Capítulo 28
2688palavras
2023-04-24 09:49
Ponto de vista de Chaos:
Fiquei parada em estado de choque depois que River desmaiou. Tia Persie e eu tínhamos uma relação de amor e ódio porque nunca concordávamos na maioria dos assuntos.
Saber que ela tinha dilacerado as costas do meu companheiro por mim me trouxe uma sensação de amor e respeito por ela.
Tia Persie era conhecida por não se importar com ninguém além de seu marido, meu tio Hades, e seus filhos.
Para ela deixar suas coisas de lado apenas para me vingar, colocou um sorriso no meu rosto. De repente, alguém me sacudiu, tirando-me dos meus pensamentos.
Ao me virar, encontrei Matthews olhando para mim com lágrimas escorrendo em seu rosto.
"Por favor... Por favor", ele implorou, rouco.
"Matthews... É..." Eu tentei explicar.
"Ele vai morrer se isso continuar", ele sussurrou antes de desmoronar.
Com gentileza, eu o puxei para os meus braços e não demorou muito para que ele começasse a chorar copiosamente. Levei-o para o canto mais distante do quarto enquanto Kiara e os médicos trabalhavam para estancar o sangue de River que escorria sem parar.
Kiara o curou o máximo que pôde, deixando-o aos cuidados dos médicos, antes de sair.
Eu assisti inexpressivamente conforme os amigos de River corriam para dentro do quarto apenas para saírem outra vez quando se deparavam com a condição dele.
Eu podia ouvir alguns deles esvaziando o conteúdo de seus estômagos nos banheiros próximos, mas a reação da mãe dele foi a pior de todas.
Ela gritou com lágrimas escorrendo pelo rosto antes de desmaiar. Até agora não tinha visto nem sombra de Gregory e não pude deixar de me perguntar onde ele estava.
Ele não dava as caras desde aquela noite na sala de conferências e eu sabia que ele não estava no território da alcateia.
Tinha certeza que ele precisava de um tempo longe para pensar e absorver tudo o que aconteceu. Por mais que pudesse parecer indiferente, de algum jeito, eu sentia pena de River.
Estávamos completamente acasalados, então, sabia o quanto ele estava sofrendo. A dor excruciante nas minhas costas era prova suficiente disso, mas também não era nada que eu não pudesse aguentar.
A dor de ver River e Tricia juntos era muito pior do que essa que estava sentindo agora e se eu consegui lidar com ela, então, com certeza, poderia lidar com isso.
De repente, Matthews limpou a garganta, atraindo a minha atenção. Ao me virar para ele, precisei conter uma risada diante do olhar envergonhado em seu rosto.
"Podemos conversar agora?", perguntei calmamente.
"Hum... Sim", ele respondeu enquanto olhava para todos os lados menos para mim.
Eu o deixei passar à minha frente, então, fiz um gesto para que ele assumisse a liderança. Ao caminharmos pelo corredor, vimos várias pessoas de luto.
Eles inclinaram a cabeça quando nos viram, então, voltaram aos seus afazeres.
A maioria me lançou olhares de pena conforme eu passava, mas fingi não ver nada. Já alguns foram ousados o suficiente para me parar e me oferecer palavras de encorajamento. Ah, se eles soubessem...
Matthews e eu levamos o dobro do tempo para chegarmos do lado de fora do que normalmente levaríamos. Em seguida, fomos direto para a floresta.
Caminhamos por alguns minutos antes de pararmos em frente a uma cachoeira.
"Eu não fiz isso com ele, Matthews. A notícia se espalhou em meu reino e minha família está com raiva. Eles estão vindo atrás dele com ou sem a minha permissão." Fui direto ao ponto.
"E o que podemos fazer para ajudá-lo?"Ele perguntou com a voz rouca.
"Curá-lo toda vez que houver um ataque... Mas meu pai e minha família estarão aqui hoje mais tarde. Talvez haja algo que eles possam fazer. Mesmo assim, não posso te dar muita certeza disso.
"Minha família ainda está com muita raiva de River. Seria preciso uma intervenção divina antes que meus parentes considerassem ter pena dele. Eu sei que parece exagerado, mas ele me machucou, Matthews."
