Capítulo 9
1771palavras
2023-04-12 11:58
É uma maldição que aqueles que nos machucam mais sejam justamente as pessoas que nos completam... — A.J. Lawless
Ponto de vista da Chaos:
Seguindo o cheiro do meu companheiro, deixo-o me guiar para onde quer que ele esteja. Assim que sua fragrância se tornou mais forte em um determinado local, parei de andar.
Depois de trocar uma última mensagem com minha mãe, coloquei o celular no bolso de trás da calça, então, levantei a cabeça e a cena que vi me fez sentir como se uma faca tivesse atravessado meu coração já frio.
Sabia que conhecer meu companheiro e sua alcateia estava sendo uma experiência boa demais para ser verdade. Sentado na ponta do que parecia ser uma mesa de jantar, vi Alfa River com uma mulher em seu colo enquanto os dois conversavam animadamente.
Não pude deixar de recorrer à minha habilidade inata de disfarçar meu cheiro e a minha presença antes de me aventurar pela sala para ouvir a conversa deles.
"Você sabe que vai precisar se levantar antes da minha companheira chegar, não é?" Ele perguntou à mocinha em seu colo em um tom bastante sério.
"Mas nós sempre fizemos isso e você nunca reclamou, querido." Ela franziu a testa, insatisfeita.
"Eu sei e ainda não me incomodo com isso, mas minha companheira está aqui e não quero que ela nos veja, tá?"
"Tudo bem, eu entendo, mas você não vai parar de dormir comigo, vai? Já fomos longe demais para parar agora, amor."
Ele riu baixinho antes de tranquilizá-la: "Sim, eu sei, mas também nunca disse que iríamos parar, disse? Agora, me dê um beijo."
Eles se beijavam com bastante desejo quando Felecia entrou na sala. Pensei que ela fosse dar um bronca no filho ou algo assim, mas como eu me enganei...
Com um sorriso discreto no rosto, ela comentou: "Vocês dois sempre me fazem sorrir. Quando esse caso de vocês vai acabar, hein? Tricia, você já sabe que a companheira dele está lá em cima, não é?"
"Sei sim, Sra. River, mas não pretendemos acabar com nada tão cedo. Seu filho acabou de me dizer isso, além do mais, contanto que a companheira dele não descubra sobre nós, ela não sofrerá", Tricia respondeu com um sorriso presunçoso.
Quando achei que já tinha ouvido o bastante, voltei pela porta de onde havia vindo e removi meu disfarce.
Ao deixar meu cheiro e minha essência de alfa exalarem com toda sua força, respirei fundo, tentando manter Havoc e nosso outro lado sob controle.
O vínculo de companheiros devia ser uma espécie de piada para Alfa River. Não à toa, ele não me marcou ou reagiu como os outros alfas faziam quando encontravam suas companheiras.
Já que ele tinha outra mulher, era fácil para ele manter as coisas entre nós descontraídas. Estava claro que ele apenas me tolerava por causa do nosso vínculo de companheiros, afinal, ele não podia desobedecer à Deusa da lua tão descaradamente.
Não pude deixar de pensar que todo afeto que ele demonstrou por mim era falso enquanto eu havia lhe entregado meu coração.
Eu não aguentava mais aquilo. Senti como se meu coração tivesse se quebrado em mil pedacinhos.
Fui mesmo muito estúpida em acreditar que poderia ter um companheiro que me amaria como meu pai amou minha mãe.
Por mais durona que eu fosse, isso não mudava o fato de que também queria um companheiro.
Alguém que me amasse e me fizesse feliz tanto quanto eu me esforçaria para fazê-lo.
Eu estava preparada para aceitar qualquer coisa, desde um cara arrogante e mandão a um homem egoísta e irritante só porque ele era meu companheiro, mas o que vi hoje não estava incluso na lista.
Ser desrespeitada e traída bem debaixo do meu nariz não estava nos meus planos. Isso era um deboche à minha posição de luna desta alcateia.
Eu podia sentir meu sangue ferver e o da minha loba também, mas nós duas sabíamos que não podíamos perder o controle, pois qualquer decisão impensada poderia levar pessoas inocentes a se machucarem e eu não queria isso. Além do mais, meu companheiro era assunto meu e cabia somente a mim lidar com ele como bem entendesse.
Respirei fundo algumas vezes, tentando controlar minha raiva. De repente, minha loba cortou nosso vínculo, o que me revelou o quão ferida ela estava.
Eu ainda tentava me controlar quando senti um toque no meu ombro. Ao me virar, encontrei Matthews olhando para mim com cautela.
"Você está bem, Chaos?" Perguntou ele suavemente.
"Você também sabia?" Devolvi sua pergunta com outra em um tom severo.
"Sabia do quê?" Ele parecia confuso.
"Dê uma olhada dentro da sala de jantar e me diga."
Observei enquanto Matthews olhava discretamente para dentro da sala antes de recuar com a boca e os olhos bem abertos. Mas bastou ver a expressão de culpa em seu rosto para eu entender que ele já sabia de tudo.
Presumi que todos seus olhares de deboche quando cheguei aqui pudesse ter a ver com isso.
Balançando a cabeça, suspirei.
Então, pedi a ele: "Não diga a eles que eu sei. Vou lidar com isso do meu jeito. Jure para mim."
Ele anuiu com a respiração entrecortada. "Eu juro"
"Ótimo. Agora entre lá. Eu o seguirei em instantes. Avise-os que descerei em um minuto."
Assim que se acalmou, Matthews entrou na sala de jantar e logo o escutei cumprimentar a todos antes de informar que eu estava descendo.
