Capítulo 49
1648palavras
2023-05-17 00:02
Ao chegarmos à entrada do palácio, a aparência intimidadora do lugar parecia um mau presságio. A energia tensa emanando de lá me deixou um pouco enjoado. Quando me virei para Magnus, o olhar sombrio em seu rosto me disse que ele sentia o mesmo.
Respiramos fundo antes de nos aproximarmos da entrada e eu soltei um suspiro ao me deparar com rostos familiares.
"Sua alteza..." Eles disseram com uma reverência.
"Conrad, Ansel", cumprimentei-os com um aceno de cabeça.
"Como vocês têm passado?"
"Muito bem, sua alteza", Conrad respondeu pelos dois como de costume enquanto olhava de relance para Magnus.
"Fico feliz em ouvir isso. Este é meu amigo e irmão, Príncipe Venandi da Casa de Venandi, um clã de vampiros. Estou aqui para ver o rei."
"Você não poderia ter chegado em hora melhor. Ele está no grande tribunal com seu conselho. E seja bem-vindo, príncipe Venandi. Espero que possa aproveitar o melhor que temos a oferecer."
"Obrigado", eu disse conforme eles abriam as portas para nós.
Em seguida, caminhamos rapidamente até o grande tribunal. O tumulto lá dentro podia ser ouvido do lado de fora, embora a sala devesse estar enfeitiçada para ser à prova de som.
Ao abrir as portas, mal dei um passo para dentro quando me deparei com uma cena que me deixou boquiaberto. Depois de ter certeza que os meus olhos não estavam enganados, pus-me na frente de Magnus para protegê-lo.
"O que di*bos está acontecendo?" Magnus cochichou.
"É o que eu gostaria de saber porque sua presença por si só deveria ter feito as antenas desse povo desconfiado levantarem a ponto de chamarem os guardas para interrogá-lo, mas aqui estamos..." Comentei com uma careta enquanto via um senhor ser arremessado para o outro lado da sala por um de seus colegas.
Rapidamente, examinei o lugar e encontrei o rei Eilif em uma discussão acalorada com outro senhor.
'O que di*bos está acontecendo aqui?'
Adentrei mais a fundo na sala com Magnus ainda atrás de mim e permiti que as portas se fechassem na esperança de chamar a atenção deles, mas, para a minha surpresa, isso não aconteceu.
Tentei várias vezes obter a atenção da sala, mas eles apenas continuaram a discutir. Cansado daquilo, abri a boca e alcancei um lugar profundo dentro de mim antes de deixar minha voz trovejar pelo ambiente. Em um passe de mágica, todos ficaram em silêncio. Ninguém emitiu um ruído sequer. Finalmente, um pouco de paz e sossego.
"Que bom que vocês puderam ceder um minuto da sua agenda lotada para mim", eu disse, caminhando pela sala com Magnus.
"Sua alteza!" o Rei Eilif me cumprimentou ao se virar em minha direção.
"Sua alteza? O que é essa aberração e seu amiguinho vampiro? Como é que um vampiro entre todas as criaturas conseguiu entrar no grande tribunal?" Um membro de seu conselho questionou.
"Esta aberração, como você o chamou, poderia apagar a sua existência e de toda sua geração da face da Terra, mas o amiguinho vampiro dele iria beber até a última gota do seu sangue primeiro. Aposto que nós dois gostaríamos muito disso", Magnus murmurou, embora sua voz tivesse ecoado por toda a sala.
"Eu ouvi aquele vampiro!" O membro do conselho retrucou com raiva.
"Perdoe-o pela sua falta de educação, sua alteza. Os ânimos estão alterados no momento e as boas maneiras, bem como o decoro, parecem terem sido esquecidas por alguns de nós", o rei Eilif se desculpou antes de olhar para o membro do seu conselho com uma carranca. O homem, por sua vez, sorriu sem graça.
Gesticulando para a cabeceira da mesa, o rei me convidou a sentar. Ele também ofereceu um assento a Magnus, mas ele recusou, preferindo ficar de pé atrás de mim. Eu me virei e lhe lancei um olhar questionador apenas para me deparar com a expressão solene em seu rosto conforme ele balançava a cabeça.
Realmente, havia algo de errado ali e ficar de pé era a maneira do meu amigo estar preparado caso a situação piorasse. Era impressionante ver como Magnus estava mesmo mudado. Ele amadureceu de formas que só agora conseguia ver. O antigo Magnus jamais teria rejeitado uma oportunidade de se acomodar confortavelmente, mas esta sua nova versão estava super vigilante como um soldado pronto para a batalha.
Ao voltar a encarar o rei Eilif, questionei: "O que realmente está acontecendo?"
"Temos um traidor entre nós", ele respondeu em um tom sombrio.
"O quê? Não pode ser. Com todos os seus poderes secretos e tudo mais, já deveria ter descoberto de quem se trata, sem falar que você é o rei. A situação não poderia ter chegado a este ponto", eu apontei.
"Infelizmente, chegou. Mesmo como rei, não posso afirmar quem está envenenando o reino ou deixando outras criaturas passarem pelo portal. Além do mais, não tenho como saber quem está matando o meu povo e, acredite, eu tentei. No começo, pensei que fosse algo aleatório, mas não é. Parece haver uma espécie de padrão doentio, quase como um ritual.
