Capítulo 51
1239palavras
2023-05-19 00:02
Após respirar fundo, ele continuou: "A reviravolta é que apenas um bebê saiu vivo daquela sala de parto. Um era um elfo de luz e o outro um mestiço de luz e trevas. Uma... coisa nasceu. Conforme havia sido decretado pelas antigas leis desta terra, quando algo assim nascia, deveria ser morto na sala de parto para o seu próprio bem e deste reino como um todo.
"Foi registrado que lorde Kallan garantiu que cuidaria pessoalmente de fazer seu filho dormir por toda eternidade da forma mais silenciosa e gentil possível. Já que aquela coisa era sangue do seu sangue, era sua responsabilidade como pai dar o golpe final. Ele devia pelo menos isso ao seu filho.
"Nos registros também encontrei que, assim que ele levou o filho embora, sua esposa deu seu último suspiro ainda no local do parto. Talvez tenha sido melhor desse jeito porque, como uma elfa de luz, ela havia parido àquela coisa, mesmo o pai também sendo um homem elfo de luz. Acredito que a morte naquele momento tenha sido uma misericórdia para ela. As implicações do que ela poderia ter feito e as circunstâncias em torno do nascimento de seu filho teriam cobrado um preço alto e a matado de qualquer jeito.
"Quanto ao lorde Kallan, poucos ouviram falar dele depois disso. Quase ninguém se incomodou em procurá-lo porque havia rumores de que ele estava de luto por sua esposa e filho. Em certos momentos durante a noite, alguns ouviam seus lamentos antes de tudo ficar em silêncio outra vez.
"Mas, para mim, ele estava de luto apenas por sua esposa porque seu filho continuava bem vivo.
"Exatamente três dias após o ocorrido, seu irmão adoeceu misteriosamente junto de seu filho recém-nascido e sua esposa. Então, os três morreram sem nenhum motivo aparente. Por coincidência, foi o lorde Kallan quem encontrou seus corpos.
"Suas mortes não foram investigadas ou questionadas. Acredito que deveríamos ter averiguado a situação assim que aconteceu, pois então teríamos percebido que ele usou seu irmão e sua família como sacrifícios."
Neste momento, vários suspiros ecoaram pela sala.
"Eu sei que nunca ouvimos falar de algo assim antes, mas o elfo banido, Aergon, não parece uma mistura de duas espécies de elfos. Ao invés disso, ele se assemelha a um elfo de luz com alguma coisa a mais, que dizem ter aparecido misteriosamente do lado de fora dos portões da casa do lorde Kallan. Um ser que ele imediatamente se afeiçoou, então, resolveu adotá-lo e nomeá-lo como seu herdeiro.
"No entanto, não importa o quanto você tente domar uma besta daquelas. Sem ter o que é necessário, no fundo, aquela coisa foi feita para matar. E voltar à sua natureza original foi o que Aergon, o banido, fez.
"Ele não pôde evitar todas as atrocidades que cometeu, embora ele tivesse conseguido escondê-las até que o rastro de sangue fosse grande demais para passar despercebido.
"Até então Aergon era apenas conhecido como o pequeno elfo órfão que lorde Kallan adotou e nomeou seu herdeiro, portanto, nenhum desses crimes bárbaros puderam ser ligados a ele. Mas aí me lembrei do que os não-marcados se tornam quando são deixados livres para fazerem o que quiserem. Lembro-me de como meu próprio filho ficou antes de eu acabar com sua miséria.
"A respeito do ritual e a situação de lorde Eldarg... O ritual para transformar essa coisa num elfo branco em troca da vida de alguém é tão antigo quanto o próprio tempo em si. É possível encontrá-lo nos livros antigos e esquecidos, mas acho que não estavam tão esquecidos quanto imaginávamos.
"Esse ritual foi feito e concluído há mil anos com o sangue do seu irmão, sobrinho e cunhada para transformar seu filho em algo que ele não era.
"Mas a coisa piora porque estamos realmente ferrados. O ritual feito agora é muito parecido com o antigo, mas com uma diferença. Ele é muito mais obscuro e sinistro. Temo que seja diferente de tudo que já vimos.
"O feitiço inicial requeria apenas a vida de elfos de luz. Seu irmão, sobrinho e cunhada. Mas o atual nos fez perder ninfas, dríades, elfos e fadas. Sinto que isso é tudo o que consegui reunir até agora. E eu estou convicto da minha descoberta", ele concluiu, determinado, enquanto lançava um olhar furioso na direção de lorde Kallan. Ao nos virarmos para ele, vimos ele tentando se teletransportar para fora da sala.
Com um suspiro, eu disse suavemente:
"Você está apenas perdendo seu tempo, lorde Kallan. Enquanto eu permanecer nesta sala, não há como você se teletransportar para fora dela sem a minha autorização. E pare de tentar cobrar uma dívida com o meu nome, não vai funcionar!
"Você acha que só porque eu lhe dei meu nome por livre e espontânea vontade, eu sou como qualquer outra criatura que você pode cobrar uma dívida e manipular?"
"A sensação é como um formigamento na parte de trás da cabeça que parece te pressionar a procurar a pessoa e fazer o que ela quiser?" Magnus perguntou em um tom irritado.
"Sim, mas você pode recusar porque ele só tem o sobrenome da sua família e não seu nome de batismo completo. Sendo assim, ele não pode cobrar uma dívida, mas com certeza ele tentou", expliquei a ele.
"Seu idiota de m*rda!" Magnus silvou e, pela forma como suas presas desceram, todos perceberam que ele estava a um passo de atacar lorde Kallan.
"Acalme-se, Magnus. Eu sei que você adoraria acabar com ele e, acredite, eu também, mas não vale a pena." Tentei apaziguá-lo.
O único indício que tive de que ele havia recuado foi quando o vi se afastar até a janela com vista para os jardins e o lago reluzente. Pelos seus ombros tensos, tive certeza de que ele ainda estava irritado e não hesitaria em atacar à primeira oportunidade.
Como um vampiro, ele sabia o que dar o seu nome implicava, já que sua espécie podia encantar e obrigar a qualquer ser a fazer sua vontade. Não à toa, o que aconteceu o perturbou.
Eu, por minha vez, podia sentir uma dor de cabeça querendo se formar. Minha paciência estava por um fio.
"Como você ousa? Parece que você subestima quem eu sou e do que sou capaz."
Ao me teletransportar diante dele, deixei meus olhos brilharem e mudarem de cor para representar as várias entidades que residiam dentro de mim. O cheiro de urina que chegou ao meu nariz mostrou que havia conseguido me fazer entender.
Afastei-me dele com calma e voltei devagar para o outro lado da grande mesa redonda, onde permaneci.
"Que isso sirva de aviso. Cobrar uma dívida de nome no meu caso é inútil. Só vai me deixar irritado e com raiva, o que deve ser evitado a todo custo.
"Agora, lorde Kallan, por favor, sente-se em seu lugar e nos faça a gentileza de dizer o porquê você colocaria em risco a vida de todos os elfos, fadas, ninfas e dríades deste reino ao realizar este ritual novamente para trazer o seu filho e todas as outras criaturas banidas que ele reuniu para este reino.
"Depois de uma guerra tão sangrenta, por que você iria querer que seu povo fosse massacrado e escravizado? Por causa de um filho que nem é seu? Por favor, explique a este conselho com suas próprias palavras, pois agora sua mente está uma bagunça e duvido que você tenha consciência do que realmente está acontecendo."