"Eu sei, Chaos. O que ele fez com você foi errado em muitos níveis e eu não desejaria isso para nenhuma mulher, mas...
"Isso já está indo longe demais. Parecia que algum animal atacou as costas deles, sem falar na quantidade de sangue que ele perdeu. Nem Kaeden estava conseguindo curá-lo.
"Meu lobo, Barry, tentou contatá-lo também, mas ele só obteve gemidos e rosnados fracos como resposta."
"Eu sei. Havoc me disse a mesma coisa, mas meu pai estará aqui em breve e espero que ele possa nos ajudar de alguma forma."
Quando Matthews abriu a boca para dizer algo, senti uma mudança repentina no ar. Uma sensação de lar tomou conta de mim, enviando ondas suaves por todo meu corpo normalmente tenso.
"Eles chegaram, Matthews", sussurrei conforme um sorriso genuíno aparecia no meu rosto.
"Quem chegou?" Ele perguntou com o cenho franzido.
"Minha família, seu bobo. Droga! Peça a todos para irem para os seus quartos e não saírem de lá até que eu diga... Vamos, Matthews, mexa-se! Vou procurar de onde eles abriram o portal."
"Por quê?"
"Apenas faça o que estou mandando. Mais tarde explico", ordenei antes de seguir na direção em que minha intuição me puxava.
Não demorou até que eu chegasse ao meu quintal e os encontrasse dentro da minha casa totalmente à vontade.
"Papai!" Eu gritei ao me lançar em seus braços abertos.
"Minha garotinha... Eu senti sua falta", ele murmurou em meu cabelo.
"Também senti sua falta, papai", respondi baixinho.
"Ei! Nós também sentimos falta dela. Não a monopolize, papai!" Duas vozes familiares gritaram com indignação.
Ao me virar com um sorriso alegre, caminhei em direção àquelas vozes que conhecia tão bem.
"Senti tanto a falta de vocês", sussurrei com a voz entrecortada antes de me jogar nos braços deles.
Suspirei baixinho quando eles me envolveram em um abraço apertado e não pude deixar de perceber o sorriso triste que eles me deram. Sabia que estavam sofrendo por mim e se sentindo culpados por não poderem me ajudar.
No entanto, eu compreendia. Se era assim que a Deusa da lua e o destino queriam, assim teria que ser. Não havia que eles pudessem fazer sem perturbar o equilíbrio deste mundo.
"Sentimos sua falta também", eles responderam naquela estranha voz combinada que nunca deixava de me assustar. Como eles sabiam muito bem disso, eles faziam de propósito.
Eu tinha reclamado certa vez sobre isso. Entretanto, eles me disseram com orgulho que, como eu não era uma garota fácil de intimidar, eles continuariam a falar desse jeito apenas para poderem se vangloriar com seus amigos e servos de que foram capazes de me assustar.
Eu realmente tinha nascido em uma família de gente louca. Estávamos abraçados ainda no instante em que minha mãe e meus irmãos invadiram a sala com sorrisos largos em seus rostos.
Era sempre uma grande alegria quando o restante da nossa família conseguia se juntar a nós neste reino, por mais breve que fosse o nosso reencontro.
Assisti dos braços que ainda estavam em torno de mim Luke e Lucien correrem para abraçar nosso pai.
Eu podia distinguir vagamente Luke, cujos ombros estavam tremendo. Ele sempre ficava muito emocionado quando via nosso pai.
Eu diria que ele foi o mais afetado depois da partida do nosso pai, mas era difícil saber ao certo porque ele nunca falava sobre o assunto e bastava alguém mencioná-lo para ele se fechar em copas.
Minha mãe olhou para os meus outros dois irmãos com um sorriso emocionado no rosto. Nem percebi que eles não estavam mais me abraçando até vê-los a alguns passos de distância.
"Mamãe, sentimos saudades", eles cochicharam, trêmulos, enquanto se aproximavam dela.
"Eu também senti saudades suas, meus bebês. Vocês cresceram tanto", ela respondeu antes de começar a chorar.
Fora momentos como este, ela raramente se emocionava desse jeito.
"Desculpe não termos vindo antes, mas tínhamos que ter certeza de que conseguíamos nos controlar. Valeu a pena porque agora estamos aqui te abraçando, mamãe. Prometemos vir mais vezes."