"A cada três elfos mortos, eles são encontrados em um lugar específico pertencente às ninfas. Primeiro nos lagos, depois na floresta e por último parcialmente enterrados debaixo da terra. Eu realmente não consigo sentir mais nada agora. Os guardiões que protegeram este reino por séculos parecem estar desaparecendo.
"Você sabe tão bem quanto eu o que acontece quando eles desaparecem. Nossos escudos caem e viramos presas fáceis para os perigos deste reino. Tentei ler pensamentos e almas por semanas sem sucesso. Você realmente não poderia ter chegado em um momento melhor."
"O que ele poderia fazer que ainda não foi feito pelo nosso rei e os seres mais poderosos deste reino?" Outro membro do conselho indagou.
Só agora entendi porque meu avô nunca permitiu que ficássemos tempo o suficiente para conhecer os conselheiros deste reino. Ignorando os senhores arrogantes e cheios de pompa, voltei minha atenção para o rei e o perguntei: "Você pode, por favor, trazer a bola de cristal para mim?"
"Claro. Com certeza", ele respondeu, aliviado, antes de se virar para o guarda mais próximo e ordenar que fosse pegá-la.
No entanto, seu conselho protestou.
"Isso é um sacrilégio!" Um dos membros gritou.
"Ele é um forasteiro! Como pode permitir que ele coloque sua mãos monstruosas em nossa pedra sagrada?" Outro disparou.
"Não acredito que você permitirá esse absurdo, meu rei."
"Ele não pode ter nenhum poder extraordinário que já não tenhamos aqui!"
"O que temos a perder se ele tentar e não conseguir nada?" O rei Eilif questionou com uma voz cansada.
"Estamos correndo o risco de sermos contaminados ao permitir que essa aberração, que nem sabemos de onde veio, simplesmente entre em nosso tribunal, tome um de nossos assentos, faça perguntas, exija coisas e, ainda por cima, coloque as mãos em nossa pedra sagrada... Isso é um absurdo!" Gritou o primeiro membro do conselho que havia questionado minha presença assim que cheguei no grande tribunal.
Virando-me para ele, perguntei bem-humorado: "Desde o momento em que entrei por aquelas portas, você parece determinado a me chamar de aberração e monstro. Embora não seja nada que eu não tenha ouvido antes, você diz isso por causa do meu tamanho ou é por algum outro motivo, homenzinho?"
"O quê... o quê? Como... Como você ousa falar comigo desse jeito? Você sabe quem eu sou?" Ele bradou com raiva.
"Eu não dou a mínima para quem você é, homenzinho, e eu o aconselho a escolher suas próximas palavras com cuidado porque estou no limite da minha paciência e garanto que você não vai querer ver o monstro que eu realmente sou", avisei, olhando em sua direção. Pela maneira como ele e os demais à sua volta pularam de susto em seus assentos, tive certeza que eles viram meus olhos brilharem e mudarem de cor.
Apesar da cor natural dos meus olhos já serem um pesadelo para quem não me conhecia muito bem, quando eles pegavam fogo, isso levava o medo deles a outro patamar. Para mim, era uma visão estranhamente bela, mas cada um tinha uma percepção diferente sobre o assunto.
Eu ainda os encarava quando o guarda chegou, empurrando um carrinho com a bola de cristal para dentro da sala. Entretanto, antes que ele pudesse trazê-la para perto de mim, fiz um sinal para que ele parasse e caminhei em sua direção.
Eu sempre soube que o rei que escolhemos era um homem muito sábio. Ele não só não me seguiu, como rapidamente dissuadiu seus conselheiros de tentarem fazer isso, assim como Magnus.
Depois de agradecer o guarda, empurrei o carrinho para o canto mais distante da sala e, quando tive certeza de que não tinha ninguém me espiando, coloquei minhas mãos sobre a bola e me preparei para a sensação que conhecia tão bem.
Ao me centrar, permiti-me ser assaltado por imagens, conversas, esquemas, nomes e lugares. Quanto mais eu via, mais eu queria saber. Esse era o lado negativo que vinha com o poder de buscar conhecimento.
Depois de reunir tudo o que precisava, retirei depressa minhas mãos da bola e respirei fundo para me acalmar.
Caramba! Isso foi desgastante até mesmo para mim, mas não tão horrível quanto as coisas que acabei de ver.
A ganância sempre foi o maior motivador da maldade. Jamais conseguiria entender o porquê as pessoas sempre preferiam aquilo que não as pertencia. Por mais que soubesse que era da natureza de alguns serem ambiciosos, ultrapassar os limites e derramar sangue de gente inocente era um ponto sem volta.
Sacrifício era um assunto complicado, até porque ninguém recebia o valor do seu sacrifício. Qualquer entidade que solicitava derramamento de sangue como pagamento, sempre exigia mais. Afinal, ela também se alimentava da ganância do requerente ao lhe prometer céus e terras, mas antes que ele percebesse que não foi nada além de uma marionete em suas mãos, já era tarde demais para conseguir ser salvo.