Capítulo 57
1139palavras
2023-05-25 00:02
Ponto de vista de Inara:
Acordei da minha soneca com um suspiro. Tinha decidido dormir um pouco após as aulas de história de Moira, mas o que era para ser só um cochilo, acabou se tornando uma aventura e tanto. Era estressante e exaustivo como acreditávamos saber de tudo quando, na verdade, não sabíamos de nada.
Tudo o que pensávamos saber sobre o blodsvreden era apenas o que eles nos permitiam conhecer. Foi emocionante descobrir que eu não era a única. Mal podia esperar para encontrar os outros. Estava morrendo de curiosidade para saber como eles conseguiram fugir de todo mundo por tanto tempo.
Pelo visto, nosso povo não era tão inteligente quanto acreditava ser. Entretanto, isso não foi mais inquietante do que o sonho que tive. Ele pareceu tão real e, no fundo, sabia que era. O homem que vi na minha parede, Xavier, ele disse que era esse o seu nome. Ele me chamou de sua. Não fazia ideia de como um sonho podia parecer tão real. Eu ainda conseguia sentir seus lábios contra os meus e suas mãos em meu corpo.
Minha pele ardia com um desejo que nunca senti antes e não pude deixar de querer que ele voltasse para mim. Com um suspiro doloroso, rolei e me deixei afundar mais na cama enquanto permitia minha mente vagar. Meu corpo ainda ansiava pelo dele, mas as coisas boas nunca duravam muito porque tão rápido quanto aqueles sentimentos se foram, fui invadida por uma sensação de nojo.
De repente, fui levada de volta àquela noite com Armand e as coisas que aquele cretino duas caras fez comigo. Apenas um mês depois, aqui estava eu ronronando como uma gatinha nos braços de outro homem, um estranho para todos os efeitos. O fato de já tê-lo visto na minha parede antes de encontrá-lo no sonho não mudava nada. Apesar de saber que o que aconteceu não era minha culpa, não consegui evitar os pensamentos que passavam pela minha cabeça.
Ele já havia me reivindicado como sua sem saber de nada. Se eu realmente o encontrasse em breve, como ele afirmou, teria que contar sobre aquele maldito incidente.
Levando em conta como me comportei com ele, não me surpreenderia se ele fizesse suposições sobre o tipo de pessoa que eu era. Ele certamente não seria o primeiro.
No entanto, de algum jeito eu sabia que ele iria entender e as coisas dariam certo entre nós. Isso se eu o visse mesmo de novo.
"Moira?" Eu a chamei baixinho.
"Sim, Inara", ela sussurrou de forma provocativa. 
"Não precisa vir com esse ar presunçoso. Não vi você resistindo a ele..."
"E por que eu faria isso? Quem em sã consciência resistiria a um espécime tão interessante de homem? Ai, ai... Você viu aqueles músculos. Lembra como foi senti-los sob os nossos dedos?" Ela tagarelou como se estivesse sonhando acordada.
"Moira!"
"O quê? É a verdade! Pergunte a Zya, ela estava babando desde..."
"Eu não estava babando! Admito que ele é um homem e tanto, mas enquanto vocês duas estavam ocupadas suspirando por ele, algo me incomodou."
"O que te incomodou, Zya?"
"Xavier. Nós nos encontramos com ele enquanto dormíamos, mas de alguma forma sabemos que não foi apenas um sonho. Realmente aconteceu. Como ele foi capaz de fazer isso? Não podemos nos esquecer de que ele soube da existência de todas nós assim que nos viu, sem falar naqueles olhos dele. Por mais bonitos e impressionantes que sejam, nunca vi nada parecido. Há algo neles que me perturba. Devo admitir que, embora eu seja um dragão, fiquei intimidada.
"Antes de partir, ele podia parecer o mesmo de quando entrou, mas eu senti como se ele tivesse virado outra pessoa. A aura ao seu redor mudou de um jeito tão sutil que era possível que ninguém percebesse a menos que estivesse prestando atenção. E felizmente, eu estava", Zya explicou em um tom levemente preocupado.
"Não posso deixar de pensar... Durante todos os meus anos como blodsvreden, eu nunca vi ou ouvi falar de qualquer criatura como ele e isso me deixou intrigada. No entanto, como sou uma entidade que as pessoas adoram especular a respeito, muitas vezes de um jeito ruim e equivocado, acredito que devemos dar uma chance a ele de nos mostrar quem realmente é. Podemos nos surpreender com o que descobrirmos. Só espero que seja um bom tipo de surpresa", Moira opinou.
"O que mais me chamou a atenção foi o olhar dele. O tempo todo em que ele me encarou, jurava que parecia que havia outra pessoa me observando também por trás daqueles olhos lindos e distintos. Não sei bem como explicar, mas havia alguém ou alguma coisa me vendo ali. Talvez ele apenas seja como nós. Isso explicaria o fato de ele ter visto que éramos mais de uma assim que pôs olhos sobre nós."
"Eu também pensei nisso, mas temo que há mais sobre ele do que imaginamos. E gostemos ou não, ele vai nos encontrar. Sabemos como essas reivindicações acontecem nos nossos mundos e como esses homens dominantes funcionam. Eu apostaria minha última vida que nosso Xavier é um homem totalmente dominante."
"Nosso Xavier? Moira!" Zya e Inara gritaram ao mesmo tempo.
"Ah, confessem! Vocês duas estavam pensando o mesmo que eu, além de estarem morrendo de ansiedade por dentro. Eu só tenho a coragem de admitir o que vocês não têm, covardes," ela retrucou com uma risada.
Caímos as três na gargalhada porque sabíamos que ela estava certa. Por mais que toda essa situação nos deixasse inquietas, estávamos ansiosas pela aventura que Xavier traria consigo. De um jeito ou de outro, iríamos nos permitir aproveitá-la enquanto durasse.
"Ah, e Inara, você não mereceu o que Armand fez. Você não provocou ou pediu por isso. E se está se sentindo atraída por Xavier, não se sinta culpada. Você merece amar e ser amada. Se acha que Xavier é o homem certo para isso, então, vá em frente", Zya disse em um tom triste, embora encorajador.
"Além do mais, Armand vai morrer. Deixe que isso te sirva de consolo", Moira acrescentou de um jeito atrevido.
Então, as duas desapareceram e eu lentamente deixei a cama, dirigindo-me para as imagens entalhadas na parede. Comecei por onde estava a da minha mãe, a qual admirei com um aperto no peito. Eu sentia muito a falta dela. Depois, fui até o espaço em branco que costumava conter a imagem de Xavier e não pude deixar de me perguntar porque ela tinha se apagado. De fato, ela não lhe fazia muita justiça, considerando o quão maior e mais belo ele era pessoalmente, porém, não faria mal ter algo ali para me lembrar dele.
Com um último olhar saudoso, virei-me em direção ao banheiro e comecei a me arrumar para o dia. Havia muito o que fazer para tão pouco tempo.