Capítulo 41
1799palavras
2023-05-09 00:02
Plaft!
Foi tudo o que ouvi antes de atingir o chão. Ao me levantar, balancei a cabeça para livrar meus ouvidos do zumbido que ainda escutava e olhei à minha volta.
Ah, ótimo! Fui trazido para a alcateia do meu pai.
"Xavier! Meu garoto!" Ouvi meu pai dizer, surpreso, enquanto caminhava na minha direção.
"Senti saudades", ele murmurou, puxando-me para um abraço.
"Também senti saudades, velho." Retribuí seu abraço e o suspiro que deixou meus lábios foi bem-vindo. Eu precisava do meu pai e daquele abraço mais do que pensava.
"Faz anos desde a última vez que coloquei meus olhos em você. Aquele negócio estranho de nos falarmos através de espelhos e vídeo chamadas não é a mesma coisa", afirmou ele, desfazendo nosso abraço.
"Olha esses músculos, filho. Estou com um pouco de inveja. Você não pode parecer mais forte do que seu pai. É contra a natureza."
"Bem, você está ficando velho, então..." Eu o provoquei. "Além disso, faz anos que não tenho um tempo só para mim."
"Ah, então, seu avô ainda está o pressionando com a coroação?"
"Sim! Ele mudou as datas. Deve acontecer em algumas semanas após o solstício."
"Não é muito cedo? Você quer que eu fale com ele?"
"Sim, é muito cedo, mas não quero que fale com ele. Não quero ver vocês brigando por minha causa de novo."
"Nós não brigamos, apenas concordamos em discordar de certas coisas. Ele até que consegue ser aberto a diálogo."
"Mas não é o caso dessa vez. Foi por isso que fui embora."
"Uau! Como assim você foi embora? Seu avô vai te encontrar! Você partiu sem falar com ninguém?"
"Bom, o tio Luke sabe. Na verdade, ele me ajudou a encontrar um jeito de meu avô não me achar, a menos que eu queira que ele me ache."
"Não sei se acho isso mais impressionante, assustador ou cômico!" Meu pai comentou com uma risada que não conseguiu reprimir. "Imagine ter todo o poder do universo apenas para ser enganado pelo seu próprio neto com algo tão pequeno como a habilidade de rastreá-lo? Eu queria poder ver a cara dele agora."
Não pude evitar a risada que escapou dos meus lábios. Fiquei contente por ver meu pai feliz. Ele passou por alguns anos difíceis depois do que aconteceu em relação à minha mãe e minha avó, portanto, era ótimo ver que ele havia superado isso.
Aquele foi um momento delicado tanto para ele quanto para sua alcateia. Eles tiveram que começar do zero, aprender a serem honestos e a confiarem um no outro novamente.
Além disso, eles tiveram que aprender a se apoiarem e conseguiram. Não foi um processo fácil, isso eu poderia afirmar, mas ver meu pai desse jeito me fazia crer que todos os seus esforços valeram a pena.
"Isso pede uma celebração. Vamos entrar. Como eu sempre disse, você tem um lugar nesta alcateia. Aqui também é seu lar", ele disse enquanto me guiava para dentro da sua casa.
"Eu sei, mas não posso ficar aqui. Preciso sair por aí e me encontrar. Cometer meus próprios erros e criar memórias antes que eu seja amarrado ao trono e o destino do mundo esteja em meus ombros, entende?"
"Eu entendo, filho, mas você sabe que pode recusar o trono, certo?"
"Eu sei, pai, mas ninguém o quer e meu avô precisa de uma folga."
"E quanto a você? Quer saber, vamos esquecer tudo e apenas comemorar o fato de você ter sido mais esperto do que seu avô, sem falar na sua viagem pelo mundo."
"Como você é engraçado, velho. Eu já estou no mundo, Agora, onde está Clarissa? Aquela diabinha já deveria ter sentido o meu cheiro."
"Eu não sou velho e Clarissa está em uma festa do pijama na casa de uma amiga."
"Quando foi que ela começou a frequentar festas do pijama? Falando nisso, há algum menino por lá?"
"Desde que ela atingiu a puberdade e não, nada de meninos. Já me certifiquei disso."
"Caramba, eu perdi muita coisa."
"Sim e já deixo avisado que ela vai te odiar se for embora sem se despedir dela."
"Eu sei! Vou passar onde ela está antes de cair no mundo."
"Não se esqueça de me escrever de vez em quando. Preciso saber que você está vivo e em segurança por aí."
"Pode deixar, pai. Eu não quero matá-lo de preocupação."
"Se fizesse isso comigo, eu te caçaria até a exaustão."
"Ha-ha! Você é realmente engraçado, velho."
"Pense como quiser, filhote."
"Eu não sou um filhote."
"Só porque está mais alto do que eu e seus músculos parecem montanhas, isso não te faz mais velho, filhote."
"Argh... Já chega!" Reclamei, soltando meu cabelo do coque.
Ao ver o sorriso presunçoso no rosto dele, revirei os olhos, fazendo-o finalmente cair na gargalhada.
"Clarissa vai me levar à loucura depois que você for embora. Por que o seu cabelo tem que ser tão perfeito? Não aguento mais ir de loja em loja atrás de xampus e condicionadores caríssimos para que o cabelo dela fique tão lindo quanto o seu. Não que eu ache o dela feio, só estou repetindo o que ela me diz."
"Bem feito! Você merece isso por ter me deixado louco alguns minutos atrás."
