Capítulo 17
3565palavras
2023-04-17 17:36
Ponto de vista da Chaos:
Acordei sentindo uma pressão na minha bexiga. Tentei levantar depressa para me avaliar apenas para ser impedida por um braço em volta da minha cintura.
Com extremo cuidado, consegui me soltar e deixar um travesseiro no meu lugar para evitar que meu companheiro acordasse e fosse comigo até o banheiro.
Entretanto, andar até lá não foi uma tarefa fácil, pois minhas pernas estavam bambas e minha vagina parecia ter sido dilacerada.
Eu estava morrendo de dor, embora não fosse do tipo ruim.
Depois de ir ao banheiro e fazer minhas necessidades, voltei para cama. Precisava dormir bem para encarar a minha parte do ritual de acasalamento esta noite quando a lua estivesse em seu ápice.
Este ritual era feito na minha alcateia há gerações, não importava que posição os envolvidos ocupassem. Qualquer um que se juntasse a alcateia ou passasse por uma cerimônia de acasalamento teria que realizá-lo.
No entanto, ele só podia ser realizado na lua cheia porque acreditava-se que este era o momento em que a lua estava em seu potencial máximo.
Esta era a melhor fase para meditar, curar-se energeticamente, recarregar o campo áurico do nosso lobo interior e...
Certa vez, minha mãe me disse que a lua cheia brilhava com uma energia tão pura que tudo o que tocava era imbuído de luz e amor.
Portanto, esta também era uma ótima fase para obter a prova física do destino e da Deusa.
Além disso, nossos ancestrais estariam presentes para cuidar de nós, mostrar sua aprovação e também nos presentear.
A cura energética durante este período potente podia trazer resultados magníficos.
A luz resplandecente da lua cheia não era apenas algo físico, mas também espiritual.
Ela iluminava os cantos mais obscuros do inconsciente, dando àqueles que a acessavam percepções aguçadas sobre suas emoções, almas e caminhos a seguir.
Embora entender isso fosse a parte mais fácil, pôr em prática o que lhe fora mostrado era o mais desafiador. Eu ainda estava imersa em pensamentos quando, de repente, algumas batidas na porta me fizeram voltar à realidade.
Tirando o travesseiro que havia colocado debaixo dos braços do meu companheiro, joguei-o sobre a minha cabeça para abafar o barulho em uma tentativa de voltar a dormir enquanto Alfa River era forçado a sair de seu sono tranquilo.
Eu fui dormir em paz, sabendo que Kiara era perfeitamente capaz de lidar com os preparativos do ritual, já que havíamos ajudado em muitos outros como esse a vida toda.
**********
Acordei com o som da minha porta se abrindo e fechando com cuidado. Como Havoc estava ansiosa, eu podia sentir até mesmo os movimentos mais sutis ao meu redor.
Neste momento, tive a sensação de que o sol estava se pondo e a lua pronta para subir ao céu.
Ao tirar os travesseiros do rosto, virei-me para ver o relógio ao meu lado e soube que estava certa. Eram quase sete da noite. Meu tempo estava acabando.
Meus nervos pareceram dar um nó tão complicado, que me deixou sem fôlego.
Então, senti o olhar de alguém sobre mim e ofeguei ao me deparar com os mesmos olhos calorosos que vi quando cheguei a esse mundo cruel.
Os olhos castanhos e penetrantes de minha mãe me davam força, orgulho e alegria. No entanto, hoje, seu olhar não continham o mesmo calor que de costume.
Eles estavam cheios de dor e raiva, mas também havia um toque de tristeza e preocupação. Sem pensar duas vezes, saltei para fora da cama e me joguei em seus braços.
Um soluço escapou dos meus lábios conforme as lágrimas que prendi por tanto tempo se libertaram. Eu não fazia ideia do porquê minhas emoções, de repente, resolveram ficar tão fora de controle.
Talvez fosse porque era lua cheia ou porque me mantive forte por muito tempo e meu corpo, mente e alma precisavam de um respiro.
Nos braços de minha mãe, abaixei minha guarda e chorei livremente.
Eu estava tão imersa na minha dor que não percebi ela me mover de onde estávamos.
Quando dei por mim, estava deitada na cama com a cabeça apoiada em seu peito.
Deixei minhas lágrimas caírem até não sobrar mais nenhuma. Só então me permiti respirar tranquilamente. Foi muito bom.
Parecia que eu havia tirado um peso enorme dos meus ombros e, embora soubesse que meus problemas estavam longe de acabar, fiquei agradecida por aproveitar esse tempo tranquilo ao lado da minha mãe.
