Capítulo 59
1062palavras
2023-05-27 00:02
Ponto de vista de Xavier:
Eu ainda estava tentando recuperar o controle quando ouvi o som do farfalhar de folhas e um galho se quebrando no chão. Por mais que tentasse me conter, essa pareceu uma tarefa impossível. Então, parei com isso e permiti que Ele determinasse o nível de ameaça que a pessoa caminhando em direção à caverna oferecia.
Ao reconhecer sua aura familiar, suspirei de alívio, principalmente depois de ouvir seus pensamentos, que eram bastante altos e desconexos.
"Aqui", eu o chamei com uma voz que ao mesmo tempo que soava como a minha, podia ser de outra pessoa. Eu estava de costas para a entrada da caverna, então, senti mais do que vi ele entrar.
"Caramba, cara! Você sumiu sem dizer nada. Tentei ligar várias vezes, mas você não atendeu. Está tudo bem? Por que está de costas para mim?" Magnus perguntou em um tom de reclamação.
"Você estava bastante ocupado e não quis atrapalhar sua diversão."
"Sua voz parece diferente. Ah, eu o vi com aquela ninfa, será que você finalmente aprendeu a relaxar um pouco?"
"Não, seu idiota, eu só conversei com ela. Não fomos a lugar nenhum para fazer o que está pensando."
"Tolice a minha. Aqui estava eu todo orgulhoso de você finalmente ter conseguido pegar alguém", Magnus comentou com um suspiro cansado. "E por que você ainda está de costas para mim? O que diabos aconteceu com a sua voz?"
"Magnus..." Comecei a dizer enquanto me virava lentamente para ele.
"C*ralho!" Ele xingou, dando um passo súbito para trás. "O que aconteceu?"
"Olá, Magnus. Enfim, podemos nos conhecer pessoalmente."
"O que quer dizer com isso? Xavier? O que está acontecendo aqui?"
"Meu nome é Xavier...", Ele começou a explicar.
"Sim, eu sei disso", Magnus o interrompeu.
"Deixe-me terminar..." Ele o cortou com uma pontada de irritação na voz e uma aura que deixou claro para Magnus que quem quer que ele estivesse lidando estava prestes a perder a cabeça.
"Desculpe", o vampiro murmurou com certa petulância.
Ele deixou um pequeno sorriso aparecer em nosso rosto e, com um revirar de olhos, continuou: "Como eu ia dizendo antes de ser rudemente interrompido, meu nome é Xavier. Você já se perguntou porque ninguém consegue cobrar uma dívida de nome do seu amigo? É porque somos dois. Eu sou seu irmão gêmeo ou pelo menos uma parte dele. Durante o nosso nascimento, circunstâncias fora do nosso controle colocaram minha vida em risco.
"Um sacrifício foi requerido e, que sorte a minha, eu fui o escolhido. Mas antes que pudessem apagar a minha existência da face da Terra, meu irmão absorveu o que restava de mim dentro de si e, desde então, nós compartilhamos o mesmo corpo. É por isso que seus olhos têm duas cores diferentes. Acontece que cada um deles pertence a um de nós. Enfim, eu permaneci adormecido por anos porque esse lance de viver é realmente tão chato quanto parece", Ele explicou em um tom monótono enquanto franzia um pouco a testa. Esta era a primeira vez que contávamos essa história para alguém em voz alta e pude senti-lo tentando disfarçar sua raiva e mágoa com um ar de indiferença, mas eu sabia melhor do que acreditar nisso.
"O quê? Como... como isso é possível?"
"Não sei explicar, mas meu irmão encontrou uma maneira de coexistirmos, embora às vezes seja meio difícil porque somos duas pessoas diferentes com personalidades distintas que precisam compartilhar o mesmo corpo."
"Mas se vocês dois se chamam Xavier, então, por que a dívida de nome não funciona?"
"Porque nomes são coisas poderosas e nossa mãe escolheu um para cada um de nós, o que fez toda a diferença. Enquanto meu irmão se chama Xavier Sebastian, eu sou Xavier Santiago. E só estamos lhe contando isso porque confiamos em você."
"Uau", Magnus murmurou sem acreditar. Depois de olhar à sua volta e não encontrar nenhuma cadeira, ele se sentou no chão mesmo e encostou na parede da caverna.
"Não sei nem o que te dizer..."
"É muito para processar", Ele comentou, abaixando-se para se acomodar ao lado de Magnus.
"Eles não sabem, não é?"
"Não", Ele respondeu, sabendo muito bem a quem ele se referia.
"Por quê?"
"Não é tão simples assim."
"Claro que é. Você acabou de me contar..."
"Só porque você me viu e estou realmente cansado de esconder isso. Além do mais, eles não merecem saber que eu existo. Eu os culpo por tudo o que aconteceu comigo. Eles poderiam ter feito as coisas de forma diferente, convencido minha mãe a não se deixar cegar pela raiva ou ao menos apoiado o meu irmão depois que ele se mudou para o reino do nosso avô, mas não! Eles não fizeram nada. Ela não fez nada. Ao invés disso, eles o transformaram em uma arma para vencer suas guerras.
"O que eu sou e o que minha existência representa não é brincadeira. Posso ainda não entender a magnitude do que realmente sou capaz de fazer, mas sei que não quero ser usado como mais uma máquina de guerra por ninguém, muito menos pelo meu avô e minha mãe."
"Mas você disse que seu avô viu..."
"Sim, cada gêmeo que nasce na minha família possui uma habilidade única que só eles conhecem e somente outros gêmeos da família conseguem identificá-la. O que nosso avô viu naquele dia era eu, mas ele achou que era apenas essa habilidade única se manifestando. Por mais que eu quisesse que ele soubesse de tudo, no final, nem meu tio Luke conseguiu descobrir a meu respeito, então, deixamos as coisas ficarem assim. Era a alternativa mais segura para nós e para todas as outras pessoas envolvidas."
"Não posso argumentar contra a sua lógica, mas deve ter sido difícil carregar esse segredo sozinho por sabe-se lá quanto tempo."
"Você não faz ideia do quão difícil foi. O pior é que essa não é a única coisa que temos que manter em segredo, mas antes que pergunte, não posso lhe contar o que é ainda. Não porque não queremos, mas porque nós mesmos não entendemos muito sobre isso.
Com uma risadinha, Magnus esfregou o ombro no nosso. "Bom, me sinto honrado por confiar em mim o suficiente para me contar, mas se você ficou adormecido por tantos anos, por que despertou agora? Aconteceu alguma coisa?"
"Sim, algo aconteceu e..."
"E o quê?"
"Eu... Nós as encontramos."