Capítulo 71
1222palavras
2023-06-08 00:02
Ponto de vista de Inara:
Estava deitada em minha cama nova e aprovada por ser bastante macia enquanto observava outro homem, que presumi ser um mago também, deixar mais uma bandeja de comida no lugar de outra intocada. Ele soltou um suspiro irritado, o qual me fez sorrir presunçosamente.
"Você pretende morrer de fome?" Ele questionou com raiva.
"Essa é a ideia. De uma forma ou de outra, vou sair daqui", comentei de forma atrevida.
"E o bebê? Você não se importa com ele?"
"Pela enésima vez, eu não estou grávida!"
"Mas o chefe disse..."
"Seu chefe é um estuprador louco! Isso para não dizer que ele é um mentiroso patológico também!"
"Ele parecia bastante seguro de que você estava carregando seu herdeiro. Mas como você pode ter tanta certeza de que não está grávida? Até onde eu sei, você nunca esperou um filho antes."
"Então, só porque nunca estive grávida, todos vocês sabem mais sobre isso do que eu agora? Bom, tenho uma notícia para vocês, eu não só conheço bem o meu corpo, como estou certa de que não estou grávida."
"Independente do que você afirma saber, é melhor ser cautelosa e fazer suas refeições. Melhor prevenir do que remediar..."
"Saia da minha frente antes que eu canalize meus supostos hormônios de grávida e torça seu pescoço, mago!"
"Para alguém que diz não estar grávida, suas oscilações de humor podem ser bem intensas. Acalme-se antes que tenha um ataque cardíaco. E coma sua comida, você precisa de toda a sua energia. Garanto que ela não está batizada", ele zombou antes de desaparecer.
Suas últimas palavras foram o que me impediu de protestar. Ao que parecia, o bebê imaginário seria minha saída dessa confusão. Saindo da cama, peguei cuidadosamente a comida fresca e em poucos minutos devorei o prato inteiro. Eu devia estar com muita fome pelo visto. Quanto ao suco e a sobremesa, levei meu tempo para saboreá-los. O cozinheiro ou quem quer que tivesse preparado a refeição havia se superado.
Assim que voltei para a cama, soltei um arroto satisfeito e rolei para ficar de frente para a parede até o sono chegar.
Fazia um bom tempo desde que consegui dormir por mais do que alguns minutos, portanto, foi uma surpresa perceber que havia caído em um sono profundo e chegado a sonhar.
A felicidade que senti naquele momento não podia ser mensurada. Não fazia sentido. O que quer que Armand tivesse feito neste quarto garantiu que eu ficasse isolada de tudo e todos, até mesmo do meu dragão, Moira e dos meus sonhos. Embora achasse essa uma atitude um pouco extrema, era algo de se esperar de alguém como Armand.
No meu sonho, Zya e Moira vagavam pelo que parecia ser uma floresta deserta. Apesar de conseguir vê-las, foi difícil fazer com que elas me notassem. O motivo, eu não sabia dizer, mas não deixei isso me impedir de continuar tentando até que finalmente Moira me avistou.
"Inara?" ela sussurrou em choque.
"Moira..." Meus olhos encheram de água.
"Zya!" Eu acrescentei enquanto tentava alcançá-las, mas uma espécie de barreira parecia me manter afastada delas.
"Você não conseguiria se aproximar de nós, assim como não consigo chegar perto de Zya e vice-versa. Isso deve ser coisa de Armand, mas pelo menos podemos nos comunicar agora, o que já é um começo", Moira afirmou depois de me ver tentar ir até elas e falhar.
"Eu acho que sim. Então, o que fazemos agora? Precisamos nos libertar do que quer que isso seja e parar Armand", eu questionei.
"Ah, nós logo estaremos livres porque nosso companheiro está aqui."
"O que você quer dizer com aqui?"
"No Império Drakkon. Eu senti sua presença, mas apesar de não ter conseguido me conectar com ele, sei que ele nos encontrará."
"Não sem ajuda. Como ele poderá nos encontrar se não sabe onde estamos ou o que aconteceu conosco?"
"Que tal usarmos Moira para encontrá-lo no plano dos sonhos. Em algum momento, ele terá que dormir, não é? Quer dizer, não faria mal tentar", Zya sugeriu suavemente. Era a primeira vez que ela falava alguma coisa desde que nos reunimos.
"Você está bem Zya?" Eu perguntei, preocupada. Ela parecia mais retraída do que de costume desde o incidente com Armand e sua quase viagem sem volta até a fonte. Sabia o quão traumatizante isso devia ser, mas podia sentir no fundo da minha alma que algo a mais estava acontecendo com ela e queria ajudá-la.
"Sim, estou bem. Não se preocupe." Ela nos deu sua resposta robótica e pré-programada de sempre.
"Zya... Você sabe que pode conversar com a gente, não é? Não importa o assunto."
"Eu sei, mas realmente não tenho nada a dizer. Estou bem. Só quero sair de qualquer que seja essa prisão e voltar para a nossa vida de antes dessa confusão toda começar", ela murmurou.
"Isso vai acontecer, Zya", eu a tranquilizei.
Estava prestes a dizer mais alguma coisa quando ouvi alguém chamar o meu nome. Eu me virei, mas não encontrei ninguém atrás de mim.
"Acho que alguém está tentando te acordar. Você precisa ir antes que descubram que podemos nos comunicar."
"E se nunca mais tivermos outra chance de nos falar? E se..." Guaguejei.
"E se nada! Pare de se preocupar. Confie que tudo ficará bem. Encontraremos nosso companheiro e nos livraremos de Armand. Apenas aguente firme, Inara", Moira garantiu.
"Tá. Tomem cuidado", sussurrei antes de me virar e retornar pelo caminho que havia feito até elas.
Então, deixei-me guiar pela voz de alguém gritando o meu nome e o som do tilintar das barras de ferro.
"Você não se toca mesmo de quando sua presença não é desejada, não é? Pelos deuses, será que você pode me deixar em paz? Eu estou cansada e não quero falar, nem ver ninguém, muito menos você, Armand", disparei com raiva sem me virar.
"Ah, você está viva..." Ele disse com certo alívio.
"Claro que estou viva, seu imbecil. Apenas me deixe em paz! Estou cansada."
"Provavelmente é por causa do bebê. Li em algum lugar que é normal mulheres grávidas terem muito sono. Ah, e me disseram que você finalmente comeu hoje e não deixou nada no prato. Estou feliz que tenha caído em si e esteja fazendo o possível para garantir que nosso bebê sobreviva..." Ele tagarelava sem parar.
Embora eu tivesse morrendo de vontade de lhe dar uma resposta grosseira, apenas fiquei quieta e deixei que ele divagasse o quanto quisesse.
"Tem mais alguma coisa que você queira? Uma bebida, alguma fruta talvez? Há um botão ao lado da cama que, na verdade, é um interfone. Pode pressioná-lo se precisar de alguma coisa, que alguém irá providenciar para você."
"Tá. Será que agora posso voltar a dormir? Estou bem cansada. É a primeira vez que consigo dormir sem acordar a cada maldito minuto..."
"Está bem. Vou deixá-la dormir por enquanto. Acabei de voltar do seu reino e passei aqui para dizê-la que está tudo bem e estão todos felizes por você estar em casa."
"Se você diz, Armand..."
"Descanse Inara. Podemos ter essa conversa mais tarde", ele informou ao  se virar para sair. Havia algo diferente em seu jeito de andar. O idiota estava realmente animado com esse bebê imaginário. Esperei até que seus passos desaparecessem antes de relaxar e me permitir recuperar o sono que tanto precisava.