Capítulo 70
1247palavras
2023-06-07 00:02
Ponto de vista do narrador:
Depois que Armand e a impostora deixaram a sala do trono e já estavam longe dos olhares bisbilhoteiros de outras pessoas, ambos soltaram o ar que pareciam segurar há tempos.
"Não pensei que seria assim tão fácil", comentou a Inara impostora.
"Bom, eu sabia. Disse que tudo daria certo, lembra?"
"Como você sabia?"
"Ele e a filha não se dão bem há anos. Qualquer vínculo que pudessem ter tido no passado enfraqueceu durante esse tempo. O fato de você estar aqui e ser boazinha com ele pode parecer estranho, mas ele irá se segurar a qualquer fio de esperança que der a ele, o que, por sua vez, funciona a meu favor."
"Você parece ter tudo planejado. Mas agora que estou aqui, o que vamos fazer? Lembre-se de que sou uma maga e é minha vida que estará em jogo se alguém ver através deste encantamento..."
"Neste caso, só precisamos garantir que ninguém descubra nada porque você ficará aqui por um bom tempo e terá que fazer o que for necessário para afastar qualquer suspeita até o dia em que estivermos oficialmente casados aos olhos do nosso povo."
"Quanto tempo é um 'bom tempo'? E o que quer dizer com 'aos olhos do nosso povo'?"
"Até que seja provado que Inara está grávida de um filho meu ou até que o isolamento a transforme na esposa obediente que ela deveria ser. O que vier primeiro."
"E se ela não estiver grávida?"
"Eu continuarei tentando engravidá-la. Simples assim."
"Você é um filho da p*ta doente, Armand."
"Em primeiro lugar, eu não sou um filho da p*ta, respeite minha mãe, obrigado. Em segundo, o que você considera doente, deixo ao seu critério. Cada um tem direito a sua opinião."
A Inara impostora apenas olhou para o príncipe de soslaio, perguntando-se porque ele estava fazendo isso. Eles nem se conheciam até alguns dias atrás, quando sua avó os apresentou e contou o que queriam dela. Dizer que ela havia ficado espantada com o que ouviu era um eufemismo. Por mais repentino que aquele pedido fosse, pela forma como ele foi feito, soou mais como uma ordem do que qualquer outra coisa.
Fingir ser outra pessoa era mais complicado do que se podia imaginar. Se eles tivessem lhe pedido para fazer um encantamento simples, ela teria concordado mais depressa, mas ter que tomar uma poção amarga e nojenta para se transformar em outra pessoa era terrivelmente doloroso e algo que ela preferia ter evitado. No entanto, ela não teve outra escolha, visto que sua avó já havia feito o acordo em seu nome. Ela pensou que essa havia sido a pior de todas as suas exigências até descobrir que se passaria por uma princesa em um território dominado por dragões.
Essa missão estava literalmente colocando sua vida em risco. Afinal, os dragões podiam acabar com ela em um piscar de olhos. Embora ela não tivesse protestado uma, mas várias vezes, sua avó não perdeu a chance de lembrá-la e fazê-la se sentir culpada com o fato de estarem fazendo isso por um mundo melhor, um que seus pais teriam desejado para o futuro dela.
Sua avó nunca hesitava em mencionar os seus pais. A essa altura, a velha sabia que a Inara impostora já conhecia os seus truques e sabia exatamente que tipo de pessoa ela era. Todavia, ela gostava de lembrar a neta de que tinha alguns séculos de idade e muita experiência de vida, portanto, poderia tornar sua vida um inferno se quisesse.
Então, aqui estava ela com um príncipe de caráter questionável, enganando um reino inteiro junto de seu rei enquanto a verdadeira princesa sofria em algum lugar por conta das fantasias delirantes dele.
Armand a conduziu através das portas de um quarto que emanava uma energia obscura e furiosa por toda parte.
"O que di*bos aconteceu aqui? Posso sentir tantas emoções negativas. Tem certeza de que este é o quarto de Inara?"
"Claro, da última vez que chequei, este ainda era o quarto dela. O que quer que esteja sentindo provavelmente é apenas resultado de um de seus acessos de raiva habituais após mais uma de suas discussões com o pai. Tenho certeza que esta é a fonte de todo o mau cheiro neste lugar," Armand mentiu descaradamente, sabendo muito qual poderia ser a causa de tanta raiva.
"Faz sentido", Inara impostora respondeu, embora não acreditasse em uma única palavra que deixou a boca do príncipe. Ela podia sentir o sabor amargo das mentiras dele.
Argh! No que foi que sua avó havia lhe metido?
Ao observar mais atentamente o quarto, ela se sentiu um pouco sufocada pela emoções negativas intensas alojadas ali. Como sempre havia sido muito perspicaz, ela não demorou a notar uma fina camada de poeira sobre os móveis e podia apostar que o cômodo não era ocupado há algum tempo, mas claro que o príncipe onisciente teria deixado algo assim passar despercebido.
"Eu tenho que ir agora, mas voltarei amanhã cedo para ver como as coisas andam. Tente começar a amaciar o rei também. Precisamos dele o mais distraído possível e nada melhor para um pai do que passar um tempo de qualidade, estreitando laços com sua filha. Conhecendo Inara, eles não devem fazer nada juntos há anos. Ela é teimosa demais."
"Isso me lembra, você e minha avó insistiram tanto que eu fingisse ser a princesa, mas nunca me disseram nada sobre ela. Como ela é? Que tipo de comida ela gosta? Quais são suas cores favoritas? Seus hobbies? Como ela interage com as pessoas? Qualquer coisa serve. Afinal, como posso fingir ser alguém de quem eu não sei nada? Você vai se casar com ela em breve, então, deve conhecê-la muito bem. Apenas me conte algo a respeito dela..."
"A verdade é que Inara e eu não somos nem um pouco próximos. Tudo o que sei é que ela é uma pirralha exigente e mimada que se acha melhor do que todo mundo e parece estar sempre em um pedestal. A pior parte é que ela é um dragão indigno de qualquer poder sobrenatural com o qual foi abençoada."
"Que coisa horrível de se dizer sobre a mulher com quem vai se casar e passar o resto da sua vida. Há mais alguma coisa que possa me contar?"
"Não! Isso é tudo o que sei. Não sei quais são os hobbies dela, a comida favorita ou a cor e, sinceramente, não ligo para nada disso porque tenho coisas mais importantes para me preocupar agora."
"Tipo o quê?"
"Não é da sua conta! Seu trabalho é ficar aqui, agir como uma tola e tentar se dar bem com todo mundo. Quanto menos você falar, melhor", ele afirmou em um tom bastante condescendente.
"Vá se ferrar, Armand. Você não é melhor do que a princesa que acabou de descrever, portanto, não se iluda. Eu só estou aqui porque minha avó me pediu, mas não pense que isso lhe dá o direito de me tratar como você trata todo mundo ou de me humilhar. Não se esqueça que posso fritar suas bolas onde quer que você esteja. Então, veremos como irá fazer para engravidar alguém. Agora, dê o fora deste quarto", retrucou a Inara impostora.
"Como se atreve..."
"Será melhor para nós dois se você não completar essa frase. Só vá embora!"
Com um resmungo e uma bufada irritada, Armand saiu do quarto sem lhe dar nenhuma resposta ou olhar para trás.
'Que cretino mimado e malcriado', ela pensou.