Capítulo 29
1354palavras
2023-04-27 15:00
Ponto de vista de Chaos:
A reunião com a minha família sobre a condição do meu companheiro foi de mal a pior. Eles estavam irredutíveis quanto a ajudá-lo.
Na verdade, eles queriam incentivar o restante da família a machucá-lo ainda mais. Era como se, em sua sede por vingança, eles tivessem se esquecido que estávamos acasalados tanto dentro da cultura dele quanto da nossa, portanto, eu tinha que passar pelo mesmo inferno que ele toda noite.
Claro que em menor proporção. Embora eu pudesse fazer algo para amenizar a minha dor, este não era o ponto.
Eu podia odiar River pelo que ele fez e, em certo dias, queria até mesmo esganá-lo, mas não o queria morto. Não desse jeito.
Uma morte por tortura era uma morte sem honra.
Em algum momento durante a reunião, Kiara apareceu para nos dizer que River havia sido colocado em um coma induzido. Ela havia feito o melhor que pôde para curar o seu corpo e principalmente sua mente, que podia ser a parte mais afetada pela punição.
A mente era algo muito frágil e não havia sanidade mental que resistisse por muito tempo a maneira como minha família estava se vingando.
Eles sabiam como enlouquecer qualquer pessoa e podia apostar minha vida que era esse o objetivo deles.
No entanto, essa alcateia precisava de seu alfa são e salvo. Eles precisavam dele no estado de espírito certo para poder liderá-los e atender às suas necessidades.
Era a função do alfa protegê-los e tomar boas decisões para o melhor desempenho da alcateia. Nossa alcateia. E as necessidades dela precisavam vir na frente das nossas questões pessoais.
Depois de passar três horas tentando convencê-los do meu ponto de vista apenas para falhar miseravelmente, sugeri que fizéssemos uma pausa. No entanto, as coisas só pioraram a partir daí.
Tínhamos acabado de nos acomodar na sala de cinema, prontos para assistir a algum filme cafona que Lucien escolheu a fim de irritar nosso pai, quando um de nossos irmãos do submundo falou:
"Alguém me convocou para fazer um acordo, querendo que eu matasse Chaos amanhã."
"Como é que é? Quem di*bos se atreveu a fazer uma coisa dessas?" Nosso pai rosnou de raiva.
"Tricia Bennett."
Não pude deixar de cair na gargalhada ali mesmo, simplesmente não consegui me conter. Esta foi minha primeira risada genuína em dias e eu me senti muito bem depois disso.
Ironicamente, a mesma mulher que me fez sofrer estava me fazendo rir agora.
Ao olhar à minha volta, voltei a rir quando percebi meus irmãos reprimindo o próprio riso apenas para falharem.
Também podia ver a tristeza em seus olhos, mas isso não era nenhuma novidade.
"Eu tenho que admitir que ela é corajosa e determinada", comentei após me acalmar.
"Isto não é brincadeira, garotinha", meu pai me repreendeu.
"Ah, fala sério, querido! Até você sabe que isso é uma piada", minha mãe interviu em um tom de divertimento.
"Não a incentive. Qualquer ameaça é um assunto grave", justificou ele.
"E o que você disse a ela?" Luke perguntou baixinho.
"Eu dei corda, claro. Queria ver até onde ela iria e, cara, ela estava determinada. Então, eu disse a ela que faria o serviço amanhã desde que ela me trouxesse como forma de pagamento sete homens e mulheres, além das duas pessoas que ela mais gostava."
"Isso é simplesmente ridículo", o outro ao lado dele gritou.
Desta vez, nenhum de nós nos contivemos e caímos na gargalhada.
"Esse é um pedido bobo. O que você vai fazer com essas pessoas?" Lucien perguntou, curioso.
"Vou levá-los para casa."
"Você sabe..." Papai começou a falar, mas foi interrompido.
"Eu sei, papai, mas tive uma visão que não devo contar ainda. A única coisa que posso dizer é que para as coisas darem certo, Chaos terá que morrer."
"Morrer? Isso é fácil", respondi de forma petulante.
"É mesmo, não é?" ele devolveu.
"Isso é um absurdo", mamãe gritou. "Você sabe que pode fazer isso sem que Chaos morra, certo?"
