Capítulo 61
978palavras
2023-05-29 00:02
Ponto de vista de Inara:
Não fazia ideia do quanto eu andei, tampouco me importei com isso. Tudo o que sabia era que precisava de um pouco de distância entre mim e meu pai, o que significava deixar os muros do palácio. Doía demais ver a maneira como ele me tratou.
Será que eu era um incômodo tão grande para ele querer me vender para o príncipe e sua família?
O que fez meu pai mudar tanto? Ou ele sempre foi assim e eu que fui cega demais para enxergar?
Enxugando as lágrimas traiçoeiras que não paravam de cair por mais que eu tentasse impedi-las, parei no meio do caminho e olhei em volta para me situar onde estava.
Ah, ótimo! Consegui vir parar em uma das áreas montanhosas mais fáceis de se perder. Até eu sabia que precisaria de ajuda profissional para sair daqui. Essa região costumava ser usada para enganar pessoas suspeitas que tentavam entrar no reino ilegalmente. Como eu vim parar aqui estava além da minha compreensão.
Embora tivesse a opção de deixar Zya assumir o controle para nos tirar daqui, depois daquele sonho que pareceu ser tão real, ela ficou mais retraída. Era difícil explicar, mas ao mesmo tempo que nos sentíamos mais vivas do que nunca, estávamos igualmente abaladas. Se não me falhava a memória, Zya não disse nada, nem tentou mudar de forma quando conhecemos Xavier. Desde que acordamos, ela também não falou muito.
Na maior parte do tempo, eu a vejo andando de um lado para o outro em minha mente, mas ela não diz nada além de que está bem e só um pouco mais pensativa do que o normal. A meu ver, ela estava mais abalada do que deixa transparecer.
Deixando minhas divagações de lado, resolvi dar uma volta pelo local até que um dos guardas secretos que vigiavam a região me encontrasse. Eu tinha dado apenas alguns passos adiante quando senti os pelos na minha nuca se arrepiarem e uma sensação sinistra subir pela minha espinha.
Embora pudesse sentir um par de olhos me observando por trás, ao me virar, não encontrei ninguém. Provavelmente era só um dos guardas secretos, eu disse a mim mesma, apesar de, no fundo, saber que não era isso. Aquele olhar às minhas costas parecia sinistro demais. Continuando pelo mesmo caminho que já estava, aumentei minha velocidade.
Não demorou até que eu ouvisse passos firmes vindo atrás de mim. Quem quer que estivesse me seguindo queria que eu soubesse que ele estava lá. Não me dei ao trabalho de me virar antes de começar a correr. Foi então que a real perseguição começou.
O que antes pensei ser passos de uma única pessoa, tornou-se de várias. Independente de o quanto eu tentasse mudar de forma, Zya não respondia. O motivo por trás disso, não tive tempo de averiguar, pois estava correndo pelas nossas vidas.
A perseguição continuou até que eu me vi em um beco sem saída. Sem ter outra escolha, virei-me para encarar meus adversários. Apenas não esperava encontrar um grupo de cinco homens imundos com expressões ensandecidas e olhares selvagens em seus rostos.
"Quem são vocês? Por que diabos estão me seguindo?" Eu exigi saber, embora meu coração estivesse tão acelerado quanto um carro de corrida em uma estrada deserta.
"Não importa quem nós somos, garota. Você é apenas nosso próximo pagamento e, acredite, você nos renderá um bom dinheiro... Agora, seja uma boa menina e venha conosco." Aquele que parecia ser o líder do grupo sorriu com escárnio.
"Diga-me quem está pagando vocês e quanto estão ganhando por isso, prometo oferecer o dobro!"
"Não podemos lhe contar. Cliente confiante, sabe? Além do mais, fomos informados que você diria algo do tipo e, por mais tentadora que seja sua oferta, não podemos aceitá-la. Este cliente em particular sempre foi bom conosco e nos recompensa muito bem. Por que arruinaríamos uma boa parceria de negócios por causa de apenas mais um trabalho?"
"É confidencial, seu idiota. E se acha que irei a qualquer lugar de bom grado com vocês, então, irão se surpreender com o que vem por aí!"
"Começo a me perguntar porque nosso cliente iria querer uma v*dia desbocada como você, mas não é meu trabalho fazer perguntas ou me importar. De toda forma, não esperávamos que você viesse conosco de bom grado. Isso nunca foi uma opção, querida."
"Podemos apenas pegá-la e ir de uma vez? Isso não é uma entrevista ou um encontro amigável!" Outro deles interveio, irritado.
Tentei ver seu rosto, mas ele tinha um capuz o cobrindo, além de estar no final da fila. Algo sobre ele alertou minha intuição. Ao me dar conta de que não conseguia mudar de forma, nem canalizar Moira, sabia que estava à mercê deles, o que era perturbador, mas não havia a menor possibilidade de deixá-los saber disso. Retardá-los era tudo o que podia fazer até que a ajuda chegasse.
Inalando o cheiro deles, percebi que nem todos eram dragões. Pude sentir a fragrância de um dragão, um lobo, um urso, um tigre e o suposto líder, adivinhem só? Ele era a droga de um mago. Podia apostar minha última joia que o cara de capuz devia ser o tal mago. Já o cliente leal e generoso desse bando de desajustados só podia ser uma pessoa.
O príncipe Armand!
O canalha simplesmente não desistia. Minhas chances de sair viva dessa situação estavam cada vez menores e isso não me agradava nem um pouco.
"Vocês sabem que sou um dragão, certo? Eu vou sair daqui, gostem ou não!"
Todos caíram na gargalhada como se eu tivesse contado a piada do século.
"Pare de blefar, princesa! Sabemos que você não pode mudar de forma, nos certificamos disso, e antes que diga qualquer coisa sobre o seu blodsvreden, também nos certificamos de que não possa recorrer a esse poder", o líder se gabou.