Capítulo 43
1153palavras
2023-05-11 00:02
Império Drakkon — Meio-dia
Ao abrir a porta da sala do trono, caminhei apressadamente até o meu pai, sentado em seu trono com um olhar desapontado no rosto enquanto ignorava seu conselho de anciãos.
Seus suspiros irritados não eram nenhuma novidade, tampouco sua decepção com o fato de eu me recusar a ser tratada como o resto das mulheres em meu reino, frágeis e submissas como cadelas treinadas, que sempre olhavam para os seus homens em busca de orientação e aprovação. Isso sem falar nas infames punições.
"Inara, seja qual for o problema que a tenha feito invadir de forma tão desrespeitosa minha sala no meio de uma reunião, é melhor que seja um caso de vida ou morte", meu pai rosnou com os olhos brilhando de raiva.
"É sim, pai. O último idiota que você considerou digno da minha mão é o problema. Eu preciso que ele vá embora."
"O último idiota, como você o chamou, é o príncipe herdeiro do reino Sallsynt Guld. O pai e o avô dele foram grandes reis e conquistadores. Seu reino têm o maior acúmulo de ouro e tesouros raros de toda região depois do nosso. Além do mais, ele vem de uma linhagem extremamente pura. O casamento entre vocês não só encheria todos os nossos ancestrais de orgulho, como seus filhos nasceriam puros e fortes, dando início a uma nova raça de guerreiros jamais vista antes. É disso que nosso reino precisa."
"Já ouvi essa história antes e entendo o seu ponto, mas isso não explica o porquê de ele esperar que eu abaixe a cabeça e busque sua aprovação para qualquer coisa que eu queira fazer. Ainda nem estamos propriamente noivos. É um absurdo!"
"Não tem nada de absurdo nisso. O seu comportamento, sim, é o verdadeiro absurdo! Nosso povo faz as coisas dessa forma há anos, mas você parece empenhada em destruir décadas de tradição. Embora seja a herdeira deste trono, você aparentemente se esquece disso, além de fazer um trabalho árduo para acabar com tudo o que me esforcei para construir. Eu temo pelo meu legado. Apesar de eu ainda ter fôlego para continuar, ele já está em frangalhos."
Eu abri e fechei minha boca algumas vezes, tentando encontrar o que dizer. Essa discussão não estava indo do jeito que eu esperava. Tentei ignorar os sussurros animados dos anciões, que nunca tinham visto meu pai me repreender tão publicamente, e falhei.
Embora ele fosse um homem de poucas palavras, hoje eu parecia tê-lo provocado para além do seu limite. Demorou, mas este dia chegou. Antes que pudesse organizar meus pensamentos e elaborar uma resposta, ele já estava brigando comigo de novo.
"Agora peça desculpas aos anciãos e desapareça de minha vista até que eu a chame. E no caminho para os seus aposentos, onde você deverá permanecer até segunda ordem, quero que peça desculpas ao príncipe Armand porque, se a conheço bem, tenho certeza de que o deixou plantado em um local público apenas para fazê-lo entender o quão indomável você é. Bom, este é meu decreto. Agora peça desculpas e dê o fora."
Ao me virar para os anciãos, que me encaravam presunçosamente, sussurrei com a voz embargada e um olhar cabisbaixo:
"Peço desculpas a todos vocês, meus anciãos. Perdoem-me."
"Para tudo tem uma primeira vez, mesmo que venha com um pouco de atraso", o segundo ancião, Talon, zombou.
"Antes tarde do que nunca", o terceiro ancião, Drake, acrescentou com uma risada.
"Você pode ir, princesa", o chefe do conselho, Tyson, disse em um tom debochado.
Com o rosto corado de vergonha e os olhos marejados, apressei-me em sair da sala do trono. Pelas risadas dos guardas que mantinham as portas abertas, com certeza eles haviam sido testemunhas da minha desgraça e não demoraria muito para que a fofoca se espalhasse por aí.
Rapidamente, localizei o príncipe, que por coincidência estava bem onde eu o havia deixado. No entanto, o número de pessoas vagando por ali era o dobro do habitual. O olhar presunçoso no rosto do cretino foi o suficiente para me informar de que ele já estava ciente do que havia acontecido.
Limpando minha garganta, endireitei meus ombros e, depois de fuzilá-lo com o olhar, murmurei em um tom morto:
"Peço desculpas pela forma como me comportei antes. Não vai acontecer de novo."
"Ah, tenho quase certeza de que não. Parece que seu pai ainda não perdeu o controle total sobre você", ele zombou.
"Cuidado com o jeito que você fala do meu pai."
"Como se você se importasse, já que é você mesma que está arrastando o glorioso nome dele pela lama. É uma pena que um rei tão grande e poderoso como o seu pai tenha sido amaldiçoado com uma herdeira igual a você. Ainda por cima, uma mulher."
"Se disser mais uma palavra, mandarei cortarem sua cabeça. Você pode falar mal de mim o quanto quiser, mas deixe meu pai fora disso."
Com essas palavras, fui embora antes que acabasse o matando ali mesmo. Eu até podia ser uma pirralha mimada ou qualquer outra coisa que eles achassem mais adequado me nomearem, mas meu temperamento não era brincadeira. Era normal eu apagar durante os meus acessos de fúria e raramente me lembrar do que tinha feito.
Meu povo chamava isso de "blodsvreden", que significava fúria do sangue, algo extremamente raro de ser encontrado em uma mulher. O último homem a ter essa condição nasceu há cerca de 5.000 anos e seu nome foi impresso com toda pompa em nossos livros de história, mas podia garantir que isso nada tinha a ver com suas boas ações ou temperamento dócil.
Conforme seguia as técnicas que meu instrutor me ensinou para me acalmar, cheguei rapidamente em meu quarto e fiquei muito feliz em poder fechar a porta atrás de mim. Meus aposentos eram o meu porto seguro, onde podia pensar e extravasar minhas emoções do jeito que quisesse.
Era meu único lugar de consolo, pois não havia ninguém para me julgar e tentar me ensinar a me submeter ou, melhor, a deixar que tirassem vantagem de mim quando sabiam que ninguém estava olhando. Eu não saberia dizer quantas vezes entrar no meu quarto e fechar a porta atrás de mim me livrou de situações que teriam sido bem desagradáveis.
Ao caminhar em direção à minha cama, joguei-me de bruços nela e senti a maciez e o frescor dos lençóis antes de soltar minha respiração, que nem sabia que estava segurando. Em seguida, inclinei a cabeça para poder ver a foto da minha linda mãe. O sorriso em seu rosto imediatamente colocou um no meu também. Só então me dei conta de o quanto precisava dela.
Como eu queria que ela estivesse aqui comigo. No entanto, eu sabia que poderia continuar desejando isso por toda eternidade que não mudaria nada. Minha mãe estava morta e não havia como ela retornar. Fechando os olhos, deixei o sono tomar conta de mim.