou a dizer.
"Você pode ir agora, Meiss. Sua nova amiguinha e eu temos muito a conversar. Essa conversa já vem com um certo atraso. Você pode voltar depois que terminarmos aqui."
Depois de me lançar um último olhar de desculpas, Meissner se levantou e saiu antes que eu pudesse protestar, deixando-me a sós com o demônio chamado Armand. Não pude deixar de me perguntar o quanto da nossa conversa ele tinha escutado.