Ao me sentar na cama, minha mãe também se endireitou.
"Você está bem agora, querida?" Ela perguntou baixinho.
"Por enquanto, estou." Fui franca.
"Entendo, mas agora é hora de ser forte e ter coragem. Lembre-se de que eu e seus irmãos estaremos sempre ao seu lado, assim como o seu pai."
"Obrigada, mãe. A propósito, quando você chegou aqui? Eu não sabia que viria."
"Cerca de uma hora atrás. Eu estava ajudando Kiara lá fora. Como eu não planejava vir, não avisei nada antes, mas Kiara não parou de me ligar, perguntando sobre infinita ervas.
Então, decidi aparecer e dar uma mão a ela, além de aproveitar a oportunidade para te ver e ajudar a se preparar para esta noite. Já que seu pai e seus tios não poderão estar por perto, eu sou a única pessoa disponível para realizar os ritos finais."
"Ah, sim. Você viu meu companheiro?"
"Sim, ele me encontrou na fronteira quando cheguei e precisei me controlar muito para não castrá-lo ali mesmo."
Não pude deixar de rir com o olhar zangado e inconformado no rosto de minha mãe.
Ela sempre foi conhecida por seu temperamento explosivo e eu sabia que era apenas uma questão de tempo antes de ela surtar para cima do meu companheiro. E que sorte a dele! Ele receberia todo o peso de sua fúria.
Passei o restante do tempo conversando com minha mãe. Falamos sobre tudo e mais um pouco.
Ainda estávamos no meio da conversa quando Kiara entrou às pressas no quarto.
"Você ainda não está pronta?" Ao me ver sentada na cama, desarrumada, ela não escondeu sua irritação.
"Eu estava prestes a fazer isso", menti descaradamente.
"Sua mentirosa! Tia, você deveria mandá-la se arrumar", Kiara me acusou antes de se virar para minha mãe.
"Bom, você não pode me culpar por não querer fazer isso. Não quero que minha única filha fique eternamente atrelada a uma desculpa patética de homem e companheiro.
"Eu só queria ter convencido o pai dela e o seu a fazer algo a respeito. Acredite, eu tentei, mas eles disseram que não estava em suas mãos", admitiu minha mãe, indignada.
"Tia! Você não fez isso!" Kiara fingiu estar horrorizada.
"Pois eu fiz!" afirmou ela com indiferença.
"Bom, eu vou tomar banho então", disse ao sair do quarto às pressas.
Embora essas duas fossem umas doidas varridas, elas ainda eram minha família, o que no mínimo me fazia amá-las ainda mais.
Tirei a roupa antes de ligar o chuveiro. A água estava fria, mas não me importei.
Era disso que precisava no momento, portanto, deixei a água cair sobre mim por um bom tempo antes de pegar uma esponja de banho e me ensaboar.
Então, desliguei o chuveiro para poder esfregar meu corpo direito.
Após enxaguar toda a espuma, fiquei parada debaixo do chuveiro por mais algum tempo.
Eu ainda estava dolorida da noite passada e, agora que havia tomado meu banho, essa parecia ser a única recordação que não consegui apagar ou lavar daquele momento.
Eu sabia que fingir que nada aconteceu era inútil, mas isso era tudo o que podia fazer para evitar que minha loba, que estava extremamente silenciosa hoje, e eu déssemos início a uma chacina ou fizéssemos qualquer outra coisa que iríamos nos arrepender.
Minha mãe não me perguntou a respeito do acasalamento porque para ela isso nunca aconteceu. E se conhecesse bem Kiara ela iria fingir o mesmo.
Alguns minutos depois, desliguei o chuveiro e caminhei até o porta toalha.
Peguei a primeira toalha que vi pela frente e sequei rapidamente o cabelo e meu corpo nela.
Então, envolvi-a firmemente ao redor do meu corpo e deixei escapar um suspiro incerto ao sair do banheiro.
Minha mãe e Kiara me olharam como se soubessem o que estava pensando.
Como elas eram intrometidas! Às vezes odiava que elas me conhecessem tão bem, mas o que podia fazer? Eu as amava do mesmo jeito, pois faziam parte da minha família.
Em seguida, percebi que haviam algumas peças de roupa em cima da minha cama e caminhei até lá para vê-las de perto.
Não pude deixar de sorrir quando vi um novo conjunto de roupas íntimas. Eu sabia que era nova porque a etiqueta com o preço ainda estava nela.
