Capítulo 54
1336palavras
2023-05-22 00:02
Império Drakkon
Ponto de vista de Inara:
Depois de me arrumar e me vestir, fiz um trabalho rápido em localizar a saída mais próxima, então, deixei o palácio e me encontrei com Marleigh nos limites de seus muros. A expressão em seu rosto ao me ver disse muito.
Ela provavelmente pensou que eu não iria aparecer e, para ser bem sincera, cogitei mesmo fazer isso. No entanto, percebi que, embora não confiasse em Marleigh, quaisquer que fossem os motivos para ela querer fazer o juramento de sangue, eu precisava de aliados e depressa, pois as coisas só estavam piorando e eu necessitava de toda ajuda que pudesse obter.
Por mais que não confiasse na curandeira, iria descobrir o que ela queria de mim, tal como a razão de ela ter esperado até a minha blodsrvreden vir à tona para se aproximar e me oferecer um juramento de sangue sem pensar duas vezes, especialmente depois de ignorar minha existência por décadas. Mas como diziam por aí, era melhor manter seus amigos por perto e os inimigos ainda mais.
"Estou aqui agora, então, acho que podemos dar início ao espetáculo", eu disse como uma maneira de cumprimentá-la assim que me aproximei dela.
"Inara, eu queria poder conversar com você primeiro", Marleigh começou a falar.
"Sobre o que exatamente?" Cortei-a.
"Sua mãe, o incidente..."
"Ouça, Marleigh, nós duas não viemos aqui para conversar. Agradeço sua ajuda como curandeira, mas isso é tudo. Não somos amigas, nem mesmo conhecidas ou qualquer coisa remotamente próxima disso. Só porque você vai fazer um juramento de sangue comigo não quer dizer que temos que conversar, nos relacionar ou algo do tipo.
"Estamos fazendo esse juramento de sangue porque eu não confio em você, mas, por algum motivo, você quer que eu desesperadamente passe a fazer isso.
"Quanto ao incidente, ele continua sendo apenas isso. Um incidente. Inclusive, não tenho a menor vontade de discutir a respeito dele ou mencioná-lo sob qualquer circunstância.
"E mesmo que eu quisesse falar com alguém sobre isso, certamente não seria com você, Marleigh. Você ignorou minha existência por anos, ferida atrás de ferida. E não é só porque a última levou a cereja do bolo que isso significa que você tem que fingir que se importa.
"Quer saber, podemos cancelar essa palhaçada ou simplesmente fazer isso de uma vez. Tenho coisas para fazer e lugares para ir."
"Inara..."
"Você quer fazer isso ou não? Porque podemos terminar antes mesmo de começar e seguir nossas vidas separadamente."
Com um suspiro exasperado, ela disse: "Tudo bem! Vamos fazer isso..."
O processo todo foi bem rápido, já que tudo o que precisávamos fazer era colocar nossas garras para fora e tirar o sangue uma da outra antes de fazer o juramento. Assim que ele começou a fazer efeito, nós duas cambaleamos um pouco e, pelo brilho dos olhos de Marleigh, revelando o seu dragão, soube o que meus também brilharam. Talvez Moira tivesse se feito presente com os seus olhos ardentes.
O juramento de sangue implicava colocar sua vida em risco por outra pessoa ao lhe prometer ser leal até que a morte as separasse.
No caso de alguém mudar de ideia e querer rescindir o juramento, outro ritual deveria ser realizado. No entanto, ele era muito mais cruel e doloroso, mesmo que ambas as partes tivessem em consenso.
Agora que o juramento de sangue havia entrado em vigor, eu sentiria a verdade e as intenções por trás de cada palavra de Marleigh. Ela não seria capaz de mentir, tramar contra mim ou me causar qualquer dano físico. Ela poderia tentar o que quisesse, mas jamais seria capaz de ir até o fim. O juramento simplesmente não lhe permitiria.
Depois de alguns minutos em um silêncio constrangedor e tenso, ela soltou um suspiro frustrado antes de se virar e sair sem dizer uma palavra. Eu realmente não conseguia entender o que ela esperava.