"Nós sabemos, mas cadê a diversão nisso?" Eles responderam em sincronia, o que sempre me assustava.
Ao olhar para o meu pai, percebi que ele e meus irmãos se encaravam e soube, então, que eles estavam se comunicando telepaticamente.
"Argh! Então, qual é o plano?" Mamãe deu o braço a torcer.
"Isso! O plano é o seguinte, Chaos terá que..."
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No terceiro dia após o acordo...
Ponto de vista de Alfa River:
Estava em coma há não sei quanto tempo. Embora eu estivesse meio consciente, não tinha nenhum controle sobre o meu corpo. Eu podia ouvir e sentir tudo ao meu redor, mas não conseguia acordar ou abrir os olhos.
Os últimos dias foram os mais tranquilos da minha vida e já ansiava por mais como estes. Desde que minha companheira apareceu, ordenando aos médicos para saírem de cima de mim, não tive mais notícias dela. No entanto, ouvi Matthews dizer que sua família veio lhe visitar e a alcateia estava em semi-quarentena por conta disso.
Por alguma razão, ele não me disse o motivo ou simplesmente não sabia qual era.
Meu lobo Kaeden, que estava se recuperando muito bem e vinha tagarelando bastante ultimamente, hoje parecia bastante quieto. Tentei puxar conversa com ele apenas para receber alguns gemidos de partir o coração. Eu insisti e o sondei até que ele ficou irritado e fechou o canal de comunicação entre nós.
Resolvi deixá-lo para lá e descansar um pouco, mas nunca tive a chance.
Uma dor excruciante atingiu meu peito até chegar no fundo da minha mente. Parecia que alguém estava tentando arrancar minha alma para fora do corpo. Antes que eu pudesse me conter, um grito deixou a minha garganta e meus olhos se abriram, porém, não consegui ver nada. Podia sentir as lágrimas escorrerem pelo meu rosto livremente enquanto os gritos continuavam.
Embora tivesse ouvido passos e vozes vindo na minha direção, não consegui entender o que diziam. Parecia que minha cabeça estava debaixo d'água, bem no fundo. Não importava o quanto eu tentasse, não conseguia clarear minha mente.
Não sabia dizer por quanto tempo eu chorei e gritei antes do meu desespero se converter em meras fungadas e choramingos. No entanto, a dor ainda estava lá e provavelmente pior do que antes. Era como se uma parte de mim tivesse ido embora e eu não conseguisse mais me acalmar ou raciocinar.
Respirando fundo, eu me forcei a me acalmar o melhor que pude dentro das circunstâncias e me permiti pensar. Não foi necessário refletir muito diante do estranho e terrível silêncio que encontrei do outro lado do meu vínculo com a minha companheira.
Por mais que tivesse chamado Chaos várias vezes, não obtive nenhuma resposta além do eco criado pela minha própria voz.
Reunindo a pouca força que ainda me restava, tentei não entrar em pânico ao me levantar da cama e ficar de joelhos sobre ela. Provavelmente havia sido colocado para descansar de bruços para que os lençóis da cama não atrapalhassem a cicatrização das minhas costas, que com certeza ainda estavam em carne viva.
Assim que me estabilizei e me senti confiante o suficiente para caminhar sem cair e fazer papel de bobo, coloquei meus pés no chão.
Ignorei todas as pessoas ao meu redor, tentando argumentar comigo para que eu continuasse deitado, e fui em direção à porta apenas para ser parado pela minha mãe, que parecia mais abalada do que nunca.
"O que há de errado, mãe? Por favor, responda", Perguntei com a voz trêmula.
"Eu sinto... sinto muito", ela sussurrou entre soluços.
"Pelo que você sente muito? O que aconteceu?" Gritei, segurando os braços dela. Embora eu tivesse uma vaga ideia do que havia acontecido, poderia estar errado, então, precisava de uma resposta.
"Tudo, filho. Eu sinto muito por tudo", ela sussurrou novamente.
"Pelo amor de Deus, mãe! Diga-me o que está acontecendo ou saia do meu caminho para que eu possa descobrir."
"Chaos... ela... ela... foi... assassinada. Chaos está morta."
Ouvir a confirmação das minhas suspeitas foi como levar uma facada no meu coração.
Caindo de joelhos, não consegui pensar em mais nada enquanto podia sentir meu corpo todo dormente.