Capítulo 62
968palavras
2023-05-30 00:02
Ponto de vista de Inara:
Não pude deixar de relembrar àquela noite com Armand. Ele também se certificou de que eu não conseguisse mudar de forma ou canalizar Moira.
Meu coração afundou quando os ouvi confirmar o que já suspeitava. De novo, não!
Onde estava Xav quando eu mais precisava dele? E por que diabos estava pensando nele agora? Por que achava que ele viria ao meu socorro quando meu próprio pai não faria isso por mim?
Dei um passo para atrás e eles reviraram os olhos com suspiros exasperados.
"É um beco sem saída. Onde diabos você pensa que vai?" O urso provocou.
"Tá, chega de conversa fiada. Peguem-na", o mago ordenou.
Ao dar mais um passo para trás, de repente, senti a presença de mais um deles. Seu hálito fétido foi a primeira coisa que notei, mas antes que pudesse me virar para ver quem era, fui atingida por um objeto na cabeça. Não tive nem tempo de protestar, apaguei de imediato.
Acordei com um gemido e a cabeça doendo. Quem me bateu não se conteve, nem se importou com o fato de eu ser uma mulher. Olhando rápido à minha volta, percebi que estava em uma espécie de carruagem na estrada.
Embora tivesse tomado cuidado para não alertá-los de que havia despertado, eles pareciam estar me monitorando de perto porque antes que pudesse levantar minha cabeça para ver onde estávamos, senti a picada de uma agulha na minha coxa. A próxima coisa que vi foi a escuridão voltando a me engolir.
Quando acordei novamente com dor, abri meus olhos apenas para me encontrar em algum tipo de cela. Eu estava deitada sobre uma cama bem suja com um colchão fino que sem dúvidas já havia visto dias melhores. Sentei-me para poder dar uma olhada ao meu redor, mas tudo o que encontrei foi uma pequena janela longe do meu alcance e um balde velho no canto. Pela escuridão lá fora, já era de noite.
Ao me aproximar das grades da cela, bati nelas com toda a minha força.
"Deixe-me sair daqui!" Gritei a plenos pulmões.
"Deixe-me sair!"
Gritei por sabe-se lá quanto tempo até minha garganta começar a doer. Para piorar, eu estava morta de sede, mas ninguém tinha aparecido ainda para me socorrer ou me mandar calar a boca.
Voltando para a cama, sentei-me em cima dela e dobrei os joelhos na altura do meu peito. Com a cabeça apoiada sobre eles, deixei minhas lágrimas escorrerem.
Quando foi que minha vida se tornou essa bagunça? Por mais que tentasse entrar em contato com Zya ou Moira, só me deparei com mais silêncio. Se ao menos eu tivesse treinado duas vezes mais como Moira havia sugerido, então, talvez eu não estivesse nessa situação.
Ergui a cabeça para enxugar as lágrimas quando o brilho de alguma coisa chamou minha atenção. Eu tinha uma boa ideia do que poderia ser, mas me levantei da cama para confirmar mesmo assim.
Escondida no canto da minha cela havia uma pedra embutida, a mesma que aquele canalha havia usado contra mim. Com a mão na parede, caminhei pelo lugar e encontrei pedaços dela por toda parte, inclusive algumas no chão também. Estava claro que ele havia construído essa prisão especificamente para mim.
Ah, não!
Essa descoberta me fez tropeçar em meus próprios pés. Um alarme apitou em meus ouvidos conforme pensava nas implicações do que isso poderia significar.
Eu encarava o nada, imaginando o pior cenário possível, quando alguém pigarreou e me tirou dos meus pensamentos.
Ao me virar, percebi que minha visão estava embaçada pelas lágrimas que não paravam de cair. Limpei-as com raiva e levantei a cabeça para encontrar o homem de capuz, o mago, olhando para mim com um rosto em branco.
"O que você quer?" Eu cuspi.
"Nada no momento. Já pegamos as amostras que precisávamos para hoje."
"O quê? Você tirou o meu sangue? Como ousa! Você não tem o direito de fazer isso!"
"Sim, nós tiramos o seu sangue e nos demos o direito de fazer isso. Tenho certeza de que você já se deu conta da sua situação atual e o melhor que tem a fazer é cooperar conosco."
"Só se for por cima do meu cadáver! Prefiro morrer a ser seu ratinho de laboratório."
"Bem, isso pode ser providenciado, mas não antes de terminarmos nossa pesquisa."
"Por que está fazendo isso? Você precisa me deixar ir!"
"Estou fazendo isso para que o meu povo e eu possamos viver em um mundo onde não precisamos mais nos esconder!"
"E acha mesmo que Armand vai te dar isso? Então, você é mais estúpido do que parece. Armand não se importa com ninguém além de si mesmo. Se ele está disposto a correr o risco de iniciar uma guerra apenas para ter um blodsvreden e realizar seu sonho bobo de dominar o mundo, o que o faz pensar que ele permitirá os magos de transitarem livremente por aí?"
"Porque ele me deu sua palavra! Ele vai construir um mundo em que todos possamos viver!"
"O Armand que eu conheço é um cretino mentiroso, manipulador e traiçoeiro. Além disso, meu pai vai notar minha ausência e virá atrás de mim!"
"Seu pai não vai notar coisa nenhuma, não enquanto Armand apresenta a ele agora mesmo uma versão sua muito mais obediente."
"Como? O que você fez? Qual versão minha? Isso não é possível Diga-me que está mentindo!"
"É tão inocente da sua parte pensar que a sequestraríamos sem um plano em mente. Em seu lugar no palácio, plantamos uma sósia sua. Nada que um simples feitiço não seja capaz de recriar e, com apenas um pouco do seu sangue, aperfeiçoamos o disfarce dela. Sendo assim, ela a substituirá no palácio e realizará o casamento conforme o programado", ele se gabou com um brilho orgulhoso nos olhos.