Minha mãe tinha o hábito de deixar a etiqueta em tudo que comprava para sua família apenas para poder jogar isso na cara de quem decidisse ser ingrato com ela.
Ela era bem louca assim. A roupa íntima que ela comprou era uma calcinha estilo cueca rendada e um sutiã para combinar.
Deixei a toalha cair sem me importar com a minha nudez. Afinal, este era um hábito comum entre as mulheres da minha alcateia.
Então, sentei-me na cama e deixei minha mãe passar um creme com perfume de rosas que ela tinha na mão enquanto Kiara arrumava meu cabelo.
Depois de muito me atormentarem, elas terminaram de me arrumar, o que me deixou aliviada.
Minha mãe me entregou minhas roupas íntimas após rasgar a etiqueta e riu baixinho quando eu balancei minha cabeça, julgando suas ações.
Rapidamente, eu me vesti antes de caminhar até o espelho para me ver. Gostei bastante do que vi.
Meu cabelo estava preso em um coque bagunçado com duas mechas emoldurando meu rosto. Minhas roupas íntimas se agarravam ao meu corpo como uma segunda pele.
Elas valorizavam muito minhas curvas e tatuagens.
As roupas íntimas eram necessárias para minha parte na cerimônia, pois a luz do luar precisava de uma quantidade considerável de pele exposta para penetrar o corpo de maneira adequada e completa.
Eu ainda me olhava no espelho quando ouvi uma batida na porta. Eu não precisava perguntar quem era para saber que era o meu companheiro. Afinal, podia sentir seu cheiro se espalhar pelo quarto.
"Entre", respondi com uma voz aveludada.
Meu companheiro abriu a porta com um sorriso feliz que me fez sentir como se tivesse sido apunhalada no estômago. Que cretino hipócrita!
Ele cumprimentou minha mãe e Kiara com um leve aceno de cabeça conforme elas deixavam o quarto.
Eu tomei esse tempo para observá-lo e percebi que estava ficando excitada.
Ele vestia uma cueca branca apertada, revelando suas pernas firmes para o deleite de todos. E como na noite anterior, seu peito escultural estava completamente nu.
Por mais que o desprezasse, nosso vínculo ainda estava lá e era palpável.
Se fôssemos como qualquer outro casal normal por aí, estaríamos agora como dois coelhos trepando a qualquer oportunidade que se apresentasse.
"Vejo que está vestido hoje", iniciei a conversa.
"Pois é! eu estava no banheiro ao lado quando Matthews veio me dizer o código de vestimenta. Por que tem que ser assim?"
"É tradição, mas você entenderá o porquê esta noite."
"Argh! Matthews não está feliz com isso e nem eu. Posso apostar que os outros casais acasalados também não estão nada contentes com isso."
"Ai, homens! É só por esta noite. Se não fosse importante, eu teria proposto outros trajes."
"Nós sabemos, mas isso não muda o fato de que todos os lobisomens não acasalados estarão olhando para o que é nosso..."
"Não, eles não vão! Kiara cuidou de todos os arranjos. Ela sabe bem como evitar brigas ou outros lobisomens não acasalados de olhar para quem está acasalado. Ela tem tudo sob controle. Você vai ver."
De canto de olho, observei meu companheiro se aproximar de mim. Deixei um suspiro escapar dos meus lábios quando ele passou os braços em volta de mim.
Éramos um casal recém-acasalado e esse pouco tempo que passamos separados havia afetado a nós dois. Portanto, seu toque era como um bálsamo capaz de aliviar qualquer dor.
Soltei um gemido involuntário ao senti-lo enrijecer em sua cueca.
"Senti sua falta o dia todo" ele sussurrou com a voz rouca enquanto mordiscava a marca que me fez ontem.
"Eu posso perceber", provoquei-o.
Ele riu baixinho, apertando mais seus braços ao meu redor antes de começar a roçar sua ereção contra mim.
Uma grande parte do meu cérebro me dizia para afastá-lo, mas isso era mais difícil do que parecia.
Nosso vínculo de acasalamento ainda era recente, portanto, qualquer contato físico, por menor que fosse, incendiava tudo com fogo e paixão.
Inclinando-me para frente, agarrei a penteadeira.
Logo percebi que havia cometido um grande erro, pois meu companheiro acompanhou meu movimento e continuou se roçando em mim.
Não satisfeito, ele aumentou o ritmo, deixando-me ofegante. Neste momento, tive uma ideia.
Depois de respirar fundo, eu me virei em seus braços e o empurrei para trás.
