Capítulo 20
1893palavras
2023-04-19 18:00
Ponto de vista de Alfa River:
Ao me acompanhar até a porta do quarto de Chaos, a médica soltou um suspiro de surpresa que deixou claro que o que havia acontecido não era normal.
Eu andava de um lado para o outro em frente ao vidro que dava para o quarto enquanto a médica fazia um exame completo nela antes de fazer uma ligação.
Pelo jeito respeitoso, porém, frenético que ela falava, soube que ela havia ligado para alguém da família de Chaos.
Não pude deixar de ter um mau pressentimento quanto a isso. Eu queria entrar e confortar minha companheira, mas sabia que não conseguiria.
Aquele maldito feitiço que seus irmãos colocaram no quarto estava fazendo um ótimo trabalho em impedir a minha entrada.
Eu estava perdendo a cabeça. Não podia continuar parado do lado de fora enquanto minha companheira estava deitada em uma cama de hospital do outro lado da porta.
Respirando fundo, abri a porta sem hesitar e, de olhos fechados, corri para dentro.
Esperei ansiosamente pela dor que viria a seguir, mas nada aconteceu. Então, abri os olhos com cuidado e sorri ao perceber que tinha conseguido entrar no quarto sem sentir que estava prestes a morrer por isso.
Rapidamente, caminhei em direção à minha companheira e não pude conter o suspiro chocado que deixou meus lábios.
"Ela vai ficar bem?" Perguntei à médica baixinho.
"Eu realmente não sei, senhor", ela respondeu sem me encarar.
"Por que ela está assim?"
"Gostaria de poder lhe dizer, mas não é minha história para contar. Você terá que esperá-la acordar para que ela mesma lhe conte."
"Entendo, mas... não gosto de ficar no escuro. Se ela não acordar até amanhã, fará um mês que ela está de coma e eu ainda não faço ideia do que diabos há de errado com ela. Isso já está me matando."
"As coisas vão melhorar, não perca as esperanças."
"Tá."
Depois de me sentar na cadeira vazia em frente a sua cama, observei minha companheira com atenção. Era a primeira vez que a via de perto em três semanas.
Quanto mais eu olhava para ela, mais fascinado eu ficava. Embora eu estivesse preocupado, também estava com um pouco de tesão. Mas quem poderia me culpar?
Minha companheira passou por uma transformação completa em um curto espaço de tempo e estava arrasando.
Não podia deixar de me perguntar se ela sabia o que tinha acontecido com o seu corpo.
Apesar de Kiara ter me dito que ela já havia acordado, de onde estava sentado, ela ainda parecia em coma.
Seu peito quase não se movia e, quando coloquei meu dedo embaixo de seu nariz, era como se ela não estivesse respirando.
Diante disso, olhei para a tela que mostrava sua frequência cardíaca e, por algum milagre, seus sinais vitais pareciam bons.
Ao pegar na mão dela, no entanto, não me surpreendi quando percebi que ainda estava tão gelada quanto no dia em que entrou em coma.
Que raios estava acontecendo?
Ponto de vista de Chaos:
Deitada na cama, eu sentia praticamente nada. Todavia, embora meus olhos estivessem fechados, eu tinha noção de tudo o que acontecia ao meu redor.
Afinal, já estava acordada há um bom tempo, apenas não sentia a menor vontade de abrir os olhos.
A verdade era que não estava pronta para interagir com ninguém. Então, esperei dar meia-noite e, depois de escutar o ritmo cardíaco de cada um na clínica e ter certeza que estavam todos dormindo, abri meus olhos.
Só não esperava me deparar com o olhar severo de Kiara. Ah, essa v*dia estava sempre de olho em mim.
"É sério, Khione?" Ela perguntou com os olhos cheios de lágrimas.
"Você deveria estar dormindo", respondi um pouco entediada.
"E você deveria estar em coma!"
"Eu acabei de acordar."
"Não me venha com essa b*steira. Eu já sabia que você estava acordada há cinco dias, droga!"
