Capítulo 60
1511palavras
2023-05-28 00:02
Ponto de vista de Xavier:
"Encontrou quem? Conte de uma vez, Xav!" Magnus nos pressionou.
"Encontramos nossas companheiras", sussurrei suavemente.
"Companheiras? No plural? Tipo uma, duas, três, quatro... Mas como?"
Não pude evitar a gargalhada histérica que escapou dos meus lábios. Que idiota. "Sim, várias companheiras em uma só pessoa, seu imbecil."
"Se é só uma pessoa, por que disse que eram companheiras?"
"Porque ela pode ser como eu. Minha companheira está lá, assim como a do meu irmão e do nosso outro eu."
"Seu outro eu? Há mais alguém como você dentro de Xavier? O que diabos está acontecendo nesse seu corpo possuído por demônios?"
"Ha-ha! Você não está errado, mas isso já é uma história para outro dia..."
"Bom, se você não vai falar sobre quem ou o que ele é, será que pode ao menos me explicar como um cara exigente como você conseguiu encontrar 'companheiras' na forma de uma única mulher em um esquema três em uma para satisfazer todos os seus lados? Isso é tão injusto", ele reclamou, batendo o pé.
Eu apenas não conseguia parar de rir. "Não só é justo, como não há absolutamente nada que você possa fazer a respeito", provoquei-o.
"Você está adorando isso, não é?" Ele questionou em um tom de insatisfação enquanto fazia beicinho.
"Para ser sincero, jamais esperei encontrar uma companheira porque simplesmente não conseguia imaginar alguém que fosse perfeita para nós, mas o destino me surpreendeu. Ele realmente se superou dessa vez. Caramba, você precisava ter visto... minhas companheiras, quero dizer. Elas são tão lindas que chega a ser algo fora desse mundo e ainda por cima são todas minhas."
"Eca... Já posso te imaginar todo pegajoso e possessivo. Mas como você as encontrou? Elas são daqui deste reino? Onde elas estão? Não deveriam estar aqui com você agora?"
"Não... Elas estão em sua terra natal, mas como disse a elas, vou encontrá-las antes do que pensam."
"Espere um pouco... Então, toda essa saga para encontrar a si mesmo agora se tornou oficialmente uma busca pelo amor? Quero dizer... uma busca de um homem só porque a divindade que distribui companheiros por aí, me pulou mais uma vez", ele disse com um suspiro exasperado.
"Ninguém manda você ser um pirralho mimado e mulherengo, que não está nem um pouco pronto para sossegar esse facho, que dirá se comprometer com uma mulher só. E você sabe disso, Magnus Venandi."
"Não estou admitindo nada por inteiro, mas há algumas partes dessa afirmação que podem ser verdade. E pronto ou não, também quero ter várias companheiras", ele respondeu.
Eu continuei rindo até ouvir seus pensamentos e ver algumas cenas gráficas demais que passaram pela sua mente. Estendendo a mão, eu o segurei pela nuca. "Cuidado com o que deseja, irmão. Pode ser que seu desejo se realize, mas não do jeito que você gostaria. E dê uma maneirada nesses pensamentos impróprios, não quero essas imagens na minha cabeça."
"Então, saia da minha cabeça e ahhh... Quem quer que queira realizar meu desejo, pode me enviar quatro companheiras imediatamente!"
Caímos os dois na gargalhada com a declaração de Magnus. Ele até podia ser um idiota, mas sabia como tornar a vida mais leve e divertida. Ainda por cima, era um idiota que queria quatro companheiras. Que a fonte tivesse piedade dele!
Conforme eles continuaram ali sentados, conversando sobre tudo e nada, fiquei encantado em ver meu irmão gêmeo no comando e se saindo tão bem em sua primeira interação com alguém que não fosse eu. Por mais que essa transição estivesse indo melhor do que eu esperava, sabia que a batalha por controle estava só começando. Apesar de eu estar acostumado a tomar todas as decisões por nós dois, era óbvio que ele iria começar a querer ter mais autonomia sobre o nosso corpo e precisaríamos aprender de um jeito ou de outro a chegarmos a um meio termo que fosse adequado para ambos.
Já era bem tarde quando Santiago se cansou e me devolveu o controle do meu corpo. Ele parecia uma criança que entrou em uma loja de doces pela primeira vez, ansioso para explorar e experimentar tudo ao seu alcance. Inclusive, ele só me devolveu o controle com a condição de que eu lhe desse tempo para explorar o mundo e experimentar as coisas por si mesmo ao invés de fazer isso através de mim. Para sua surpresa, eu concordei de imediato. Afinal, sempre soube que esse dia chegaria. Embora tivesse chegado mais cedo do que o esperado, eu costumava levar as coisas com calma e não seria diferente dessa vez.
