Capítulo 27
1805palavras
2023-04-23 14:01
Ponto de vista de Alfa River:
Acordei ao som de bipes constantes. Depois de abrir os olhos, tive que piscá-los um pouco antes de conseguir perceber meus arredores.
No fim das contas, eu estava no meu quarto com um monitor cardíaco e um suporte de soro ao lado da minha cama.
E agora?
Fechei os olhos para voltar a dormir quando, de repente, ouvi uma movimentação no meu quarto.
Ao me virar, deparei-me com os olhos cheios de lágrimas de Matthews e uma Kiara surpreendentemente preocupada, sentada na beira da minha cama.
"Eu morri, não é?" Perguntei, ansioso.
"Não, por que você diria isso?" Matthews indagou, irritado.
"Kiara está aqui com um olhar preocupado no rosto, então, fiquei apreensivo", retruquei.
"Sabe, River, você não gosta de mim e o sentimento é mútuo. O que você fez machucou tanto minha prima que talvez ela nunca se recupere disso.
"O problema é que não foi só a Chaos que você machucou, mas toda a nossa família. E se tem uma coisa que eu sei sobre nossos parentes é que eles são um bando de cretinos sádicos que sabem guardar rancor.
"O que aconteceu hoje foi um ataque direto da nossa terra natal. Não sabemos quem exatamente está por trás disso, mas tenho certeza que foi um de nossos parentes.
"Conforme a notícia se espalha, mais deles virão atrás de você. Mesmo que eles não possam matá-lo, tenho certeza de que irão torturá-lo até a morte.
"E é isso o que me preocupa. Por mais que você tenha errado e precise pagar pelas consequências dos seus atos, isso já tomou outra proporção. Eles estão vindo atrás de você."
Atordoado, não consegui dizer nada. Estava com muito medo. Afinal, o que senti hoje não foi brincadeira. Parecia que duas mãos tinham agarrado meu coração e o puxado.
Isso não era mais apenas sobre minha companheira e eu, mas sim sobre a família inteira dela que estava vindo atrás de mim. Esse tipo de devoção e lealdade era algo assustador.
Eu não sabia mais o que dizer ou fazer, até porque não fazia ideia de onde viria o próximo ataque. O medo do desconhecido era maior e mais perigoso do que qualquer outra coisa.
"Diga alguma coisa", Matthews sussurrou, trêmulo.
"Eu... eu não sei o que dizer ou... ou fazer", gaguejei.
"Bom, vamos deixar você descansar. Meu tio está vindo e posso garantir que não vai ser nenhum parque de diversões o que acontecerá aqui", Kiara respondeu indiferentemente.
"Rei Chaos?" Matthews questionou com a voz rouca.
"Sim, querido. Ele vem aí e ninguém pode impedi-lo", Kiara o respondeu.
"Onde está Chaos?" Perguntei baixinho.
"Ela está lá fora conversando com o tio Hefesto e seus irmãos. A mãe dela também chegará logo."
"Legal, a família toda vai estar aí", resmunguei sarcasticamente.
"Ah, espere até o pai dela chegar, aí sim, a família toda estará reunida."
"Hum, vocês podem sair um pouco? Eu gostaria de ficar sozinho por um instante."
Sem dizer uma palavra, eles saíram pela porta e não pude deixar de notar os olhares de pena em seus rostos. Se Kiara parecia preocupada e até com dó de mim, então, eu estava em uma enrascada muito maior do que pensava.
Meu cérebro estava fritando de tanto que eu pensava e meu coração parecia concordar. O bipe alto vindo da máquina ao meu lado era prova o suficiente disso. Sendo assim, não demorou muito até alguns médicos entrarem correndo no quarto para verificar o que havia de errado.
Eu estava tão entorpecido que apenas continuei deitado na cama, olhando para o teto enquanto cuidavam de mim.
Depois de me bombardearem de perguntas e não obterem nenhuma resposta, eles decidiram me dopar com uma tonelada de sedativos.
Eles não sabiam, mas eu estava enormemente grato por ter sido dopado. No entanto, meu sossego não durou muito, pois mesmo dormindo, fui caçado.
Assisti dentro da minha própria cabeça enquanto uma senhora de olhos vermelhos serpenteava ao meu redor com um chicote terrível na mão.
Tentei desviar, apenas para perceber que não conseguia me mover. Então, não pude conter meus gritos quando o chicote estalou nas minhas costas.
A dor era algo de outro mundo, mas ela não parou por aí. Ela continuou me chicoteando como se eu fosse apenas um pedaço de carne e não uma pessoa. No mínimo, meus gritos estavam a deixando excitada, pois conseguia sentir o cheiro sufocante da sua lubrificação no ar.
Como ela poderia ficar excitada em dilacerar minhas costas com sangue espirrando por toda parte? Perdi totalmente a noção do tempo conforme eu caía e perdia a consciência de novo e de novo.
Não consegui nem emitir um suspiro de alívio quando ela pareceu ter acabado de me torturar. Ela ainda tinha um sorriso doce, porém, doentio no rosto enquanto dobrava o chicote e caminhava em minha direção.
"Isso foi divertido, mas vai demorar um pouco até nos vermos novamente porque ainda há muitos de nós na fila. Portanto, certifique-se de continuar vivo até lá. Ah! E diga a Chaos e Kiara que a tia Persie mandou um oi."
No momento seguinte, ela desapareceu bem diante dos meus olhos, então, acordei com uma tremenda confusão e ao som de gritos. Levei um momento para perceber que era eu mesmo quem estava gritando.
Eu não conseguia ver nada além da minha própria dor. Sempre que tentava erguer minhas costas da cama, os médicos simplesmente me empurravam de volta. Levantei minha mão para tentar tirá-los de cima de mim apenas para vê-la coberta de sangue. Meu sangue.
