Capítulo 58
1199palavras
2023-05-26 00:02
Ponto de vista de Inara:
Ao sair pela porta, atravessei o corredor com um único objetivo em mente, ver meu pai. No entanto, assim que deixei a ala isolada do palácio, dei de cara com Marleigh.
"Não me diga que está me seguindo agora?"
"Argh... Pare com isso, Inara. Estou aqui porque seu pai me mandou vir buscá-la."
"Ah, então, agora você leva recados a mando do meu pai? O que aconteceu com os guardas e os criados?"
"Eu estava presente quando ele ordenou que a chamassem e me ofereci para vir buscá-la."
"Bom, obrigada, mas já estava indo mesmo falar com ele", respondi, virando-me para ir embora. Ao ouvir o som de passos vindo atrás de mim, parei outra vez.
"Aonde você pensa que está indo?"
"Vou acompanhá-la para falar com seu pai."
"Não, obrigada. Eu gostaria de ter uma conversa particular com ele."
"Ah, mas eu posso esperá-la do lado de fora."
"Marleigh... nada disso é necessário. Você não precisa mais continuar com esse teatro. Como eu disse antes, nós não somos amigas. Além do mais, não quero que me acompanhe e isso é uma ordem. Foi gentil da sua parte oferecer, mas realmente não é necessário."
"Inara..."
"Marleigh", retruquei com o mesmo tom exasperado que ela usou. Então, segui em direção à sala do trono e não pude evitar o suspiro de alívio que escapou dos meus lábios ao perceber que não ouvia mais nenhum passo atrás de mim.
Assim que cheguei às portas da sala do trono, não me surpreendi quando os guardas na entrada não ousaram me encarar, nem fizeram seus comentários sarcásticos de sempre.
"Princesa..." Foi tudo o que eles disseram antes de se curvarem e abrirem as portas.
Mais uma vez, não fui pega de surpresa quando a sala ficou subitamente em silêncio no momento em que entrei. Todavia, isso não durou muito. Rapidamente, os cochichos começaram, mas, pela primeira vez, não me incomodei com aquilo. Eu não dava a mínima para o que eles pensavam de mim ou o que achavam que eu me tornei.
Focando em meu pai, eu afirmei seriamente: "Precisamos conversar, sua majestade."
"Inara, como pode ver, eu estava no meio de uma reunião muito importante antes de você invadir a sala."
"Ah, não se preocupe. Podemos continuar de onde paramos na próxima reunião. Parece que o que sua filha tem a dizer é muito importante", o chefe do conselho, Tyson, declarou, olhando-me de um jeito bastante suave.
Respondi-lhe com um simples aceno de cabeça antes voltar a focar no meu pai. Nós dois nos encaramos sem desviar o olhar enquanto seus conselheiros saíam um após o outro da sala.
"Sobre o que quer falar, Inara?" Ele questionou com um suspiro, como se já estivesse farto daquela situação. Dava para acreditar nele?
"Armand. É sobre isso o que vim falar. Eu não vou me casar com ele. Nem hoje, nem nunca."
"Inara, achei que já tínhamos encerrado este assunto."
"Eu. Não. Vou. Me. Casar. Com. Esse. Monstro", disparei entre dentes.
"Bom, você não tem escolha quanto a isso."
"Então, ele se comporta mal e você não faz nada a respeito? Tem certeza de que eu sou mesmo sangue do seu sangue?"
"Inara!"
"Não venha com 'Inara' para cima de mim! Você não só permitiu que ele tirasse a minha dignidade sem a devida punição, como ainda quer me forçar a casar com ele só por causa de algumas pedras preciosas."
"Eu entendo que esteja chateada por ele ter tirado o que tirou de você quando ainda não estava pronta, mas..."
"Então, você sabia!" Eu o cortei, boquiaberta. Embora eu tivesse um pressentimento de que ele sabia sobre o incidente, uma pequena parte de mim quis acreditar que ele não fazia ideia e toda essa conversa seria diferente.
"Eu... eu... fui informado, mas ele teria tirado isso de qualquer maneira depois que se casassem. De um jeito ou de outro, agora que ele tocou em você, nenhum outro homem neste reino iria querê-la. Estou fazendo isso para o seu próprio bem. Você pode não acreditar, mas é a verdade."
"É essa a desculpa que você quer usar agora? Quem se importa se nenhum homem neste reino me quiser? Existem outros por aí, isso se eu quiser mesmo me casar algum dia! E se eu estiver feliz solteira? Nós dois sabemos que você só faz questão desse casamento por causa das joias e dessa estúpida aliança entre reinos."
"Deuses me livrem de você permanecer solteira. Como minha única herdeira, é seu dever continuar nossa linhagem, independentemente de como se sinta sobre isso. E sim, também quero que se case por causa dessa estúpida aliança, como gosta de chamar, porque é o melhor para o povo deste reino. As joias são apenas um bônus."
"Eu não acredito! Você está mesmo fazendo vista grossa para tudo o que aconteceu só para manter sua aliança intacta. Está disposto a me casar com aquele monstro sem pensar duas vezes. Você não se importa que eu passe o restante da minha vida com um homem que irá se aproveitar de mim sempre que puder, porque se ele fez o que fez comigo enquanto ainda não somos casados, você já parou para pensar no que ele faria quando eu fosse legalmente sua?"
"Inara..."
"O que há de errado com você? As leis deste reino dizem que esse crime é punível com a morte, não importa a posição ou título do infrator. Por anos, ela nunca deixou de ser cumprida, mas aqui estamos hoje, debatendo sobre este assunto enquanto eu o imploro que faça o que é certo! Se tivesse acontecido com qualquer outra pessoa, você teria punido culpado imediatamente. No entanto, quando a vítima é a sua própria filha, o culpado anda livremente por aí e o reino todo, incluindo você, não diz e não faz nada a respeito!"
"Às vezes, precisamos fazer sacrifícios que normalmente não faríamos pelo bem maior. Independente de o quão doloroso seja, devemos fazer tudo pelo bem do nosso reino. Eu realmente sinto muito que você tenha sido envolvida nisso. Gostaria que houvesse outra saída, mas temo que não haja."
"O que você não está me contando? Pelo amor de Deus, você é o rei! O maior dragão que já conheci na vida. Eu simplesmente não entendo o que está acontecendo. É como se eu estivesse falando aqui, mas você não escutasse nada. O que está havendo, pai?"
"Eu gostaria de poder te contar. Apenas saiba que eu te amo, Inara, e nunca faria nada para te machucar. Basta que se case com Armand, então, espero que possamos deixar tudo isso para trás."
"Por mais que eu o ame, pai, não posso me casar com Armand. Não consigo me entregar a um homem igual a ele pelo resto da vida. Sinto muito, mas não dá. Não faria isso comigo mesma."
"Isso pode dar início a uma guerra, Inara..."
"Que assim seja então."
"Inara..."
Por alguns instantes, continuei lá, observando o homem que tanto admirei, um rei que já desejei ser igual um dia, mas hoje só conseguia sentir raiva dele. Rapidamente, enxuguei as lágrimas que escorriam pelo meu rosto e me virei para sair.
"Adeus, pai", sussurrei antes de ir embora.