"Eu... Eu só não estava pronta para encarar a realidade."
"Eu sei, mas você sabe tão bem quanto eu que não pode fugir disso."
"Infelizmente, sim. Bom, eu não quero me olhar no espelho, então, diga-me o que você vê."
"Nada"
"Não minta para mim, Kiara. Você está com os olhos cheios de lágrimas. Como pode me dizer que não vê nada?"
"É porque não vejo. Tudo o que posso dizer é que você mudou e quando estiver pronta... haverá um espelho à sua espera."
"Por que você não pode simplesmente me falar?"
"Pela mesma razão que você se recusa a olhar para si mesma, Khione."
Deitada na cama, encarei-a com lágrimas nos olhos. Nunca fui capaz de esconder o que sentia de Kiara. Minha prima já havia me visto chorar antes, então, esta não seria a primeira vez.
"Estou com medo e com frio", sussurrei trêmula quando a primeira lágrima escorreu pelo meu rosto.
"Eu sei e também estou com medo", ela respondeu com seus olhos ainda brilhando por conta das lágrimas que ela tentava segurar.
"Papai me disse para ser forte, mas não consegui."
"Não estamos falando de algo que você podia ter lutado contra, Khione. Nós duas sabemos perfeitamente disso."
"Eu tentei, Kiara, de verdade, mas não há como lutar por algo que já está perdido."
"Sim, mas você ainda pode lutar pelo que está à sua frente. Eu estarei ao seu lado o tempo todo."
"Não, eu não quero isso. Essa é minha batalha."
"Bobagem. No momento em que jurei lealdade a você quando tínhamos seis anos, suas batalhas se tornaram minhas também."
"Sim, eu me lembro. Passamos por muitas coisas juntas e eu serei eternamente grata a você."
"Ah, me poupe! Você salvou minha vida mais vezes do que posso contar, portanto, se alguém precisa ser grata aqui, sou eu. Apenas se lembre de que somos uma família e nada disso importa desde que a gente se proteja. E eu farei isso até que a morte nos separe. Mesmo então, ainda estaremos juntas no além."
"Eu também irei te proteger, prima. Até que a morte nos separe."
"Por que você não descansa mais um pouco? Amanhã será um longo dia. Sua mãe estará aqui em breve e você terá que ser extremamente cuidadosa quando 'eles' chegarem."
"Sim, eu sei... Eu os ouvi quando acordei da primeira vez."
"Durma agora. Quero dizer, durma de verdade. Estarei aqui quando você acordar."
Fechei os olhos, mas não consegui dormir ao ouvir Kiara chorando fora do quarto.
Isso não me surpreendeu. Ela sempre tentava ser forte quando eu precisava de um ombro amigo para me apoiar e vice-versa.
No entanto, eu tive que rir por dentro quando a ouvi gritando com o meu companheiro. Em seguida, ao perceber que ele havia entrado no quarto para me ver, deixei a escuridão me puxar de volta.
Eu não sentia nada por ele, então, sua presença não me afetava mais, apenas a dos visitantes que estavam a caminho.
Como sabia que meu companheiro era muito alheio a tudo, era óbvio que ele ignoraria os sinais que já estavam lá.
Que a deusa e o destino tivessem misericórdia!
**********
Depois de se debulhar em lágrimas, Kiara deixou a clínica e apagou todas as evidências do seu choro.
Ela tinha acabado de sair do prédio quando Matthews a encontrou.
Ele não precisou lhe fazer perguntas porque conseguia ler os pensamentos dela naquele momento. Ao sentir toda sua dor e desconforto, ele entendeu o que aconteceu.
Ele ficou em choque ao ver a aparência da nova Chaos, que sua companheira projetou através do seu vínculo quando, sem querer, deixou cair as barreiras que mantinha ao redor de sua mente.
Colocando seus braços ao redor de Kiara, ele a levou para a floresta, onde caminharam em silêncio.
Ele esperava que a natureza e o verde pudesse acalmá-los.