Ao me virar para Magnus, encontrei-o olhando para mim com um misto de admiração e preocupação.
"Você está bem?" Ele perguntou baixinho.
"Estou sim. Melhor do que antes", respondi com sinceridade.
"E agora?"
"Nós finalizamos tudo por aqui e vamos buscar minha companheira", disse com um sorriso.
"Tire esse sorriso do rosto! Não há necessidade de ficar todo convencido. Mal posso esperar para ver o Sr. Tenso ao lado da sua companheira."
"Cale a boca! Eu não sou tenso, nem exigente. Só sei o que quero e não me contento com menos do que isso."
"Essa é uma definição clássica da palavra exigente, mas vou fingir que acredito nessa sua desculpa esfarrapada."
Assim que deixamos a caverna, voltamos para o palácio do rei, onde encontramos alguns dos guardas no meio de uma discussão acalorada. O que estava de frente para nós logo alertou os demais sobre a nossa presença, então, todos se viraram com uma expressão de alívio no rosto.
"Meus príncipes, estávamos atrás de vocês desde o amanhecer. Os guardas encarregados de protegê-los relataram que os viram pela última vez na praça da cidade e depois não encontraram mais nenhum vestígio de vocês. A informação chegou ao rei e ele ficou preocupado de ter acontecido alguma coisa."
"Bom, como podem ver, estamos sãos e salvos. Digamos que as festividades ficaram um pouco animadas demais para nós, então, paramos em algum lugar para descansar. A propósito, não fui informado sobre nenhum guarda nos seguindo", comentei com uma sobrancelha levantada.
"É, seu papel era ser discreto. Além do mais, eles não estavam lá para espioná-los ou qualquer coisa do tipo, mas para protegê-los e impedir que alguém fizesse algo contra vocês."
"Neste caso, eles fizeram um ótimo trabalho porque eu nem sabia que estavam lá e, acredite, nada passa despercebido por mim. Enfim, obrigado pela proteção extra, mas sabemos nos cuidar. Somos capazes de lidar com qualquer ameaça. Agora, será que podemos ver o rei?"
"É claro..."
Ao entrarmos na sala do trono, encontramos o rei caminhando de um lado para o outro. No instante em que nos viu, ele soltou o ar que parecia estar segurando há algum tempo.
"Você o encontrou", murmurou ele para o guarda que nos escoltou.
"Mais ou menos", ele respondeu com um sorriso tímido antes de se curvar e sair da sala enquanto o rei se virava para nós.
"Depois dos acontecimentos de ontem, fiquei preocupado quando os guardas relataram que os perderam de vista na praça da cidade. Não ajudou em nada o fato de não ter conseguido os encontrar nem com a ajuda da bola de cristal. Eu já estava cogitando entrar em contato com o seu avô."
"O quê? Nossa, foi bom termos aparecido então. Meu avô teria feito um escândalo antes mesmo de vir até aqui averiguar o que aconteceu."
"Sorte a minha que não falei com ele. De todo jeito, queria falar com você sobre o lorde Kallan..."
"O pouco que tenho a acrescentar sobre esse assunto é que alguns homens podem fazer coisas extremas em nome do amor, mesmo que isso signifique ferir outras pessoas e até colocar suas vidas em risco. Por experiência própria, aconselho que o castigue como manda a lei. É o mais justo. Não faça nada por mágoa ou o ego ferido porque ele te enganou todos esses anos."
"Mais fácil falar do que fazer..."
"É verdade, mas você é um rei sábio e saberá como conduzir a situação. Dito isto, venho lhe informar que estamos de partida. Há outro assunto que demanda a nossa atenção em outro reino e devemos ir até lá imediatamente."
Sabendo a verdade, Magnus riu ao meu lado, mas eu o ignorei.
"Ah... Não me deixe prendê-lo aqui então. Desejo aos dois uma boa viagem. Saibam que os portais deste reino estarão sempre abertos para vocês."
"Obrigado, sua majestade. Não vamos nos esquecer disso."
"Sem dúvidas. Estou ansioso para poder voltar. Ainda há muito que eu gostaria de explorar aqui", Magnus acrescentou com um sorriso devasso e pela forma como os lábios do rei se ergueram ligeiramente, ele sabia exatamente ao que o mulherengo do meu amigo se referia.
Depois de nos despedirmos, fomos levados até um quarto para nos limparmos. Assim que estávamos prontos, peguei o mapa enfeitiçado. Pensar em nosso próximo destino não foi uma tarefa árdua, pois minha ansiedade o manteve fixo na minha mente.
Então, segurando o ombro de Magnus, permiti que fôssemos sugados para dentro do portal que se abriu à nossa frente.