"Por que fez isso?" ele reclamou, lançando-me um olhar frustrado.
"Minha mãe que me deu essas roupas íntimas. Se sujar e por causa disso eu não consegui usar, ela vai me esfolar viva!"
"Mas é só uma roupa íntima. Você pode muito bem trocá-la", ele retrucou ao se aproximar de mim outra vez.
"Não, eu não posso, seu lobo tarado!" Rebati.
"Bom, eu não vi você reclamar enquanto gemia de prazer."
"Vai se f*der!"
"Não, eu prefiro te foder… mas acho que já fiz isso."
*******
Só de lembrar da cerimônia da noite passada, eu ficava cega de raiva.
Se não fosse pelos membros inocentes da alcateia, que não precisavam pagar pelos pecados de seu alfa e dos outros membros de alto escalão, eu teria ido embora daquele lugar e nunca mais olharia para trás.
Mas eu não era esse tipo de mulher. Por mais dolorosos que fossem, eu não fugia dos meus problemas, e essa foi a pior coisa que já passei.
Quanto mais eu observava meu companheiro tentar me seduzir, com mais raiva eu ficava. Precisei respirar fundo para me acalmar porque ainda não era hora de atacar.
Deixando-o lá parado, corri para o armário para pegar um roupão, então, saí com meu companheiro atrás de mim.
Eu tinha acabado de sair de casa quando esbarrei no tio Hefesto. Sem dizer uma palavra, eu me joguei em seus braços.
Ele não disse nada enquanto me abraçava. Ficamos assim por um tempo até que ouvi meu companheiro rosnar baixinho, o que me fez revirar os olhos.
Sabia que meu tio também o ouviu. No entanto, ele optou por ignorá-lo apenas para irritá-lo. Depois de um tempo, afastei-me do meu companheiro para falar com meu tio.
"Você tem certeza sobre isto, princesa?" Ele questionou no idioma do meu pai.
"Eu não tenho escolha, tio", respondi, mal-humorada, no mesmo idioma.
"Você… pode simplesmente rejeitá-lo e seguir em frente com sua vida. Você merece coisa melhor."
"Eu sei disso, mas não é tão simples. Por mais que eu queira contrariar a vontade da deusa e do destino, não posso. Eu sofreria a mesma tortura que ele, sendo que ele não vale a pena."
"Sinto muito, princesa… Você não precisava sofrer assim. Ninguém merece passar por tanta dor e eu não suporto ter que assistir a isso de braços cruzados.
"Mas não tenho outra escolha. A única coisa que me tranquiliza é que você vai ter ele na palma da mão quanto tudo isso acabar."
Ri baixinho antes de dizer melancolicamente: "Obrigada, tio... Eu te amo."
"Eu também te amo, criança", Hefesto a provocou.
"Eu não sou criança e sim uma mulher adulta."
"Comparada a idade que eu tenho, você ainda é uma criança, mas pense o que quiser desde que consiga dormir com isso à noite."
Após deixar um beijo suave na minha cabeça, ele se virou e desapareceu entre as pessoas que agora se aglomeravam no complexo.
Eu me diverti enquanto assistia os lobisomens não acasalados exibirem seus corpos sem se importar com ninguém. Os casais acasalados, por sua vez, estavam tensos.
Os homens principalmente não pareciam felizes. Todos tinham uma carranca pesada no rosto. Já as mulheres, pareciam pisar em ovos.
Seus companheiros mantinham os olhos e os braços o tempo todo nelas para se certificarem de que elas não estavam olhando para nenhum outro homem além deles.
Entretanto, o que achei mais engraçado a ponto de fazer lágrimas escorrerem dos meus olhos de tanto que eu ri foi a visão de algumas fêmeas acasaladas em mantos duplos ou triplos que iam até o chão.
Eu me virei apenas para encontrar meu companheiro no meio de uma conversa acalorada com sua mãe. Contendo minha vontade de revirar os olhos, dei as costas a eles e saí.
Só tinha dado alguns passos para fora do lugar quando um homem desconhecido se aproximou de mim. Ele parou à minha frente e fez uma breve reverência.
Então, ele me cumprimentou: "Luna... Como está hoje?"
"Estou bem, obrigada. Já nos conhecemos?"
"Sim, mas não oficialmente. Eu sou o gama desta alcateia, Richard Davidson."
"Ah, claro... Onde você estava quando cheguei?"
"Estava cuidando de um problema em outra alcateia, Luna."
"Pode me chamar só de Chaos, Richard."
"Está bem, Lu... Chaos."
