Capítulo 53
1480palavras
2023-05-21 00:02
Império Drakkon:
O palácio estava num alvoroço devido aos últimos rumores, se é que podiam ser chamados de rumores, afinal, eles carregavam uma boa dose de verdade.
O rei não havia conseguido pregar o olho a noite toda e, depois de que foi informado onde Inara decidiu dormir, ele não pôde deixar de ficar preocupado. Ele sentia que suas opções eram bastante limitadas. Não importava o lado que escolhesse, uma ou várias pessoas iriam se machucar.
No entanto, era preferível que apenas uma saísse ferida em comparação a centenas de pessoas. Com um suspiro derrotado, o rei caminhou em direção ao parapeito da janela de seu quarto e olhou para as montanhas onde vivia com seu povo. Todo rei sabia quando seu reinado chegava ao fim. Ele poderia ter deixado seu reino para sua única filha, assim como seu pai e seu avô antes dele, mas Inara não tinha a voz, nem o apoio do povo.
Ela ficou conhecida por desafiar todas as tradições que seu povo seguiu durante décadas, portanto, as pessoas a viam como uma jovem destreinada, indomável e desleal aos seus costumes, além de uma ameaça ao seu legado. O fato de ela ter um blodsvreden não ajudava em nada.
Sendo assim, casá-la com o príncipe herdeiro de Sallysynt Guld era a única maneira de garantir seu lugar por direito no trono e também aumentar a reserva de tesouro de seu reino.
Os dragões eram conhecidos por serem temperamentais e indomáveis, especialmente as fêmeas. Por isso, na maioria das vezes, elas precisavam de uma mão firme e um conjunto de regras para mantê-las sob controle. No entanto, Inara não vias as coisas desse jeito, tampouco permitiria que alguém lhe convencesse disso.
Assim, esse comportamento de Inara em renunciar qualquer forma de disciplina sendo um dragão feminino, fazia as pessoas desconfiarem dela. Isso sem falar no blodsvreden, que a transformava em uma bomba-relógio.
Não muito tempo atrás, tudo era bem diferente, quando sua linda e doce Sapphire, seu único e verdadeiro amor, ainda era viva. Ele a amaria até o fim dos seus dias. Sua gravidez e o nascimento de Inara foi uma jornada e tanto, mas Sapphire saiu vitoriosa, ou assim eles acreditaram.
Embora tivesse sobrevivido ao parto, ela morreu quando Inara ainda era apenas uma criança, mas os momentos que viveram juntos naqueles poucos anos foram inesquecíveis. A morte de Sapphire foi rápida e indolor. Ao abraçar seu destino, ela garantiu que os dois soubessem disso. Ela queria que eles celebrassem sua vida em vez de lamentar sua partida, e foi exatamente isso que fizeram.
Durante quatro dias seguidos, todo o reino celebrou a vida de uma grande mulher. Ela era gentil, altruísta e tinha um coração de ouro. Sua morte foi um golpe duro, mas pelo menos ela não teria que sofrer mais em silêncio.
Em horas como essa em que o rei não sabia o que fazer, ele desejava muito que sua Sapphire ainda estivesse viva para acalmá-lo e lhe dar seus conselhos sábios de sempre. No entanto, ela não estava mais neste mundo e justamente quando ele mais precisava dela.
Ele ficou acordado até o amanhecer e quando o sol finalmente se firmou no céu, ele soltou um suspiro resignado e se preparou para encarar o dia.
Ponto de vista de Inara:
Acordei com o som de um zumbido, mas não sabia dizer de onde ele vinha. Entretanto, depois do dia de ontem, eu realmente não queria sair do conforto da minha cama macia. Meu plano era descansar o máximo possível para no fim do dia sair e explorar os céus.
Após quase ter perdido Zya, precisava deixá-la esticar suas asas e voar livremente para assegurar a ela e a mim mesma de que ela estava de volta. Foi por muito pouco que não a perdi. Moira a salvou e eu lhe era enormemente grata por isso, além de ter uma dívida eterna com ela. Quem disse que o blodsvreden era algo ruim não sabia do que estava falando.
"Você sabe que não pode ter uma dívida consigo mesma, certo?" Moira se pronunciou de repente, fazendo-me pular de susto.
"Moira! Você me assustou."
"Não foi minha intenção, mas saiba que você sou eu e eu sou você. Somos a mesma pessoa. Quanto ao zumbido que escutou, fui eu tentando acordá-la o mais gentilmente possível. Mas parece que alguém aqui dorme como uma pedra, então..."
