Capítulo 44
1528palavras
2023-05-12 00:02
Império Drakkon:
Acordei com a sensação de estar sendo observada. Ao tentar sentir a presença de quem estava em meus aposentos, pulei da cama ao detectar uma aura ameaçadora conforme pegava o primeiro objeto que poderia usar como arma, uma lâmpada.
"Bom, atacar seu futuro marido e rei é um ato de traição, princesa", o príncipe herdeiro Armand zombou ao sair das sombras.
"O que está fazendo aqui? Quem permitiu sua entrada? Guardas!" Gritei o mais alto que pude.
"Sua garota boba. Os guardas estão lá fora, mas com um propósito diferente. Eles vão garantir que ninguém mais entre. É impressionante o que algumas pedras preciosas podem comprar..."
"Você precisa ir embora...", exigi.
"Por que, minha querida noiva? Só quero passar um tempo com você."
"Podemos fazer isso amanhã em um local público. Afinal, o que quer de mim? Eu sei muito bem que você não morre de amores por mim..."
"O amor é superestimado. Eu só quero você. Esse poder inexplorado que existe dentro de você é capaz de nos colocar em um outro patamar social neste reino. Seu pai está desperdiçando esse poder."
"O quão louco e ingênuo você é? O blodsvreden não é um poder comum esperando para ser usufruído. É um ataque mortal de fúria que não obedece a ninguém e deve ser levado a sério. Não dá para simplesmente controlá-lo."
"Isso é o que te ensinaram a acreditar. Mas a verdade é que você é apenas um receptáculo para esse grande poder e controlá-la é tudo o que preciso para dominar o seu poder. Você sabia que o blodsvreden tem... hum... algo que podemos chamar de uma alergia? Imagine minha surpresa quando essa informação caiu no meu colo! Então, vim aqui testar esta teoria. Quero ver se o valor que dei em joias por isso foi bem pago", Armand explicou enquanto caminhava na minha direção.
Espelhando os seus passos, eu recuei até bater na minha cômoda.
"O que vai fazer comigo?"
"Nada que não seja exigido de você como minha futura esposa. Fique tranquila que você vai gostar, princesa."
Tentei me transformar, mas nem sequer consegui sentir minha Zya, o que me deixou bastante inquieta. Tentei mais algumas vezes e nada. Só me deparei com um silêncio frio.
"O que é que você fez?" Eu gritei, assustada.
"Só uma coisinha para torná-la mais fácil de lidar." Um calafrio percorreu minha espinha ao notar a frieza em seu olhar. Ele estava realmente animado com toda essa loucura. Observei com um misto de medo e curiosidade quando ele tirou uma pedra ônix do bolso e sussurrou algumas palavras sobre ela, fazendo-a brilhar por um segundo.
"O mago... o boato", gaguejei.
"Todo boato tem um fundo de verdade, princesa, mas, sim, nós pegamos um mago."
"Isso é contra a lei."
"Você não tem ideia de quantas coisas ilegais acontecem dentro e fora deste reino. Tenho certeza de que essa sua mente frágil e ingênua explodiria se você conseguisse imaginar. Agora chega dessa conversa e vamos direto ao assunto", rosnou ele, jogando a ônix em cima da minha cama antes de se lançar até onde eu estava. Tudo o que pude fazer então foi gritar a plenos pulmões e esperar até o último segundo que alguém me ouvisse e viesse me salvar.
Ao acordar, percebi que estava na enfermaria com várias pessoas à minha volta. Abri a boca para falar, mas minha garganta estava tão seca que só consegui emitir um ruído rouco. Quando tentei mover minhas mãos, elas não responderam, assim como minhas pernas. Foi então que comecei a entrar em pânico.
'O que está acontecendo? Por que estou neste lugar? Como eu cheguei aqui?' Eu questionei em pensamento.
Alguém devia ter percebido minha angústia, pois um minuto depois, a curandeira junto de seus assistentes se aproximaram do meu leito.
"Água..." Consegui murmurar.
Rapidamente, um copo surgiu na minha frente. Após tomar alguns goles de água, disparei várias perguntas.
"O que aconteceu?"
"Por que estou aqui?"
"Onde está o meu pai?"
"Você não se lembra?" Marleigh, a curandeira, questionou. Uma ruga de preocupação havia deformado o seu belo rosto exótico.
"Não... Não me vem nada agora. Por favor, diga o que está acontecendo."
"Deixe-nos a sós..." Ela dispensou seus assistentes.
Assim que o lugar se esvaziou, ela se certificou de que nenhum outro paciente pudesse nos ouvir.
Então, ela se virou para mim e disse: "Não é tanto sobre o que aconteceu, mas o que se sucederá."
"Não estou entendendo."
"Tente-se lembrar, minha querida... Por favor."
