Capítulo 50
1410palavras
2023-05-18 00:02
Com o coração pesado, virei-me para encarar o rei e seu conselho. Pela maneira como engoliu em seco, ele parecia já ter decifrado o olhar sombrio em meu rosto e percebido que as notícias não era nada boas. Na verdade, elas eram péssimas.
Ao voltar para o meu lugar, deixei-me cair sobre o assento e encarei o conselheiro que estava envolvido em toda aquela confusão.
"O que você tem a dizer sobre si mesmo, Conselheiro Eldarg?"
"O quê? Agora você está culpando Eldarg? Você sabe há quanto tempo ele tem servido de forma leal a este reino?" Meu conselheiro favorito se intrometeu outra vez.
Ignorando-o, continuei a encarar Eldarg até que ele soltou um suspiro resignado e confessou:
"Essa era a única maneira..."
"Não, não era..." Apenas então os outros membros do conselho entenderam o que estava acontecendo e recomeçaram a gritar como de costume. Isso era mesmo tudo o que eles sabiam fazer?
Para homens de idade tão avançada e supostamente sábios, eles pareciam fazer mais pirraça do que qualquer outra coisa.
"Por quê?" O rei questionou, sua voz era praticamente um sussurro. Mesmo assim foi o suficiente para fazer os homens se acalmarem.
"Meu rei... Minha filha se apaixonou e se ligou a um elfo das trevas. Nunca a vi tão feliz. Eu conheci este elfo e ele é um dos bons. Ele não pediu para nascer assim. No entanto, uma das leis mais antigas deste reino proíbe que uma espécie se misture com a outra. Então, minha filha veio até mim com um ritual que recebeu misteriosamente e eu fui averiguar.
"O ritual exigia que todos os elfos adormecidos renascessem e as terras das ninfas e dríades que contaminamos fossem restauradas. Eu mesmo me encarreguei de fazer o feitiço, então, imagine minha surpresa quando eles foram encontrados mortos e os portais começaram a enfraquecer. O ritual era apenas para transformar o elfo das trevas em um elfo de luz.
"Não sei onde foi que eu errei. Dediquei toda a minha vida a este reino. Jamais o sabotaria de propósito. Eu realmente não entendo o que está acontecendo", explicou Eldarg conforme suas lágrimas escorriam pelo rosto. Aquela era uma visão bastante incomum e surpreendente.
Limpando minha garganta, acrescentei: "Você não teria como entender quando é apenas um peão, um pai que faria qualquer coisa para fazer sua filha feliz. O verdadeiro monstro explorou a sua fraqueza."
"Então, o que está acontecendo? Quem realmente está por trás disso?" O rei questionou, curioso.
"Por que meu conselheiro favorito não conta a todos nós a sua teoria? Afinal, ele vem me enchendo o saco desde que entrei nesta sala", comentei, meneando a cabeça em sua direção.
"Então, agora eu virei o seu conselheiro favorito só porque acha que sei de alguma coisa? Eu nem o conheço, mas por algum motivo meu rei permitiu que você entrasse nesta sala para dirigir o espetáculo", ele murmurou com o cenho franzido.
"Bom, perdoe-me por me intrometer. Eu sou Xavier S. River, príncipe da fonte, herdeiro do trono do rei Chaos, rei dos reis do submundo e senhor dos senhores das trevas, além de rei da fonte e outros reinos. O vampiro que trouxe comigo é meu amigo e irmão, príncipe Venandi do clã de vampiros da Casa de Venandi.
"Eu lutei por este reino na Batalha das Sete Ilhas e fui eu quem escolheu seu rei como o único verdadeiro soberano deste lugar. Espero que tenha me apresentado bem o suficiente para responder todas as suas perguntas."
"Você... Você é... aquele príncipe? Mas... Mas..." Meu conselheiro favorito gaguejou.
"Mas...?"
"Honestamente, eu tinha uma outra imagem de quem você era na minha cabeça. E ouso dizer por todos aqui que você não se parece em nada com um príncipe, mas um guerreiro forjado pela guerra. Sua altura e seus olhos nos assustam, sem falar nessa aura ao seu redor. Se estava querendo intimidar a todos com sua aparência, posso te assegurar que conseguiu."