Foi divertido ouvi-los murmurar preocupados enquanto tentavam montar uma fachada convincente para mim.
Depois de fazer uma rápida oração à Deusa da lua e ao destino, pedindo-lhes força, endireitei meus ombros e entrei na sala de cabeça erguida e com uma expressão indiferente no rosto.
Essas pessoas tinham mexido com a v*dia errada, mas iria mostrar a elas porque eu era chamada de Chaos.
A cena com a qual me deparei quase me fez cair na gargalhada, mas segurei o riso. Se eles pensavam que eu era idiota, iriam se surpreender.
Mais uma vez, fui ridicularizada e subestimada pela pessoa que menos esperava. Não era de se admirar que a confiança fosse algo raro hoje em dia.
Afinal, a mesma pessoa que te dava um presente com a mão direita, escolhia te apunhalar com a esquerda.
Naquele momento, meu companheiro revisava alguns documentos conforme sua mãe colocava a mesa.
Matthews parecia jogar um jogo em seu celular e a mocinha que antes estava no colo do meu companheiro, a Tricia, encontrava-se parada na porta da cozinha de costas para eles. No final das contas, ela não era tão ousada quanto imaginei.
Em um primeiro momento, pensei em me sentar, mas, então, mudei de ideia e passei direto por Tricia ao entrar na cozinha, onde encontrei algumas mulheres mais velhas da alcateia preparando o café da manhã.
Depois pegar um prato e os talheres, aproximei-me delas com um leve sorriso no rosto. Ao cumprimentá-las, pedi meu café da manhã, o qual elas pareceram felizes em servir.
Rapidamente, elas encheram meu prato com bolinhos de batata, bacon, omelete e panquecas, além de me darem um copo de suco de laranja.
Então, acomodei-me em um banquinho ao lado da ilha da cozinha e comecei a devorar meu prato.
Não pude deixar de notar o cenho franzido no rosto de Felecia quando percebeu que eu estava comendo sozinha na cozinha, mas preferi ignorá-la.
Um segundo depois, eu a percebi vindo em minha direção. Quando parou diante de mim, ela abriu um sorriso largo que me deixou enojada.
Eu acenei com a cabeça, mas não retribui seu sorriso, que desmoronou ao perceber minha atitude.
Ela limpou a garganta antes de perguntar: "Querida, por que está comendo aqui sozinha?"
"Vou precisar sair. Por favor, chame Matthews para mim quando voltar para a sala de jantar. Obrigada", respondi em um tom frio, querendo dispensá-la.
Voltei a comer sem dar mais atenção a ela e soltei um suspiro aliviado ao senti-la ir embora.
Em seguida, Matthews entrou na cozinha com uma expressão confusa no rosto.
"A senhora me chamou?" Ele perguntou, reverenciando a mim de forma respeitosa.
"Sim, chamei. Sente-se e coma alguma coisa antes de sairmos. Quero que você me leve a um lugar."
"É... mesmo? Digo... tá." Matthews, então, se apressou em fazer o que havia ordenado.
Ao terminar nosso café da manhã em tempo recorde, nós nos levantamos, mas antes que pudéssemos deixar a cozinha, Alfa River entrou com uma carranca no rosto.
"Onde vocês estão indo?" Ele perguntou em um tom ameaçador.
Sem dar tempo para Matthews lhe responder, dei de ombros e o informei:
"Quero ir até a cidade e pedi para Matthews me levar, mas quando eu voltar, vamos ter uma conversa. Há algo importante que gostaria de discutir com você."
"Por que não me pediu para levá-la?"
"Como você estava muito ocupado quando desci, não quis incomodá-lo. Afinal, nosso dever com a alcateia e seus membros devem sempre vir em primeiro lugar, certo?"
Eu sorri por dentro ao ver a forma como ele e sua mãe ficaram tensos. Fiquei feliz em ver que eles haviam percebido o duplo sentido das minhas palavras.
Eles iriam me pagar por aquela traição.
Enquanto Alfa River continuou em silêncio, sua mãe respondeu timidamente: "Sim, eles devem vir."
"Ótimo. Agora, estou atrasada. Conversamos quando eu voltar. Vamos, Matthews", disse friamente conforme o beta me seguia.
Dirigimos pela cidade por uma ou duas horas, parando em lojas específicas para comprar e encomendar produtos de higiene pessoal, lençóis, edredons, utensílios de cozinha, aparelhos de TV e qualquer outra coisa que eu precisasse para mobiliar uma casa.
Matthews me olhou, curioso, o tempo todo.
Ele provavelmente se perguntava porque eu estava comprando todas essas coisas e que tipo de loucura eu tinha em mente. No entanto, eu o ignorei. Ele descobria na hora certa.
Quando fiquei satisfeita com as minhas compras, pedi que ele me levasse até a alcateia de minha mãe.
Precisei conter uma risada ao ver a forma que seus olhos se arregalaram e como ele ficou inquieto de repente. Esperei alguns minutos antes de decidir acabar com sua angústia.
Limpei minha garganta e disse a ele:
"Fica calmo... Eu não vou voltar para a alcateia da minha mãe.
"Não sou esse tipo de mulher, além do mais, não posso fugir das minhas responsabilidades como luna só porque seu alfa idiota não tem vergonha na cara.
"Eu vou fazer o que faço de melhor. Vou enfrentá-lo e lhe ensinar uma lição, então, seguirei em frente com a minha vida."
"Mas... O que está planejando fazer?" Matthews perguntou, preocupado.
"Ah, nada de tão drástico… Espere que irá descobrir, tá?"
"Tá", respondeu ele, desanimado