"Fique tranquilo. Posso sempre ameaçar deixá-la de castigo por meses ou tirar aquele celular do qual ela nunca desgruda. Vantagens de ser alfa, além de pai dela. Mas ser pai também exige que eu ceda facilmente quando ela me mostra seus olhinhos pidões. Nunca consigo resistir a eles, porém, como alfa, posso dar ordens que serão executadas sem culpa. É um ótimo negócio. Agradeço à Deusa por esses pequenos milagres."
"Aposto que Clarissa pensa diferente."
"Ah, com certeza. Mas é isso o que torna tudo mais divertido."
Passamos horas conversando sobre tudo e nada ao mesmo tempo, apenas curtindo os poucos instantes que nos restavam. Nós dois sabíamos que demoraria muito para nos encontrarmos de novo e poder ter um momento como esse.
De fato, levaria um bom tempo, mas ambos entendíamos que era preciso ser assim. Eu precisava disso. Era melhor tentar e falhar do que passar o resto da minha vida lamentando o que poderia ter sido.
Mais tarde naquela noite, depois que meu pai foi para cama, caminhei pelos corredores e olhei a casa pela última vez. O sorriso triste que meu pai me deu dizia muita coisa. Ele sabia que quando acordasse não me encontraria mais lá, e ele estava certo sobre isso.
Eu me permiti absorver todas as memórias que aquela casa me trazia. As boas, as ruins e as horríveis. Eu ainda sentiria falta deste lugar porque, além de ser um lar para mim, havia pessoas que eu realmente amava vivendo sob este teto.
Após fortalecer as barreiras de proteção ao redor da casa e da alcateia, sussurrei um adeus e abri um portal.
Ao atravessá-lo, fui parar na casa em que Clarissa deveria estar. Podia sentir sua essência com mais força ali. Deixando escapar uma série de rosnados e assobios, esperei que seus ouvidos supersensíveis os captassem.
O silêncio durou apenas alguns segundos antes de ouvir sons de passos descendo os degraus, saindo pela porta e vindo na minha direção.
"Xav!" A voz melodiosa de minha irmã chegou aos meus ouvido como se ela estivesse cantando meu nome.
"Clarissa, coelhinha!" Chamei-a de volta com um sorriso.
Então, eu a peguei em meus braços quando ela se jogou em mim. "Você cresceu tanto, coelhinha."
"E você não só cresceu, como ficou todo musculoso. Só não me faça falar do seu cabelo!"
Deixei uma risada escapar antes que ela terminasse de reclamar. Era sempre a mesma coisa. Meu cabelo sempre a irritava.
"Se você está tentando intimidar alguém com esse visual, saiba que não está funcionando. Na verdade, você parece incrivelmente fofa", provoquei-a.
"Xav!" Ela choramingou, embora eu pudesse ver o pequeno sorriso tentando escapar pelo canto de sua boca.
"Senti sua falta, coelhinha. De montão!"
"Eu também, Xav. Você quase não nos visita mais. No entanto, devo admitir que seus presentes me tiram o fôlego toda vez que encontro algum. Mesmo assim, nada se compara a tê-lo aqui conosco."
"Eu sei e isso só torna o que tenho para te contar ainda mais difícil."
"Por quê? O que houve? Você está machucado ou algo assim?"
"Não... Não é nada disso, coelhinha. Eu estou ótimo, mas eu vou partir."
"Você vai partir? Mas para onde?"
"Bom, ainda não tenho certeza. Tudo o que sei é vou ficar um tempo longe. Preciso viver minha própria vida para quem sabe encontrar o que está faltando dentro de mim."
"Eu... eu... eu... realmente gostaria que pudesse fazer isso aqui conosco, mas sei que é impossível. Apenas me prometa que avisará que está tudo bem de vez em quando."
"Eu prometo. Talvez eu até te leve para conhecer o reino humano quando chegar lá."
"É mesmo? Você está falando sério?"
"Claro, coelhinha. É o mínimo que posso fazer por minha irmãzinha."
"Argh... Não me trate como se eu fosse um bebê, Xav", ela disse com os olhos levemente marejados.
"Só faço isso porque tenho um fraco por você, minha coelhinha lobisomem."
"O que raios seria uma coelhinha lobisomem?"
"Você, é claro. Você é uma raça excepcionalmente rara e especial", respondi seriamente.
Ela me encarou por um bom tempo antes de bufar e fazer nós dois cair na gargalhada.
Era bom vê-la sorrindo e rindo desse jeito. Para mim, minha irmã era um símbolo de esperança. Ela foi concebida após uma enorme tempestade de dor e raiva que minha mãe deixou para trás. Meu pai conheceu a mãe de Clarissa quando achava que tudo estava perdido e a trajetória deles não foi nada fácil.
Enquanto ele estava em um caminho de autodestruição, ela esteve lá para ajudá-lo a todo instante. A princípio, meu pai resistiu a ideia por conta da culpa que carregava por um erro que poderia ter sido evitado. Portanto, a última coisa que ele pensou que precisava era de outra mulher, mas, cara, ele estava enganado. Eles enfrentaram tantas barras juntos, além de terem passado a se amar com muito fervor. Alguns anos depois, eles tiveram Clarissa, que foi a melhor coisa a acontecer conosco e com a alcateia como um todo, mas essa história ficará para outro dia.
Quando paramos de rir, coloquei um cacho perdido para trás de sua orelha e dei um beijo demorado em sua testa.
"Tenho que ir agora, coelhinha", sussurrei.
"Eu sei, cuide-se, Xav", ela disse com a voz embargada.
"Sempre, coelhinha. Entrarei em contato assim que me estabelecer", prometi.
Com um último beijo em sua testa, abri outro portal e passei por ele sem olhar para trás. Eu a ouvi fungar antes do portal se fechar por completo, mas não podia voltar para consolá-la. Tinha que seguir em frente.