"Bom, em relação aos meus olhos, nasci com eles assim. Quanto a minha aparência, eu treino constantemente e ainda sou jovem, portanto, estou me desenvolvendo. Pelo que meu avô e tios dizem, levará um tempo até eu parar de crescer. Então, se você acha que eu sou um monstro ou uma aberração agora, eu me pergunto o que vai dizer quando eu atingir meu tamanho total." Eu ri, observando seu rosto corar de desconforto e vergonha.
"Bom, eu... realmente não queria chamá-lo de aberração ou monstro. Eu só estava tenso com toda essa situação e não pensei antes de falar."
"Você quis dizer tudo o que disse, conselheiro, mas não me ofendi com suas palavras. Já ouvi esse tipo de coisa mais vezes do que posso contar e isso realmente não me incomoda. Na verdade, encaro como um elogio.
"De qualquer forma, você não precisa ter medo de mim porque da mesma forma que sou um guerreiro forjado pela guerra em todos os sentidos, também tenho obrigação com a minha honra e meu trono. Independentemente do que possam pensar, todos vocês são meu povo também. Quando eu substituir meu avô e me tornar rei, serei responsável por todos os reinos e sua segurança, então, por que não começar a fazer isso desde já?"
"Bom, não posso discordar da sua lógica e mesmo se discordasse, seria inútil, já que você será o rei do meu rei", ele murmurou com um suspiro.
Não pude deixar de rir quando vi o rei lutando contra um sorriso conforme balançava a cabeça. Esse conselheiro era uma peça, mas de um bom jeito.
"Já que você se apresentou, permita-me fazer o mesmo. Eu sou lorde Lorien, grão-senhor de Lärda Rike. Guardião do Tiden rullar", acrescentou ele.
"Prazer em conhecê-lo, lorde Lorien. Agora, por favor, compartilhe com o restante do conselho o que você conseguiu reunir."
"Bom, tudo começou quando senti uma mudança no ar. Não sei bem como explicar, mas eu sempre tive uma grande afinidade com o vento. Enfim, houve um cheiro estranho no ar por alguns dias. Depois, nossa água ficou com um gosto esquisito também. Até nossas mudas não estavam crescendo no ritmo normal, mesmo com o empurrão de magia. Foi algo muito sutil. Poucos elfos e fadas prestaram atenção nisso, então, comecei a investigar", ele nos contou.
"Admito que sou uma pessoa naturalmente desconfiada. Desconfio de quase todas as pessoas que conheço", ele afirmou com bastante sinceridade, o que arrancou algumas risadas baixas dos demais membros do conselho.
"Isso é uma verdade..." Um deles sussurrou de forma provocativa.
Revirando os olhos em direção ao culpado, ele continuou: "Como eu ia dizendo antes de ser rudemente interrompido, comecei a ficar de olho em todo mundo. Não é tão difícil quanto parece, mas eu realmente não consegui cobrir todo o reino como gostaria, portanto, tive que fazer isso em partes. Foi assim que perdi o momento exato em que os rituais se iniciaram e os portais começaram a enfraquecer...
"Mas, como todo mundo, elfos e fadas também ficam desleixados quando pensam que estão se safando com algo. Então, solicitei a ajuda de uma dríade para espionar comigo um dos portais que estava sendo usado com mais frequência do que o normal.
"O culpado estava camuflado, mas sua aura era muito familiar para passar despercebida. Nós assistimos com o coração na mão enquanto ele realizava o ritual mais sombrio que já vimos bem diante de nossos olhos. Então, uma fenda se abriu no portal, por onde saiu Aergon, um elfo que banimos deste reino por conta de atos extremamente cruéis que ele cometeu contra sua própria espécie.
"Eu os vi desaparecer diante do portal antes que pudesse fazer qualquer coisa. Mas ver aquele elfo banido foi a pista que eu precisava. Depois disso, voltei aos nossos arquivos. Estava quase desistindo de encontrar alguma coisa quando finalmente achei um velho pergaminho esquecido com um relato detalhado da linhagem Ingálvur de Aergon.
"No entanto, eu não esperava encontrar o nome que vi ali. Todos os grão-senhores deste tribunal são testemunhas e poderão me corrigir se eu estiver enganado, mas é de conhecimento geral que o lorde Kallan nunca teve nenhum filho. Então, por que ele foi listado como pai de um elfo banido?
"Como já estava tirando conclusões precipitadas, decidi cavar mais fundo e encontrei em nossos registros de nascimento um filho do irmão de lorde Kallan e também mais um filho do próprio lorde Kallan. Ambos nasceram no mesmo dia e no mesmo lugar pelas suas respectivas mães."