Embora ambos soubessem que os próximos dias iriam marcar suas vidas, eles temiam o desconhecido.
A mudança radical de Chaos e as consequências a partir disso estavam os deixando ansiosos.
Matthews soube que seu alfa estava além da redenção quando descobriu na manhã seguinte à cerimônia de Chaos que ele era a única pessoa que carregava o brasão da família de sua companheira.
O beta não precisava perguntar para saber que algo havia dado errado, pois a marca em seu pulso era evidência o suficiente disso.
De toda forma, ele questionou Kiara sobre o assunto e a resposta que ouviu dela apenas serviu para deixá-lo com mais raiva e desgosto do seu alfa e da amante dele.
Ele precisou lutar para ficar de boca fechada quando seus colegas se gabaram da tatuagem, desejando poder ter outras que também não doessem para serem feitas.
Ah, se eles soubessem a verdade! No entanto, Matthews não teve outra escolha senão manter seus pensamentos desdenhosos para si.
Tanto ele quanto Kiara estavam perdidos em seus pensamentos quando, de repente, ouviram um farfalhar de folhas.
Antes que pudessem se perguntar quem estava ali, ou até mesmo se transformarem, uma mulher deu as catas. O casal deu um suspiro aliviado quando viram quem era.
"Tia!" Kiara correu para os braços de Alfa Celeste.
Matthews assistiu com tristeza a forma como sua companheira se jogou nos braços de sua tia.
Seus olhos permaneceram fixos na cena à sua frente até que ele sentiu alguém tocar seu ombro.
Ao virar para trás, ele se curvou respeitosamente quando encontrou os olhos dos irmãos mais velhos de Chaos.
"Alfas", disse ele suavemente.
"Esqueça essas formalidades. Você basicamente é parte da família agora. Kiara daria um chute em nossas bundas se achasse que estamos tratando você com ar de superioridade."
Havia um toque de divertimento na voz de Lucien.
"Está bem." Matthews riu um pouco.
"Então, a coisa tá feia, hein... Quero dizer, Kiara está até chorando", Luke constatou de repente.
"Sim... Apesar de não ter visto por mim mesmo, o que vi na mente de Kiara foi o suficiente para me deixar boquiaberto", Matthews respondeu sem olhar para Luke.
Seus olhos ainda estavam fixos em sua companheira e na mãe de Chaos que sussurravam algo acaloradamente uma para a outra. Por mais que ele tentasse ouvi-las, ele não conseguiu decifrar uma palavra do que elas disseram.
O mais estranho era que elas estavam apenas a alguns metros dele.
Quando ele tentou entrar na mente dela outra vez, Kiara o bloqueou assim que o sentiu tentar.
"Que saco, Matthews! Pare com isso!" Ela gritou sem se virar para ele.
"Nossa, o que você fez, cara?" Luke perguntou, confuso.
"Tentei entrar na cabeça dela, mas ela me escorraçou. Eu só queria saber se estava tudo bem", Matthews explicou com o cenho franzido.
"Ah! As alegrias e infortúnios do acasalamento", murmurou Lucien com um olhar estranho no rosto.
"Cala a boca, Lucien! E Matthews, está tudo bem. Não se preocupe", Alfa Celeste os interrompeu.
"Mamãe sempre tem que cortar o meu barato. Será que posso ir ver minha irmãzinha agora?" Lucien fez beicinho.
"Ela vai chutar o seu traseiro se ouvi-lo a chamar desse jeito", Luke comentou.
"Ah, estou ansiosa para ver isso porque vou te delatar também, Luke", Kiara disse enquanto caminhava até eles.
"Traidora!" Luke brincou.
"Idiota", ela retrucou
"Cara de bunda!" Lucien se juntou a eles.
"Já chega, crianças. A brincadeira acaba aqui. Vamos ver a Chaos", Alfa Celeste os cortou com um leve sorriso no rosto.
Certos adultos podiam ser muito infantis às vezes. Se ela não tivesse interferido, aquilo não teria acabado tão cedo.