Capítulo 63
954palavras
2023-05-31 00:02
Ponto de vista de Inara:
"O quê? Meu pai irá notar que há algo de errado!" Eu sussurrei sem acreditar enquanto cravava meus dedos na palha.
"Duvido, blodsvreden", ele debochou.
"Eu tenho um nome, idiota. Nós todas temos e isso ainda não acabou! Você não pode simplesmente me substituir. Alguém notará a diferença!"
"Para mim, parece bastante acabado, princesa. É melhor você aceitar seu destino porque esta será sua vida a partir de agora. Você pode achar que está sofrendo uma injustiça, mas encare isto como uma consequência de uma guerra pela liberdade. Tantas vidas são perdidas antes que a vitória seja alcançada, mas neste caso, será apenas a sua", ele acrescentou com uma gargalhada.
Não respondi, nem disse nada, no entanto, sabia que estava entrando em estado de choque. Ignorando-o, voltei para a cama e apenas me deitei lá enquanto olhava para o nada.
"Ei, você está bem?" Ele questionou em um tom surpreendentemente preocupado, mas eu não me deixei enganar, portanto, não o respondi.
Sem dizer mais nada, ele continuou me encarando. Entretanto, após perceber que não receberia nenhuma resposta, ele soltou um suspiro e se virou para ir embora.
"Eu voltarei com comida e água", ele avisou antes de partir.
Quando tive certeza de que ele já tinha ido embora e não podia mais ouvir os seus passos, deixei minhas lágrimas voltarem a cair. Chorei até soluçar e, mesmo assim, minhas lágrimas não cessaram.
Embora não pudesse mudar o que aconteceu, não podia deixar de temer o que estava por vir. Armand era um homem perverso com desejos sombrios. Havia inúmeras coisas que ele podia fazer comigo e isso me assustava para caramba.
Eles já haviam tirado o meu sangue sem meu consentimento. Eu tremia só de pensar no que mais eles iriam tirar de mim, quer eu concordasse ou não.
Eu ainda estava me lamentando quando o mago abriu uma portinha sob as grades, a qual ainda não havia notado, e empurrou uma bandeja com água e comida para dentro antes de fechá-la outra vez.
Esperei até ele sair novamente antes de me sentar. Como não tinha me alimentado o dia inteiro, o cheiro da comida fez meu estômago roncar.
Apesar de não querer comer por medo da comida estar batizada, estava com muita fome e precisava recuperar minhas energias caso quisesse encontrar uma maneira de sair deste lugar horrível.
Depois de pegar a bandeja, voltei rapidamente para a cama e devorei a comida, faminta. Comi até ficar satisfeita e não haver mais nada no prato. Então, coloquei a bandeja no chão antes de me deitar de novo.
Argh! Não tive tempo de provar, nem apreciar a refeição. Deitada, fiquei esperando o que quer que eles pudessem ter colocado na comida fazer efeito, mas nada aconteceu. Talvez eles não tivessem a batizado como imaginei.
Inclinando-me, peguei o copo de água e o bebi apenas para perceber que havia pensado aquilo cedo demais, pois os efeitos da droga me atingiram de uma só vez. Sentindo uma forte dor de cabeça, caí de costas sobre a cama conforme minha visão escurecia. A última coisa que vi antes de ser sugada pela escuridão foi o copo escorregando entre meus dedos e se quebrando em vários pedaços ao cair no chão duro e frio.
'Droga, Armand', foi a última coisa em que pensei.
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Império Drakkon:
Em seu trono, o rei se perguntava onde ele havia errado com Inara. Eles se davam tão bem quando sua Sapphire ainda era viva, mas depois de sua morte, as coisas desandaram entre pai e filha.
Eles nunca mais entraram em acordo e, após algum tempo, eles simplesmente se afastaram.
Depois que Inara saiu furiosa, ele mandou alguns guardas a seguirem, mas eles a perderam de vista.
Como guardas treinados e experientes conseguiram perder de vista uma garota sem nenhum tipo de treinamento, ele não fazia ideia.
Então, ele mandou mais guardas atrás dela e os relatos que chegaram até ele foi que sua filha não era vista desde de manhã. Isso estava começando a deixá-lo preocupado. Por mais zangada que estivesse com ele, Inara sempre voltava para casa.
Ele já estava prestes a enviar uma patrulha inteira para encontrá-la quando as portas da sala do trono se abriram e ele viu algo que não esperava ver nem nessa vida, nem na próxima.
Armand e Inara entraram na sala juntos e de mãos dadas.
Levantando-se do trono, ele correu até sua filha e a puxou para um abraço.
"Onde você esteve? Os guardas não conseguiram encontrá-la em lugar nenhum. Já estava ficando preocupado que algo pudesse ter te acontecido!" Ele sussurrou com uma voz bastante preocupada.
"Sinto muito, pai. Eu apenas me escondi quando percebi que estava sendo seguida. Eu só queria ficar um pouco sozinha. Decidi passear perto das montanhas para clarear minha mente e acabei perdendo a noção do tempo. Peço desculpas. Isso não irá acontecer de novo", ela respondeu, arrependida.
Suas palavras abalaram o rei profundamente. Dando um passo para trás, ele deu uma boa olhada em sua filha, que parecia ter sofrido um transplante de personalidade. Não era que ele fosse contra mudanças positivas, mas aquilo era estranho, perturbador e repentino demais para ser verdade.
Para começar, ela estava respirando o mesmo ar que Armand. Ainda naquela manhã, ela havia jurado que não se casaria com ele nem por cima do seu cadáver, mas agora aqui estava ela, desculpando-se sem nenhum tipo de teatralidade ou alguém tendo que obrigá-la a fazer isso. Sua filha era tão orgulhosa quanto ele e obter dela um pedido de desculpas sem qualquer motivo era como tentar quebrar o casco de uma tartaruga. Difícil, desgastante e, às vezes, inútil, até porque era mais fácil desistir no meio do caminho.