Em um misto de desespero e frustração, abri o canal de comunicação mental entre minha companheira e eu novamente.
"Por favor, tire os médicos de cima de mim. Minhas costas estão em frangalhos. Estou morrendo de dor. Eu te imploro."
Assim que fechei o canal, suspirei de alívio quando Chaos e Kiara invadiram o quarto no segundo seguinte.
"Saiam de cima dele, seus idiotas. Não vêem que suas costas estão sangrando? Parem de empurrá-lo contra a cama!" Chaos rosnou friamente.
Imediatamente, os médicos me soltaram e eu aproveitei para erguer as costas do colchão, ignorando os suspiros de horror que ecoaram pelo quarto enquanto tentava sair da cama.
"O que di*bos aconteceu aqui?" Kiara indagou.
"Sua tia Persie mandou dizer oi." Foi tudo o que consegui dizer antes de desmaiar novamente. Graças aos deuses, desta vez, fui deixado em paz.
Finalmente!
Ponto de vista desconhecido:
Duas figuras se encontravam nas sombras, encarando uma a outra. Uma parecia espantada e a outra entediada. Uma era mortal e a outra imortal. Uma podia ser vista claramente e a outra vestia uma túnica, escondendo sua identidade. O invocador e o convocado estavam prestes a selar um acordo.
"Por que você me convocou?" Questionei petulantemente.
"Eu quero fazer um acordo", A vira-lata insignificante respondeu com firmeza.
"Um acordo? Você não tem nada para me oferecer, Tricia Bennet. Você é uma mulher estéril e sem companheiro. O que poderia me dar em troca?"
"Isso é tudo culpa daquela v*dia. Mas eu juro que te dou qualquer coisa se me ajudar. Por favor."
"Se eu fosse você, prestava bem a atenção em como fala da minha princesa na minha frente. Eu sei que ela é insuportável na maior parte do tempo, mas quem de nós não somos? Além do mais, você teve o que mereceu. Quero dizer, eu teria te matado pessoalmente sem pensar duas vezes se tivesse sido comigo."
Eu ri baixinho quando ela deu um passo para trás. Isso era bom. Ela estava prestes a acordar para a realidade da forma mais rude possível.
"Ah... Chega disso. Enfim, você pode me ajudar?"
"O que você tem a oferecer? Afinal, você está me pedindo para realizar alta traição. Matar minha princesa é uma missão quase impossível. Não irei sequer cogitar essa ideia a menos que me dê algo que valha a pena."
"Eu te darei minha alma", ela respondeu desesperadamente.
"Eu odeio te dizer isso, querida, mas sua alma não vale muito com essa marca nela."
"Que marca?"
"A marca da maldição que a princesa colocou em você. Depois que morrer, sua alma se tornará minha escrava e do meu povo para sempre. Por enquanto, curta a experiência de ser a v*diazinha dela. Suas costas cheias de cicatrizes jamais verão dias melhores."
"Aquela v*dia horrorosa! Como eu a odeio! Quem ela pensa que é? Ela tirou tudo de mim!"
"Bom, você tirou a coisa mais importante da vida dela. Ela está apenas retribuindo o favor. Preciso lembrá-la de que ela é a princesa do nosso reino e isso representa 99,9% da droga do mundo todo? A propósito, não se preocupe em odiá-la, pois o sentimento é mútuo. Ela te odeia ardentemente."
"Por que está falando assim?"
"Assim como?"
"Desse jeito arrogante, sarcástico e malicioso? Você está lidando com isso como se fosse uma piada!"
"Em primeiro lugar, isso é uma piada. Na verdade, você é uma piada. Em segundo, você me convocou aqui, portanto, não se esqueça que é você quem precisa de mim. Não o contrário. Inclusive, posso te deixar em paz agora."
"Não... Não... Por favor... Eu sinto muito. Então, o que você quer? Faço qualquer coisa!"
"Tá, eu quero a cabeça do seu alfa em uma bandeja de prata."
"O quê? Não! Tudo o que estou fazendo é para finalmente poder ficar com ele. Você não pode tirá-lo de mim. Peça qualquer outra coisa, por favor!"
"Hum, você realmente o quer muito, hein? Tenho pena de você por se iludir tanto."
"O que quer dizer com isso?"
"Nada que seu cérebro de pombo vai entender."
"Pare de me insultar!"
"Não estou te insultando, é apenas a verdade. De qualquer forma, quero sete mulheres e homens com idades entre dezoito e vinte e cinco anos. Além disso, traga-me as duas pessoas de quem você mais gosta. Eu os quero totalmente ilesos e prontos para mim em três dias. O trabalho precisa estar feito até lá."
"Isso deve ser fácil. Vou conseguir para você... Obrigada. Bom, qual é o seu nome?"
"Meu nome? Eu até poderia lhe dizer, mas não é a hora certa. Quando nosso acordo for concluído, eu te direi."
"Tudo bem. Vejo você em três dias."
"Até mais Tricia Bennet" Com essas palavras, desapareci da frente dela e retornei ao meu reino.
De fato, era tudo verdade o que me falaram dessa Tricia. Ela era uma v*dia conspiradora e duas caras. Chaos devia tê-la matado quando teve a chance.
Ao ir direto para a sala do trono, abri as portas sem bater. Um sorriso apareceu no meu rosto quando encontrei o rei em uma discussão acalorada com seus irmãos.
"Pai..." Eu o chamei enquanto me aventurava mais a fundo na sala.
"Ah, você já está de volta", comentou ele com um leve sorriso no rosto.
"Sim, pai... Vamos dar início a esse espetáculo."