Capítulo 56
1417palavras
2023-05-24 00:02
Ponto de vista de Xavier:
Depois de vários minutos deitado ali sem conseguir dormir, percebi que o sono não viria tão cedo. Então, comecei a pensar nos acontecimentos daquela noite. Por mais que tentasse negar, no fundo, sabia que me sentia sozinho. Ouvir as propostas de tantas mulheres e não sentir o menor indício de atração ou desejo por elas tem sido o meu normal há anos. Já tinha começado a aceitar o fato de que até conhecer a pessoa certa para mim, eu não sentiria nada por ninguém.
Com os olhos ainda fechados, soltei um suspiro cansado e me virei para deitar de costas enquanto deixava minha mente vagar. Em seguida, eu me vi sair da caverna e atravessar por um portal. Já passei por isso diversas vezes quando estava fora de casa. Esses portais me levavam através de memórias e reinos. Cada viagem trazia uma nova surpresa e aventura. Sendo assim, eu esperava que o portal me levasse a algum lugar, fosse ele familiar ou não. No entanto, ele me levou a alguém. Isso nunca aconteceu antes. Não importava o quanto eu desejasse ver minha família, nunca fui levado até eles, então, por que agora? O que tornava essa pessoa tão especial?
Com olhos que rodopiavam e se derretiam como lava, eles complementavam sua pele, além de destacá-la. Eu ainda a encarava quando aqueles mesmos olhos passaram a brilhar na cor roxa. Isso só fez aumentar o meu interesse. Talvez ela fosse como eu, uma criatura com múltiplas entidades dentro de si. Dei um passo a mais em sua direção, embora soubesse que não foram seus olhos que me atraíram até ela.
Era algo totalmente diferente. Pela primeira vez, alguma coisa fez ELE acordar de seu sono. Ele tentou assumir o controle, mas eu era mais forte. Não passei todos esses anos treinando apenas para que Ele me dominasse por impulso. Eu conseguia sentir os outros se preparando para apoiá-lo. Em qualquer outra ocasião, eles poderiam ter me vencido, porém, ninguém ficava adormecido por meses, anos a fio, esperando conseguir controlar seu hospedeiro na primeira oportunidade.
Caminhando ao redor dela, assimilei a imagem à minha frente e senti o cheiro de cinzas e fumaça que emanava dela. Ao parar diante dela, observei-a fascinado. Seus olhos encontraram os meus e ela não os desviou nem por um segundo. Eu saberia reconhecer um desafio em qualquer lugar.
"Quais são os nomes de vocês?" Eu questionei baixinho.
"Como você sabe que somos mais de uma?" Ela perguntou, surpresa. Sua voz era a mistura certa de sensual, calmante e malcriada.
"Os iguais se reconhecem. Então, como devo chamá-las?"
"Inara, Zya e Moira. O que você é? Quem é você?"
"Meu palpite é que você é a Moira. Nós somos Xavier."
"Eu o vi na nossa parede. Jamais me esqueceria de um rosto com olhos iguais aos seus."
"Você viu, né? Bom, eu sei porque me viu em sua parede e porque estamos nos encontrando agora."
"Por quê? Quem é você? Diga-me agora!" Ela exigiu com os olhos tão azuis que me lembraram a linha onde o céu e o oceano se encontrava.
"E você deve ser minha mal-humorada, Inara", eu a provoquei com um sorriso.
"Quem di*bos você pensa que é? Eu não sou mal-humorada, muito menos SUA Inara!"
"Ah, aí está ela... Minha... E como disse antes, nós somos Xavier. Você saberá mais a nosso respeito na hora certa. Agora, tenho que ir, mas foi bom finalmente te encontrar. Em breve, nos veremos de novo, meus amores. E estejam prontas para mim porque sou a tempestade que ninguém as preparou para enfrentar. Embora não possam me evitar, aos poucos aprenderão a fluir comigo. Fique bem, Inara. Zya, espero poder vê-la da próxima vez. E Moira, proteja-as."
"Mas... Espere! Eu tenho perguntas!" Inara retorquiu assim me virei para sair.
Com uma risadinha, refiz meus passos em sua direção e invadi um pouco mais do seu espaço pessoal. Antes que ela pudesse se afastar, eu a envolvi em meus braços e a trouxe para mais perto de mim. Levando em conta minha altura e porte físico, ela parecia tão frágil e pequena, mas, ainda assim, éramos o encaixe perfeito. Dei um beijo no topo de sua cabeça e soltei um suspiro ao senti-la relaxar contra o meu peito. Tudo parecia perfeito naquele instante. No entanto, eu provavelmente pensei isso cedo demais, pois ela começou a se debater conforme todo tipo de palavrão deixava sua boca pequena e convidativa.