"Ha-ha! Muito engraçado, mas eu não durmo como uma pedra. Só não percebi que era você chamando."
"Está bem, dorminhoca. Só queria lembrá-la do nosso encontro com Marleigh. O sol já nasceu há algum tempo e ela provavelmente está à nossa espera."
"Ah, d*oga! Por que você não me acordou antes?"
"Porque você precisava do seu sono de beleza depois do dia que teve ontem e não faz mal ela esperar um pouco. Por alguma razão, é ela quem quer fazer esse juramento de sangue, não a gente."
"Por que Zya está quieta? Ela está bem?"
"Sim, ela só está processando os eventos de ontem, mas ficará bem."
"Fico tranquila em saber. A propósito, vamos voar hoje. Isso deve animá-la um pouco. Já Armand, ele terá o que merece."
"Certamente ele vai, mas tudo no seu devido tempo. Agora vá se arrumar, há muitas coisas que quero fazer e lhe mostrar."
"O que você quer me mostrar?"
"É uma surpresa..."
"Moira!"
"Não seja ansiosa, criança. Agora, vá se arrumar!"
Saí da cama devagar enquanto Moira desaparecia em algum lugar no fundo da minha mente. Então, observei meu novo quarto mais uma vez e me dei conta de que ele seria um constante lembrete de o quão rápido minha vida foi ladeira abaixo. Pelo lado positivo, eu tinha Zya e Moira ao meu lado. Se tinha alguém que ainda podia contar, era com elas duas.
Em pé, espreguicei-me para aliviar a tensão do meu corpo e suspirei aliviada quando senti alguns dos nós nas minhas costas se desfazerem. Em seguida, arrumei-me rapidamente e me esforcei ao máximo para não pensar nos eventos do dia anterior. Embora eu ainda não soubesse o que iria fazer, duas coisas eram certas.
A primeira era que não iria me casar com Armand, independentemente do que meu pai quisesse. A segunda era que precisava achar um jeito de sair do palácio porque ele não era mais um lugar seguro para mim. Se meus próprios guardas podiam ser subornados com algumas joias, qualquer outra pessoa poderia.
Apesar de não saber qual era o próximo plano de Armand, mal podia esperar para desvendá-lo. Além disso, precisava investigar sobre a pedra que ele usou contra mim e descobrir mais a respeito do mago que trabalhava para ele.
Eu nunca tinha visto ou ouvido falar em nada parecido com aquela pedra. Se ela foi mesmo capaz de quase enviar Zya de volta à fonte, então, precisava pegá-la antes que fosse parar em outro par de mãos erradas, pois as mãos de Armand já eram ruins o suficiente. Na verdade, eram as piores que podia imaginar, considerando que ele tinha um mago ao seu lado.
Os magos foram proibidos de pisarem em todos os reinos de Drakkon e seus arredores por conta de sua sede por sangue e escamas de dragão. Há muito tempo, essas duas espécies conseguiram conviver pacificamente até que um lado se corrompeu. Quando os magos descobriram por acaso o poder por trás das escamas e do sangue de dragão, a situação ficou insustentável.
Eles pararam de usar o gado de sempre para seus rituais e começaram a caçar dragões apenas para obter um pouco de suas escamas, forçando-os a mudar de forma e os confinando ao chão com feitiços hediondos para tirar seu sangue até os deixarem secos.
Os reinos não tiveram escolha a não ser chegar a um acordo em comum para banir os magos de suas terras. Caso um mago fosse visto por aí, a lei seria aplicada e ele morreria sem questionamentos. Podia parecer cruel, mas espere até ser caçado, forçado a se transformar, esfolado e ter seu sangue drenado até a morte. Qualquer um pensaria o mesmo que nós se passasse por algo assim.
Cerca de um mês atrás, circulou um boato de que um certo mago havia sido avistado em uma terra próxima, mas a história morreu tão rápido quanto ela surgiu. Nada mais foi dito sobre o assunto e ele foi varrido para debaixo do tapete. O fato de ter sido um dragão recém-transformado que vira o mago ajudou a encobrir a verdade. Afinal, ele podia não estar habituado ainda à sua nova visão aprimorada na altitude que voava.
Mas aqui estávamos agora e não podia deixar de pensar que ele havia dito a verdade. O mago era real. Ele ou ela estava vivo e trabalhava para Armand. Por mais que não tivesse certeza se meu pai sabia dessa história, jurei a mim mesma a chegar à raiz desse assunto.