"Vou cobrar vocês, queridos. As portas da nossa casa neste reino estarão sempre abertas para vocês."
Em silêncio, eles se aconchegaram mais nos braços de nossa mãe até que nosso pai os interrompeu. Sem dizer uma palavra, ele estendeu a mão e a libertou das garras deles antes de cobrir os lábios dela com os seus quentes.
Aff! Eles eram muito melosos. No entanto, já estávamos tão acostumados a vê-los assim que nem nos incomodávamos ou ficávamos enojados com isso.
Assistimos a cena, entediados, conforme papai empurrava mamãe contra a parede mais próxima e devorava seus lábios como um homem faminto.
Para falar a verdade, ele era mesmo um homem faminto, visto que ele não via sua companheira há um bom tempo e costumava permanecer celibatário até poder estar com ela novamente.
Existia uma parte dele que adorava a espera. Ele dizia que o prazer quando adiado era mais gostoso no final.
Argh! Não queria nem pensar sobre isso. Ao ouvir alguns xingamentos, fui rapidamente trazida de volta à realidade.
Olhando à minha em volta, suspirei alto quando vi o motivo pelo qual meus irmãos estavam xingando. A blusa da minha mãe estava desabotoada até a metade e o robe preto do meu pai estava caído no chão.
Vestindo apenas suas calças de couro preta, as tatuagens em suas costas estavam completamente à mostra.
Olhei em volta novamente apenas para encontrar quatro pares de olhos sobre mim, exigindo que eu separasse os dois pombinhos.
Eles sempre faziam isso, pois sabiam como nosso pai ficava quando era interrompido. Afinal, ele se certificaria de empatar a f*da de qualquer um com uma vida sexual ativa.
E ele faria isso da maneira mais dolorosa possível. No meu caso, eu nunca tive uma vida sexual ativa e não viria a ter tão cedo.
Eis o motivo de meus irmãos serem tão gentis ao me darem a honra de cumprir essa missão... Sim, estava sendo sarcástica.
Dei um passo à frente e separei meu pai da minha mãe antes de me colocar entre os dois. Caso contrário, ele voltaria a agarrá-la apenas para eu ter que pará-lo outra vez.
"Agora não, garotinha", ele rosnou com seus olhos vermelhos e brilhantes fixos na bagunça ofegante atrás de mim.
"Sim, papai, agora não. Você veio até aqui por um motivo e seria bom se a gente focasse nele. Depois você pode levar minha mãe para casa e f*dê-la o quanto quiser, sem ninguém para perturbá-los", afirmei categoricamente.
"Argh. Que se dane! Tudo bem, vamos terminar aqui para que eu possa finalmente ficar com a minha mulher. E eu sei que todos vocês mandaram Chaos nos importunar de novo. Estou avisando, irei retribuir na mesma moeda e vocês sabem que eu cumpro o que digo. Seu bando de empata f*das!" Meu pai encarou a todos eles que estremeceram e grunhiram sob o seu olhar.
"Bom, não tivemos outra escolha. Afinal, somos seus filhos, pai supremo de todos os empata f*das. Não nos esquecemos do que você fez conosco na nossa adolescência", Lucien retrucou de forma atrevida.
"Ah, como eram bons aqueles tempos!" Papai suspirou.
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Ponto de vista de Tricia:
Após fazer o acordo com a figura encapuzada, voltei para a casa que estava hospedada na alcateia Lua vermelha.
Então, tomei um tempo para refletir mais uma vez sobre o que estava fazendo e, para ser franca, isso só me deu mais vontade de seguir em frente.
Alfa River era meu antes daquela v*dia fazer sua cabeça. Ele não só me desejava, como me amava também. No entanto, a cretina da sua companheira fez questão de ir adiante com a cerimônia de união, mesmo sabendo que ele não queria nada com ela.
O fato de ela ter tomado meu companheiro e meu útero de mim não fez nada para reprimir meu amor por Alfa River e meu ódio por ela, que só aumentava mais e mais a cada dia que passava.
Por que ela teve que tirar minha felicidade de mim?
