Capítulo 46
1056palavras
2023-05-14 00:02
"Inara? Você sabe onde está? Seu blodsvreden parece ter vindo à tona, minha querida. Você precisa lutar contra isso. Tente aqueles exercícios que os instrutores lhe ensinaram."
"É tarde demais, pai. Não há mais eu ou a blodsvreden. Nós somos uma só agora. Ela foi o único ser que ficou ao meu lado e me consolou no momento em que mais precisei, quando estava no fundo do poço."
"Pare de falar sobre essa coisa como se fosse outro ser vivo. Inara, ele não é. Isso é uma maldição horrível. Acorde!"
"Na verdade, pai, ela está mais viva do que você pode imaginar."
"Pelos deuses, o que você fez?"
"O que eu fiz? É típico de você tentar jogar a culpa nos outros. Você acha que colocar uma coleira na minha blodsvreden foi fácil? Sugiro que pense melhor sobre isso. Eu a reprimi por anos a seu pedido e nunca vacilei. A pergunta que você deveria se fazer é porque ela foi desencadeada só agora?"
"Então, diga o que mudou!"
"Para um rei tão sábio, você é realmente ingênuo, meu querido pai."
"DIGA-ME AGORA!"
"Nunca. Mais. Erga. Sua. Voz. Para. Mim. Seus dias de gritar comigo acabaram. Posso parecer sua filha, mas certamente não sou ela. Não mais. Não depois que você permitiu aquele cretino covarde de tirar tudo o que era mais importante para mim. Você perdeu seu direito sobre mim naquele exato momento."
"Eu não entendo o que está insinuando, Inara. Eu... eu..."
"Bom, você vai entender. De um jeito ou de outro, um dia você vai, mas será tarde demais."
"Eu realmente acho que tudo o que aconteceu hoje está te deixando confusa. Por que você não volta para os seus aposentos e descansa um pouco? Podemos conversar sobre esse assunto quando estiver mais relaxada e pensando com clareza..."
"É a sua cara dizer uma coisa dessas, pai."
"Inara..." Ele começou a se explicar.
"Está tudo bem, sua majestade. Vou para o meu quarto agora e desejo não ser importunada por um bom tempo, senão cabeças vão rolar."
"Mas e quanto... Por que você não permite que..."
"Termine essa pergunta e juro por todos os deuses acima e abaixo de nós que essa será a última vez que colocará os olhos em mim."
Em seguida, dei as costas e deixei a sala do trono sem olhar para trás. Mais uma vez, ignorei os sussurros e olhares em minha direção. E que bela visão eu devia ser! Algumas pessoas até tentaram chegar mais perto para me ver melhor.
"Se algum de vocês, bando de desocupados, der mais um passo na minha direção ou, pior, tentar me tocar, eu vou fritá-lo onde estiver. E pode acreditar que farei isso em todos o sentidos da palavra. Então, é melhor me deixar em paz." Assim que concluí, saíram todos do meu caminho às pressas.
'Melhor assim', pensei. Depois disso, não demorou muito para que eu chegasse até a porta que levava para os meus aposentos. No entanto, não consegui atravessá-la. Eu costumava enxergar meu quarto como meu porto seguro, meu santuário, mas tudo mudou.
Agora, aquele era apenas mais um cômodo, cheio de memórias que preferia não reviver. Ao me virar, fui em direção aos aposentos mais isolados do castelo que raramente eram usados, se é que algum dia haviam sido. Eu ficaria bem ali. Além de ser um local afastado, tinha uma bela vista das Montanhas Rochosas e um dos maiores vulcões do nosso reino.
Eu estava curtindo meu momento de paz e silêncio quando o som de passos me interrompeu.
"Eu realmente quero ficar sozinha agora, Marleigh."
"Seu blodsvreden está livre agora."
"Sim e vai continuar desse jeito porque ela é realmente tudo o que tenho agora."
"Ela? E... você também tem a mim."
"Sim, ela... é uma fêmea. Eu posso sentir isso. Quanto a você, eu nunca a tive. Você não se importou com o meu bem-estar até... até o último incidente. Agora, de repente, você resolveu se importar? Por favor, poupe-me disso. Não preciso da sua pena."
"Bom... as coisas mudaram e não estou com pena de você. Minha preocupação é sincera."
"Perdoe-me por achar isso difícil de acreditar. Minha mãe, sua melhor amiga, morreu e deixou sua única filha sob os seus cuidados. Mas por anos, você ignorou minha existência enquanto testemunhava um incidente horrível após o outro sem mover uma palha para me ajudar. Por que agora isso mudou? Por que você não pode simplesmente me deixar em paz como sempre fez?"
"O destino precisa ser cumprido a todo custo, minha princesa. Lamento muito que o preço sempre seja mais alto do que esperamos. Se podemos pagar ou não, o destino não leva em consideração.
"Eu realmente sinto muito pelo passado, mas ele não pode ser desfeito. Tudo o que podemos fazer é olhar para o presente porque até mesmo o futuro está sempre mudando. Eu não estive ao seu lado antes, mas, por favor, permita-me estar agora. Você não tem absolutamente nada a perder com isso."
"Mentira. Eu tenho tudo a perder. E se eu a deixo entrar, permito que chegue perto de mim e, como todo mundo, você resolve me ferir? O que acontecerá depois? Você seguirá em frente enquanto me deixa para trás para me recompor sozinha?"
"Eu farei um juramento de sangue então. Para você, Zya e até mesmo para a sua blodsvreden", ela declarou corajosamente, fazendo-me parar no meio do caminho.
Ao me virar para ela, questionei seriamente:
"Enlouqueceu? Você sabe que esse é um juramento de vida ou morte. Se der um passo em falso, estará morta."
"Eu sei, mas essa é a única maneira de provar minha lealdade e mostrar que estou sendo sincera."
Ficamos ali paradas, olhando uma para a outra por alguns minutos antes de eu sentir minha blodsvreden vir à tona. Minha visão ficou vermelha por um instante muito rápido, mas foi o suficiente para ver Marleigh recuar.
"Vai levar algum tempo até eu me acostumar", disse ela ao ver minhas sobrancelhas levantadas em uma pergunta silenciosa.
"Vamos ver quanto a isso. Então, amanhã assim que o sol nascer nos encontramos debaixo do vulcão. Mas, por enquanto, eu realmente quero ficar sozinha." Com isso, eu me virei e me afastei dela.
"Vejo você amanhã ao nascer do sol, princesa..." ela sussurrou, mas eu não parei, nem me virei para encará-la ou respondê-la.