Ela achava que eu iria despejar nela todos os meus segredos e sentimentos mais íntimos só porque estávamos ligadas por um julgamento de sangue, sendo que isso não lhe dava nenhum crédito de confiança? Para todos os efeitos, estávamos exatamente onde começamos. Eu ainda não confiava nela nem um pouco.
Eu a observei ir embora até que não pudesse mais vê-la antes de me virar na direção oposta. Enquanto caminhava, Moira soprou em meu ouvido algumas instruções, fazendo-me dar voltas e mais voltas. Quando finalmente dei por mim, estava diante de um dos maiores vulcões do nosso reino. Levei um segundo para juntar todas as peças.
Não pude evitar meu grito de animação. "Moira! Meu Deus, Moira! Isso é... Nossa!"
"Sim, Inara, esta sou eu e também seu lar", Moira esclareceu baixinho.
"O nascimento de blodsvreden se dá de várias formas, mas mesmo depois de tanto tempo, seu povo se recusou a realmente saber do que somos feitos.
"Espero poder ajudá-la a ver as coisas sob uma nova ótica. O fato de você ter me aceitado como uma parte sua já é de grande serventia. Algumas pessoas preferem não nos aceitar, que dirá nos compreender.
"Bom, quando uma criança nasce e somos ligados a ela, não temos uma escolha, então, precisamos encontrar uma maneira de estabelecer uma relação simbiótica. Isso nunca é fácil para nenhuma das partes envolvidas.
"Como pode ver, eu sou uma blodsvreden vulcânica e, antes que me pergunte, sim, existem vários tipos de blodsvreden. Essa maldição da fúria com a qual fomos criados não conhece limites. Ela funciona de forma muito semelhante aos nossos vulcões hospedeiros, que entram em erupção quando querem, deixando seu próprio rastro de destruição."
"Eu li os pergaminhos várias vezes e posso garantir que nenhuma dessas informações constam lá..."
"Como eu disse, seu povo não sabe de nada sobre nós e não está disposto a aprender."
"Conte-me mais, Moira..."
"A razão pela qual somos chamados de fúria do sangue é porque a maioria dos blodsvreden, assim como os dragões os quais estamos ligados, são muito jovens, portanto, sem muito controle de si mesmos. Dessa forma, seus temperamentos se chocam e explodem até que os dois sejam cegados pela raiva e, antes que possam esfriar a cabeça, o estrago já foi feito.
"Ao longo dos anos, vários blodsvreden foram ligados a pessoas diferentes, mas permaneceram escondidos, o que levou ao seu povo a acreditar que não houve nenhum nos últimos 500 anos até agora. Nós temos vigias de dragões que juraram segredo para proteger e treinar os blodsvreden, além de prepará-los para que possam se misturar e conviver com todas as espécies. Agora, precisamos ir atrás dos outros porque uma nova ameaça surgiu. Aquela pedra que Armand usou não é vista ou usada há mais de mil anos.
"Meu povo a chama de fӧrbannad pӓrla e, como seu nome já diz, ela é uma maldição para qualquer tipo de blodsvreden. Por isso, fizemos questão de caçar até a última dessas pedras e garantir que qualquer registro sobre elas fosse apagado de todos os reinos pouco a pouco. O fato de Armand ter conseguido colocar suas mãos em uma é perturbador e, sinceramente, não quero nem pensar no que isso pode significar ou como está conectado ao mago que ele esconde em seu reino."
"Uau... Isso é realmente muito para assimilar. Eu não fazia ideia..."
"Nem você, nem ninguém, minha querida."
"Então, o que faremos agora? Como podemos avisar aos outros?"
"Através de você, Inara."
"Como?"
"Treinando e te preparando para isso. Todos os blodsvreden que já viveram estão interligados. Como temos uma ligação com a natureza, nossos hospedeiros também possuem uma ampla rede que nos conecta uns aos outros. Durante anos, nós a usamos e a aprimoramos. Embora ainda não tenhamos descoberto todo o seu potencial, somos capazes de sentir a localização um do outro e de enviar mensagens, apesar de isso depender do quão poderoso é o blodsvreden em questão."
"Bom, é uma pena que eu não seja nem um pouco poderosa..."
"Ainda não liberamos o verdadeiro poder que reside dentro de nós. Não o subestime ainda. Por ora, vamos treinar."