Capítulo 65
894palavras
2023-06-02 00:02
Império Drakkon:
Depois de alguns minutos sofrendo com aquele silêncio constrangedor, Marleigh finalmente abriu a boca.
"Acabei de ver Inara, mas aquela não era ela."
"O que a faz pensar isso? Vamos supor que eu acredite em você, que prova tem de que aquela garota não é minha filha de verdade?" O rei questionou em um tom austero.
"Eu... eu... fiz um juramento de sangue com ela e..."
"Como é que é? Você fez o quê? Está louca? Perdeu o juízo? Você tem ideia de o quão perigoso isso pode ser para as duas?"
"Eu não tive escolha. Ela não confia em mim e essa foi a única forma que encontrei de voltar para a vida dela."
"Você tinha a escolha de ficar longe dela. Por que esse súbito interesse na minha filha? Diga!"
"O motivo disso não importa agora. Estamos aqui para discutir a impostora que está se passando por sua filha. Acabei de encontrá-la e ela foi receptiva e até acolhedora, coisa que Inara não é. De todo jeito, o vínculo do juramento de sangue brilha sempre que me aproximo dela e, dessa vez, não houve nem uma pequena faísca."
"Mas é claro que o motivo importa, afinal, você colocou sua vida e a dela em risco ao fazer esse juramento estúpido! Além do mais, você ignorou a existência dela desde a morte de Sapphire e agora, do nada, está interessada em fazer parte da vida dela? Que razão eu tenho para não achar isso no mínimo suspeito?"
"Ela está em um momento de sua vida em que precisa ter alguém ao seu lado..."
"E acha que essa pessoa é você? Está fazendo isso por causa do blodsvreden dela, não é? Você agia dessa mesma forma quando Sapphire estava grávida. Tenho certeza de que você esperava que Inara nascesse com os olhos brilhando na cor do seu blodsvreden, mas isso não aconteceu. Por anos, você a ignorou até que agora ela se uniu com seu blodsvreden."
Marleigh abriu e fechou a boca várias vezes, sem saber exatamente o que falar.
Com uma risada, o rei voltou a dizer: "Estou certo, não é? Você não mudou nada. É a mesma velha Marleigh de sempre à procura de um número um."
"Talon, eu..."
"O que acha que vai acontecer quando ela descobrir a verdade sobre o que realmente aconteceu? Você acha que um vínculo vai detê-la?"
"Todos nós fizemos coisas no passado das quais não nos orgulhamos. Agora, só nos resta olhar para frente para poder tornar o futuro melhor."
"Se é isso que te ajuda a dormir à noite... Mas se o que diz é verdade, o que propõe? Nós dois sabemos o quão desequilibrado Armand é e eu não estou disposto a arriscar cometer um erro que pode custar a vida da minha filha."
"Por ora, antes de tomarmos qualquer decisão, vou ligar para algumas pessoas que conheço no reino dele e perguntar se houve alguma atividade estranha ou se alguém viu Inara por lá."
"Você tem espiões em Sallsynt Guld? Você é mesmo ousada, ein."
"Eu não os chamaria de espiões. Somos amigos especiais que ajudam uns aos outros nos momentos de necessidade."
O rei soltou uma risada enquanto balançava a cabeça. "Marleigh... Marleigh... Algumas coisas nunca mudam, não é?" Ele acrescentou entre dentes.
Marleigh apenas o encarou com um sorriso triste. Embora ela quisesse poder explicar porque fazia o que fazia, ela não podia. Além de não ser o momento certo, Inara estava desaparecida.
Levantando-se, ela avisou baixinho: "Estou indo agora, Talon. Eu o informarei se souber de alguma coisa."
Um grunhido incompreensível foi tudo o que deixou a boca do rei antes de ele se recostar na cadeira e fechar os olhos com um suspiro cansado.
"Tenha cuidado", Marleigh o lembrou ao sair pela passagem secreta.
Baixando a cabeça em sua mesa, o rei rezou para que qualquer deus ou divindade que pudesse ouvi-lo o ajudasse a salvar sua filha. A cada segundo que passava, ele parecia perder mais e mais a esperança, sem falar que ele estava cercado de pessoas em quem não confiava.
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Ponto de vista de Inara:
Acordei com a sensação de estar em uma cama macia, o que me fez franzir o cenho imediatamente. Afinal, da última vez que chequei, o colchão sobre o qual estava deitada não só já havia visto dias melhores, como era tão duro quanto uma rocha. Ao me virar, minhas costas encontraram uma parede sólida, então, abri os olhos apenas para fechá-los outra vez por conta da luz forte.
Sentei-me e abri os olhos lentamente, permitindo que eles se ajustassem à claridade do quarto. Fiquei chocada ao perceber que não estava mais naquela cela subterrânea. Olhando à minha volta, analisei cada centímetro do meu novo quarto.
Logo me dei conta de que não havia necessidade de ficar animada. Havia apenas trocado uma prisão por outra. Embora esta fosse mais luxuosa, podia ver uma câmera piscando no canto. A porta, que parecia ser feita de aço, não tinha uma maçaneta ou fechadura.
Aproveitei para tentar alcançar Zya ou Moira, mas foi inútil. Eu nem mesmo conseguia mudar de forma. Estava de volta à estaca zero. Presa e indefesa!
Com um suspiro derrotado, voltei para a cama e me enrolei com o lençol que havia na beirada. Por mais que tentasse não chorar, podia sentir minhas lágrimas começando a ser formar.