Por mais que entendesse que ele era o companheiro dela, isso não significava que ela poderia ficar com ele só para si. Afinal, esse homem era o meu primeiro amor, minha fortaleza, e eu faria qualquer coisa para que isso jamais mudasse, mesmo que fosse às custas de algumas vidas infelizes.
Este era um mal necessário, um sacrifício a ser feito para uma causa digna.
Ter me tornado estéril partiu mais meu coração do que eu deixava transparecer. A verdade era que sempre desejei ter um filho, um serzinho adorável para me chamar de mãe.
O tanto que eu sonhei com pequenas versões minhas e de Alfa River correndo por aí com sorrisos enormes nos rostos e sem nenhuma preocupação no mundo, mas agora isso havia se tornado um sonho impossível.
Nada disso poderia mais acontecer por culpa de uma v*dia louca por poder.
Minha vida estava uma bagunça, mas acreditava que se tivesse Alfa River de volta, tudo melhoraria. Entretanto, a v*dia em questão não parava de se intrometer.
Mesmo quando eu fechava os olhos para relaxar, dormir ou apenas porque queria fechá-los por um segundo de m*rda, ela estava lá.
Será que ela não podia me dar um tempo?
Eu mal dormia e comia, sem falar que já estava ficando paranoica e assustada o tempo todo. Ah, e a cada duas noites, eu recebia a maior surra da minha vida.
Não importava se eu estivesse dormindo ou acordava, nunca paravam de me bater.
Os vergões nas minhas costas eram lembretes constantes do que acontecia. Embora minha loba viesse tentando me curar, havia muito pouco que ela podia fazer.
Minha vida havia se tornado um maldito pesadelo, mas tinha certeza de que tudo terminaria quando ela finalmente morresse. Então, ela iria se dar mal.
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Hoje marcava o segundo dia desde que fiz o acordo com a figura encapuzada e minhas emoções estavam à flor da pele. Estava ansiosa, nervosa, animada e, acima de tudo, esperançosa.
Eu estava cheia de esperanças por um futuro brilhante ao lado do meu primeiro amor e por noites sem pesadelos... Amanhã marcaria o início de um novo começo.
Recuperaria meu amado e tomaria meu lugar de direito como luna ao livrar este mundo daquela monstra que todos chamavam de Chaos.
Apesar de saber que Alfa River ficaria triste com o rompimento do vínculo, eu estaria lá para ajudá-lo a superar isso. Então, poderíamos retomar de onde paramos.
Mesmo eu sendo estéril, sempre poderíamos adotar ou usar uma barriga de aluguel para dar a ele e a alcateia um herdeiro.
Depois de arrumar tudo e cumprir todos os requisitos, os jovens que escolhi não faziam a menor ideia de que aquela seria a última viagem de suas vidas.
Quanto às duas pessoas de quem mais gostava, com certeza, meus escolhidos seriam meus pais.
Eles eram os dois únicos lobisomens com quem mais me preocupava além de Alfa River. Sabia que seria cruel sacrificá-los, mas tudo o que fazia era para o bem maior e a minha felicidade.
E como tinha certeza que meus pais fariam qualquer coisa por mim, eu me senti na liberdade de usá-los sem pedir permissão.
Dessa forma, passei os últimos dias e noites, imaginando como Chaos iria morrer. Será que ela imploraria por sua vida ou morreria sem ao menos perceber?
Eu gostaria de poder estar lá para assistir, mas isso me traria problemas, os quais não precisava agora.
Ao me aproximar da janela, dei um leve sorriso para o belo pôr do sol à minha frente. Tudo iria ficar bem.
Depois de amanhã, as coisas iriam se encaixar como deveriam e não demoraria muito para que Chaos fosse esquecida e se tornasse nada além de uma memória distante.
No fundo, sabia que estava fazendo um enorme favor ao mundo.
Em seguida, voltei para a cama e me aconcheguei, aproveitando a maciez do colchão, travesseiros e cobertor.
Esta noite eu iria para a cama com um enorme sorriso no rosto, pouco me importando que ainda receberia a visita daquela bruxa pela última vez em sua vida, sem que ela sequer soubesse disso.
Rapidamente, tentei cair no sono o quanto antes, pois amanhã o show começaria para uns e terminaria para outros.