Eu estava prestes a dizer algo quando ouvi duas vozes altas familiares acima da música que tocava ao fundo.
Eu e Richard viramos ao mesmo tempo em direção às vozes e o que vi me fez cair na gargalhada outra vez, embora a cena não tivesse me surpreendido em nada.
Com um sorriso presunçoso, Kiara caminhava até mim em uma lingerie chamativa, como se fosse a dona do complexo. Ao mesmo tempo, Matthews a seguia com o rosto coberto de raiva, vestindo um manto que cobria todo o seu corpo.
Ao parecia, os papéis haviam sido invertidos com este casal. Era típico de Kiara aprontar uma dessas.
Andando atrás dela, Matthews rosnou em advertência para cada homem que ousou olhar para o corpo de sua companheira. No entanto, ela não pareceu se importar com isso.
Eu ainda estava rindo quando ela se apressou para me abraçar.
"Por que você está de roupão, prima?" Ela olhou para o meu roupão com cara de desgosto.
"Meu companheiro não parava de olhar para mim e eu estava ficando enjoada", respondi em nossa língua paterna.
"Caramba! Que can*lha!" Kiara retrucou no mesmo idioma, fazendo me rir.
"Em inglês, por favor..." Richard pediu com o cenho franzido.
Kiara riu muito antes de se virar para ele.
"Acho que ainda não nos conhecemos, não é?" Ela indagou sedutoramente, o que dez Matthews soltar um grunhido.
"Na verdade, sim. Apenas não fomos devidamente apresentados. Eu sou Richard Davidson, o gama desta alcateia."
"Ah, então você é um deles..." Kiara não escondeu o desprezo em sua voz.
"Kiara!" Matthews a advertiu.
"O que quer dizer com eu ser um deles?" Richard perguntou, confuso.
"Ela quer dizer que você é um dos membros de alto escalão desta alcateia e ela não gosta muito de nós", explicou o beta, mal-humorado.
"O quê? Mas seu companheiro é um de nós!" Richard se voltou para Kiara.
"Sim, infelizmente, ele é, mas isso não muda o fato de que vocês são todos idiotas, egoístas e sem moral."
"O que lhe dá o direito de nos julgar se nem nos conhece?"
"Não preciso conhecê-lo para saber que tipo de pessoa você é... Já vi e ouvi o suficiente para ficar com nojo do pouco que eu sei."
"Está ouvindo isso, Matthews? Por que não está dizendo nada?" Richard o questionou, irritado.
"Porque ela sabe... na verdade, as duas sabem de tudo, então, não há necessidade de fingir", Matthews disse de forma sombria.
Richard abriu a boca em choque enquanto nos encarava.
"Tricia..." ele murmurou.
"Claro, Tricia!" Kiara rosnou.
"O alfa está ciente de que vocês sabem disso?"
"Não e você não vai contar a ele." Foi a minha vez de falar.
"Mas... eu não posso esconder algo assim dele", Richard retorquiu.
"É por isso que estou te proibindo." Segurando seu queixo, murmurei algumas palavras baixinho.
Tratava-se de um feitiço antigo para tornar alguém incapaz de fazer certas declarações. Como era temporário, nenhum dano seria causado a ele.
Pude ver seus olhos se arregalarem ao ver os meus ficarem totalmente negros.
Depois de terminar, soltei seu queixo e me virei para ver Kiara com um sorriso presunçoso no rosto enquanto Matthews me encarava, horrorizado.
Revirando os olhos, virei-me para Richard apenas para encontrar o lugar onde ele estava parado um segundo atrás, vazio.
"Para onde ele foi?" Perguntei aos dois.
"Está indo te delatar para o alfa dele", Kiara respondeu com falsa tristeza.
"Que pena que ele não vai conseguir", eu disse friamente.
Ao nos virar, observamos Richard todo atrapalhado conforme tentava contar ao meu companheiro o que havia descoberto, mas não conseguiu.
Ele, então, começou a apontar em nossa direção, mas como meu companheiro não conseguiu entender o que ele queria dizer, ele começou a caminhar até nós.
"Você mandou me chamar?" Ele indagou com o cenho franzido.
"Sim, mas parece que Richard está tendo problemas com a fala... Tenho certeza que ele ficará bem depois da cerimônia", comentei, dando um sorriso triste para o gama, que parecia me implorar com os olhos.
Meu companheiro mal havia acabado de me abraçar quando minha mãe veio em nossa direção com um olhar vazio.
"Está tudo acertado. Vamos acabar logo com isso." Então, ela se virou e se afastou de nós.