Eu estava tão focado em mantê-la no lugar que acabei baixando a guarda. Quando dei por mim, fui tirado do comando pela primeira vez em toda minha vida e, antes que pudesse recuperá-lo, Ele tomou o controle, selando nossos lábios aos dela. Para a minha surpresa, ela nos beijou de volta.
Pelo visto, eu não era o único a sentir essa intensa conexão e atração entre nós. O beijo foi como encontrar um oásis após meses vagando pelo deserto. Podia sentir isso da cabeça aos pés e no fundo da minha alma. Aquele vazio que tanto me assolava havia sido preenchido e, pela primeira vez, meus demônios estavam em silêncio. Era como se eu finalmente soubesse o que era a luz.
Seus lábios eram tão macios que parecia que jamais no cansaríamos deles. Conforme minhas mãos encontraram o caminho para os seus cabelos, senti meus próprios fios escorregando do coque que sempre mantinha bem firme no alto da cabeça, ansiosos para alcançá-la e se conectar com ela de todas as maneiras possíveis.
Eu queria mais. Eu precisava de mais. Por mais intenso que aquilo já fosse, não era o suficiente. Com a mão livre, percorri a extensão do seu corpo. Quando ela soltou um pequeno suspiro, o qual achei muito fofo por sinal, soube que ela me sentiu uma parte minha a cutucando lá embaixo. Para um homem que sempre se orgulhou em ter controle total sobre si, eu simplesmente não consegui me conter. A princípio, isso deveria ser apenas um beijo curto e rápido de despedida, mas bastou experimentar o seu gosto para que eu estivesse perdido.
Precisei diminuir o ritmo quando senti sua mão subir timidamente pelo meu peito. Ela tentou removê-la ao perceber que eu a observava.
"Está tudo bem... Continue... Não pare..." Sussurrei contra os seus lábios.
Suas bochechas coraram e eu a observei com um sorriso enquanto ela me apalpava, acanhada. "Por que me sinto desse jeito?" Ela sussurrou.
"Porque você é minha, tanto quanto eu sou seu, Inara. Tudo em mim pertence a todas vocês. De agora até a eternidade e mesmo depois disso."
"Mas nós nem nos conhecemos..."
"Isso não importa. Vamos nos conhecer muito bem em breve. Em todos os sentidos da palavra", sussurrei, deixando vários beijos em seu rosto. Fiquei encantado ao ver suas bochechas ficarem da cor de um tomate. Ela havia entendido a minha insinuação. Ótimo. Isso ia ser muito divertido.
Achei adorável a forma como ela tentou esconder o rosto no meu peito. Como eu era muito legal, permiti que ela fizesse isso. Então, ergui sua cabeça e dei um beijo casto em seus lábios antes de me afastar. No entanto, ela se inclinou, querendo mais. Embora eu também quisesse, não podíamos. Eu não queria começar algo que não poderia terminar. Não pude deixar de sorrir quando a ouvi resmungar, irritada, e pisar no meu pé. Uma risada escapou dos meus lábios antes que pudesse contê-la.
"Tudo ao seu tempo, amor. Eu tenho que ir agora..."
"Mas... você acabou de chegar. Não pode ir embora ainda."
"Eu preciso ir, mas vou voltar e te encontrarei em breve."
"Não... Não! Ainda não!"
"Sinto muito, mas preciso. Até logo, Inara." Depositei um último beijo em seus lábios e me permiti ser sugado de volta ao portal à minha espera.
O retorno para o meu corpo foi bastante duro. Afinal, eu estava em guerra comigo mesmo. Eu e todas as outras entidades em mim queríamos voltar lá, mas sabíamos que não podíamos. Ainda não. Ele foi quem mais teve dificuldade em aceitar isso. Agachei-me no chão frio da caverna enquanto tentava fazê-lo entender, mas ele só queria voltar.
Sabia que qualquer um que entrasse na caverna naquele momento, viria meus olhos girando e brilhando em uma cor que era uma mistura de ouro derretido com sangue e um preto que remetia a própria escuridão em si. Meus olhos raramente giravam em ouro porque Ele estava sempre dormindo despreocupadamente. Entretanto, as coisas estavam prestes a mudar, estando eu pronto para isso ou não. Caramba!