"O príncipe Armand... Ele... Ele...", sussurrei após algum tempo, sem conseguir completar a frase conforme as memórias do incidente voltavam com tudo. Aquela cobra traiçoeira! Não pude evitar as lágrimas que começaram a rolar pelo meu rosto.
"Eu sei, eu verifiquei", ela murmurou com tristeza. "Ele a trouxe aqui depois que você desmaiou, alegando tê-la encontrado na entrada dos jardins. Não consigo mais sentir Zya e ele conseguiu convencer seu pai, o rei, de que o casamento é a única solução para vocês.
"Mas isso não é tudo, ele também apresentou seus guardas como testemunhas de que você o jurou de morte, além de tê-lo atacado na frente deles horas antes de ele encontrá-la nos jardins. Sendo assim, o príncipe a acusou de alta traição. Se seu pai não forçá-la a se casar, ele vai mandar cortar sua cabeça."
"O quê? Mas você contou a verdade ao meu pai?"
"Eu tentei, minha filha, mas ele não quis escutar. Sinto muito."
"Eu preciso falar com ele", eu disse, tentando me levantar da cama.
"Não... Você precisa descansar. Por favor, minha querida, seu corpo está tentando se curar."
"E isso não está funcionando muito bem, está?"
Depois de um tempo, perguntei: "Há quanto tempo estou aqui?"
"Há quatro dias."
"E eu ainda não estou completamente curada. Marleigh, acho que não irei me curar tão cedo. Há algo de errado e preciso descobrir o que é logo. Tenho que falar com meu pai."
"Ai..." Resmunguei ao me levantar da cama. Levou um tempo até eu conseguir me firmar nas minhas duas pernas. Então, cambaleei pelo corredor em direção à sala do trono. Os sussurros que me seguiram me fizeram hesitar mais vezes do que gostaria de admitir. No entanto, eu segui em frente. Pela primeira vez, vi os guardas de meu pai me encararem sem um pingo de divertimento no olhar.
Seus olhares de pena eram ainda piores do que os de zombaria. Era como esfregar o sal na minha ferida aberta.
Meus lábios se partiram, mas descobri que não sabia o que dizer. Então, fechei minha boca novamente apenas para vê-los abrirem as portas sem a mesma teatralidade de sempre. Virando-me para cada um deles, meneei a cabeça, agradecida, antes de entrar na sala do trono.
Hoje o dia parecia estar cheio de surpresas, mas talvez esse pensamento tivesse me ocorrido cedo demais, pois no momento em que entrei na sala, ela ficou completamente em silêncio.
Tentei fazer contato visual com qualquer um dos anciãos, mas eles não me encararam, desviando rapidamente seus olhares quando o normal seria eles me fuzilarem com os olhos.
Ao me virar para meu pai, encontrei aquela cobra traiçoeira ao seu lado, sorrindo presunçosamente para mim. Entretanto, o homem com quem eu queria falar não ousou me encarar.
"Pai?" Embora minha voz fosse um sussurro, ela ecoou pela sala silenciosa.
A tensão no local era tão grande que era possível cortá-la com uma faca.
"Olhe para mim, pai", implorei, já que ele olhava para todos os cantos, fora o meu rosto.
"Você já sabe", sussurrei com a voz entrecortada.
"Inara, minha querida..." Meu pai começou a dizer em um tom paternal que eu conhecia tão bem.
"E... ele ainda está vivo", interrompi o meu pai.
Mais uma vez me surpreendi ao perceber que nenhum dos anciãos me repreenderam como normalmente fariam.
"Inara, me escute, o príncipe Armand já explicou tudo. O que aconteceu foi apenas um pequeno acidente entre dois jovens cabeças quentes que gostam de se vingar sem pensar nas consequências. Além disso, você também cometeu alta traição ao ameaçar matá-lo na frente de tantas testemunhas, mas iremos resolver as coisas amigavelmente. Garanto que alguns anos após o seu casamento, todos olharemos para trás e daremos boas risadas."
Só então percebi que já estava tudo arranjado. Meu pai realmente não se importava com nada além de suas ambições reais, nem mesmo comigo. Eu era apenas um peão em seu jogo, portanto, era inútil pedir a ajuda dele ou de qualquer outra pessoa nesta sala.
Como ele podia varrer o que aconteceu comigo para debaixo do tapete? Sem dúvida, se contasse a ele sobre o mago, ele diria que eu estava só tentando me vingar da cobra traiçoeira ao seu lado.
"Apenas... deixe-me contar o que aconteceu. Pelo menos ouça o meu lado da história." Tentei uma última vez.
"O príncipe Armand não só já nos explicou tudo, como também pagou pelo mau comportamento dele com a joias mais raras encontradas em Sallsynt Guld. Isso é uma coisa boa, querida. Às vezes precisamos fazer sacrifícios para os quais não estamos preparados. Eu entendo bem disso."
"Entende mesmo?" Minha voz não soou mais alta do que um suspiro.